Ponto por ponto III,
As razões explicáveis para os lucros rápidos,
exorbitantes e inexplicáveis das empresas privatizadas durante o governo
Fernando Henrique Cardoso.
Dando prosseguimento, vamos continuar na
tentativa de entender os reais motivos das privatizações das empresas públicas
feitas no período de 1995/2002, logo, durante o governo do então presidente
Fernando Henrique Cardoso .
Obs. Todas as referencias transcritas abaixo são
da época das privatizações.
Leia também:
Ponto por ponto I
Ponto por ponto II
Leia também:
Ponto por ponto I
Ponto por ponto II
Nesta terceira postagem do Ponto por Ponto
trataremos dos seguintes assuntos:
·
CONTAS
FALSAS
·
DÍVIDAS
“ENGOLIDAS” II
·
DÍVIDAS
DUPLAS
·
DIVIDENDOS
·
JUROS
SUBSIDIADOS
•
CONTAS FALSAS
O governo repetia insistentemente que a União e
os estados arrecadaram 68,7 bilhões de reais com a venda das estatais, até
dezembro de 1998, e que a esse valor é preciso, ainda, somar outros 16,5
bilhões de reais representados pelas dívidas “transferidas” para os
compradores, totalizando 85,2 bilhões de reais.
Minuciosos,
Os porta-vozes do governo distribuem até
“cálculos”, mostrando quanto o governo teria desembolsado, no pagamento de
juros, sobre essas dívidas “transferidas”. O argumento é um blefe, por vários
motivos:
•
DÍVIDAS “ENGOLIDAS” II
Já que o governo “calculou” os juros
economizados, por que não calcula também os juros que passou a pagar sobre as
dívidas “engolidas”? Quem é sério usa esse critério.
•
DÍVIDAS DUPLAS
Na verdade, no caso das dívidas “transferidas” o
cálculo de “juros” seria um procedimento incorreto. Por quê? Como já dito
anteriormente: com as tarifas e preços reajustados, com financiamentos a juros
favoráveis, com novos investimentos, as estatais, mesmo se tivessem permanecido
nessa condição, também seriam lucrativas. Pagariam suas dívidas. Portanto,
ficariam livres dos juros ao longo dos anos. Com a “venda”, ocorreu o
contrário: o governo ficou sem as fontes de renda e “engoliu” as dívidas e os
juros que foi forçado a pagar com dinheiro do Tesouro, isto é, do contribuinte.
Nosso.
•
DIVIDENDOS
Tão meticulosos em calcular os juros
“economizados”, os técnicos do governo se esquecem, muito distraídos, de
incluir três outros dados nessas contas.
Primeiro:
Os lucros que as principais estatais sempre
apresentaram, e que teriam de ser subtraídos, se os cálculos fossem feitos com
honestidade, dos “pagamentos de juros” divulgados pelo governo.
Segundo:
Os dividendos que eram distribuídos ao Tesouro
pelas estatais.
Terceiro:
A valorização futura das ações das estatais nas
bolsas.
Até tu, Malan?
Tudo somado, contas bem feitas mostrariam que as
privatizações não reduziram a dívida e o “rombo” do governo. Ao contrário, elas
contribuíram para aumentá-los. O governo ficou com dívidas, e sem as fontes de
lucros para pagá-las. Ironicamente, o governo reconheceu isso com todas as
letras.
Na carta de intenções que o ministro da Fazenda,
Pedro Malan, entregou ao FMI (Fundo Monetário Internacional),
inconscientemente, o governo confessa que o equilíbrio das contas do Tesouro
ficou mais difícil porque o governo deixou de contar com os lucros que as
estatais ofereciam como contribuição para cobrir o rombo até serem vendidas.
Pasme-se, mas é verdade.
•
JUROS SUBSIDIADOS
Não se deve esquecer, finalmente, que juros
privilegiados nos empréstimos aos “compradores” representam subsídios,
ostensivos ou “invisíveis”, por parte do BNDES ou, indiretamente, do próprio
Tesouro.
Para piorar, até abalos no real
As privatizações não contribuíram, portanto, para
reduzir o “rombo” e as dívidas do Tesouro totalmente atolado, em 1999, com o
pagamento de juros na casa astronômica dos 130 bilhões de reais. Uma quantia
impagável, já que era praticamente o valor de todo o orçamento da União em 1999,
excluindo-se a Previdência, no montante de 160 bilhões de reais.
Pior ainda:
Apolítica de privatizações tampouco desempenhou o
outro papel que se anunciava para ela, a saber, o de criar “novos motores na
economia”, com a contratação maciça de encomendas nas indústrias do país,
graças aos investimentos gigantescos previstos para as áreas de
telecomunicações, energia e, em menor escala, ferrovias, além da área
petrolífera.
Ao contrário:
Com a conivência e até incentivos do governo,
esses setores vinham realizando importações explosivas, “torrando” dólares e
ampliando o “rombo” da balança comercial (exportações menos importações). Além
disso, os “donos” multinacionais das empresas privatizadas passaram a realizar
remessas maciças para o exterior, para seus países, seja como lucros,
dividendos, juros ou até como pagamento de “assistência técnica” ou “compra de
tecnologia” de suas matrizes. Em lugar de ajudar a tapar o “rombo” externo, a
privatização o agravou, e de forma permanente.
Como?
Decisões do governo que dessem preferência ao
produtor local poderiam corrigir distorções e levar à redução nas importações.
Mas as remessas às matrizes permanecerão.
Para sempre.
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Dag Vulpi