A ex-senadora
Marina Silva afirmou hoje (21) que o ajuste fiscal é apenas parte de um
"ajuste Brasil" em que é necessária uma mudança de postura das
lideranças políticas para enfrentar o momento de crise, que ela considera
"dramático". Marina participou de um seminário promovido pelo Centro
Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro, e disse que
"nenhuma das forças políticas tem a resposta isoladamente".
"O Brasil
vive uma crise sem precedência. Uma crise grave na política", criticou
ela, afirmando que em 2010 apontava para "um atraso na política" que
precisava ser mudado por colocar em risco conquistas sociais e econômicas.
"Era
preciso sair desse presidencialismo baseado na distribuição de pedaços do
Estado para uma governabilidade programática. Isso não foi feito. Não mudamos e
fomos mudados pela realidade".
A solução para
a crise, na visão dela, vai além dos ajustes econômicos. "É preciso que o
Brasil seja ajustado na economia? Sem sombra de dúvida, mas também na educação,
na infraestrutura e, principalmente, na postura dos partidos e das lideranças
políticas".
Para Marina, a
avaliação da sociedade é de que "os problemas são tão graves que o país
entrou em uma situação de desgovernança". "Quem ganha a eleição,
ganhou. Mas está tendo condição de governar? Essa é a pergunta".
Candidata à
Presidência da República na última eleição, a líder da Rede comentou as
declarações da presidenta Dilma Rousseff, feitas durante viagem à Europa, de
que o governo não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção. Marina disse
que é preciso reconhecer os problemas para resolvê-los. "Quem não
reconhece a natureza dos problemas, a magnitude dos problemas, com certeza não
se dispõe a resolvê-los".
Dilma fez a
afirmação ontem, após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, dizer que "o
governo está envolvido no maior escândalo de corrupção do mundo". Sobre
Cunha, Marina disse hoje que seu partido já apresentou representação ao
Conselho de Ética da Câmara contra o presidente, que é suspeito de manter
contas secretas no exterior. Marina disse que a decisão de renunciar é de foro
íntimo, mas que o "Conselho de Ética precisa se reunir urgentemente para,
como base nos autos de tudo o que já se tem apurado, tomar uma decisão".
A ex-senadora
também afirmou que a crise não pode ser instrumentalizada nem usada para
recuperar ou ganhar popularidade.
"É o
momento de olhar para a crise com profundo senso de responsabilidade. Não é
instrumentalizar a crise e usar a crise para ver quem se cacifa com ela. É
resolver a crise e o resto vem como acréscimo".