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sexta-feira, 7 de abril de 2017

Depressão: diagnóstico precoce evita agravamento e casos crônicos da doença


Agência Brasil

Ao longo das últimas décadas, a classificação dos sintomas e o próprio diagnóstico da depressão registraram avanços significativos – a doença deixou de ser considerada banal, uma espécie de momento de fraqueza ou mesmo frescura, e chegou a ser referendada por diversas entidades médicas de cunho internacional como o mal do século. No Dia Mundial da Saúde, lembrado hoje (7), o transtorno foi escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como tema prioritário e de suma importância.

Para o diretor executivo e professor do Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, Ciências Humanas e Sociais, João Nolasco, falar sobe depressão, conforme recomenda fortemente a própria OMS, deve ser o primeiro e mais importante passo não apenas para que fique claro que há tratamento para a doença – figura também como uma estratégia essencial para garantir o diagnóstico precoce, evitar o agravamento do quadro e, consequentemente, reduzir o número de casos crônicos do transtorno.

A distimia ou depressão leve é uma doença silenciosa. Hoje, entretanto, 6% da população mundial são acometidos por esse quadro. O indivíduo sofre calado e é comumente caracterizado como uma pessoa rabugenta ou mal-humorada. Atualmente, sabe-se que não se trata só de uma característica de humor ou temperamento. A pessoa está sempre triste, tudo é ruim, nada está bom. É alguém que não sente prazer ao realizar suas atividades rotineiras, mas consegue conviver, não se prostra”, explicou.

Confira, na íntegra, a entrevista com o psicanalista sobre a importância do diagnóstico precoce como estratégia para combater quadros crônicos de depressão:

Agência Brasil - É possível falar em prevenir casos crônicos de depressão?

João Nolasco - Dentro de um conceito psicanalítico, a grande prevenção da depressão gira em torno de a pessoa compreender a si mesma, já que a doença mexe com o que chamamos de falta de gerenciamento das emoções. Quando a gente não consegue ter essa percepção ou essa capacidade de gerenciar as emoções em torno do que acontece ao nosso redor, vão surgir diversos sentimentos e mecanismos de defesa. E um desses mecanismos pode se transformar em uma neurose ou em uma depressão. É uma espécie de baixa polaridade. Esse indivíduo se recolhe e, de alguma forma, quer fugir daquela dor.

Agência Brasil - O que fazer diante de um quadro de tristeza persistente?

Nolasco - Nesses casos, a reação deve ser sempre a busca pela psicoterapia. Em alguns casos, claro, se fazem necessários a entrada de medicamentos e o atendimento psiquiátrico. Mas a psicoterapia não pode faltar nunca, para que o indivíduo comece a compreender os porquês de tudo isso que acontece com ele. Trata-se de uma oportunidade para que consiga mudar. É como Sigmund Freud costumava dizer: quando a dor de não estar vivendo for maior do que o medo da mudança, a pessoa muda. Partimos desse princípio: a gente tem que fazer essa caminhada dentro de nós mesmos. Afinal, viver triste, prostrado e mal-humorado não é legal para ninguém.

Agência Brasil - No que exatamente consiste o tratamento?

Nolasco - As perguntas que sempre faço aos meus pacientes são: onde você estava? Onde está agora? E onde quer chegar? Também é preciso questionar-se: Quem você era? Quem você é agora? E quem você quer ser? Isso abre portas para novas descobertas e se revela como uma oportunidade de rever a vida. A depressão leve pode aparecer como uma espécie de primeira fase para um processo de depressão severa ou crônica. Isso porque o quadro pode se agravar e se tornar muito mais intenso. Tanto é que levamos em torno de dois anos, desde o aparecimento dos primeiros sintomas, para chegar ao diagnóstico de distimia.

Agência Brasil - Ainda há muita confusão em torno do que é a depressão e de quais são seus sinais e sintomas?

Nolasco - As pessoas ainda confundem muito a tristeza com a depressão. Apesar da aparente contradição, é importante saber que o indivíduo, para ser feliz, precisa ter tristeza. Só que essa tristeza tem dia, hora e local para surgir. E sair dela deve ser um processo natural, assim como entrar nela foi um processo natural. O processo depressivo, na verdade, só se agrava devido à proporção com a qual se vive essa tristeza. Quanto mais tempo o paciente leva para procurar ajuda, mais comprometido física e emocionalmente ele vai ficar. Às vezes, ele próprio não tem essa percepção. Vai indo, vai indo e, quando vê, já está totalmente tomado pelo problema.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Psicóloga diz que comentaristas agressivos da internet são frustrados

Pamela Rutledge 
Por Ricardo Senra da BBC
Você fica assustado com o teor assustadoramente agressivo de alguns comentários realizados em redes sociais ou sites em geral? Acredite você não é o único e esse fenômeno é até tema de estudos de comportamento. Uma das especialistas na área é a norte-americana Pamela Rutledge, do Media Psychology Research Center, que fica na Califórnia.

Impotência, frustração e uma necessidade de se impor sobre outras pessoas. Assim, a psicóloga americana Pamela Rutledge, diretora do Media Psychology Research Center (Centro de Pesquisas sobre Psicologia e Mídia), na Califórnia, avalia a agressividade de muitos "comentaristas" de redes sociais em tempos de polarização política no Brasil.

Referência em um ramo recente da psicologia dedicado a estudar as relações entre a mente e a tecnologia, Rutledge ressalta que as pessoas "são as mesmas", tanto em ambientes físicos quanto virtuais. Mas faz uma ressalva sobre a impulsividade de quem dedica seu tempo a ofender ou ameaçar pessoas nas caixas de comentários de sites de notícias e páginas de política:

"Já estamos acostumados com a ideia de que nosso comportamento obedece a regras sociais, mas ainda não percebemos que o mesmo vale na internet".

Além da polarização política ou ideológica, a especialista comenta a ascensão de temas como diversidade sexual, racismo e machismo ao debate público, graças às redes sociais.

"Tudo isso já acontecia, mas não tínhamos conhecimento."

Leia os principais trechos da entrevista.

BBC Brasil - Estamos mostrando o nosso 'lado negativo' nas redes sociais?

Pamela Rutledge - As pessoas são as mesmas, online ou offline. Mas a internet tem a ver com respostas rápidas. As pessoas falam sem pensar. É diferente da experiência social offline, em que você se policia por conta da proximidade física do interlocutor. Nós já estamos acostumados com a ideia de que nosso comportamento obedece a regras sociais, mas ainda não percebemos que o mesmo vale na internet.

BBC Brasil - No Brasil, a polarização política tem levado pessoas com visões distintas a se ofenderem e ameaçarem, tanto em comentários em sites de notícias quanto nas redes sociais. A internet estimularia o radicalismo?

Rutledge - As redes sociais encorajam pessoas com posições extremas a se sentirem mais confiantes para expressá-las. Pessoas que se sentem impotentes ou frustradas se comportam desta maneira para se apresentarem como se tivessem mais poder. E as pessoas costumam se sentir mais poderosas tentando diminuir ou ofender alguém.

BBC Brasil - Os comentários na internet são um índice confiável do que as pessoas realmente acreditam?

Rutledge - Depende do tópico. Mas as pessoas que tendem a responder de maneira agressiva não representam o sentimento geral.

BBC Brasil - As pessoas com opiniões menos radicais têm menos disposição para comentar do que as demais?

Rutledge - Sim. Porque os comentários agressivos têm mais a ver com a raiva das pessoas do que com uma argumentação para mudar a mente das outras. Quem parte para a agressividade, não está dando informações para trazer alguém para seu lado, estas pessoas querem apenas agredir.

BBC Brasil - A "trollagem", gíria de internet para piadas ou comentários maldosos sobre anônimos e famosos, muitas vezes feitos repetidamente, é vista por muita gente como diversão. Há perigos por trás das piadas?

Rutledge - No caso das celebridades que são alvo da ''trollagem'', os fãs vêm defendê-las, então, elas não costumam precisar tomar qualquer iniciativa. No caso dos anônimos, a recomendação é usar ferramentas para solução de conflitos, como encorajar seus amigos e conhecidos a não serem espectadores, mas a tomarem atitudes em defesa do ofendido. Isso não significa discutir com os autores das ofensas, porque isso alimenta os ''trolls'' e é isso que eles querem.

BBC Brasil - Os procedimentos de segurança do Facebook e do Twitter são suficientes para proteger os alvos de bullying?

Rutledge - Seria ingênuo esperar que qualquer companhia, mesmo do tamanho do Facebook e do Twitter, seja capaz de monitorar e ajudar neste tipo de situação. E não dá para deixar só para as empresas aquilo que devemos ser responsáveis, nós mesmos. É importante que as pessoas entendam como funcionam as ferramentas e seus mecanismos para privacidade. Se a conclusão for que o Facebook não oferece o suficiente, que as pessoas se posicionem e reclamem: ''Não é suficiente''.

BBC Brasil - Que tipo de doenças são ligadas ao uso da internet ou das redes sociais?

Rutledge - A resposta simples é não, não há doenças causadas pela internet. Há preocupações recorrentes com o vício em internet ou em redes socais. Mas vícios são doenças bastante sérias e a internet não cria personalidades com vícios. As pessoas usam as redes da mesma forma que usam álcool, jogos, chocolate, ou qualquer outra coisa que mascare problemas maiores.

BBC Brasil - Problemas como...?

Rutledge - Falta de autoestima, depressão. É importante chegar à real causa do vício, apenas cortar a internet não muda nada.

BBC Brasil - Temas como diversidade sexual, racismo e machismo, vistos como tabus até recentemente, são hoje bastante populares online. Como vê estes tópicos ganhando atenção?

Rutledge - É sempre positivo que as pessoas debatam e desenvolvam seu conhecimento sobre temas. Mesmo que a conversa termine de forma negativa, isso ainda vale para que se perceba o que está acontecendo a seu redor. Afinal, tudo isso já acontecia, mas não tínhamos conhecimento – e isso significa que estamos nos aproximando da possibilidade de transformá-las.

BBC Brasi - Quais são os conselhos para os pais ajudarem seus filhos a não embarcarem nas ondas de ódio das redes sociais?

Rutledge - A primeira coisa é conversar com as crianças desde muito cedo sobre tecnologia. Muitos evitam porque não entendem bem a tecnologia. Mas a tecnologia é apenas o "lugar" onde as coisas estão acontecendo; o principal ainda são os valores. Então, se algo está acontecendo em qualquer plataforma que os pais não conheçam bem, a sugestão é que chamem as crianças e peçam que elas deem seu ponto de vista. Aí sim eles poderão entender como as crianças estão lidando com a questão e, a partir daí, decidir quais devem ser as preocupações. A responsabilidade pode ser compartilhada. É importante ensinar os filhos a pensarem criticamente.

BBC Brasil - Muitos acham que ler históricos de conversas dos filhos ou usar apps para controlá-los é a melhor forma de ajudar as crianças. O controle é uma boa saída?

Rutledge - Os pais precisam entender que devem escutar seus filhos. Claro que cada situação tem suas características, mas geralmente controlar significa que você não conversou com eles e não lhes deu oportunidades para tomar decisões. O problema é que, em algum momento, eles vão precisar tomar decisões por si mesmas e você não vai estar ali, nem o seu "app de controle". Então, é muito melhor dialogar, e isso costuma ser muito difícil para os pais, que tendem dizer o que os filhos devem fazer, sem conversa.

Você acha que os trolls da internet são frustrados na vida real?

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quinta-feira, 23 de julho de 2015

O que é Frustração?

Por Marisa de Abreu Alves*

Este sentimento costuma surgir quando algo desejado ou esperado não ocorre. Frustração pode estar relacionada com a sensação de incapacidade quando este acontecimento dependia da própria pessoa.

Exemplo: Estudar muito e não ser aprovado. Casar pensando que teria um tipo de vida e depois perceber que não é nada disso. Entrar para uma instituição e não receber o apoio prometido. Cultivar uma amizade e levar um cano do amigo. Se dedicar ao trabalho e ver outra pessoa recebendo aumento.  Tudo isso são situações que podem frustrar. Dá para evitar este tipo de situação? Ás vezes não.  Nem tudo depende de nós. Por exemplo: Não depende só de você a forma como seus amigos, marido, patrão vão se comportar. Mas podemos nos dedicar a aprender a lidar com a frustração quando for inevitável.

Uma história frustrante

Um exemplo de situação que pode ser frustrante: Mulher casada há 15 anos, marido machista não permite que trabalhe ou estude. Segundo o marido ela tem que cuidar da casa, pois jamais seria capaz de enfrentar o dia a dia de uma empresa.   Cada vez que esta esposa pensa em sair de casa para trabalhar o marido diz que a família precisa dela. Ela até tentou voltar para faculdade, tentou fazer um curso de inglês, começou um curso de informática, mas não concluiu nenhum porque o marido ameaçava de separação.  Esta mulher se sente frustrada, cansada, sem libido, irritada. Não tem vontade de sair nem de conversar. Queixa-se de angustia e falta de vontade de cuidar da casa. Foi ao médico e recebeu o diagnóstico de gastrite e labirintite.

Frustração pode gerar raiva, agressividade, revolta, decepção, depressão, falta de motivação e autoestima rebaixada. Frustração pode provocar stress.

Frustração pelo impedimento do alcance de uma meta

Pode ser causada por vários tipos de obstáculos: Obstáculos físicos, condições ambientais desfavoráveis. Ex. Você quer viajar, mas a estrada está bloqueada.  Obstáculos sociais, normas, regras, leis. Por exemplo, o garoto de 17 anos que quer ter carteira de motorista, mas a lei impede.  Obstáculo emocional. Por exemplo, a frustração do fóbico social em desejar contato humano, mas não se sentir capaz, crenças de incompetência, vulnerabilidade e sensação de fracasso iminente. Obstáculos devido doenças físicas. Por exemplo, o diabético que tem que mudar seus hábitos alimentares,  aplicar insulina e não pode mais fazer certas atividades.

Frustração pelo não recebimento de uma gratificação esperada

A pessoa que lutou para atingir um objetivo e acredita que seria lógico ter êxito poderá sentir muita frustração se por algum motivo não conseguir atingi-lo. Por exemplo, a promoção que não veio apesar de toda dedicação.

Frustração por necessidade não satisfeita

Exemplo: Frustração  pela demora do salário, mesmo que pago em dia temos que esperar 30 dias para recebê-lo.

Frustração por conflito

Por exemplo, ao tomar decisões temos que escolher uma opção e isto sempre significa abrir mão dos benefícios da outra opção.

Consequências da frustração

Conforme a forma de reagir à frustração pode trazer danos ou benefícios. Respostas comuns: Fuga, evitação, compensação e agressão.  Podemos usar a situação para aprender com ela, e assim crescer.

Comportamento de fuga

Alguns, ao se frustrarem, se afastam, não querem mais contato com a situação. Ex: Um marido que resolveu separar, depois de anos de casado, porque a esposa disse no meio de uma briga que ele não era o marido que ela sonhava, mas isto foi dito no calor do momento e não refletia o real sentimento dela. Como ele se considerava dedicado à família, e esperava reconhecimento, ficou tão frustrado que pediu a separação. Foi uma decisão de fuga, e apesar de ter se livrado do que ele considerou injusto, perdeu todas as partes boas do casamento.

Comportamento de evitação

Após a pessoa ser  frustrada pode passar a evitar situações parecidas ou as pessoas e lugares envolvidos com a frustração por medo de frustrar-se novamente . Por exemplo, uma pessoa que não recebeu aumento esperado, começa a faltar ao trabalho, chegar atrasado, não se esforça mais, não interage mais, ou seja, se esquiva de entrar em contato com as coisas que agora ficaram aversivas.

Comportamento compensatório

Para lidar com a  frustração  a pessoa pode compensar com outras satisfações. Ex, comer em excesso, drogas, álcool, etc. Em outro exemplo pessoa sente-se frustrada porque seu relacionamento acabou e como compensação passa a trabalhar compulsivamente.

Comportamento de desamparo

Uma vez tendo se  frustrado  em uma atividade a pessoa para de tentar sucesso em outras áreas da vida. Muitas vezes nem há obstáculos, mas a visão distorcida da pessoa vê tudo como imensamente difícil. E assim não se dá oportunidade para perceber que poderia vencer. Ex, a pessoa que quer entrar em medicina, mas como não se acredita capaz, nem tenta e passa a vida insatisfeita com a profissão que escolheu.

Consequências da frustração

E este é o principal motivo por estarmos falando de  frustração , ela pode trazer consequências negativas.  É possível que a frustração leve a agressão. A pessoa agredirá outras pessoas ou a si mesma, auto agressão. No noticiário vemos pessoas que frustradas com o fim de um relacionamento agredindo e até matando o parceiro.  A agressão costuma ocorrer se pessoa não perceber  justificativa, pois quando a frustração é justificável o que ela pode sentir é apenas irritação, e não agressão. Ex: o caso da pessoa com casamento marcado e a empresa o transfere para outra cidade, tendo que desmarcar o casamento. Sendo justificável, a noiva ficaria muito irritada, mas  não agrediria. Mas uma noiva que foi traída não vê justificativa, então pode aumentar a probabilidade de tornar-se agressiva.

*O material deste site é informativo, não substitui a terapia ou psicoterapia  oferecida por um psicólogo

*Marisa de Abreu Alves Psicóloga - CRP 06/29493-5

Aprendendo a lidar com a frustração

Por Elisabeth Cavalcante

Todos nós, em algum momento da vida, experimentamos algum tipo de frustração. A frustração é um sentimento que se desenvolve quando nos vemos privados de uma satisfação que nos parece legítima, mesmo que às vezes não tenhamos razão.

As causas da frustração tanto podem ser a ausência de coisas materiais que ambicionamos possuir, como a presença de um obstáculo exterior para que concretizemos nossos desejos.

Porém, algumas vezes vivenciamos uma sensação de proibição interior gerada por causas psíquicas que derivam de conflitos vivenciados na infância. Estas causas determinam frustrações mais profundas que, para serem vencidas, exigem um trabalho de interiorização e investigação a ser feito através de uma terapia psicológica, para determinar com precisão sua origem.

Muitas vezes a autoanálise e uma grande capacidade de reflexão pode ajudar-nos a melhor compreender as razões de nossas frustrações, entretanto, dependendo do grau em que se desenvolveram, a ajuda profissional é imprescindível.

As pequenas frustrações do dia-a-dia são, de modo geral, fáceis de serem contornadas. Entender que nem todos os nossos desejos podem ser satisfeitos é o primeiro passo para aprendermos a lidar com o sentimento de frustração. Outro fator importante é adquirir a consciência de que tudo na vida tem o momento certo para acontecer e nem sempre acontece com a rapidez que desejamos.

Essa consciência nos ajuda a lidar com as frustrações de forma mais sábia e equilibrada, uma vez que alcançar determinados objetivos nem sempre depende unicamente de nós. Muitas vezes, existem outras pessoas envolvidas e precisamos entender e aceitar que seu tempo de agir é diferente do nosso.

O problema é quando não conseguimos realizar nossos mais profundos anseios por medo, insegurança, falta de autoconfiança ou outra limitação interior. Neste caso, somos tomados por um sentimento de incapacidade que torna o sentimento de frustração ainda mais intenso.

Estabelecer claramente as causas de nossas frustrações permite-nos determinar quais aquelas que dependem unicamente de nossas atitudes para serem combatidas, e agir de modo a reduzir este sentimento.

A criança e o adolescente que vivenciam o ego de forma intensa não toleram ver frustrados os seus desejos e se enraivecem quando isso acontece.

Mas, à medida que amadurecemos, precisamos aprender, ainda que a duras penas, que nem todos os nossos desejos podem ser satisfeitos e que as frustrações são parte inerente da vida adulta. Conseguir encará-las com realismo é um passo essencial para o nosso crescimento interior.

O importante é não perder de vista que libertar-se da frustração exige uma atitude de nossa parte, caso contrário nos tornaremos amargos, mal-humorados e incapazes de usufruir os bons momentos da vida.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O complexo de vira-latas dos brasileiros na visão de um estudante britânico

Estudante da Universidade de Oxford diz que brasileiros exageram na rejeição ao Brasil. “Ao mesmo tempo em que existe um exagero na idealização dos americanos, existe um exagero na rejeição ao Brasil pelos próprios brasileiros” (imagem ilustrativa)
Por Adam Smith, estudante de Oxford e blogueiro da BBC

“O Brasil tem uma reputação invejável no exterior, mas os brasileiros, às vezes, parecem ser cegos para tudo exceto o lado negativo". Estudante de Oxford em estadia no Brasil comenta o complexo de vira-latas dos brasileiros e diz considerar deprimente o endeusamento de alguns aos Estados Unidos como modelo de sociedade.

Pouco depois de chegar a São Paulo, fui a uma loja na Vila Madalena comprar um violão. O atendente, notando meu sotaque, perguntou de onde eu era. Quando respondi “de Londres”, veio um grande sorriso de aprovação. Devolvi a pergunta e ele respondeu: ‘sou deste país sofrido aqui’.

Fiquei surpreso. Eu – como vários gringos que conheço que ficaram um tempo no Brasil – adoro o país pela cultura e pelo povo, apesar dos problemas. E que país não tem problemas? O Brasil tem uma reputação invejável no exterior, mas os brasileiros, às vezes, parecem ser cegos para tudo exceto o lado negativo. Frustração e ódio da própria cultura foram coisas que senti bastante e me surpreenderam durante meus seis meses no Brasil. Sei que há problemas, mas será que não há também exagero (no sentido apartidário da discussão)?

Tem uma expressão brasileira, frequentemente mencionada, que parece resumir essa questão: complexo de vira-lata. A frase tem origem na derrota desastrosa do Brasil nas mãos da seleção uruguaia no Maracanã, na final da Copa de 1950. Foi usada por Nelson Rodrigues para descrever “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.

E, por todo lado, percebi o que gradualmente comecei a enxergar como o aspecto mais ‘sofrido’ deste país: a combinação do abandono de tudo brasileiro, e veneração, principalmente, de tudo americano. É um processo que parece estrangular a identidade brasileira.

Sei que é complicado generalizar e que minha estada no Brasil não me torna um especialista, mas isso pode ser visto nos shoppings, clones dos ‘malls’ dos Estados Unidos, com aquele microclima de consumismo frígido e lojas com nomes em inglês e onde mesmo liquidação vira ‘sale’. Pode ser sentido na comida. Neste “país tropical” tão fértil e com tantos produtos maravilhosos, é mais fácil achar hot dog e hambúrguer do que tapioca nas ruas. Pode ser ouvido na música americana que toca nos carros, lojas e bares no berço do Samba e da Bossa Nova.

Pode ser visto também no estilo das pessoas na rua. Para mim, uma das coisas mais lindas do Brasil é a mistura das raças. Mas, em Sampa, vi brasileiras com cabelo loiro descolorido por toda a parte. Para mim (aliás, tenho orgulho de ser mulato e afro-britânico), dá pena ver o esforço das brasileiras em criar uma aparência caucasiana.

Acabei concluindo que, na metrópole financeira que é São Paulo, onde o status depende do tamanho da carteira e da versão de iPhone que se exibe, a importância do dinheiro é simplesmente mais uma, embora a mais perniciosa, importação americana. As duas irmãs chamadas Exclusividade e Desigualdade caminham de mãos dadas pelas ruas paulistanas. E o Brasil tem tantas outras formas de riqueza que parece não exaltar…

Um dos meus alunos de inglês, que trabalha em uma grande empresa brasileira, não parava de falar sobre a América do Norte. Idealizou os Estados Unidos e Canadá de tal forma que os olhos dele brilhavam cada vez que mencionava algo desses países. Sempre que eu falava de algo que curti no Brasil, ele retrucava depreciando o país e dando algum exemplo (subjetivo) de como a América do Norte era muito melhor.

O Brasil está passando por um período difícil e, para muitos brasileiros com quem falei sobre os problemas, a solução ideal seria ir embora, abandonar este país para viver um idealizado sonho americano. Acho esta solução deprimente. Não tenho remédio para os problemas do Brasil, obviamente, mas não consigo me desfazer da impressão de que, talvez, se os brasileiros tivessem um pouco mais orgulho da própria identidade, este país ficaria ainda mais incrível. Se há insatisfação, não faz mais sentido tentar melhorar o sistema?

Destaco aqui o que vejo como um uma segunda colonização do Brasil, a colonização cultural pelos Estados Unidos, ao lado do complexo de vira-latas porque, na minha opinião, além de andarem juntos, ao mesmo tempo em que existe um exagero na idealização dos americanos, existe um exagero na rejeição ao Brasil pelos próprios brasileiros. É preciso lutar contra o complexo de vira-latas. 

Uma divertida, porém inspiradora, lição veio de um vendedor em Ipanema. Quando pedi para ele botar um pouco mais de ‘pinga’ na caipirinha, ele respondeu: “Claro, (mermão) meu irmão. A miséria tá aqui não!” Viva a alma brasileira!

O estudante britânico Adam Smith (reprodução)

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Psicologia Social


Nas décadas de 1920 e 1930, a psicologia social se consolidou como um campo de investigação. A influência social, conceito central em todas pesquisas desse campo de estudo, é definida como mudança de pensamentos, sentimentos, atitudes e comportamentos de uma pessoa devido a presença real ou imaginada de outras pessoas (Aronson, Wilson e Akert, 2002).


Uma linha de pesquisa muito importante foi a de Sherif (1935) sobre as normais sociais e o efeito autocinético. O conceito de normas sociais é muito importante para a psicologia social, e descreve as normas gerais de como se comportar em determinados contextos.

Através das normais sociais, indivíduos podem exercer grande influencia social sobre o comportamento de outras pessoas, como por exemplo: você passou a conviver com amigos defensores ativos de causas ambientais e se tornou um também.

O efeito autocinético é uma ilusão perceptiva que ocorre quando uma pessoa é colocada numa sala completamente escura com um foco de luz em uma das paredes; a luz parece se mover. A pergunta de pesquisa de Sherif era se o julgamento de outros indivíduos influenciaria o julgamento de uma pessoa sobre sua percepção da luz. Seus experimentos produziram evidências importantes: depois de ouvir o julgamento de confederados (ajudantes do experimentador que se faziam passar por participantes) sobre como o foco de luz se movia (por exemplo, em forma de arco amplo), os participantes tinham uma tendência a concordar com os outros, mesmo com o foco de luz não se movimentando em nenhum momento. A ambiguidade da situação pode ter deixado os participantes inseguros de suas percepções, e isso poderia influenciar nas respostas dos indivíduos.

Preenchendo essa lacuna do método de Sherif de certa forma, os estudos de Asch sobre conformidade, que é a forma como grupos influenciam indivíduos, se baseou em um paradigma similar ao de Sherif. Participantes tinham que julgar qual de três linhas comparativas era igual a uma linha apresentada inicialmente, e só uma das três opções correspondia corretamente à outra linha.

Quando um grupo de 6 confederados respondia erroneamente antes do participante, este concordava com o grupo muitas vezes. Em 6 das 18 tentativas, os confederados responderam de forma correta; porém nas outras 12 tentativas eles respondiam sistematicamente de forma errada. Um grupo controle onde os confederados sempre respondiam de forma correta reportou poucos erros dos participantes (5%). Porém, na condição experimental, 37% dos participantes responderam em conformidade com a resposta dos confederados.

Essa porcentagem pode lhe soar pequena, porém ela deve ser colocada dentro do contexto do experimento especificamente, afinal essas pessoas responderam erroneamente muito mais que na condição controle, e a única alteração que ocorreu entre essas condições foi a resposta dos confederados.

O estudo de Asch foi inicialmente pensado para testar a idéia de que as pessoas resistem à influência social, porém seu resultado se tornou relevante por apresentar evidências até certo ponto contrárias à idéia, por mais que 63% dos participantes em condição experimental ainda assim tenham permanecido coerentes com seus julgamentos e respondido de forma correta, para a população americana daquela época, se conformar com a opnião de um grupo em uma situção como aquela foi um dado surpreendente (esse estudo foi realizado nos Estados Unidos). Os estudos de Asch e Sherif caminham no sentido de enfatizar a influência social que pessoas exercem sobre indivíduos. 

Os experimentos de Milgram montaram uma das linhas de pesquisa mais polêmicas e controversas da psicologia social. Milgram (1963) realizou um experimento para investigar os processos de obediência a autoridade. Participantes masculinos que responderam a um anúncio no jornal que oferecia remuneração para participar de uma pequisa sobre memória e aprendizagem chegavam no laboratório e conheciam um outro participante, que na verdade era um confederado.

O experimentador dizia que o estudo explorava os efeitos de punição sobre a memória, e que um dos dois seria o professor, e o outro, o aprendiz. Os dois tiravam papéis de um chapéu, porém o procedimento foi montado de forma que todos os participantes sempre fossem professores e o confederado, aprendiz.

A tarefa consistia em ler uma lista de pares associados para o aprendiz, depois ler um dos estímulos e dar quatro alternativas, com apenas uma opção correta. Toda vez que o aprendiz cometesse erro o professor deveria lhe aplicar um choque, de forma crescente, ou seja, na segunda vez que o aprendiz cometesse erro, aumentava-se a carga elétrica do choque, e assim sucessivamente. Imagem do confederado sendo plugado aos eletrodos:

 
O gerador de choques era composto por 30 chaves que variavam de 15V a 450V, e eram agrupadas em grupos de 4 com as seguintes identificações: choque ligeiro, moderado, forte, muito forte, intenso e choque de grande intensidade e perigo: choque intenso.

As duas últimas chaves eram identificadas com XXX. Antes do experimento aplicou-se um leve choque no participante para que se convencesse de que o choque era real, porém os choques não eram reais, o participante apenas ouvia uma gravação.

Conforme as cargas iam aumentado devido aos erros sucessivos do confederado, ele começava a gemer e gritar. À 300V ele se recusa a dar mais respostas e o experimentador instruia o participante a considerar ausência de resposta como uma resposta errada, e seguir adiante na aplicação dos choques. Dos 40 participantes, 26 foram até a última voltagem.

Os outros 14 interromperam quando chegaram a uma voltagem de 300V ou mais. Os participantes pareciam perturbados e nervosos com a tarefa, perguntando várias vezes ao experimentador o que deveriam fazer. O experimentador seguiu uma sequência de instruções que variaram entre “continue, por favor” até “você não tem outra opção. Você tem que continuar”, apesar de não haver nada que o experimentador pudesse fazer para obrigar o participante a continuar aplicando os choques.

Os resultados obtidos além de surpreendentes demonstraram o grau de realismo que pode ser criado num ambiente de laboratório, visto que vários relatos dos participantes desse experimento mostram o quanto eles permaneceram tensos e realmente acreditando que estavam eletrocutando o confederado. Os aspectos éticos nos estudos de Milgram são problemáticos, visto que infligiram grande sofrimento e estresse aos participantes. Hoje em dia, dificilmente um estudo como esse seria aprovado em algum comitê de ética.



O experimento de Haney, Banks e Zimbardo (1973) demonstrou a importância que os papéis sociais podem exercer em nossos comportamentos. Papéis sociais são expectativas que o grupo tem de como determinadas pessoas devem se comportar.

Durante duas semanas, os participantes desse experimento foram observados numa prisão simulada, montada nos porões da universidade de Stanford. Nessa prisão, um grupo de participantes deveria exercer o papel de guarda e um outro, de preso – essas foram as instruções.

Foram dados uniformes, apito, cassetete e óculos espelhados aos guardas e camisolão frouxo, com número de identidade, sandálias, gorro de náilon e uma corrente com cadeado no tornozelo dos presos (Aronson, Wilson e Akert, 2002).

O caráter quase teatral da situação experimental poderia indicar que o experimento correria bem, já que todos sabiam que não passava de uma simulação. A idéia dos pesquisadores porém era de que os papéis eram tão poderosos que poderiam ultrapassar nossa identidade pessoal, e as pessoas se tornariam os papéis que exercem.

Os resultados do experimento são surpreendentes, visto que ele teve que ser interrompido com apenas 6 dias de experimento pois muitos dos participantes que exerciam papel de guarda haviam se tornado brutais e criativos para bolar formas de provocar e humilhar os presos, sendo que estes haviam se tornado passivos e impotentes.

Assim como nos experimentos de Milgram, o experimento da prisão de Stanford demonstraram como que mesmo num ambiente e situação artificial de laboratório podemos obter graus muito elevados de realismo psicológico, visto que as experiências subjetivas dos participantes revelam isso. Esses são estudos clássicos da área, futuramente explorarei trabalhos mais recentes.

Referências:
Aronson, E.; Wilson, T. D. & Akert, R. M. (2002) Psicologia social. São Paulo: LTC.
Haney, C., Banks, W. C., & Zimbardo, P. G. (1973). Interpersonal dynamics in a simulated prison. International Journal of Criminology and Penology, 1, 69–97.

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

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