Por André Augusto
O governo
Temer, no jantar do teto dos gastos, prometeu “cortar na carne” do país no dia
em que o Congresso aprovou o texto da PEC 241, mas ofereceu filé mignon a seus
200 ladrões parlamentares, para assegurar a vontade e o estômago da base aliada
contra a população.
O novo
espetáculo reacionário que deu o Congresso, com parlamentares milionários e
privilegiados comemorando a votação de uma PEC que congelará até 2036 todos os
gastos já ínfimos na saúde e na educação, mostra que o governo não
teme aparecer como aquele que tirará tudo dos pobres, dos trabalhadores, das
mulheres e da juventude para preservar os privilégios dos ricos intocados.
A medida
devastará a rede já intoleravelmente precária de saúde e educação para a
população trabalhadora: o Brasil gasta, por exemplo, a metade que a vizinha
Argentina na saúde. São US$ 591 (aproximadamente R$ 1.900) per capita contra
US$ 1.167 (cerca de R$ 3.750). Se compararmos com os EUA, a distância é de
perder de vista (US$ 4.307, aproximadamente R$ 13.800). O próprio Ipea,
instituto ligado ao Ministério do Planejamento, sustenta que a PEC 241 trará ao
setor perdas de até R$ 743 bilhões se as despesas forem congeladas por 20 anos,
como prevê a proposta.
O “corte na
carne” não será vivenciado, entretanto, pelo presidente, deputados e senadores,
juízes e empresários. A libra de carne desta casta política e empresarial
ficará intacta durante os draconianos ajustes. De fato, Temer assegurou que
nenhum “sacrifício” viria por parte dos salários e benefícios do alto escalão
do Judiciário, do Legislativo ou do Executivo.
Deputados
milionários
Os deputados
que votaram em primeira instância a PEC 241 recebem um salário mensal médio de
R$26,7 mil, acrescidos de “verbas para exercício do mandato” no valor de R$
34,2 mil (para viagens, combustível, telefone), além de auxílio-moradia de R$3
mil e verbas de gabinete (usadas com assessores) no montante de R$ 74 mil. Seu
décimo-terceiro salário – que está ameaçado para milhões de trabalhadores no
Brasil – alcança R$27 mil. Ganham também um décimo-quarto salário de mesma
soma.
Um estudo
realizado pela ONU analisou o custo de senadores e deputados de 110 países.
Neste grupo, o Brasil ficou em 2º lugar entre os que mais gastam para sustentar
os políticos, atrás apenas dos EUA.
Os privilégios
dos políticos custam muito caro para a população trabalhadora do mundo inteiro.
A ONU e a UIP (União Interpalamentar) publicaram um estudo que analisa esses
números. Cada parlamentar brasileiro, segundo o levantamento, custava, em 2011,
US$ 7,4 milhões por ano. Um valor absurdo, que é calculado por baixo pois não
contabiliza o que é desviado por meio dos esquemas de corrupção. O estudo
utiliza os gastos totais com os parlamentares, sem os inúmeros benefícios,
auxílios e outros penduricalhos que podem até dobrar o que ganham.
Considerando
somente os salários e benefícios dos 513 deputados brasileiros, sem contar os
demais gastos da Câmara, é consumido cerca de R$1 bilhão por ano, utilizando os
valores de 2016. Como os salários e os privilégios são aumentados por eles
mesmos, é difícil fechar um valor que expresse o prejuízo que os parasitas da
Câmara e do Senado causam.
OS
CONGRESSISTAS MAIS CAROS DO MUNDO
Cálculo feito
pela Folha com dados de parceria da ONU mostra parlamentar brasileiro como o 2º
mais custoso.
CUSTO
DE CADA UM, EM US$ PPP*
Valor do
orçamento total de cada Casa, dividido pelo número de congressistas.
Acrescidos os
senadores, que custam R$ 165 milhões por ano à população que terá sua carne
cortada por Temer, o custo anual de deputados e senadores é de R$
1.104.128.508.53.
No total, são
594 parlamentares: 513 deputados e 81 senadores. Juntos, eles recebem cerca de
16 milhões de reais por mês. Esse valor equivale aos ganhos de 13.604
trabalhadores, quando se leva em conta o salário médio do brasileiro, de
1.166,83 reais.
Os
magnatas do Judiciário
Como sabemos,
não há limites para as regalias e benefícios financeiros dos políticos de alto
escalão assim como da cúpula do Judiciário (que acumulam tanta força que o
próprio Temer aceitou indispor-se com o empresariado para aumentar os seus
salários). Em tese, entretanto, na "sua" Constituição se estipula que
o salário dos juízes no Brasil tem um teto. Não pode ultrapassar o salário de
ministros do Supremo Tribunal Federal, o STF, hoje em R$ 33.763.
Levantamento
feito pelo Estado de S. Paulo mostra que o desembargador (como é chamado o juiz
de segunda instância nos Estados) do Tribunal de Justiça de Minas Gerais
recebeu nos últimos 12 meses, entre junho de 2015 e julho de 2016, em valores
líquidos, cerca de R$ 750 mil. O paulista, quase R$ 695 mil. O do Estado do Rio
de Janeiro, cerca de R$ 507 mil.
Esses valores
superam os pagos a um juiz similar no Reino Unido, que recebe cerca de R$ 29
mil, e até dos Estados Unidos, cujo salário mensal médio é de R$ 43 mil. Chega
a ser superior a juízes da Suprema Corte de países da União Europeia, como
Bélgica e Portugal.
O valor supera
de longe os ganhos anuais líquidos de um juiz da suprema corte da Itália, por
exemplo, que equivale a R$ 356 mil, bem como os da França, que anualmente
recebem cerca de R$ 341 mil por ano. Fica muito acima dos cerca de R$ 260 mil
anuais recebidos pelos juízes da suprema corte da Áustria e dos R$ 243 mil
pagos aos juízes da suprema corte da Holanda e os R$ 205 mil para os da
Bélgica. Os ganhos chegam a ser particularmente altos quando comparados ao dos juízes
da suprema corte de Portugal, que recebem o equivalente a R$ 134 mil por ano.
Os desembargadores de Minas, São Paulo e Rio só perdem para o juízes da suprema
corte da Suíça, cujo salário anual encosta
em R$ 1 milhão.
ALÉM
DO TETO
Juízes do
Brasil não podem ganhar mais que os R$33,8 mil pagos a um juiz do Supremo
Tribunal Federal (STF), mas verbas adicionais que não são consideradas salários
- indenizações, auxílios e outros tipos de rendimentos eventuais - elevam o
ganho mensal de juízes de outras instancias, como desembargadores.
Por isso, o
Judiciário brasileiro é o mais caro do mundo. Em 2014, o sistema consumiu 68,4
bilhões de reais em verbas públicas, o equivalente a 1,2% das riquezas
produzidas pelo país no período. A conta inclui as repartições federais,
estaduais, trabalhistas, eleitorais e militares. E não leva em conta o Supremo
Tribunal Federal e seus 577 milhões de reais de orçamento. O gasto é de 0,32%
do PIB na Alemanha, de 0,28% em Portugal, de 0,19% na Itália, de 0,14% na
Inglaterra e de 0,12% na Espanha. Nos Estados Unidos, 0,14%. Na América do Sul,
a Venezuela consome 0,34%, o Chile, 0,22%, a Colômbia, 0,21%, e a Argentina,
0,13%.
Os juízes do
Tribunal Superior do Trabalho e os ministros do Supremo Tribunal Federal são
peça chave para a implementação das reformas antioperárias de Temer: o
presidente golpista disse mais de uma vez que pensa em “não enviar ao
Congresso” a reforma trabalhista, uma vez que os tribunais avançam em abrir
jurisprudência para a retirada dos direitos já escassos da CLT, o que tornaria
desnecessária a reforma (e o desgaste de votá-la).
Derrubar
a PEC e os privilégios dos políticos
A direita se fortaleceu como resultado do pleito eleitoral municipal; isso,
entretanto, não significa que conseguiu reverter a relação de forças entre as
classes, instalada depois das Jornadas de Junho de 2013. Graças à débâcle
petista, e não por estar isenta a crise de representação que provocou a maior
fragmentação de votos desde 1988, a direita deu um primeiro passo para
construir uma “nova hegemonia” encabeçada pelo PSDB. Não obstante, sem haver
derrotas significativas do movimento de massas e da classe trabalhadora, este
triunfo na superestrutura tem um limite político: basta ver que o governo Temer precisa usar o poder judiciário para aplicar ataques que o
regime não tem força para implementar sozinho.
Organizar a
resistência contra a PEC 241 (como fazem os secundaristas do Paraná e em
diversos estados nas ocupações de escola) tem de levantar como ponto chave o
questionamento dos privilégios dos parlamentares, juízes, procuradores,
magistrados. Como parte da luta por derrubar estes ataques, levantamos a
exigência de que todo político de alto escalão e juiz seja eleito e revogável,
com os julgamentos sendo feitos por júri popular, destituídos de todos os
benefícios financeiros e recebendo o mesmo salário de uma professora.
quando vejo ,deputados do pt,psol,pc do b e outros reclamando da Pc...tudo teatro politico !!!! todos beneficiados
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