Pelo exposto
nesta Nota Técnica, fica claro que a PEC 241 impactará negativamente o financiamento
e a garantia do direito à saúde no Brasil. Congelar o gasto em valores de 2016,
por vinte anos, parte do pressuposto equivocado de que os recursos públicos
para a saúde já estão em níveis adequados para a garantia do acesso aos bens e
serviços de saúde, e que a melhoria dos serviços se resolveria a partir de
ganhos de eficiência na aplicação dos recursos existentes. Ademais, o
congelamento não garantirá sequer o mesmo grau de acesso e qualidade dos bens e
serviços à população brasileira ao longo desse período, uma vez que a população
aumentará e envelhecerá de forma acelerada. Assim, o número de idosos terá
dobrado em vinte anos, o que ampliará a demanda e os custos do SUS.
Caso seja
aprovada, a PEC 241 tampouco possibilitará a redução das desigualdades na
oferta de bens e serviços de saúde no território nacional. Não só não haverá
espaço no orçamento para tanto, como o teto das despesas primárias, em um
contexto de aumento acelerado das despesas previdenciárias, levaria a um
processo de disputa das diversas áreas do governo por recursos cada vez mais
escassos. Como o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, a redução do
gasto com saúde e dos gastos com políticas sociais de uma forma geral afetará
os grupos sociais mais vulneráveis, contribuindo para o aumento das
desigualdades sociais e para a não efetivação do direito à saúde no país.
Não se
desconhece o problema da queda da arrecadação e da crise econômica no país. O
que se espera é que a solução para o déficit público seja pensada de acordo com
as suas reais e diversas causas. A proposta de um ajuste fiscal focado
exclusivamente nas despesas primárias, por vinte anos, afeta particularmente as
políticas sociais e desconsidera o efeito de tal medida para o desenvolvimento
econômico e social do país no médio e longo prazos.
É possível
melhorar o desempenho da administração pública no Brasil e, por conseguinte, do
SUS, mas é necessário haver decisão política para implementar medidas que
promovam o uso eficiente dos recursos em toda a federação. Não parece crível
que os recursos do SUS possam ser reduzidos na atual situação e que se possa ao
mesmo tempo melhorar sua eficiência. É preciso investir em pessoas e
tecnologias, além de melhorar a infraestrutura do sistema, algo difícil de
fazer no curto prazo. Para tanto, é necessário alocar recursos.
Por fim, o que
se espera é que a PEC 241 seja amplamente debatida e que seus efeitos sejam
avaliados não apenas para a economia, mas acima de tudo para as pessoas, para
os 206 milhões de cidadãos do país. Essa mudança constitucional reduzirá o grau
de liberdade da política fiscal dos dois próximos mandatos presidenciais, e não
deveria ser aprovada sem um amplo debate. Que visão de futuro se tem para o
Brasil? Espera-se ter um país socialmente mais desenvolvido daqui a vinte anos?
Então é preciso refletir sobre os impactos de uma decisão que ocasionaria o
desfinanciamento de políticas que promovem a saúde e a inclusão social no país.
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Dag Vulpi