Por
Rui
Rodrigues no Bar do Chopp Grátis
Em casa nos ensinavam a sermos umas crianças boazinhas. A única maldade que aprendíamos em casa era a bater. Naquela época nos batiam para que fossemos crianças boazinhas. Não pensavam, não raciocinavam, e produziam revoltados. Eu vi mais tarde, aqueles que mesmo apanhando diziam que eram culpados, bem mais tarde, ainda bendizer as surras que apanharam de cinto, de chinelo, de palmatória. Mas isso era na escola.
Apanhei bastante apesar de ser sempre o
primeiro ou o segundo da turma, até o dia em que comecei de espontânea vontade
a oferecer a minha mão para a palmatória da minha querida professora dona
Ermelinda. Digo querida, porque sem ela, meu pai não me teria posto na escola
para estudar e muito menos para me formar. Já ouvi falar do complexo de Édipo,
do complexo de Electra, e agora temos que inventar o complexo de “inveja
paternal”. Podia pagar com folga. Porque não queria que eu estudasse? Não valia
a pena o sacrifício, que nem era sacrifício nenhum? Mas quando me formei ficou
orgulhoso e me apresentou aos amigos como “meu filho engenheiro”. Ah... Os
professores... Então... Todos... Todos eles me ensinaram os bons modos, a ser
um sujeito decente, competente, com a recomendação de que seria mais um cidadão
do futuro a desenvolver a minha pátria. Como tenho duas pátrias, tenho que
desenvolver duas, por isso que não recomendo a ninguém a dupla nacionalidade.