Em
menos de uma hora de trabalho, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania
(CCJ) da Câmara dos Deputados suspendeu reunião que iria discutir e votar
hoje (23) a Proposta de Emenda à Constituição 227/16, que ficou conhecida como
PEC de Eleições Diretas. Sob protestos da oposição, o presidente da CCJ,
Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), anunciou a suspensão da reunião devido ao início da
ordem do dia no plenário da Casa. Pelo regimento da Câmara, quando o plenário
começa a votação da pauta, as comissões não podem deliberar sobre nenhuma
matéria.
Os
oposicionistas criticaram a decisão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), de abrir a sessão do plenário com pouco mais de 50 deputados
presentes. A CCJ volta a se reunir amanhã (24).
Antes
da suspensão da reunião, a base aliada ao governo tentou obstruir o andamento
da reunião. A proposta em discussão, de autoria do deputado Miro Teixeira
(Rede-RJ), prevê a convocação de eleições diretas no caso de vacância da
Presidência da República, exceto nos seis últimos meses do mandato.
De
acordo com a PEC, se os cargos de presidente e vice-presidente da República
ficarem vagas, a eleição deve ocorrer 90 dias depois de aberta a última vaga.
Se a vacância dos cargos ocorrer nos últimos seis meses do mandato, a PEC
estabelece que a eleição será feita pelo Congresso Nacional em 30 dias.
A
aprovação da proposta é defendida pelos deputados da oposição, principalmente
depois da divulgação de denúncias envolvendo o presidente Michel Temer em
esquema de pagamento de propina e troca de favores com empresários do grupo
JBS, no âmbito das investigações da Operação Lava Jato.
Os
oposicionistas pedem o impeachment de Michel Temer e querem evitar a
possibilidade de o Congresso escolher um presidente interino. Já a base aliada
quer a manutenção do texto constitucional vigente, que estabelece a realização
de eleições indiretas (quando cabe ao Parlamento escolher) em caso de vacância
dos cargos de presidente e vice-presidente da República.
A
PEC recebeu parecer favorável do relator, Espiridão Amin (PP-SC). O relatório
precisa agora ser aprovado pela CCJ antes de ser apreciado pelo plenário da
Câmara. Para ser aprovada na comissão, o relatório pela admissibilidade da PEC
precisa ter maioria simples dos votos. A CCJ tem 65 membros.
Os
deputados da oposição chegaram bem cedo ao plenário da CCJ para garantir lugar
na fila de inscrição de fala e de apresentação de requerimentos. Um dos pedidos
é para inverter a ordem de votação, já que a PEC 227 estava na 13ª posição na
lista de 71 itens da pauta da comissão.
Na
tentativa de impedir a votação, os deputados governistas só começaram a
registrar presença depois que os parlamentares da oposição conseguiram garantir
o quórum mínimo para dar início à reunião.
Outra
estratégia dos governistas para atrasar a votação foi a apresentação de um
requerimento de votação nominal do requerimento da oposição de inversão da
pauta. “Qualquer medida ou iniciativa que venha introduzir maior insegurança,
maior instabilidade, além do que já estamos vivendo, é uma medida temerária.
Não é uma questão de ser a favor ou contra o governo, é uma questão de
responsabilidade com a grave situação que o país atravessa”, disse o deputado
Paulo Lustosa (PP-CE).
Para
a oposição, o Congresso não tem condições para eleger um novo presidente, em
caso de vacância. “O governo teve que usar de um instrumento que é típico
da minoria, tentou não dar quórum e agora entrou com um kit de
obstrução para evitar que não se aprove a PEC. [...] Se a base do governo
quiser votar contra as eleições diretas, se quiser fazer uma eleição controlada
pelo Parlamento, que tenha a honradez de votar contra a PEC, mas por favor não
obstrua a votação da matéria”, disse o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ).
A
oposição conseguiu derrubar o pedido da base por votação nominal. Após a
derrota na votação simbólica do primeiro requerimento, os governistas pediram
verificação nominal e deixaram o plenário para esvaziar o quórum necessário
para a votação.
Enquanto
os deputados discutiam o assunto na CCJ, integrantes de movimentos sociais se
reuniram com líderes da oposição e também defenderam a convocação de eleições
diretas. "O recado que os movimentos têm para dar hoje é que acabou toda a
legitimidade e toda a condição política desse governo continuar. E, para quem
acha que é muito difícil conquistar as eleições diretas, os movimentos mandam
um recado: é somente nas ruas que vamos conquistar uma eleição direta no
Brasil", disse a presidente da União Nacional do Estudantes (UNE), Carina
Vitral.
A
opinião foi compartilhada pelo coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto (MTST), Guilherme Boulos, que destacou as manifestações previstas para
amanhã (24) em todo o país em defesa das eleições diretas. "A única saída
para essa crise, no entendimento do movimento social brasileiro, é a convocação
imediata de eleições diretas para que o povo decida o destino do Brasil",
disse Boulos.