O
PT era um partido que se destacava por valorizar a participação democrática de
sua militância nas tomadas de decisão de sua legenda. E esse era um diferencial
em relação aos demais partidos. Porém,
com a chegada e permanência no poder ele começou a dar impressão de perda da
identidade, afastando-se das raízes ideológicas e tornando-se um partido comum,
mostrando vícios que o nivelam com os demais. O PT perdeu a capacidade de
pensar estrategicamente e se sobrepor às disputas internas, fazer das
ideologias as lutas maiores e mais importantes para o partido. Os verdadeiros
petistas perderam espaço dentro do PT, por excesso de desunião, projetos
pessoais, e principalmente, com a ausência de projetos nacionais.
Já
se passaram sete anos da realização do 4º Congresso Nacional do PT ocorrido em fevereiro
dos idos anos de 2010. Nele deliberou-se pela realização de um amplo debate a
respeito de sua trajetória organizativa e dos desafios presentes e futuros
daquela instituição partidária que naquela data completava 31 anos de fundação.
Aquele
congresso teve por objetivo principal atualizar seu estatuto partidário e
reforçar os instrumentos institucionais internos que garantiriam a democracia e
concepção organizativa do partido.
Passados
sete anos, o que mudou no PT?
Se
algo mudou, essa mudança foi benéfica ou o tempo provou que as lideranças do
partido estavam completamente equivocadas na forma escolhida para promover as
tais mudanças tão necessárias?
A
resolução que estabeleceu essa reforma definiu uma pauta obrigatória, fruto das
reflexões acerca da vivência política que os levou a tantas vitórias
importantes, mas que também passou por crises e impasses marcantes.
Debateu-se
o financiamento da atividade partidária, ou seja, foram discutidas sem reservas
as formas de sustentar materialmente o partido e reduzir sua dependência de
financiamentos externos. Aquele foi um ponto decisivo para estabelecer, de
forma transparente, uma estratégia permanente que viabilizaria o crescimento
sustentável de sua presença política na sociedade.
Naquele
congresso também destacou-se a necessidade de ser mantido o caráter coletivo
das campanhas eleitorais do Partido, ou seja, como garantir que os projetos
individuais não se sobreponham às demandas coletivas e à democracia interna. Em
um partido como o PT, o risco de tornarem-se reféns da estrutura política
externa ao partido é sempre presente, quanto mais o partido cresce mais seus
líderes tornarem-se atores decisivos da vida política da Nação.
Tratou-se
também e especialmente, da necessidade de aumentar o número de filiados e
melhorar a vida orgânica do Partido. O PT, na maioria das pesquisas de
opinião, tinha mais de 20% de simpatia popular, em torno do triplo do segundo
colocado, o PMDB, que registrava entre 6 a 9% dos pesquisados. É razoável que o
partido tenha a ambição de trazer 20% desses simpatizantes, para o ato de
filiação formal ao partido com o qual se identificam. Isso representaria
quintuplicar o quadro. Mas para que isso fosse conquistado de consciência
e participação, teriam que tratar da ampliação da democracia interna, inclusive
garantindo formação política e comunicação interna regular para o conjunto dos
filiados. Por mais que o PT fosse a experiência mais efetiva de participação
partidária do Brasil naquele ano e referência para inúmeros partidos de outros
países nesse aspecto, sabia-se que havia um enorme desafio para superar o
abismo entre a filiação e a real participação democrática nos rumos da vida
interna do partido.
As
experiências positivas e negativas verificadas nos PEDs de 2001 a 2009 haviam
determinado o desafio de consolidar o instrumento do voto direto e afastar do
seu caminho os desvios típicos das disputas eleitorais despolitizadas. Para
tanto, era necessidade urgente o fortalecimento da capacidade dirigente das
instâncias partidárias.
A
combinação entre a agenda institucional do Partido e as lutas sociais
determinava o caráter multifacetado de um partido que buscava intervir nos mais
variados espaços do Brasil. Para que isso se sustentasse em termos
estratégicos, era vital capacitar o Partido para o debate ideológico
e programático em curso na sociedade brasileira da época.
O
debate a ser feito seria determinante para que a construção partidária se
consolidasse nos próximos anos. Mais que discutir regras isoladas de
eleição de instâncias, o fundamental era ousar no projeto organizativo e buscar
a qualidade das relações políticas como insumo básico para seu projeto
político.
No
momento em que a sociedade brasileira retoma a questão da reforma política, a
primeira iniciativa de sua reforma interna deveria ser a participação das
bases do partido na discussão. As centenas de milhares de filiados deveriam dar
a demonstração de que aquele não era um problema da direção, nem as respostas
viriam da cúpula. O PT sempre mostrara que a militância é que defendia e
protegia o partido, na luta pela democracia de seu projeto socialista.