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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Hepatite A: saiba como se pega o vírus, quais são os sintomas e tratamentos


Alana Gandra 
Neste verão, além da habitual preocupação com doenças como a dengue, a população do Rio de Janeiro foi surpreendida com um grande número de pessoas infectadas com o vírus da Hepatite A. Um surto, com concentração especial na comunidade do Vidigal, já registrou 92 casos notificados e 75 confirmados. Ao longo de 2017, em toda a capital, foram registrados 119 casos.

A hepatite é uma inflamação aguda no fígado, que pode ser causada por vírus, bactérias ou agentes tóxicos, como o álcool. Existem cinco tipos identificados de hepatite virais. De acordo com o infectologista Edimilson Migowski, presidente do Instituto Vital Brazil e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do ponto de vista clínico, não há muita diferença entre as hepatites A, B e C.

“São vários vírus que podem atacar o fígado de forma primária”, explicou à Agência Brasil. Dentre as infecções virais, o que chama atenção na hepatite A é o fato de não evoluir para uma doença crônica, como ocorre com as hepatites B e C.

Apesar disso, ele advertiu que, ainda que tenha uma evolução muito melhor do que as hepatites B e C, o tipo A acaba sendo o principal vilão porque pode causar uma inflamação fulminante ou falência aguda do fígado. Migowski afirmou que a doença, eventualmente, pode evoluir para casos em que há comprometimento do fígado e o paciente pode precisar de um transplante.

O agravamento do quadro pode ocorrer, principalmente, em pacientes idosos ou com alguma doença crônica. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, estima-se que apenas 1% dos casos representa risco de morte, quando evolui para hepatite fulminante.

Sintomas e diagnóstico
Os sintomas iniciais mais comuns da hepatite A são mal estar, dores no corpo, náuseas, dor abdominal, vômitos, olhos e pele amarelados, urina bem escura e fezes claras. Eventualmente, quando o quadro é muito grave, pode causar insuficiência hepática, sangramento e morte, indicou o infectologista.

Segundo o presidente do Instituto Vital Brazil, a hepatite A tem uma evolução em duas fases: primeiro o paciente apresenta um quadro agudo, que dura entre uma e duas semanas. Em seguida, há melhora e depois, uma recaída. A evolução dura de dois a três meses.

Em crianças, em geral, o quadro passa sem sinais e sintomas característicos da doença. “Passam como se fosse uma gripe, mal estar, diarreia, um quadro mais brando”, diz o infectologista.

Somente a partir de exames de sangue é possível confirmar qual tipo de vírus está envolvido naquele quadro infeccioso.

Contaminação
O período de incubação do vírus é de 15 a 50 dias. Ou seja, depois que a pessoa “engoliu” um vírus da hepatite A, por meio de água ou alimento contaminados, ela deverá manifestar a doença de 15 a 50 dias depois.

“A contaminação se dá, basicamente, com água ou alimento contaminado com esgoto. Também pode ser uma transmissão entre pessoas. Às vezes, em uma criança que está contaminada e não tem sinais da hepatite, o vírus contamina as fezes e aí o adulto ao manipular ou fazer higiene dessa criança pode se contaminar ou espalhar esse vírus para aquela população”, explicou Migowski.

Falhas na segurança alimentar ou de água podem ser responsáveis por surtos de hepatite A, como parece ter ocorrido no caso recente da comunidade do Vidigal, em São Conrado, zona sul da capital fluminense. A Vigilância Sanitária apreendeu 169 galões de 20 litros de água contaminados em um bar e um depósito de bebidas do local.

Tratamento
Não existe um tratamento específico para a hepatite A. “Não existe um antiviral que você possa tomar, como tem para gripe e para herpes, por exemplo. Não existe nenhum medicamento que tenha sido comprovado eficaz como antiviral no caso da hepatite A, como tem para hepatite B e C”, destacou Migowski.

Por essa razão, o tratamento é de suporte ao paciente. Ou seja, envolve o uso de analgésicos e remédios para controle de náuseas e vômitos.

Prevenção
A infectologista Karla Ronchini, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, alerta que a melhor estratégia de prevenção é a higiene, além de saneamento básico. “Basta uma pessoa transmitir que, quem está ao redor, tem muita chance de pegar, principalmente pelo tipo de transmissão, pela falta de cuidados com a higiene, porque ele [o vírus] circula”, explicou.

Por isso é importante, entre outras medidas, lavar as mãos após ir ao banheiro ou trocar fraldas de crianças, e antes de comer ou preparar alimentos. Outra recomendação é cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los; lavar bem, com água tratada, clorada ou fervida, os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos. Também é necessário lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras e não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou onde haja esgoto a céu aberto.

Caso haja algum doente com hepatite A na residência, deve-se utilizar hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária ao lavar o banheiro. Como a transmissão da hepatite A tem uma relação fecal-oral, Karla explica que fazer sexo oral desprotegido também é um fator de risco.

Vacinação
Existe vacina para a hepatite A, disponível gratuitamente na rede pública de saúde para crianças entre 1 e 2 anos de idade. “É uma vacina segura, eficaz, e pode ser tomada por qualquer pessoa com mais de um 1 ano de idade mas, infelizmente, na rede pública, isso só acontece com crianças”, explicou Migowski.

Segundo o presidente do Vital Brazil, a vacina não é cara, mas ele observou que neste momento não há um laboratório que consiga produzir e entregar para o país uma quantidade muito grande do insumo. “Existe certa dificuldade na obtenção do produto”, disse.

Na rede privada, é possível encontrar a vacina contra hepatite A inclusive para adultos. “Tem uma vacina combinada de hepatite A e B, o que otimiza o esquema de imunização”, apontou.

Contaminação na infância
O infectologista destacou que, no Rio de Janeiro, alguns programas de saneamento do governo estadual em comunidades, como o Favela Bairro, tiveram um efeito positivo para o controle da doença, com ações como a cobertura de valas e coleta de lixo.

A partir dessas intervenções, no entanto, o perfil de infecção é alterado, passando a ser mais comum em adultos. “Antigamente, as crianças infectavam-se muito cedo e, quando chegavam à idade adulta, não se infectavam mais. Só tinham uma vez a hepatite A”, diz.

De acordo com Edimilson Migowski, percebe-se mais os surtos e a circulação da hepatite A hoje do que há 40 anos ou 50 anos, quando a doença acometia principalmente crianças. Agora, tendo em vista que as crianças vêm sendo vacinadas e houve melhora no saneamento básico, muitos moradores que nasceram após as intervenções do Favela Bairro, já em comunidades com melhores condições de saneamento, não se contaminaram na infância. Com isso, aponta Migowski, o quantitativo de adultos vulneráveis é maior.

Há 30 anos, segundo o infectologista, podia-se dizer que 100% dos brasileiros já teriam tido hepatite A. A realidade hoje pode variar de região para região, mas estima-se que, no Rio de Janeiro, entre 20% a 30% da população até 35 a 40 anos já tiveram hepatite A quando crianças.

“Isso significa que existe um quantitativo grande de adultos vulneráveis. E, no adulto, a hepatite A tende a ter maior gravidade e maior riqueza de sinais e sintomas”, explicou.

*colaborou, Andreia Verdélio

Edição: Amanda Cieglinski

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Bactérias de tuberculose resistentes a antibióticos desafiam combate à doença



Por Débora Brito

Enquanto os países de todo o mundo buscam meios para eliminar a tuberculose como principal problema de saúde pública, o avanço de bactérias resistentes aos antibióticos mais usados no tratamento desafiam os especialistas e serviços de saúde que lutam contra a enfermidade.

No caso das pessoas com HIV e tuberculose, a necessidade de conciliar grande quantidade de medicamentos aumenta o risco de abandono do tratamento e de suas possíveis consequências devido à baixa imunidade.  A Agência Brasil publica esta semana uma série de matérias sobre a infecção simultânea de pessoas com o vírus HIV e a bactéria da tuberculose. O Brasil tem 34% dos casos de coinfecção do mundo e menos da metade dessas pessoas tomam antirretroviral.

Nos últimos anos, no país, quase duas mil pessoas desenvolveram tuberculose resistente às principais drogas de tratamento. A resistência extrema, que atinge quase todos os medicamentos da terapia, foi confirmada em apenas dez pacientes brasileiros no último ano, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Mas em outros países da América, como o Peru, a situação de alta resistência aos antibióticos da tuberculose já é considerada epidemia pela organização. “É uma epidemia, a tuberculose resistente. A extremamente resistente está em fase de crescimento alarmante no Peru. No Brasil, temos pouquíssimos casos, que se conta nos dedos das mãos e estão bem controlados, estão recebendo tratamento pra tuberculose extremamente resistente”, disse Fábio Moherdaui, consultor nacional de tuberculose da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

A organização alerta que a tuberculose resistente aos principais medicamentos de tratamento se tornou uma ameaça no mundo. No último ano com estatísticas disponíveis, havia 600 mil novos casos de resistência à rifampicina, antibiótico mais efetivo contra a doença. Dentre esses casos, 490 mil também eram resistentes às outras drogas que compõem a terapia contra tuberculose. Metade dos casos foram diagnosticados na Índia, China e Rússia, países que junto com o Brasil e a África do Sul compõem o bloco chamado Brics.

Estima-se que, no mundo, pelo menos 700 mil pessoas já morreram por resistência antimicrobiana e que um quarto desses óbitos foram por tuberculose. Se o número de casos de resistência aos antibióticos seguir essa tendência, até 2050 morrerão cerca de 10 milhões de pessoas devido à ineficácia dos antibióticos, ou seja, uma pessoa a cada três segundos, segundo as estimativas internacionais.

Custo do tratamento
“O problema da multirresistência é que você consegue curar só metade das pessoas [com o tratamento comum]. E os 50% que sobram vão para outro tratamento de resistência, que leva 18 meses, ou seja, três vezes mais demorado que o tratamento básico”, explica Valeria Rolla, coordenadora do laboratório de micobacterioses da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O tratamento da tuberculose resistente é feito com uma combinação de sete medicamentos e causa um alto impacto financeiro. O custo para tratar casos de resistência antimicrobiana em todo o mundo pode chegar a US$ 100 trilhões.

Diante desse risco, o Ministério da Saúde anunciou, durante a Mostra Nacional de Experiências Bem-Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças de 2017, que está desenvolvendo um plano estratégico de prevenção e controle de resistência aos antimicrobianos. O programa deve ser executado a partir deste ano até 2022 e tem como uma de suas prioridades a implantação de um sistema nacional de vigilância dos casos de resistência, além de promover ações de educação com estudantes, profissionais e gestores de saúde sobre o tema.

Simplificar o tratamento é fundamental para quem tem HIV
Os quatro medicamentos utilizados no tratamento básico de tuberculose são rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol, administrados por um período de seis meses a um ano. Já nos casos de tuberculose resistente, o tratamento é feito com uma combinação de sete medicamentos, por um período de um ano e meio, o que torna a adesão dos pacientes ainda mais difícil devido aos fortes efeitos colaterais.

Se a pessoa infectada pela tuberculose tiver HIV, ainda deve adicionar à sua rotina os medicamentos antirretrovirais, como o efavirenz ou o dolutegravir – este último foi incorporado recentemente ao Sistema Único de Saúde (SUS) e foi recebido com muita expectativa por apresentar menos danos colaterais. Ainda assim, a combinação das duas infecções pode ter impacto na resistência dos antibióticos e na eficácia do tratamento.

“A pessoa está enjoada, se sentindo mal, sem apetite, aí tem que tomar o tratamento da tuberculose, que pra uma pessoa de 50 e poucos quilos vai ser quatro comprimidos por dia, em jejum de manhã. O tratamento do HIV para pessoas que estão com tuberculose vai ser feito com pelo menos três drogas. E ainda tem as outras profilaxias e remédios para tratar as outras doenças que essa pessoa pode ter adquirido por estar com a imunidade baixa. Então, não é difícil você encontrar uma pessoa tomando dez ou 12 comprimidos por dia”, relata o médico infectologista Rafael Sacramento.

Pesquisas
Há vários estudos em andamento com o objetivo de tornar o tratamento da tuberculose mais curto, barato e com menos efeitos adversos para o paciente. Mas a maioria dos medicamentos que têm apresentado resultados positivos de cura ainda não está disponível no mercado.

“Desde meados da década de 60 a gente não tinha drogas novas para tratar tuberculose. Até que recentemente a gente desenvolveu duas moléculas, bemaquilina e delamanide, mas que ainda estão em pesquisa e análise para se tornarem realmente efetivas para o tratamento”, afirmou Sacramento. Os resultados, no entanto, podem levar alguns anos para serem consolidados e chegar ao mercado.

Algumas das pesquisas desenvolvidas com as novas drogas foram apresentadas durante a 48ª Conferência Internacional sobre Doenças Pulmonares, na cidade de Guadalajara, no México, em outubro do ano passado. Um dos estudos apontou que o tratamento baseado em novas drogas aumenta em seis vezes a chance de cura dos pacientes infectados pela tuberculose multirresistente.

“O novo tratamento aumenta de 28 para 82% a taxa de cura dos casos extensivamente resistentes. Claro que a gente tem que ter muito cuidado, mas já é um estudo observacional”, ou seja, em que o paciente mantém suas rotinas sem um controle estrito dos pesquisadores, explica Dráurio Barreira, médico sanitarista e gerente técnico da Unitaid, organização internacional que busca novos métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV e da tuberculose no mundo.

O estudo foi realizado em 15 países que apresentam diferentes programas de controle da doença. O Brasil não foi incluído no projeto por não se enquadrar no perfil de país com média e alta renda e também por apresentar poucos casos de tuberculose resistente.

Mas o país tem feito pesquisas para aumentar a eficácia e a adesão dos pacientes ao tratamento. Alguns dos estudos buscam avaliar a combinação entre os medicamentos usados para tratar a coinfecção HIV e tuberculose.

A pesquisadora Mariana Xavier, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), tem estudado a comparação do uso das dosagens usuais do medicamento efavirenz (usado no tratamento do HIV) em conjunto com a rifampicina (antibiótico que trata a tuberculose) e sua comparação do tratamento com a dosagem aumentada, recomendado no caso de coinfecção.

O problema é que, segundo os especialistas, a interação da droga contra tuberculose com os antirretrovirais, principalmente se a dose for aumentada, implica em mais efeitos colaterais para o paciente, o que dificulta sua adesão ao tratamento. “O resultado [do nosso estudo] é que, pela eficácia, não precisa aumentar a dose, a quantidade usual já é suficiente”, explica Mariana.

No entanto, a pesquisadora ressalta que, apesar da disponibilidade dos medicamentos da tuberculose ser boa no país, ainda é preciso melhorar a conscientização entre os pacientes para não abandonar o tratamento e renovar os tipos de drogas mais usadas, priorizando as que apresentam efeito contra as microbactérias resistentes.

Outro estudo desenvolvido por pesquisadores brasileiros busca novos métodos para aumentar a capacidade de identificação de casos de tuberculose em pessoas que vivem com HIV a partir de experimentos com novos marcadores biológicos.  O Brasil também integra um grupo de países que buscam a formação de um protocolo comum de dados e coleta de amostras.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Estudo da USP relaciona dor crônica a casos de ansiedade e depressão


Toda vez que tem crise de ansiedade, a consultora financeira Melissa Mandaloufas, de 40 anos, precisa de atendimento urgente, pois se sente mal fisicamente, com hipertensão arterial. “Fico com pressão alta, ao ponto de quase desmaiar, vou parar no hospital e aí que eu vejo que tenho que me tratar.” Ela conta que faz o tratamento com calmantes, mas depois de um tempo o problema acaba voltando. “Tenho crises de depressão também, principalmente quando estou sem atividade profissional.”

A profissional de marketing Carol Lahoz, que sofre de depressão há oito anos, ainda tem dor de cabeça e lombalgia, mesmo tomando medicamentos. “Tenho enxaqueca crônica e dores na lombar, mas quando faço atividade física percebo que não tenho crises nem de dor e nem de depressão.” Para ela, outros tratamentos também aliviam a dor física. “Quando passa a crise, já logo faço análise e acupuntura.”

Quem sofre desses sintomas já sabe que uma dor leva à outra. Mas agora, um estudo do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) mostra a relação bidirecional entre ansiedade ou depressão e algumas doenças físicas crônicas. O levantamento mensurou essa relação em pessoas adultas residentes na Região Metropolitana de São Paulo e mostra dados preocupantes. O resultado do estudo é que indivíduos com transtornos de humor ou de ansiedade tiveram incidência duas vezes maior de doenças crônicas.

A dor crônica foi a mais comum entre os indivíduos com transtorno de humor, como depressão e bipolaridade, ocorrendo em 50% dos casos de transtornos de humor, seguidos por doenças respiratórias (33%) , doença cardiovascular (10%) , artrite (9%) e diabetes (7%).

Os distúrbios de ansiedade também são largamente associados com dor crônica (45%) e doenças respiratórias (30%) , assim como com artrite e doenças cardiovasculares (11% cada). A hipertensão foi associada a ambos em 23% dos casos.

Estresse
Os dados mostram a necessidade de maior atenção ao tema. “Já era esperado que houvesse uma relação forte entre essas doenças. O problema é que a prevalência de ansiedade e depressão em São Paulo é muito alta por causa do estresse. Com esses números, precisamos atentar para a necessidade de passar a informação para o médico que está na linha de frente, no atendimento primário. É preciso reconhecer a comorbidade de ansiedade e depressão com as doenças crônicas que não se resume apenas à dor”, disse a psiquiatra Laura Helena Andrade, coordenadora do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do IPq e uma das autoras do estudo.

Dos cerca de 11 milhões de moradores adultos da Região Metropolitana de São Paulo, 10%, ou 1,1 milhão de pessoas, tiveram depressão nos últimos 12 meses. Já os transtornos de ansiedade acometem mais de 2,2 milhões de paulistanos, sendo que 990 mil apresentam dor crônica também. Seguindo esse cálculo, no total, mais de 2 milhões de pessoas convivem com depressão ou ansiedade associadas a dor crônica na região.

Relação antiga
Estudos anteriores já haviam mostrado de forma consistente a associação de doenças crônicas com transtornos de humor e ansiedade. Mas ainda não se sabe porque a relação entre dor crônica e ansiedade ou depressão é tão intensa, pois os mecanismos fisiopatológicos da dor crônica são pouco conhecidos.

“Uma das hipóteses é relacionada à questão de comportamento. As pessoas ficam inativas quando têm depressão, isso causa dor, ou então a própria dor muda a vida da pessoa, leva à falta de atividades físicas, o que aumenta a depressão e fica um círculo vicioso.”

A psiquiatra explica que, assim como as células do sistema de defesa são ativadas quando há uma invasão por um agente causador de doença, o estresse psicológico em uma situação ambiental como, por exemplo, viver em uma cidade como São Paulo, acaba ativando o sistema inflamatório.

“Aumento da inflamação, lesões do endotélio – camada de célula presente em todos os vasos sanguíneos – e danos oxidativos são algumas vias que podem estar relacionadas à ocorrência da comorbidade [doenças relacionadas]. Consequentemente, é imperativo que sintomas depressivo-ansiosos sejam tratados agressivamente em pacientes com condições médicas crônicas, pois sua resolução pode ser acompanhada por melhora geral sintomática e uma importante diminuição no risco de mortalidade e complicações”, disse Andrade.

De acordo com a pesquisadora, ainda é preciso fazer mais pesquisas com foco na interação entre depressão, ansiedade e doenças físicas crônicas para elucidar os mecanismos pelos quais se originam as doenças. “Para descobrir esses mecanismos precisamos de mais estudos. O que a gente vê é uma associação grande, mas qual é o mecanismo exatamente a gente ainda não conhece.”

O artigo, publicado no Journal of Affective Disorders, faz parte do São Paulo Megacity Mental Health Survey, levantamento concluído em 2009 no âmbito de projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ao todo, foram entrevistados 5.037 moradores da Região Metropolitana de São Paulo, com 18 anos ou mais.

Injeção mensal contra HIV pode substituir tratamento diário, diz estudo


Uma injeção mensal de antirretroviral, em vez de um comprimido por dia, pode ser suficiente para os portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV) manterem a infecção sob controle. É o que indica um estudo divulgado hoje (24) na nona edição da Conferência de Investigação sobre o HIV, organizada pela Sociedade Internacional contra a Aids. A informação é da EFE.

O trabalho, apresentado em Paris pelo cientista da Universidade da Carolina do Norte (EUA) Joseph Eron, sugere que os portadores em estado de supressão viral respondem bem às injeções, sejam as administradas a cada quatro semanas ou as tomadas a cada oito. Atualmente, os portadores do HIV devem tomar um comprimido por dia para que o vírus seja indetectável e não seja transmitido, ainda que não seja possível eliminá-lo completamente.

"Para alguns soropositivos, um tratamento injetável de longa duração pode ser mais cômodo e menos estigmatizante do que o atual, o que poderia aumentar a taxa de continuidade", defendem os autores do teste, que já foi experimentado em centenas de pessoas.

De acordo com o vice-presidente da conferência, Jean-François Delfraissy, a devida continuidade do tratamento é fundamental, já que quando interrompida pode provocar aumento da resistência do vírus aos medicamentos, o que é extremamente preocupante.

Segundo dados divulgados na última semana pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), 19,5 milhões das 36,7 milhões de pessoas que têm o vírus do HIV no mundo têm acesso ao tratamento.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Hanseníase - Eu quero em mutirão esvaziar a palavra preconceito e estigma


Por Zilda Borges*
Às vezes, muitas vezes, no pequeno jardim de minha casa, na janela do meu olhar eu fico contemplando a longitude histórica do discurso sobre o preconceito e estigma. Eu pergunto o que o estudo sobre estes fatores ajudaram concretamente a vida de quem sofre preconceito e o estigma?

Quando escuto uma pessoa com hanseníase, debaixo de um pé de manga no fundo do quintal, numa comunidade onde a maioria das pessoas vive do lixo da cidade, eu posso ver a longitude do discurso sobre o preconceito, estigma…

Eu pergunto para que serve este significante preconceito e estigma…? Para que serve? Estas palavras não iluminam os des-caminhos de nossas vidas… Então para que servem?

No silêncio da noite eu fiquei tentando tentando burilar estas palavras e fazer delas varias ações. Uma das ações foi reunir com pessoas atingidas pela hanseníase e juntos realizamos um levantamento sobre o que estas duas palavrinhas alteram em nossas vidas. Em poucos minutos nos vimos embruralhadas na dor de quem sofreu na pele a rejeição.

Percebemos o poder que as palavras estigma e preconceito têm, a ponto de evocar em nosso íntimo dor emocional. Uma dor que deixa nossa vida na penumbra, quase que no escuro, paralisados.

O desafio do grupo era: Vamos iluminar nossas vidas.

E a primeira luz que acendemos em nossas vidas foi; com toda dignidade, com toda autoridade substituímos a palavra preconceito por conceito e a palavra estigma por estima. Nos propusemos em falar mais do conceito da hanseníase e da estima para com as pessoas afetadas pela hanseníase.

E felizmente quando estamos embrulhados com o conceito e com a estima, somos convocadas a responsabilidade e ao acolhimento e tudo que sobra é uma pitada de alegria, um pouco de suavidade e a luz que ilumina o caminho. A estima nos cobre de esperança, afasta o medo e nos reveste de coragem.

Eu quero a movimento e a dança das palavras. Isso é LUZ


*Zilda Borges (Psicóloga, Presidente da IDEA-Brasil)

sábado, 10 de junho de 2017

Saiba que a hanseníase tem cura

Por Laila de Languiche* no site da DAHW Brasil

Sou hansenologista , e dermatologista há 18 anos. Dar o diagnóstico de hanseníase ainda é muito difícil para mim e certamente também para meus colegas de profissão. O estigma que infelizmente esta doença ainda carrega dificulta muito nosso trabalho em todas as áreas da saúde.

Confesso que no inicio de minha carreira algumas vezes me deparei tentando encontrar outros diagnósticos que justificaria tais sintomas. As vezes protelava um diagnóstico evidente, com receio de precipitar-me. Solicitava e até repetia exames complementares.

Imaginava as múltiplas consultas e acompanhamento que este paciente deveria se submeter nos próximos meses, nas possíveis reações adversas que porventura poderia comprometer o paciente e a dificuldade de abordagem social. A reação da sua família. O medo de rejeição e a incerteza da aceitação.

Sempre apaixonada pela hanseníase, este assunto acabou sendo corriqueiro na minha família, onde todos entendem e compartilham minhas frustrações e dilemas, se surpreendem quando escutam mitos bíblicos desta doença, como perda de dedos etc, são muito pro ativos contra a estigmatização e não tem medo algum de contrair esta doença, já que tiveram a oportunidade de conhecê-la. Não hesitei em perguntá-los o que eu poderia dizer de mais precioso a um paciente que acaba de receber seu diagnóstico de hanseníase. E qual foi minha grande surpresa quando escutei:” fale que tem cura!”

Eis o que eu gostaria de enfatizar aos pacientes que acabam de receber seu diagnóstico: saibam o quanto é e foi difícil seu médico chegar a seu diagnóstico, saiba que o preconceito é oriundo da desinformação, saiba que é normal ter medo e dúvidas. Voce deverá ser muito paciente. Conte com seu médico, que é capacitado para explicar todas suas dúvidas e ouvir suas queixas. A convivência será próxima e longa, seus encontros mensais ou mais curtos ainda. Tome seus medicamentos corretamente pois será essencial para o sucesso de seu tratamento, efeitos secundários podem existir mas serão perfeitamente controláveis.

E acima de tudo: saiba que a hanseníase tem cura.


*Laila de Languiche (Dermatologista)

sexta-feira, 9 de junho de 2017

A Hanseníase e sua história no Brasil


Por Márcio Conti* no site da DAHW Brasil

A história da doença no Brasil e na América inicia-se com a chegada do europeu no continente. A mesma existia na Europa, com relatos de primeiros diagnósticos em 3.000 A.C, possivelmente chegando a Europa de forma maciça por volta de 300 A.C., possivelmente introduzida por soldados das tropas de Alexandre, o Grande, contaminados pela moléstia, quando retornaram da Índia e tendo uma evolução histórica de preconceito e estigma em todas as culturas e países em que apareceu.

No novo continente cria-se uma situação de catástrofe na população nativa, potencializada pelo o tráfico de escravos da África, com índices de incidência e prevalência extremamente elevados, contudo não temos conhecimento de registros oficiais de números perto dos verdadeiros, porém relatos historiográficos nos fazem pensar em uma condição de saúde pública grave em todo o continente. Várias explicações são colocadas, sendo talvez, a mais fidedigna, decorrente da inexistência de contato anterior destas pessoas com a Micobactéria causadora da doença, fato que facilitaria o contágio e desenvolvimento de formas mais graves de apresentação da Hanseníase.

Este momento obscuro de números sobre a doença no país e América do Sul, precede a grande transformação que ocorre na ciência médica no século XIX com a descoberta dos microrganismos e em 1874, o norueguês Dr. Gerhard Henrik Armauer HANSEN, que a estudou e isolou o Micobactéria leprae, torna públicos seus estudos. A doença milenar que acreditava-se ser um castigo divino, decorrente da “sujeira da alma e do corpo” passa a ter explicação científica comprovada deixando o imaginário religioso ou simbólico, pelo menos no meio científico, para ser mais uma das doenças infecto-contagiosas a serem estudadas objetivando ter a sua cura definitiva, com certeza esta representação social da ”lepra”, após quase 150 anos, ainda perdura.

O desafio que se mostrava aos gestores da Saúde decorria da impossibilidade de interromper a cadeia de transmissão de doença com aspectos simbólicos social imensos pela da ausência de antimicrobianos que fossem efetivos, mantendo a ciência na busca de uma solução, que inicialmente foi realizada nos países nórdicos com o diagnóstico e isolamento compulsório das pessoas infectadas. A ideia era isolar o doente e assim “quebrar” a cadeia de transmissão, erradicando a patologia como um problema de saúde pública. No fim do sec. XIX esta política foi coloca em prática com resultados que satisfizeram as autoridades da época. Foi o renascimento do Leprosário como área física, pois até este momento, o doente vivia fora das cidades em condição de mendicância, não por uma política pública de saúde, porém pelo imenso preconceito social.

O restante do mundo se contamina com esta ideia, não da cura, mas da profilaxia da contaminação de novas pessoas, surgindo leprosários em todos os países Ocidente, que tinham como objetivo alcançar os resultados que supostamente a Noruega havia conseguido. O objetivo, novamente frizo, não é a cura do paciente,

mas o controle da doença na sociedade. A segregação dos “leprosos” foi inclusive tema de discussão nas Conferências Internacionais de Lepra, realizadas nos anos de 1897 e 1909.

O Brasil não estando de fora deste contexto, a política de profilaxia da “lepra” foi implementada a partir do Decreto nº 16.300, de 31 de dezembro de 1923, que determinou o isolamento das pessoas com Hanseníase em sanatórios, hospitais, asilos e colônias agrícolas, posteriormente assumindo a representação social de Leprosários. A violência contra a pessoa doente era “justificada” por um suposto bem social maior, que era a não contaminação de outras. Na prática todo doente era obrigado a viver nestes locais até uma possível alta médica, esta que não ocorria e na prática condenados a permanecerem ali por toda a vida já que estamos observando as décadas antes do surgimento de medicações que possibilitassem a cura.

O primeiro avanço no tratamento da Hanseníase ocorreu na década de 40, com o desenvolvimento da Dapsona, o único fármaco até então conhecido, que deteve a doença, porém de forma não constante e com taxas de cura ainda baixas. Ainda haveriam décadas até que a internação compulsória fosse abandonada decorrente do melhor entendimento da doença e melhores tratamento, fazendo com que a política de isolamento para evitar-se a contaminação de outras pessoas fosse abandonada.

A década de 80 e 90 mostram mudanças, sempre com o Ministério da Saúde focado na cura clínica da doença, fato natural e compreensível após séculos de tentativas de cura, porém caso o M. leprae acometesse somente a pele, a hanseníase não teria a importância que tem em saúde pública. Em decorrência do acometimento do sistema nervoso periférico (terminações nervosas livres e troncos nervosos) surgem a perda de sensibilidade, as atrofias, paresias e paralisias musculares que, se não diagnosticadas e tratadas adequadamente, podem evoluir para incapacidades físicas permanentes e este fato que realmente torna a doença incapacitante. Devo lembrar que, neste momento que existem ações para prevenir ou mesmo reabilitar a pessoa que já tem comprometimento, e tal fato torna a Prevenção e Reabilitação fundamental no tratamento global, caso não a implementemos de forma efetiva, estaremos repetindo a ideia de tratar para não contaminar, esquecer a pessoa e suas sequelas e dores.

Não seria justo historicamente e pessoalmente esquecer o Instituto Lauro de Souza Lima e toda sua Equipe de Médicos, Fisioterapeutas, terapeutas Ocupacionais, Enfermeiros, Sapateiros e etc. que a partir da década de 70 passa a ocupar sua atenção com a reabilitação com lideranças históricas como os Doutores Diltor Opromolla e Frank Duerkersen e o Hospital Alfredo da Matta em Manaus.

Apesar destes esforços, e com a introdução da cura da doença com a Poliquiomioterapia (PQT) na década de 90, com o tratamento ambulatorial, gratuito e nacional, o Governo brasileiro manteve sua atenção somente na cura clinica do doente. Recentemente observa-se a formação de profissionais com atenção no diagnóstico precoce das incapacidades objetivando sua prevenção, porém a reabilitação das sequelas instaladas foram deixadas em uma terra de ninguém. Pelo número elevado de casos que o pais ainda apresenta, sendo que em alguns locais não sabemos corretamente o número de casos existentes, ou seja, estamos ainda lutando para diagnosticar e levar tratamento os que necessitam, principalmente o meio médico possui pouco ou nenhum interesse na reabilitação, talvez pela falta de formação acadêmica e os pouquíssimos médicos treinados para atuarem nesta área especifica, ou o somatório dos dois fatores.

Chegamos ao séc XXI ainda lutando pela cura, pelo diagnóstico e pela quebra da corrente de transmissão da Hanseníase, sem perceber que estamos negligenciando milhares de ex-portadores da doença com incapacidades que os tornam socialmente incapazes de exercerem seu papel pleno na sociedade como pessoas produtivas, emocionalmente estáveis, com núcleos familiares constituídos, fato que mantém, agrava o preconceito e estigma social.

Já é momento, ou passamos este, de iniciar um grande programa de diagnóstico de incapacidades e reabilitação, tratando o paciente de forma plena, integrada e completa, com a consequente reinserção social, já que até o momento pouco fizemos neste sentido.

A cura clinica já existe, agora vamos avançar e tratar questões mais complexas e abrangentes que são as dores destes cidadãos.


* Márcio Conti (Médico Cirurgião)

terça-feira, 6 de junho de 2017

Questões psicológicas na Hanseníase


Por Lucy Natalia* no site oficial da DAHW Brasil

Assim que nascemos, começamos a entender o que a vida pode nos dar; alegrias, tristezas, força, fé, medo e tantos outros sentimentos, tantas outras emoções… Tomamos consciência de quem somos neste mundo; percebemos que em algumas situações a insegurança e o medo, querem prevalecer sobre nossas expectativas e sonhos; em especial diante de algo que nos assusta.

Tudo que é desconhecido e que pode afetar a nossa vida, nos leva à insegurança e ao medo.

A hanseníase pode acarretar o sentimento de exclusão social, devido à falta de conhecimento da sociedade em relação ao tratamento atual, pois ainda estão presos a fatos históricos.

O que fazer diante de tantos desafios?

Primeiro: sempre se lembrar que estamos vivendo um novo tempo no avanço do conhecimento do tratamento e da cura da Hanseníase e que a nossa sociedade precisa conhecer e deixar os preconceitos. Acredite em você! Seu potencial de vencer os obstáculos da vida a cada manhã, resgate os seus vínculos e valores, busque ter uma boa autoestima, compartilhe seus sentimentos, não se isole.

Segundo: seja você também mais um a divulgar a cura da Hanseníase, ajudando a sociedade a promover a educação em saúde. Mesmo diante dos sofrimentos causados pelas cicatrizes da Hanseníase (corpo e alma), você continua sendo uma pessoa de valor; com inúmeras possibilidades, para se ajudar e ajudar o próximo. Não fique amarrado a polpa que o vento leva, não se sinta preso a enfermidade; mas foque no que fará diante deste desafio, na superação; não se esqueça: ¨você é um ser de possibilidades! A dor que é só sua também é de muitos espalhados pelo Brasil, ela pode e deve ser dita; divulgada e superada!

Terceiro: escolha a vida, o recomeço… A cada escolha revelamos o valor que atribuímos. Somos seres históricos, presos a um passado e precisamos de um recomeço, só recomeçamos quando decidimos conhecer o que vivemos, esclarecer as dúvidas e não omitirmos diante da comunidade que precisam conhecer e entender que novos tempos estão sendo escritos, novas descobertas tem sido benéficas para a sociedade; em destaque: o tratamento e a cura da Hanseníase.

Diante do estigma social (hanseníase), cabe à cada um, esclarecer o que é, entender como se contrai, e principalmente não se isolar, mas fazer o tratamento com fidelidade!

¨Todo ser humano, sem exceção, pelo mero fato do Ser, é digno do respeito incondicional dos demais e de sí mesmo; merece estimar-se a sí mesmo e que se lhe estime¨. Carl Rogers


Lucy Natalia é Psicóloga Clínica

quinta-feira, 1 de junho de 2017

A odontologia e a Hanseníase


Por Dra. Alessandra Nogueira Porto no site da DAHW Brasil 

Olá queridos Leitores! Eu sou a Dra. Alessandra Nogueira Porto, cirurgiã dentista e irei todos os meses escrever um informativo aqui no Blog sobre a saúde bucal e a hanseníase. Espero que vocês gostem!

A Odontologia nas últimas décadas vem avançando no aprimoramento de técnicas e tratamentos principalmente na área da reabilitação oral e estética, mas o fundamental para a manutenção da saúde bucal ainda continua sendo o controle do biofilme dental.

A prevenção da cárie e da doença periodontal ocorre a partir do controle do biofilme dentário, através de uma escovação correta e utilização do fio dental. Uma boa higiene bucal propicia o hálito puro, um sorriso saudável e favorecem que os dentes fiquem limpos e livres de resíduos alimentares. Dentes saudáveis não só permitem uma boa aparência, mas são também imprescindíveis para o bem-estar e a para a saúde bucal.

Em relação aos cuidados odontológicos, as orientações aos pacientes com hanseníase e familiares são basicamente a mesma para qualquer outro paciente, no sentido de prevenção de doenças bucais. As vias aéreas superiores são a porta de entrada mais importante para o bacilo e a fonte principal para a eliminação bacilar na hanseníase. A mucosa bucal parece ser o segundo principal sítio de infecção e transmissão da M. leprae, com fundamental papel na transmissão da hanseníase de adultos para crianças. As lesões hansênicas, geralmente, constituem alterações de sensibilidade na pele, embora essas alterações possam ocorrer também na cavidade bucal. Além disso, complicações locais como úlceras e perfurações nasopalatinas, eventualmente, possam-se estabelecer em decorrência das reações hansênicas.

Do mesmo modo que a população em geral, os indivíduos com hanseníase apresentam índices elevados de cárie e doença periodontal. A cárie dentária e a doença periodontal são infecções odontogênicas comuns, qualificadas como problemas de saúde pública em nosso país. As periapicopatias inflamatórias também compõem infecções de origem odontogênica e podem ser foco de agravamento das reações hansênicas, devido à produção exacerbada de citocinas pró-inflamatórias. Quanto à prevenção do desenvolvimento de lesões hansênicas bucais, o paciente deve ser informado sobre o possível surgimento de lesões mucosas na vigência de surtos reacionais e orientado a retornar, o mais breve possível, ao cirurgião-dentista para tratamento local e prevenção de infecções secundárias.

Portanto vamos caprichar na nossa escovação e não esquecer e usar o fio dental todos os dias, ok?

terça-feira, 30 de maio de 2017

Apenas 20% das mulheres têm mama reconstruída após tratamento de câncer no SUS

Apenas 20% das 92,5 mil mulheres que fizeram a cirurgia de mastectomia para tratamento do câncer de mama, entre os anos de 2008 e 2015, passaram pelo procedimento de reconstrução mamária. O levantamento foi feito pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) com base em dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS). Para a SBM, a situação é explicada pela falta de estrutura para atendimento da demanda e pelo número insuficiente de médicos qualificados para o procedimento.

O presidente da SBM, Antônio Luiz Frasson, destaca que algumas estruturas optam por fazer a reconstrução mamária em momentos separados, possibilitando que a fila para tratamento do câncer ande mais depressa. “A estrutura é limitada, e isso faz com que alguns hospitais deem prioridade ao atendimento do câncer e posterguem a reconstituição. Se, em um dia, eu tenho 10 horas de sala de cirurgia, eu posso operar quatro ou cinco pacientes com câncer de mama. Mas, se eu tiver que reconstituir, eu posso operar duas”, explicou o médico mastologista.

Outro aspecto destacado por ele é o treinamento de profissionais. “Como o sistema reembolsa pouco, e como são cirurgias muito trabalhosas, não são muitos os profissionais que estão dispostos a trabalhar com uma baixa remuneração e alta complexidade”, explicou Frasson. Ele disse que a SBM tem atuado para capacitar mais profissionais a fazer a reconstrução e conscientizar sobre a importância dessa atuação. Segundo Frasson, ainda não há um levantamento sobre os mastologistas que já estão capacitados ou que contam com equipe para a reconstrução.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, pelo menos 74 mil mulheres estão mutiladas pela mastectomia no país, mas com condições clínicas de fazer a cirurgia. “Menos de 10% dos casos são tão graves que a gente quer apressar o tratamento oncológico com radioterapia, quimioterapia e, por esse motivo, deixa de fazer [a reconstrução]”, explicou Frasson. O médico lembrou que a mutilação traz consequências importantes para a autoestima e sociabilidade da mulher. “É a falta de sensação de integridade física.”

SUS
Em nota, o Ministério da Saúde informou que o procedimento é oferecido de forma gratuita em qualquer unidade de saúde especializada no atendimento ao câncer de mama no país. Segundo a nota, este ano, o número de cirurgias de reconstrução mamária cresceu 76,9% em relação a 2010, quando foram realizados 1.909 procedimentos. Nesse período, os investimentos federais passaram de R$ 2,4 milhões para R$ 9,5 milhões.

O ministério questiona ainda o estudo da SBM, considerando que o “banco de dados do governo federal dispõe apenas de informação sobre procedimentos, o que não quer dizer, necessariamente, pessoas”. E reforça que, no âmbito do SUS, observa-se o crescimento do número de reconstruções mamárias.


De acordo com a pasta, esse procedimento deve ser feito no mesmo ato cirúrgico de retirada da mama, segundo a Lei nº 12.802, de 24 de abril de 2013. O ministério ressalta, porém, que cabe à equipe médica avaliar se é possível fazer os dois procedimentos seguidamente. “A decisão é tomada com base em diversos fatores como, por exemplo, condição da área afetada para evitar infecção ou rejeição da prótese, condição clínica e vontade da própria paciente.”

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

Dag Vulpi

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