Como
funciona o teto de gastos públicos?
Por Bruno André Blume*
Uma das
principais medidas anunciadas até agora pelo governo de Michel Temer é a PEC
241, que limita o crescimento dos gastos do Governo Federal a um teto
por 20 anos. No dia 25 de outubro, a PEC foi aprovada em plenário na
Câmara dos Deputados, na segunda votação. Nesta votação, 359 deputados foram a
favor, 116 contra e houve 2 abstenções. Foram 7 votos favoráveis a menos
do que na primeira votação.
Como se trata
de uma Proposta de Emenda Constitucional, o projeto de teto para gastos
públicos precisa ser aprovado em duas votações por pelo menos três quintos
dos deputados (308), e depois mais duas vezes por três quintos dos senadores
(49). Portanto, a PEC ainda precisa passar por duas votações no plenário
do Senado. Vamos explicar que proposta é essa e quais serão os
impactos dessa medida para o governo e para você, cidadão brasileiro.
Teto de gastos
públicos: como funciona?
Com a crise
econômica, esse crescimento de gastos tornou-se um problema, pois torna muito difícil
realizar o ajuste fiscal. A queda de receitas agrava ainda mais o problema
fiscal. Como consequência, teremos um déficit primário de R$170 bilhões, o
maior já registrado no Brasil.
A proposta do
governo Temer para resolver o problema é congelar a trajetória de crescimento
dos gastos, com a imposição de um teto para tal crescimento. Veja os principais
pontos da proposta, que foi apresentada em forma de PEC, a 241, ao Congresso.
O
QUE É A PEC 241
A proposta do
governo de Michel Temer é estabelecer um limite para os gastos do
governo federal durante os próximos 20 anos, tendo como base o orçamento do
governo em 2016. Gastos com saúde e educação passariam a cumprir a regra
apenas a partir de 2018.
QUAIS
SÃO OS PRINCIPAIS PONTOS DA PROPOSTA DE LIMITE DOS GASTOS PÚBLICOS?
A ideia da PEC
241 é que o crescimento dos gastos públicos seja totalmente
controlado por lei. A proposta do governo é limitar esse crescimento apenas ao aumento da inflação. Alguns
gastos até poderiam crescer mais do que a inflação, desde que houvesse cortes
reais em outras áreas. Na prática, portanto, as despesas do governo não
teriam crescimento real. Esse teto de gastos ficaria em vigência pelos
próximos 20 anos, a partir de 2017. Mas o congelamento dos gastos público
poderá ser revisado após 10 anos.
A proposta
ainda prevê algumas punições para órgãos da União que extrapolarem o limite de
gastos: proibição de aumentar os salários dos servidores no ano seguinte,
de contratar concurso público, de criar novos cargos ou
reestruturar planos de carreira.
TETO
PARA A DESPESA PÚBLICA: JUSTIFICATIVAS
O governo
Temer sustenta que a PEC é necessária para controlar gastos públicos, que
estariam em uma trajetória insustentável de crescimento. Segundo dados do
Tesouro Nacional e do IBGE, entre 1997 e 2015 as despesas do Governo
Federal cresceram de R$ 133 bilhões para R$ 1,15 trilhão, um crescimento de
mais de 864%.
No mesmo período, a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), do IBGE, subiu 306%. Ou seja, os gastos reais do governo cresceram em ritmo acelerado ao longo de quase duas décadas. Esse crescimento de gastos deve-se em grande parte a regras da nossa legislação que garantem reajustes acima da inflação para várias áreas do orçamento público.
No mesmo período, a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), do IBGE, subiu 306%. Ou seja, os gastos reais do governo cresceram em ritmo acelerado ao longo de quase duas décadas. Esse crescimento de gastos deve-se em grande parte a regras da nossa legislação que garantem reajustes acima da inflação para várias áreas do orçamento público.
Esse aumento
dos gastos não era visto como um problema ao longo da década passada, já
que o governo também arrecadou mais receitas, graças ao crescimento
econômico na década de 2000. Mas com a crise econômica que o país
vivencia desde 2015, essa questão voltou a receber atenção. O
problema é que, enquanto os gastos continuam a subir, a arrecadação de
tributos desacelerou muito, junto com o resto da economia. Em 2015, o
governo arrecadou 5,62% menos recursos do que em 2014, em
valores reais.
Antecipando a
grave situação da política fiscal, o governo de Dilma planejou um
ajuste no início de 2015, que não incluía a ideia de teto, mas procurava evitar
um rombo nas contas públicas. As principais medidas eram cortar gastos e
aumentar impostos. O ajuste não saiu da forma como a equipe econômica
de Dilma esperava. Em 2016, com o afastamento dela e a chegada de Temer à
presidência, foram escolhidos um novo ministro da Fazenda e auxiliares, que têm
procurado solucionar a questão fiscal através do controle das despesas.
QUAIS
SÃO AS PRINCIPAIS IMPLICAÇÕES DO TETO DE DESPESAS?
Caso o teto de
gastos seja aprovado, a tendência é que dentro de alguns anos o Estado
brasileiro tenha uma participação menor na economia e que sejam limitados os
recursos que financiam serviços públicos, tais como educação e saúde.
Por lei, o
governo deve destinar um percentual de suas receitas para essas áreas.
Você pode aprender melhor sobre isso no nosso post sobre quanto o governo investe em saúde e educação. Entre 2003 e 2015, os gastos para tais
serviços públicos, considerados muito importantes para o desenvolvimento e
melhoria de qualidade de vida do país, cresceram em média 6,25% ao
ano acima da inflação. Saúde e educação serão incluídas na regra
do teto, mas devem sempre crescer pelo menos o equivalente à inflação, ou
então mais, se o governo conseguir cortar gastos em outras áreas. Além disso, o
governo estuda aumentar o percentual mínimo de investimento em saúde previsto
em lei, o que garantiria R$ 10 bilhões a mais a partir de 2017. Com
crescimento controlado das despesas nessas áreas, pode haver menos
recursos disponíveis, o que pode afetá-las negativamente.
PEC
241 E O SALÁRIO MÍNIMO
A PEC 241
prevê que, se o limite de gastos for desrespeitado pelo poder público, o
salário mínimo não poderá ser reajustado acima da inflação. Por isso, haverá
uma grande relação entre o congelamento dos gastos públicos e o valor
do salário mínimo nos próximos anos. O Jornal Estadão realizou
um cálculo, por meio de um sistema de notícias em tempo real da Agência
Estado, que conclui: o salário mínimo seria de R$400,00 hoje,
se a PEC estivesse em vigor desde 1998. Essa conta foi realizada pelo
economista Bráulio Borges, pesquisador associado do Departamento de Economia
Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas
(Ibre/FGV).
De 1998 para
2016, o salário teve aumento médio de 4,2% ao ano. Se aprovada a
proposta, seria muito provável que ele crescesse junto à inflação,
e questões como a diminuição da desigualdade social e o crescimento do
poder aquisitivo de classes mais baixas não teriam ocorrido.
PEC
241 E A PREVIDÊNCIA
O governo
afirma que a PEC 241 não terá efeito se outras medidas não forem tomadas,
especialmente a reforma da Previdência. Isso porque a Previdência Social é
despesa obrigatória que representa mais de 40% dos gastos do governo(excluindo
juros da dívida pública). E a tendência é que os gastos com Previdência
aumentem cada vez mais nos próximos anos. Como a PEC 241 impõe o congelamento,
o crescimento real de gastos previdenciários implicaria diminuição de
despesas não obrigatórias, como apontaram especialistas consultados
pelo G1.
TETO
DE GASTOS: EXPERIÊNCIA DE OUTROS PAÍSES
Segundo a
Agência Pública, outros países chegaram a adotar limites de gastos públicos.
Alguns exemplos são Holanda, Finlândia e Suécia. Entretanto, nenhum deles
chegou a impor um teto com as condições da PEC 241. Na maior parte dos
casos, as condições do limite de gastos são revistas depois de quatro ou cinco
anos. O teto proposto pelo governo Temer duraria 20 anos, com possibilidade de revisão
a partir de dez. Além disso, muitos países não limitaram o crescimento das
despesas apenas à inflação. A Dinamarca, por exemplo, limitava o crescimento
real a 0,5% ao ano. Por fim, nenhum país chegou a incluir a norma de
congelamento de gastos na Constituição.
OPINIÕES
DE QUEM É CONTRA E A FAVOR DA PEC 241
A
favor da PEC 241
O governo
afirma que a austeridade seria o único caminho para recuperar a economia.
Alterando as leis que regem as contas públicas, elas melhorariam e seria
recuperada a competitividade da economia por meio de redução de salários e
gastos públicos;
Necessidade de
contenção de gastos para diminuir a dívida pública, que está em trajetória
crescente;
Produzirá
efeitos de restabelecimento da economia em longo prazo.
Contra
a PEC 241
A diminuição
do gasto afetaria políticas públicas que beneficiam diretamente classes
sociais mais baixas – as mais dependentes dos serviços oferecidos pelo Estado
-, o que tende a piorar sua qualidade de vida e retroceder o quadro de
desigualdade social no país, que melhorou nos últimos anos;
Apesar de a
política de valorização acima da inflação ter onerado as contas do governo, por
outro lado ajudou a reduzir a desigualdade e a movimentar a atividade
econômica, ressaltam especialistas;
A oposição
argumenta que o pagamento com juros da dívida pública não é atingido pela PEC.
*Bruno André Blume
Bacharel em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e editor de conteúdo do portal Politize!.
aprova ou Brasil vai quebrar........
ResponderExcluirnunca vi gastar mais do que se arrecada