sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Da agenda Fiesp ao austericídio

Desde o final de 2014, o Brasil vem sendo submetido à retórica que propõe a austeridade como único caminho para recuperar a economia. Com o objetivo de melhorar as contas públicas e restaurar a competitividade da economia por meio de redução de salários e de gastos públicos, a austeridade se sustenta em argumentos controversos e até mesmo falaciosos.

Entre os principais experimentos internacionais, vem predominando resultados contraproducentes, não resultando em crescimento, tampouco equilíbrio fiscal. O que sim é menos controverso é que tais experimentos têm como objetivo redesenhar o papel do Estado para atender interesses velados. No Brasil, o ajuste econômico ortodoxo, iniciado na gestão Levy, fracassou em retomar o crescimento e estabilizar a dívida pública, contribuindo para lançar o país no maior retrocesso econômico das últimas décadas. Não obstante, o ajuste ajudou a criar as condições necessárias para mudança da correlação de forças políticas e para impor ao país, passando ao largo do crivo das urnas, outro projeto de sociedade. Nesse contexto, esse documento procede uma análise das finanças públicas e política fiscal no Brasil, procurando esclarecer as principais causas da atual crise fiscal, assim como desconstruir simplificações e mitos, muitos dos quais baseados em argumentos econômicos supostamente técnicos que sustentam a austeridade.


Da agenda Fiesp ao austericídio 

• A economia brasileira entrou em uma trajetória de desaceleração no quadriênio 2011-2014 depois do desempenho extraordinário durante 2007- 2010. Há fatores que escapam à política econômica e explicam essa desaceleração, dentre eles a perda de dinamismo de um ciclo doméstico de consumo e de crédito ou os desdobramentos da crise internacional. Contudo, é importante apontar que a política fiscal praticada pelo governo contribuiu para essa trajetória de queda do crescimento.

• Enquanto no quadriênio 2007-2010 o espaço fiscal foi canalizado prioritariamente para investimentos públicos, no quadriênio 2011-2014 a taxa de investimento parou de crescer e, em compensação, o governo elevou significativamente os subsídios e desonerações ao setor privado. O governo fez uma aposta no setor privado e acreditou que promoveria o crescimento econômico via realinhamento de preços macroeconômicos e incentivos aos investimentos privados – a chamada agenda FIESP. Ironicamente, a FIESP passou de beneficiada das políticas de um governo para algoz do mesmo.

• Como resposta ao cenário de piora nos indicadores fiscais provocada pela queda no crescimento econômico e pelas desonerações, o segundo governo Dilma tem início adotando a estratégia econômica dos candidatos derrotados no pleito de 2014, ou seja, realizou um choque de preços administrados e um duro ajuste fiscal e monetário, na esperança de que o setor privado retomasse a confiança e voltasse a investir. Joaquim Levy foi o símbolo da implementação da austeridade econômica no Brasil que consiste em uma política deliberada de ajuste da economia por meio de redução de salários e gastos públicos para supostamente aumentar lucros das empresas e sua competitividade, assim como tentar estabilizar a trajetória da dívida, com resultados contraproducentes.

• O forte ajuste fiscal, em uma economia já fragilizada, agravou os problemas existentes e contribuiu para transformar uma desaceleração em uma depressão econômica. O ajuste fiscal promovido se mostrou contraproducente, pois gerou aumento da dívida pública e do déficit público. 

• Em 2015, por exemplo, os investimentos públicos sofreram queda real de mais de 40% no nível federal, o gasto de custeio caiu 5,3%, e o governo não logrou a melhoria das expectativas dos agentes econômicos que justificaria esse ajuste com vistas a retomar o crescimento. Pelo contrário, a economia real só piorou e as expectativas se deterioraram, apesar de toda a austeridade fiscal manifestada e praticada. Naquele ano, apesar de todo o esforço do governo para reduzir as despesas, que caíram 2,9% em termos reais, as receitas despencaram e o déficit ficou ainda maior, evidenciando o caráter contraproducente do ajuste: o austericídio.


• A virada para a austeridade foi um remédio equivocado para os problemas pelos quais a economia brasileira passava. O tratamento de choque fundado em uma contração fiscal, um rápido ajuste na taxa de câmbio, um choque de preços administrados e um aumento de juros contribuiu para criar a maior crise econômica dos últimos tempos. Contudo, para determinados interesses políticos, o ajuste se mostrou funcional ao gerar desemprego, queda de salários reais e assim mudar a correlação de forças para favorecer a imposição de outro projeto de país, sem passar pelo crivo das urnas.

Via http://brasildebate.com.br/

2 comentários:

  1. rsrs crivo das urnas,quem votou na dilma votou no Temer ! ou nao...
    eu nao votei...
    PMDB sempre foi bom de voto.

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    Respostas
    1. Boa tarde, Meu caro Ivan Balbino.

      Agradeço a honra de sua visita e participação no meu blog.

      Ao contrario de você eu votei sim no projeto de governo que elegeu a candidata do PT. Veja bem, eu votei no projeto de governo do PT e não nesse projeto que ai está, a pinguela para o fim do mundo. A desculpa de que quem votou na Dilma também votou no Temer não serve como justificativa, afinal, o Temer, deu um golpe em quem a ele confiou o voto, não pelo fato de ter havido alguma irregularidade com o processo de impeachment da presidente Dilma, ela foi cassada porque é fraca politicamente e permitiu se deixar ser cassada. Fosse outro, qualquer outro politico que estivesse no lugar dela, teria sabido o que devia fazer para evitar ser cassada. Os políticos brasileiros acostumaram-se a serem corrompidos, assim como funcionava em épocas anteriores. Foi assim quando o FHC comprou os votos dos parlamentares para que eles aprovassem à reeleição por ele proposta e, assim também foi no primeiro e até meados do segundo mandato de Lula, onde, no caso do mensalão, políticos, estes mesmos que agora votaram pelo impeachment de Dilma, vendiam seus votos, fosse para aprovar matérias que beneficiasse o povo, fossem projetos para se auto-beneficiarem. Portanto, faltou à Dilma um pouco de descaramento para ser mais uma e agir como todos agem, inclusive como está agindo o Temer para aprovar a toque de caixa todas as matérias que a ele, aos empresários e banqueiros interessam.

      Abração

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