Nas décadas de
1920 e 1930, a psicologia social se consolidou como um campo de investigação. A
influência social, conceito central em todas pesquisas desse campo de estudo, é
definida como mudança de pensamentos, sentimentos, atitudes e comportamentos de
uma pessoa devido a presença real ou imaginada de outras pessoas (Aronson,
Wilson e Akert, 2002).
Uma linha de
pesquisa muito importante foi a de Sherif (1935) sobre as normais sociais e o
efeito autocinético. O conceito de normas sociais é muito importante para a
psicologia social, e descreve as normas gerais de como se comportar em
determinados contextos.
Através das
normais sociais, indivíduos podem exercer grande influencia social sobre o
comportamento de outras pessoas, como por exemplo: você passou a conviver com
amigos defensores ativos de causas ambientais e se tornou um também.
O efeito
autocinético é uma ilusão perceptiva que ocorre quando uma pessoa é colocada
numa sala completamente escura com um foco de luz em uma das paredes; a luz
parece se mover. A pergunta de pesquisa de Sherif era se o julgamento de outros
indivíduos influenciaria o julgamento de uma pessoa sobre sua percepção da luz.
Seus experimentos produziram evidências importantes: depois de ouvir o
julgamento de confederados (ajudantes do experimentador que se faziam passar
por participantes) sobre como o foco de luz se movia (por exemplo, em forma de
arco amplo), os participantes tinham uma tendência a concordar com os outros,
mesmo com o foco de luz não se movimentando em nenhum momento. A ambiguidade da
situação pode ter deixado os participantes inseguros de suas percepções, e isso
poderia influenciar nas respostas dos indivíduos.
Preenchendo
essa lacuna do método de Sherif de certa forma, os estudos de Asch sobre
conformidade, que é a forma como grupos influenciam indivíduos, se baseou em um
paradigma similar ao de Sherif. Participantes tinham que julgar qual de três
linhas comparativas era igual a uma linha apresentada inicialmente, e só uma
das três opções correspondia corretamente à outra linha.
Quando um
grupo de 6 confederados respondia erroneamente antes do participante, este
concordava com o grupo muitas vezes. Em 6 das 18 tentativas, os confederados
responderam de forma correta; porém nas outras 12 tentativas eles respondiam
sistematicamente de forma errada. Um grupo controle onde os confederados sempre
respondiam de forma correta reportou poucos erros dos participantes (5%).
Porém, na condição experimental, 37% dos participantes responderam em
conformidade com a resposta dos confederados.
Essa
porcentagem pode lhe soar pequena, porém ela deve ser colocada dentro do
contexto do experimento especificamente, afinal essas pessoas responderam
erroneamente muito mais que na condição controle, e a única alteração que
ocorreu entre essas condições foi a resposta dos confederados.
O estudo de
Asch foi inicialmente pensado para testar a idéia de que as pessoas resistem à
influência social, porém seu resultado se tornou relevante por apresentar
evidências até certo ponto contrárias à idéia, por mais que 63% dos
participantes em condição experimental ainda assim tenham permanecido coerentes
com seus julgamentos e respondido de forma correta, para a população americana
daquela época, se conformar com a opnião de um grupo em uma situção como aquela
foi um dado surpreendente (esse estudo foi realizado nos Estados Unidos). Os
estudos de Asch e Sherif caminham no sentido de enfatizar a influência social
que pessoas exercem sobre indivíduos.
Os
experimentos de Milgram montaram uma das linhas de pesquisa mais polêmicas e
controversas da psicologia social. Milgram (1963) realizou um experimento para
investigar os processos de obediência a autoridade. Participantes masculinos
que responderam a um anúncio no jornal que oferecia remuneração para participar
de uma pequisa sobre memória e aprendizagem chegavam no laboratório e conheciam
um outro participante, que na verdade era um confederado.
O
experimentador dizia que o estudo explorava os efeitos de punição sobre a
memória, e que um dos dois seria o professor, e o outro, o aprendiz. Os dois
tiravam papéis de um chapéu, porém o procedimento foi montado de forma que
todos os participantes sempre fossem professores e o confederado, aprendiz.
A tarefa
consistia em ler uma lista de pares associados para o aprendiz, depois ler um
dos estímulos e dar quatro alternativas, com apenas uma opção correta. Toda vez
que o aprendiz cometesse erro o professor deveria lhe aplicar um choque, de
forma crescente, ou seja, na segunda vez que o aprendiz cometesse erro,
aumentava-se a carga elétrica do choque, e assim sucessivamente. Imagem do
confederado sendo plugado aos eletrodos:
O gerador de
choques era composto por 30 chaves que variavam de 15V a 450V, e eram agrupadas
em grupos de 4 com as seguintes identificações: choque ligeiro, moderado,
forte, muito forte, intenso e choque de grande intensidade e perigo: choque
intenso.
As duas
últimas chaves eram identificadas com XXX. Antes do experimento aplicou-se um
leve choque no participante para que se convencesse de que o choque era real,
porém os choques não eram reais, o participante apenas ouvia uma gravação.
Conforme as
cargas iam aumentado devido aos erros sucessivos do confederado, ele começava a
gemer e gritar. À 300V ele se recusa a dar mais respostas e o experimentador
instruia o participante a considerar ausência de resposta como uma resposta
errada, e seguir adiante na aplicação dos choques. Dos 40 participantes, 26
foram até a última voltagem.
Os outros 14
interromperam quando chegaram a uma voltagem de 300V ou mais. Os participantes
pareciam perturbados e nervosos com a tarefa, perguntando várias vezes ao
experimentador o que deveriam fazer. O experimentador seguiu uma sequência de
instruções que variaram entre “continue, por favor” até “você não tem outra
opção. Você tem que continuar”, apesar de não haver nada que o experimentador
pudesse fazer para obrigar o participante a continuar aplicando os choques.
Os resultados
obtidos além de surpreendentes demonstraram o grau de realismo que pode ser
criado num ambiente de laboratório, visto que vários relatos dos participantes
desse experimento mostram o quanto eles permaneceram tensos e realmente
acreditando que estavam eletrocutando o confederado. Os aspectos éticos nos
estudos de Milgram são problemáticos, visto que infligiram grande sofrimento e
estresse aos participantes. Hoje em dia, dificilmente um estudo como esse seria
aprovado em algum comitê de ética.
O experimento
de Haney, Banks e Zimbardo (1973) demonstrou a importância que os papéis
sociais podem exercer em nossos comportamentos. Papéis sociais são expectativas
que o grupo tem de como determinadas pessoas devem se comportar.
Durante duas
semanas, os participantes desse experimento foram observados numa prisão
simulada, montada nos porões da universidade de Stanford. Nessa prisão, um
grupo de participantes deveria exercer o papel de guarda e um outro, de preso –
essas foram as instruções.
Foram dados
uniformes, apito, cassetete e óculos espelhados aos guardas e camisolão frouxo,
com número de identidade, sandálias, gorro de náilon e uma corrente com cadeado
no tornozelo dos presos (Aronson, Wilson e Akert, 2002).
O caráter
quase teatral da situação experimental poderia indicar que o experimento
correria bem, já que todos sabiam que não passava de uma simulação. A idéia dos
pesquisadores porém era de que os papéis eram tão poderosos que poderiam
ultrapassar nossa identidade pessoal, e as pessoas se tornariam os papéis que
exercem.
Os resultados
do experimento são surpreendentes, visto que ele teve que ser interrompido com
apenas 6 dias de experimento pois muitos dos participantes que exerciam papel
de guarda haviam se tornado brutais e criativos para bolar formas de provocar e
humilhar os presos, sendo que estes haviam se tornado passivos e impotentes.
Assim como nos
experimentos de Milgram, o experimento da prisão de Stanford demonstraram como
que mesmo num ambiente e situação artificial de laboratório podemos obter graus
muito elevados de realismo psicológico, visto que as experiências subjetivas
dos participantes revelam isso. Esses são estudos clássicos da área,
futuramente explorarei trabalhos mais recentes.
Referências:
Aronson, E.;
Wilson, T. D. & Akert, R. M. (2002) Psicologia social. São Paulo: LTC.
Haney, C.,
Banks, W. C., & Zimbardo, P. G. (1973). Interpersonal dynamics in a
simulated prison. International Journal of Criminology and Penology, 1, 69–97.