Dag Vulpi – 17 de outubro de 2025
Vivemos tempos em que pensar se tornou um ato de resistência. Nossos vieses moldam o olhar, a mídia define o que devemos enxergar e a pressa cotidiana nos impede de refletir. O resultado é uma lenta erosão da lucidez — e, com ela, a perda do que nos torna realmente humanos: a capacidade de discernir.
stamos cada vez mais reféns de nossas próprias certezas.
O viés da comparação e o viés de confirmação se tornaram companheiros silenciosos do nosso modo de existir — filtramos o mundo para enxergar apenas aquilo que reafirma nossas crenças, evitando o desconforto da dúvida. Esse automatismo mental, que um dia nos protegeu, hoje nos aprisiona.
Ao mesmo tempo, a mídia, com seu poder de moldar percepções, alimenta e amplifica esses filtros. Ela decide o que é relevante, o que merece indignação e o que será esquecido amanhã. O problema é que, quando terceiramos o pensar, abrimos mão do essencial: a autonomia intelectual.
Vivemos o que chamo de a morte lenta do pensar — um processo sutil e quase imperceptível, em que o pensamento crítico vai sendo substituído pela reação automática.
Rolamos telas, reagimos a manchetes, compartilhamos frases feitas. O tempo da reflexão dá lugar ao da impulsividade. E o que antes era busca por entendimento se transforma em consumo de opinião.
Três forças se unem nesse cenário:
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O conforto do viés – que nos impede de duvidar.
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A pressa da era digital – que nos impede de refletir.
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O poder da mídia – que decide por nós o que pensar.
Romper esse ciclo é tarefa árdua, mas possível. Exige vigilância interior e disposição para o desconforto de pensar por conta própria. Significa reconhecer que não sabemos tudo, e que a verdade — quando existe — raramente é simples.
Pensar é, hoje, um ato subversivo.
Duvidar é uma forma de liberdade.
E manter viva essa chama crítica talvez seja o último gesto de lucidez possível em meio à avalanche de ruídos que chamamos de informação.
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Dag Vulpi