por Dag Vulpi
Não é democrático — nem moral — boicotar, excluir ou hostilizar alguém por suas convicções políticas. A liberdade de expressão não pode ser um privilégio seletivo, restrito a quem pensa igual.
Vivemos tempos em que a liberdade virou uma palavra de uso restrito — reivindicada com fervor por uns, mas negada com o mesmo fervor a outros.
Não é honesto, seja da direita, da esquerda ou de qualquer espectro intermediário, sugerir, incentivar ou disseminar boicotes a pessoas pelo simples fato de se declararem apoiadoras de político A ou B.
A democracia, quando madura, tolera o dissenso. Quando frágil, teme a diferença.
O problema é que, em meio à polarização que tomou conta do Brasil, a intolerância política passou a vestir roupagem de virtude. Alguns se sentem no direito de “cancelar” o outro em nome de uma suposta moral política, esquecendo-se de que a essência da democracia é justamente a convivência entre contrários.
Mais grave ainda é observar empresários que se vangloriam por não empregar pessoas “de esquerda”, como se o voto ou a opinião fossem critérios de competência. Ou comerciantes que colam em suas vitrines o aviso de que “esquerdistas não são bem-vindos” — um gesto pequeno, mas carregado de um simbolismo gigantesco: o de que a diferença é uma ameaça, não uma riqueza.
É esse tipo de mentalidade sectária, alimentada pelo fanatismo e reforçada pela ignorância, que transformou divergências em trincheiras.
Foi ela que ergueu muros entre amigos, familiares e colegas de trabalho, dividindo o país entre “nós” e “eles” — como se o Brasil coubesse apenas dentro de uma ideologia.
A política, quando reduzida a paixões cegas, perde seu propósito de servir ao coletivo. Passa a ser uma disputa de ego travestida de causa, onde o adversário se torna inimigo e o diálogo vira ofensa. É nesse terreno árido que florescem os discursos de ódio, as fake news e a cultura do cancelamento — que nada têm de libertários. São apenas instrumentos de coerção disfarçados de engajamento.
O que muitos esquecem é que a pluralidade de ideias é o que mantém viva a chama da democracia. Nenhum país se constrói sob o silêncio imposto à metade de sua população. O que realmente engrandece uma nação é a capacidade de escutar — mesmo aquilo que nos desconforta — e de reconhecer que ninguém é dono absoluto da verdade. Quando o debate cede lugar ao ataque, a democracia adoece.
A democracia não é um clube exclusivo; é uma praça aberta, onde todos podem falar, ainda que discordem.
A liberdade de expressão não pode ser condicionada à cor do partido, ao candidato de estimação ou à narrativa do momento.
Porque no instante em que passamos a negar ao outro o direito de pensar diferente, deixamos de ser democratas — e nos tornamos aquilo que mais criticamos.
Nota:
Reflexão sobre o risco crescente da intolerância política no Brasil contemporâneo. O texto questiona os comportamentos de boicote e discriminação motivados por ideologia, e propõe um resgate dos valores fundamentais da convivência democrática e da liberdade de expressão.

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Dag Vulpi