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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Balelas sobre países que adotaram políticas conservadoras e “estão bem”

Por Marcelo Fantaccini brito no Trincheiras

Quem lê cadernos de Economia e Negócios dos jornalões ou periódicos especializados certamente se deparou com aquelas histórias de países que implementaram políticas sugeridas por formadores de opinião de direita e que estão tendo elevadas taxas de crescimento do PIB. Essas histórias são contadas como fábulas moralistas, como a da cigarra e das formigas.

Entre as políticas de direita sugeridas estão a redução de impostos e a consequente redução do gasto público, incluindo o social, a “flexibilização” das leis trabalhistas, as privatizações, a independência da autoridade monetária e o investimento em educação voltado ao ensino técnico e às áreas tecnológicas, em detrimento das humanas, e o fim da gratuidade das universidades públicas.

O que se pode dizer deste tipo de texto? Bom, …

1. Em algumas, há o cherry picking de resultados bons. Pega-se o caso de um país que teve políticas de direita, e selecionam-se apenas os resultados bons para mostrar. E às vezes, exageram-se os resultados. Um exemplo disso é o México. É um dos poucos países da América Latina que não entraram na onda populista, como dizem os detratores desta onda, ou na onda progressista, como dizem os defensores. O México, desde 1988, vem tendo ininterruptamente governos neoliberais, sejam do PRI, sejam do PAN. Por isso, essa mencionada imprensa tenta vender o México como um caso de sucesso. Mas nem no PIB isto aconteceu. De 1988 até hoje, o PIB per capita mexicano cresceu aproximadamente 1,5% ao ano. Não é ruim, mas está longe de ser um desempenho espetacular.

2. Em algumas, há o cherry picking de políticas de direita. O Chile, país latino americano com os melhores indicadores econômicos e sociais, é apontado como um modelo de país que teria rejeitado o big government. É feito um cherry picking para ignorar que o Chile só começou a prosperar depois que as políticas radicais dos Chicago Boys aplicadas nos anos 1970 foram abandonadas nos anos 1980. Que o Chile foi pragmático suficiente a ponto de manter um controle de capitais. E que a carga tributária do Chile é apenas aparentemente baixa. Se forem considerados não apenas impostos, mas também a receita da atividade estatal de exploração de cobre, a carga tributária do Chile não é baixa.

3. Muitas vezes, é verdade mesmo. As políticas sugeridas pelas organizações que representam o capital são mesmo responsáveis por taxas mais elevadas de crescimento do PIB e taxas mais baixas de desemprego.

Quer dizer que essas políticas devem ser feitas? Não! Em primeiro lugar, por causa do motivo que mais gente conhece: PIB não é tudo. Se o crescimento é feito de forma concentrada, poucas pessoas se beneficiam. E mesmo se o crescimento por difundido, permitindo todos consumirem mais, não há necessariamente aumento de qualidade de vida. As pessoas podem comprar mais carros, mas morar em cidades mais congestionadas e poluídas. O país pode ter desemprego baixo, mas um emprego muito precário, pior do que a vida com seguro desemprego em outros países.

Mas este texto destaca o segundo motivo pelo qual as políticas de direita não são recomendáveis: se um país implementar individualmente as políticas da direita, sua economia terá vantagem em comparação com a de outros países. Mas se todos os países implementarem as políticas de direita, o resultado não será melhor do que se nenhum implementar. Trata-se de um típico “dilema dos prisioneiros” (quem não está familiarizado com o termo, clique aqui para entender melhor), abordado pela Teoria dos Jogos.

A tabela a seguir mostra um exemplo com dois países, A e B. Cada um deles tem a opção de implementar ou não as políticas de direita. No lado esquerdo dos parênteses, está o ganho obtido pelo país A. No lado direito dos parênteses, está o ganho obtido pelo país B.

País A / País B
Implementa
Não implementa
Implementa
(1,1)
(3,0)
Não implementa
(0,3)
(2,2)

Ou seja, independentemente da decisão do outro país, implementar é vantajoso. Mas se os dois não implementarem, o resultado será melhor do que se implementarem. Esta situação pode até ser ilustrada por uma anedota em que havia dois caipiras andando na roça, quando um deles viu um cocô de vaca no chão e falou “aposta 100 reais que eu como um pouco da merda?”, o outro concordou. O caipira que propôs cumpriu a promessa e ganhou 100 reais. O outro, para não ficar no prejuízo, propôs a mesma aposta, cumpriu e ganhou os 100 reais de volta. Aí um deles concluiu “cê repareu que comemos merda de graça?”.

Como isto ocorre na prática?

Se um país cobra impostos muito elevados dos ricos, eles se mudam para outro país. Se um país deseja manter uma grande rede de proteção social, necessita de impostos. E se não pode cobrar impostos altos de renda e patrimônio pelo motivo anteriormente mencionado, tem que optar pelo imposto sobre circulação de mercadorias. Aí surge outro problema: encarece seus produtos em comparação com os estrangeiros. Se um país tem sindicatos fortes e uma legislação que protege muito os trabalhadores, as empresas procuram investir em outro país. Além disso, os custos mais altos do trabalho gerados também encarecem seus produtos em comparação com os estrangeiros. O mesmo ocorre se um país tem uma legislação ambiental muito rígida. E se um país oferece vagas gratuitas nas universidades, suas universidades serão mais pobres e não se posicionarão muito bem em rankings internacionais. Se um país investe dinheiro em ciências sociais e filosofia, fica tecnologicamente “para trás” em comparação com o país que investe mais em engenharias e em ensino técnico.

O que ocorreria se o mundo tivesse um único governo? Cobrar uma alíquota marginal de imposto de renda próxima de 100% para rendas muito elevadas continuaria sendo problemático porque desestimularia a geração de renda e a poupança. Mas uma alíquota marginal de 70% para rendas anuais superiores a um milhão de dólares seria perfeitamente possível. Os países desenvolvidos têm alíquota marginal máxima de imposto de renda por volta de 45%. Países são desestimulados a individualmente elevar a alíquota máxima de imposto de renda para mais de 50% não pelo risco desestimular o trabalho dos milionários, mas sim pelo risco de gerar êxodo de milionários. O progresso técnico, com o decorrente aumento de produtividade, permitiria diminuir a jornada de trabalho. Seria o lema “trabalhar menos para todos trabalharem”. Mas o que ocorre é que quando um país tenta individualmente reduzir a jornada para um patamar inferior ao de 40 horas semanais, o desemprego aumenta ao invés de diminuir, porque o custo do trabalho se torna maior. É difícil para um país individualmente utilizar políticas fiscal e monetária expansionistas para combater uma recessão, porque grande parte da demanda estimulada é direcionada para produtos importados. Quando líderes socialistas chegam ao poder, como ocorreu na França em 2012 e na Grécia em 2015, eles são obrigados a recuar, porque não têm margem para fazer políticas progressistas sozinhos. Há uma guerra fiscal internacional, uma race to the bottom. O “socialismo em um só país” é difícil de ser implementado não apenas em sua versão marxista-leninista, mas até mesmo em sua versão social democrata, como se pode ver na França, na Grécia e até mesmo no Brasil.

Se houvesse um único governo, não haveria a competição entre governos para precarizar seus mercados de trabalho nacionais, visando atrair empresas através do custo baixo do trabalho, e colocar mercadorias baratas no mercado mundial. O mesmo se aplica para legislação ambiental. Se não houvesse a competição internacional, o investimento em ensino superior poderia ser balanceado entre os objetivos de tornar a sociedade mais culta, aumentar a tecnologia, tornar o ensino acessível a quem estivesse mais interessado e dedicado, independente de origem social. O investimento poderia ser balanceado entre tecnologia, ciências naturais e ciências sociais. Com a competição internacional, os países preferem dar enfoque à tecnologia, ao conhecimento aplicado naquilo que pode virar novos produtos comercializáveis e novos processos produtivos, em detrimento da pesquisa básica em ciências naturais, e das ciências sociais. Progresso tecnológico é muito bom. Mas é questionável os governos alegarem que não podem investir muito em sociologia, antropologia, história e filosofia porque precisa aplicar os recursos escassos em áreas que permitam produzir telefones celulares e lap tops cada vez mais sofisticados. Não precisamos de toda essa sofisticação. O lap top que estou usando para escrever este texto não é de última geração, e mesmo se fosse mais antiquado do que realmente é, seria útil para esta tarefa do mesmo jeito. Mas nós não podemos ficar para trás em tecnologia…

A mistificação das políticas de direita ganhou força com a contra-revolução conservadora que ocorreu na década de 1980 no Reino Unido, com Margaret Thatcher, e nos Estados Unidos, com Ronald Reagan. Outros países desenvolvidos também tiveram governos de direita no período, mas as mudanças não foram impactantes. As duas potências anglo-saxãs tinham, no imediato pós-guerra (1945-1980), alíquotas superiores de imposto de renda maiores do que as dos países europeus continentais. A concentração de renda dos Estados Unidos e do Reino Unido era semelhante à da França e da República Federal da Alemanha. Depois da guinada da década de 1980, os Estados Unidos e o Reino Unido passaram a ter alíquota máxima de imposto de renda inferior à dos países europeus continentais, mesmo tendo a destes decrescido também. Os anglo-saxões também tiveram crescimento da concentração de renda, enquanto esta variável permaneceu razoavelmente estável na Europa Continental. O Reino Unido ainda fez um grande programa de privatizações. Os Estados Unidos já não tinham muito o que privatizar. Entre 1945 e 1980, os Estados Unidos e o Reino Unido tinham as mais baixas taxas de crescimento do PIB entre os países desenvolvidos. A partir de 1980, passaram a ter taxas de crescimento do PIB acima da média dos países desenvolvidos. A guinada conservadora foi vista por alguns como a responsável pela recuperação do mundo anglo-saxão.

Mas isto deve ser visto com cautela. Os Estados Unidos tiveram taxas de crescimento do PIB mais elevadas, mas também tiveram crescimento populacional mais elevado. Considerando o PIB per capita, os Estados Unidos tiveram entre 1980 e 2014 um crescimento anual médio de 1,7%. O Reino Unido, teve 1,9%. A França teve 1,3%, A Itália teve 0,9%. A Alemanha teve 1,5%. A Suécia teve 1,7%. A Finlândia teve 1,6%. Ou seja, a diferença de crescimento dos anglo-saxões com alguns europeus continentais nem tão grande assim foram. E parte do crescimento superior dos anglo-saxões foi causada por crescimento do número de horas trabalhadas, e não por crescimento de produtividade. Ou seja, a população aumenta o consumo, mas também aumenta o trabalho. Ganha qualidade de vida por um lado, mas perde em outro.

Mas ainda assim, continua sendo verdade a afirmação de que antes da contra-revolução conservadora, os Estados Unidos e o Reino Unido tinham taxas de crescimento do PIB per capita inferiores à da média dos países desenvolvidos, e depois passaram a ter taxas superiores. Porém, os dois anglo-saxões não tiveram taxas de crescimento superiores depois de 1980 do que antes dessa data. Foram os outros países desenvolvidos que tiveram declínio do crescimento.

Na América Latina, os good boys dos conservadores são o México, a Colômbia, o Peru e o Chile. Os problemas de mencionar o México e o Chile já foram mencionados no início do texto. As monarquias árabes são as favoritas dos conservadores. Na Europa da década de 2000, a Alemanha entrou na onda conservadora, primeiro com o social democrata Gehrard Schröder e depois com a democrata cristã Angela Merkel. Houve uma política de austeridade fiscal, mantida mesmo com inflação próxima de zero, e políticas deliberadas para reduzir salários. O resultado é que o desemprego caiu e o PIB, estagnado nos anos 1990, voltou a crescer. Isto ocorreu em detrimento de países do sul da Europa, que tiveram que passar por recessão muito grande para poder ter custos baixos de trabalho iguais aos da Alemanha. Mesmo para a Alemanha, é possível criticar estes “efeitos positivos”. O desemprego foi trocado por emprego pouco protegido para alguns trabalhadores. A concentração de renda na Alemanha, que já foi uma das mais baixas do mundo, vem aumentando.

Entre 1945 e 1980, os países desenvolvidos tiveram políticas que hoje seriam consideradas de esquerda, mas que naquele tempo em que o capitalismo precisava mostrar que poderia ser melhor para os trabalhadores do que o comunismo, tanto esquerda, quanto direita aceitavam. Entre estas políticas, se incluem a elevação do salário mínimo acompanhando a elevação da produtividade, a elevada taxa de sindicalização, o controle do fluxo de capitais, o uso de políticas anticíclicas de estabilização, e um elevado imposto de renda para os muito ricos. E foi o período em que os países desenvolvidos tiveram o maior crescimento do PIB per capita de sua história. Não é possível atribuir tudo à reconstrução do pós-guerra, porque este crescimento elevado prosseguiu para além do tempo da reconstrução. Só terminou em 1974, com o primeiro choque do petróleo. Foi possível conciliar crescimento acelerado com políticas não concentradoras de renda, porque todos os países fizeram isso junto.

Como resolver este problema e tornar possível ocorrer novamente no mundo o que ocorreu com os países desenvolvidos entre 1945 e 1973? Como parar de comer cocô de graça?

Um governo mundial seria uma ideia irrealista. Mas poderíamos pensar em uma coordenação internacional para implementar políticas progressistas. Se já existe coordenação para diminuir barreiras comerciais, via OMC e acordos regionais, poderia haver uma coordenação para ser criado um piso de imposto de renda. Poderia ser combinado, por exemplo, que nenhum país poderia ter alíquota marginal de imposto de renda menor do que 60% para rendas superiores a dois milhões de dólares por ano. Assim, seria impossível os milionários procurarem país que cobra imposto baixo. Poderia haver um piso de legislação trabalhista. Nenhum país poderia ter um mercado de trabalho mais “flexível” do que o permitido pelo piso. Assim, as empresas não poderiam mais procurar países com mercado de trabalho mais precário. O mesmo valeria para legislação ambiental. Em caso de desaceleração econômica mundial, poderiam ser feitas políticas expansionistas coordenadas, uma vez que políticas expansionistas individuais, como ocorreram no Brasil entre 2010 e 2014, são inócuas. Desde 2008, o mundo tem superprodução industrial e falta de demanda para o que é produzido.

Observação: mesmo eu tendo concordado que com uma economia global e com estados nacionais agindo sem coordenação, políticas conservadoras podem sim ser melhores para o crescimento, mais uma ressalva, além das apresentadas no texto, deve ser feita. O Brasil tem uma economia patinando há seis anos. É comum ver na grande mídia os pundits dizerem que isto ocorre porque o Brasil é um país social democrata demais. Isto é cherry picking. É verdade que o Brasil tem um gasto em educação, saúde, previdência e transferência de renda como proporção do PIB maior do que o de países com PIB per capita semelhante. Mas o Brasil também tem um sistema tributário composto em sua maior parte por impostos sobre consumo, que pesam mais no bolso do pobre, como os conservadores desejam. A alíquota marginal máxima de imposto de renda de pessoa física, de 27,5%, é uma das mais baixas do mundo, inferior não apenas à de países desenvolvidos, como inferior à do Chile também. O salário mínimo do Brasil é bem menor do que o salário médio, ou seja, há pouca regulação governamental sobre fixação de salários. O atual salário mínimo brasileiro equivale a aproximadamente um euro por hora. O atual salário mínimo francês é de onze euros por hora. E a França tem PIB per capita que é apenas três vezes o do Brasil. Uma parcela não desprezível dos brasileiros utiliza serviços privados de educação e saúde (o autor deste texto inclusive). O Imposto de Renda até incentiva. Em poucas palavras: o Brasil tem muitas coisas que conservadores gostam, e mesmo assim não tem economia bombando.

Há uma onda reacionária na opinião pública brasileira?


Por Marcelo Fantaccini brito no Trincheiras

Há uma onda reacionária na opinião pública falante brasileira nos dias atuais?

Este tema vem sendo bastante discutido em colunas na imprensa e em postagens nas redes sociais. Já em Janeiro, Vladimir Safatle escreveu uma boa coluna sobre o tema. Ele é dos que consideram que existe mais ou menos.

Outros consideram que existe mais, outros consideram que existe menos.

Dizer que há um tsunami reacionário na opinião pública falante brasileira é um exagero. Isto interessa ao PT por dois motivos. Primeiro porque ajuda a confundir o que é justo na rejeição ao partido com reacionarismo. Segundo porque incentiva a engolir tudo que vem do governo Dilma com base na ideia do “mal menor”. Ainda assim, é possível dizer que há maior presença atualmente de ideias de direita nas conversas das pessoas que a gente conhece e também no ônibus, no metrô e na mesa do nosso lado do que havia há dez anos. Talvez seja possível dizer que há mais do que uma marolinha, que há uma onda. Mas dizer tsunami seria exagero.

Desde quando a definição esquerda e direita foi inventada na França em 1789, existe direita no Brasil e no mundo. É errado dizer que “a direita saiu do armário no Brasil” porque a direita nunca esteve dentro dele. A soma dos votos nas eleições legislativas nos partidos que compunham a Arena (hoje chamados de PP, DEM e PSD) é muito menor atualmente do que era nas décadas de 1980 e 1990, quando estes partidos eram chamados de PDS (que ainda se chamou PPR e PPB antes de virar PP) e PFL. Sim, o PT se descolou da extrema-esquerda para a centro-esquerda (nunca acreditei no extrema tracinho do PT, mas enfim, os cientistas políticos falam isso…), o PSDB se deslocou da centro-esquerda (nunca acreditei no tracinho esquerda do PSDB, mas enfim, os cientistas políticos falam isso…) para a centro-direita. Mas antes da direitização do PSDB, Paulo Maluf e Antônio Carlos Magalhães eram nomes muito fortes na política nacional. Interessante observar o vídeo do debate do segundo turno para governador de São Paulo em 1998, entre Paulo Maluf e Mário Covas, em que ambos os candidatos tentam se apresentar como o melhor candidato conservador. Na década de 1990, não havia colunas políticas do Diogo Mainardi e do Reinaldo Azevedo na grande imprensa, mas havia colunas do Paulo Francis e do Roberto Campos. O programa do Ratinho era sucesso na década de 1990. Há muito tempo, existia no imaginário de algumas pessoas a associação entre defender direitos humanos e defender bandido. Quando Brizola era governador do Rio de Janeiro, falar mal dele na Zona Sul era um esporte praticado com frequência. Os programas de televisão na década de 1980 passavam com muita naturalidade coisas que atualmente são interpretadas como racismo, machismo e homofobia.

Uma pesquisa Datafolha realizada em dezembro de 2015 sobre intenção de voto para 2018 mostrou Aécio Neves com 26%, Lula com 20%, Marina Silva com 19%, Ciro Gomes com 6%, Jair Bolsonaro com 4%, Luciana Genro com 2%, Eduardo Paes com 1%, Eduardo Jorge com 1%, e nenhum/não sabe com 19%.

O 4% do Bolsonaro é assustadoramente alto. Mesmo se fosse 0,4%, já seria muito. Mas ainda assim, se verifica que a direita de verdade (Aécio Neves + Jair Bolsonaro) não soma mais do que 30%. A soma de Marina Silva, Ciro Gomes, Eduardo Jorge e Eduardo Paes é 27%. Ou seja, há aproximadamente um quarto do eleitorado brasileiro que não quer mais nem PT nem PSDB, mas também não quer mais nem extrema esquerda (Genro) nem extrema direita (Bolsonaro).

Feitas as ressalvas, é possível notar ainda assim que a direita está mais falante.
Embora os Marinhos, os Civitas, os Mesquitas e os Frias sempre tenham sido de direita, havia mais jornalistas que não concordavam com eles (ou seja, que eram de esquerda) escrevendo em seus periódicos nas décadas de 1980 e 1990. Lembrem-se de que Wanderley Guilherme dos Santos e Maria Rita Kehl já foram colunistas da Época. Ao longo da década de 2000, o espaço da esquerda nessa imprensa diminuiu, o espaço da extrema-direita, que sempre existiu, aumentou. Apareceu a safra dos colunistas influenciados pela “obra” do “filósofo” Olavo de Carvalho. Não apenas a imprensa influencia a opinião de seus leitores, mas a opinião de seus leitores também influencia a imprensa. A maior presença de opinião de direita na imprensa pode ser resultado dos jornais e revistas publicarem o que seus assinantes e compradores querem ler. Podemos perceber o aumento do direitismo na opinião pública brasileira até mesmo pelas conversas que ouvimos ao nosso redor.

Este texto foi escrito para discutir possíveis causas dessa onda. Como este texto não é científico, não pretende dar respostas definitivas. Pretende apenas levantar pontos de discussão. As possíveis causas são enumeradas a seguir:

1. Geralmente, oposição grita mais alto do que situação. Existe o desgaste natural de quem está há muito tempo no governo, no caso, do PT. Não adianta falar que o governo Dilma não é de esquerda porque tem a Kátia Abreu, o Gilberto Kassab, o Marcelo Castro e uma base de apoio de partidos não esquerdistas no Congresso, uma vez que Dilma, assim como Lula, foi eleita com o apoio de forças políticas identificadas com a esquerda, como sindicatos e movimentos sociais. Da mesma forma que não adianta falar que o governo Fernando Henrique Cardoso não era de direita, uma vez que foi eleito com o apoio de forças políticas identificadas com a direita, como associações empresariais e grande mídia. Até quem diz que o governo Dilma não é de esquerda apertou o 13 crítico no segundo turno. Principalmente em períodos de crise política e econômica, oposição faz mais barulho do que situação. Por isso, os momentos em que a opinião mais falante no Brasil foi a de direita ocorreram durante os governos de João Goulart, e agora durante o governo de Dilma Rousseff. Os momentos em que a opinião mais falante no Brasil foi a de esquerda ocorreram durante os governos de João Batista Figueiredo e o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.

2. Além do desgaste natural por causa do tempo em que ficou no governo, o PT ficou queimado por causa dos escândalos de corrupção. Como no esquema da Petrobras, segundo os delatores dizem, o PT não apenas repassou dinheiro ao PMDB e ao PP (o que já é muito ruim), mas também ficou com uma parte, foi derrubada a desculpa da governabilidade, aquela que diz que é inevitável utilizar práticas pouco ortodoxas para formar uma base de apoio no Congresso. O tempo de permanência do PT no governo também impede a continuidade do argumento do “sempre foi assim, todo mundo fez, é que agora está sendo mais investigado”. Outros partidos também têm seus esquemas de corrupção, mas o PT, nos muitos anos que antecederam à chegada de Lula à presidência, tinha uma fama de partido honesto, fama na qual até quem não gostava do partido por outros motivos acreditava. Aí quando se viu que não era bem assim, a raiva ficou ainda maior. A postura do PT em relação à investigação e julgamento de seus quadros envolvidos em escândalos ajudou a queimar ainda mais o partido.

3. Apesar da miséria e da desigualdade terem reduzido e o emprego formal ter aumentado desde 2002, a educação, a saúde e a segurança pública continuam horríveis. Não adianta falar que a responsabilidade por esses serviços é de governos estaduais e municipais. Se esses serviços são ruins em todos os estados e municípios, é sinal de que o governo federal também está falhando na sua parte. Um fator adicional de desgaste foi a política econômica do primeiro mandato da Dilma. A política econômica do primeiro mandato do Lula, liderada pelo Ministro da Fazenda Antônio Palocci, por seu Secretário do Tesouro Joaquim Levy e pelo presidente do Banco Central Henrique Meirelles era mais elogiada pela oposição de direita do que pelo próprio PT. Aí havia uma apólice de seguro para o PT: se não desse certo, era só falar que “não é comigo”. A Dilma, por sua vez, fez no primeiro mandato aquilo que importantes vozes de esquerda lamentavam que Lula não tinha feito: políticas fiscal e monetária expansionistas, tolerância com inflação maior e uso de instrumentos de mão visível, como controle de preços de energia e de combustíveis, para não permitir aumento ainda maior da inflação. O resultado não saiu conforme o desejado. Esta política do primeiro mandato da Dilma não é de esquerda, é uma política que já foi praticada no Brasil por governos do passado, como Figueiredo e Sarney. Mas como foi sugerida por vozes de esquerda, o desgaste é inevitável.

4. Mesmo com a crise do PT, o crescimento da oposição de esquerda, composta por PSOL, PCB e PSTU, foi modesto. A oposição de esquerda não vem conseguindo fazer um discurso compreensível para a parcela não muito politizada da população. A oposição de direita é mais pragmática, e por isso consegue virar maior referência para os insatisfeitos com o PT, incluindo aqueles que não são ricos.

5. Criminalidade muito alta assusta a população e favorece o discurso pró linha dura. Para piorar, algumas vozes de esquerda fazem um discurso muito ruim sobre o problema. Exemplo mais notável é o texto do Férrez sobre o assalto ao Luciano Huck em 2007. Observar os determinantes sociais da criminalidade não pode ser confundido com tolerar a criminalidade, que assusta não apenas a classe média (e mesmo se assim fosse…), mas a população como um todo. Exemplo disso é o entorno da Central do Brasil, repleto de delinquentes, local onde se situa “apenas” a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro. Quem mais circula por aquele local e está sujeito a ser vítima de assaltos não é burguês. Ter a vida ameaçada é uma experiência traumatizante, e qualquer discurso que passa pano em quem ameaçou tirar uma vida gera repulsa. Não é toda a esquerda que endossa esse discurso passa pano, mas algumas vozes barulhentas fazem isso, e quem cala consente. Tal discurso confunde e atrapalha a defesa de pautas importantes, como o combate à tortura e às execuções, a humanização de presídios e a desmilitarização da polícia.

Provavelmente, os motivos enumerados de 1 a 5 são os mais importantes, mas ainda há outros a ser considerados.

6. Na década de 2000, houve o fenômeno da nova classe média (eita nome ruim). Pessoas que antes eram invisíveis passaram a ser visíveis. E essa nova classe média (mais uma vez, eita nome ruim) é, em geral, mais conservadora do que a antiga classe média em questões de religião, sexo e segurança pública. Ainda assim, dentro desta nova classe média, há mais gente que vota no PT do que dentro da antiga classe média. Isto porque não são questões de religião, sexo e segurança pública as que mais polarizam eleições. Essa nova classe média votou majoritariamente no Lula em 2006 (mas não tanto quando os muito pobres), ficou dividida em 2010 e compôs o grande contingente de eleitores da Marina no primeiro turno e Aécio no segundo turno em 2014, mas ainda assim não foi tão aecista quanto a antiga classe média.

7. Um item razoavelmente ligado ao item anterior: a expansão do ensino superior privado para fins lucrativos ajudou a difundir ideias conservadoras no Brasil. Antes, grande parte das famílias com poder aquisitivo razoável, potencialmente conservadoras por causa disso, tinha pelo menos um membro formado em universidade pública, o que poderia neutralizar um pouco este potencial conservador. Um chefe de família de classe média alta, formado em Engenharia na Poli-USP, passou cinco anos da vida dele não muito distante fisicamente da FFLCH. Muito provavelmente não incorporou as ideias da maioria dos estudantes dazumanas, mas uma coisa ou outra pode ter acabado entrando no cérebro sem querer. A expansão do ensino superior privado ajudou a criar uma classe de consumidores que nunca viveu perto de polo irradiador de cultura bicho grilo.

8. A rápida evidência alcançada por movimentos de grupos oprimidos, introduzindo termos até então desconhecidos como vivência, protagonismo, privilégio do homem cis hétero branco, lugar de fala e apropriação cultural, encontrou os não oprimidos despreparados para a discussão de algumas questões. Houve estranhamento não apenas por parte do homem cis hétero branco. Também há mulher branca hétero que não entende os movimentos negro e LGBTT, homem negro hétero que não entende os movimentos feminista e LGBTT, e homem branco gay que não entende os movimentos feminista e negro. A incompreensão desses movimentos gera terreno fértil para o vitimismo das “maiorias”, a choradeira sobre a “patrulha do politicamente correto”, e o surgimento do “politicamente incorreto” que embora pelo nome pareça rebeldia e contestação, na prática não passa de defesa das ideias do tempo dos nossos bisavós. Há exageros nestes movimentos, assim como há em qualquer outro movimento, e também há alguns problemas levantados por esses movimentos que parecem exagero para quem não pertence ao grupo oprimido porque quem não sente na pele tem mais dificuldade de perceber o problema . Muitos fenômenos que ocorrem na sociedade podem ser explicados pela analogia do pêndulo. Quando uma bola fica presa em um dos lados do pêndulo e finalmente é solta, a tendência não é parar imediatamente na posição de repouso, e sim continuar sua trajetória até o outro lado. Podemos desejar que a bola pare na posição de repouso, que não vá para o outro lado. Mas isto não pode ser pretexto para desejar que a bola fique para sempre presa no lado original. Alguns oportunistas utilizam o medo da bola ir para o outro lado não para defender a posição de repouso, e sim para que ela fique presa no lado original sempre. O politicamente incorreto de Danilo Gentili, Reinaldo Azevedo e afins não era tão forte no passado, não porque a sociedade no passado era mais progressista, e sim porque os movimentos de oprimidos, pejorativamente conhecidos como politicamente corretos, não tinham qualquer evidência. Vale a pena ver o vídeo do Pirula sobre o tema (escrevi sobre ele na minha coluna anterior)

9. Depois que Lula chegou ao poder, a esquerda brasileira descuidou da guerra cultural. Enquanto a esquerda governista se focou apenas em defender o governo, a esquerda oposicionista se focou em defender demandas corporativistas, que podem ser justas, mas sem outras formas de militância, quem não faz parte dos grupos defendidos não vai entender porque as demandas são justas. Enquanto isso, a direita foi ganhando a batalha pela hegemonia cultural, publicando livros de fácil leitura sobre papel do Estado na economia, sobre História, sobre raça, sobre religião. Não houve escritor de esquerda que escreveu livros fáceis para rebater Ali Kamel, Leandro Narloch, Luís Felipe Pondé, Paulo Rabello de Castro. Os melhores livros progressistas de fácil leitura são estrangeiros: o 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo, do Chang, o A Consciência de um Liberal, do Paul Krugman, o Doutrina do Choque, de Naomi Klein. Muitos sites brasileiros de esquerda pregam apenas para os já convertidos. O momento em que a esquerda brasileira melhor soube fazer a guerra cultural ocorreu nos períodos mais abertos da ditadura militar, que foram entre os anos de 1964 e 1968, e entre os anos de 1979 a 1985. Parece que por volta de 2014, a esquerda brasileira percebeu esta falha. Uma nova geração de colunistas, como Leonardo Sakamoto, Gregório Duvivier, Matheus Pichonelli, Laura Capriglione e o não tão novo Vladimir Safatle estão se esforçando para compensar o atraso. Meu propósito de escrever neste site é entrar nesta disputa.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Sobre os quatro grandes oligopólios de mídia no brasil

Por Marcelo Fantaccini Brito

Os moderate heroes são aqueles que pensam que sempre a opinião do meio é a mais inteligente, um dos perigos dessa forma de pensar ocorre na discussão sobre as grandes empresas de mídia no Brasil. Há sites de esquerda que dizem que essas grandes empresas de mídia são de direita, há sites de direita que dizem que essas grandes empresas de mídia são de esquerda. A visão moderate hero, portanto, seria a de que as grandes empresas de mídia no Brasil seriam imparciais ou seriam de centro. Esta visão seria equivocada. Trata-se de uma situação onde existem duas opiniões apaixonadas opostas, onde uma está certa, a outra está errada, e a do meio também está errada.

Este texto não vai abordar todas as grandes empresas de mídia no Brasil, mas apenas as quatro mais importantes para a formação de opinião. As Organizações Globo, da família Marinho, que incluem o canal aberto da Globo, as retransmissoras locais, a Globonews, o jornal O Globo, o portal G1, a revista Época e a rádio CBN; o Grupo Abril, da família Civita, que inclui as revistas Veja e Exame; o Estado, da família Mesquita; e a Folha, da família Frias.

Pela biografia das famílias desses oligopólios, é possível concluir que a orientação política deles pende para a direita. Estes quatro grupos, pelo menos em algum momento, apoiaram o regime militar. Os editoriais dos jornais destes grupos explicitam seu posicionamento político. Atualmente, estes grupos participam ativamente do Instituto Millenium.

Mas nem sempre este posicionamento foi tão fechado e monolítico. Houve uma maior abertura política dentro destes grupos de mídia nas décadas de 1980 e 1990. É importante lembrar que Wanderley Guilherme dos Santos, Maria Rita Kehl, Luís Felipe de Alencastro, Maria Aquino, Paulo Moreira Leite e Franklin Martins já foram colunistas de periódicos destes oligopólios. Porém, ocorreu um retrocesso em meados da década de 2000. A partir deste período, estes quatro grandes grupos se tornaram um departamento de relações públicas do PSDB. Não é que a mídia dos Marinho/Civita/Mesquita/Frias é a favor do PSDB. Na verdade, esta mídia é um partido próprio, um Tea Party brasileiro. É o PSDB que é a favor da mídia dos Marinho/Civita/Mesquita/Frias. Se o PSDB um dia der algum sinal de “recaída” para a social-democracia (algo que certamente não fará em breve), este Tea Party brasileiro será contra.

A Folha é um pouco diferente dos demais. Tem colunistas de esquerda como Jânio de Freitas, Laura Carvalho, Guilherme Boulos, Vladimir Safatle e Gregório Duvivier. Publica de vez em quando algumas denúncias contra políticos do PSDB. Mas ainda assim, as posições defendidas nos editoriais são semelhantes às dos três outros grandes grupos de mídia. E causa preocupação a perda de participação da Folha no jornal Valor Econômico, que passará a pertencer apenas à Globo. Provavelmente, haverá perda de pluralidade.

Millor dizia que “imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Diante do governo Temer e de governos estaduais e municipais de partidos da base aliada, o que se vê, portanto, não é imprensa, e sim armazém de secos e molhados. Alguns atritos com o governo Temer aparecem quando há alguns atritos do PSDB com o governo Temer. E agora neste governo Temer, os quatro grandes oligopólios de mídia recebem generosas verbas de publicidade, mais do que já recebiam durante o governo Dilma.

Percebemos como estes grandes oligopólios de mídia se comportam como departamentos de relações públicas do PSDB quando percebemos grandes semelhanças das colunas e dos editoriais com os discursos dos políticos do PSDB e com as propagandas eleitorais deste partido. Frequentemente, encontramos a expressão “projeto de poder do PT”. Ou a afirmação de que “o PT divide o Brasil em nós e eles”. Quem faz esta afirmação não percebe que ao fazê-la, já está também criando uma divisão entre nós e eles. Colunistas desses grupos de mídia frequentemente apontam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como lindo e maravilhoso, ignorando as muitas crises econômicas e a crise energética que ocorreram em seu governo. Verifica-se também os dois pesos e as duas medidas na cobertura da Satiagraha e da Lava Jato. Na Satiagraha, prevaleceu o garantismo, em parceria com Gilmar Mendes. Na Lava Jato, prevaleceu o punitivismo. Importante lembrar: a Satiagraha ocorreu em 2008. O principal alvo era o Daniel Dantas. Sua irmã Verônica, teve uma empresa em paraíso fiscal em parceria com a filha de José Serra, também chamada Verônica. José Serra seria candidato a presidente do Brasil em 2010.

Não apenas a parte de opinião, mas a hierarquização das notícias mostra o partidarismo da mídia dos Marinho/Civita/Mesquita/Frias. Na campanha eleitoral de 2010, foi dado um destaque desproporcional a sua importância ao fato de petistas terem um dossiê contra José Serra que continha algumas violações de sigilo de imposto de renda. Ora, quem não sabia que em campanhas eleitorais os candidatos têm equipes para encontrar informações negativas sobre adversários provavelmente vai deixar de comemorar o Natal ao descobrir que Papai Noel não existe. Porém, o partidarismo neste episódio foi inútil. Serviu apenas para reforçar as convicções de quem já iria votar no José Serra. Durante o período em que o assunto dossiê esteve em maior destaque na mídia, a intenção de voto no Serra oscilou para baixo.

Alguns eleitores indecisos podem ter pensado não “esses petistas são uns desgraçados porque fazem dossiê” e sim “o que será que tinha naquele dossiê?”.

As reportagens produzidas pelas empresas dos Marinho/Civita/Mesquita/Frias contam com as aspas dos especialistas de sempre. Os especialistas de sempre são aquelas figuras bem conhecidas de quem lê jornais, revistas e sites, são do meio acadêmico, têm opiniões semelhantes às dos donos das empresas de mídia, e essas empresas sempre recorre a estes especialistas para mostrar respaldo de suas opiniões no meio acadêmico. Um alien que só conhece o Brasil através de Globo/Abril/Estado/Folha provavelmente pensará que Raul Veloso é o único brasileiro que entende de finanças públicas, que Fábio Giambiagi é o único brasileiro que entende de previdência, que Amadeo e Pastore são os únicos brasileiros que entendem de mercado de trabalho, que Cláudio Moura de Castro e Gustavo Ioschpe são os únicos brasileiros que entendem de educação, que Demétrio Magnolli continua sendo geógrafo, e não ativista político de direita, que Marco Antônio Villa continua sendo historiador, e não ativista político de direita, que Denis Lehrer Rosenfield continua sendo filósofo, e não ativista político de direita, e que Bolívar Lamounier continua sendo cientista político, e não ativista político de direita.

Quem são as maiores vítimas da partidarização dos quatro grandes oligopólios de mídia? O PT? Os demais partidos de esquerda? Não. As maiores vítimas são a democracia brasileira, os cidadãos que querem ser bem informados, a qualidade da informação. O PT até que soube usar a seu favor a partidarização dos quatro grandes oligopólios de mídia. Há uma rede de sites pró PT formados por jornalistas que antes faziam parte dos oligopólios de mídia. Diferente de Globo/Abril/Estado/Folha, estes sites assumem ser partidários e voltados para o público que procuram opinião. Porém, alguns destes sites também tiveram algumas posições que merecem ser criticadas. Houve um site destes que criticou o Joaquim Barbosa pelo fato dele ter esposa branca. Ás vezes vemos alguns destes sites desconfiarem que o Ibope e o Datafolha estão subestimando a votação do PT. Muitas vezes, estes dois institutos acabam subestimando a direita. Quando ao resultado da votação do impeachment no plenário da Câmara de Deputados, os oligopólios de mídia acertaram mais do que os sites favoráveis ao PT.

Todos já ouviram na infância a fábula do mentiroso. Aquela que diz que havia um menino que sempre mentia. Um dia ele disse uma verdade, ninguém acreditou nele por causa de sua fama, e o resultado foi trágico. O mesmo vale para a mídia Globo/Abril/Estado/Folha. Essa mídia exerce um partidarismo tão forte pró-PSDB, que mesmo em algumas vezes em que notícias favoráveis ao PSDB e contrárias ao PT são verdadeiras, haverá um pequeno público leitor de sites pró-PT que não acreditará nessas notícias. Algumas vezes, sites pró-PT consideram que determinado escândalo de corrupção envolvendo políticos do PT é equivalente a algum escândalo de corrupção envolvendo políticos do PSDB. Estes sites criticam os quatro grandes oligopólios de mídia por não dar cobertura do mesmo tamanho aos diferentes escândalos, por dar mais espaço ao escândalo envolvendo o PT. A mídia Globo/Abril/Estado/Folha algumas vezes pode alegar que os escândalos não são equivalentes e não merecem o mesmo tamanho de cobertura porque há diferença de dinheiro envolvido, de quantidade de provas… Essa mídia pode até estar certa em alguns casos. Mas como no geral apresenta um grande partidarismo pró-PSDB, haverá o pequeno grupo de leitores dos sites pró-PT que não acreditará.

De acordo com a narrativa petista, a AP 470 teve como objetivo eliminar o maior partido de esquerda do Brasil, para viabilizar a chegada da direita ao poder, que dificilmente ocorreria em situações normais. Não gosto desta narrativa porque parece defesa da impunidade de políticos que fizeram coisas erradas pelo “bem maior”. Mas alguns órgãos de mídia, ao fazer pressão para que o julgamento ocorresse em período de campanha eleitoral, forneceram combustível para esta narrativa. O fato de Merval Pereira, colunista com orientação ideológica claramente definida, ter escrito o livro sobre o julgamento, também forneceu combustível para esta narrativa.

Quando colunistas ou mesmo donos destes quatro grandes oligopólios de mídia resolvem refutar a afirmativa de que eles são departamento de relações públicas do PSDB, a maneira através da qual eles fazem isso contribui mais para confirmar a afirmativa do que para refutar.

Há consequências muito ruins para a democracia quando existe a percepção generalizada de que a mídia que transmite notícias não é confiável. Mas como a mídia que transmite notícias realmente não é confiável, infelizmente é necessário que exista essa percepção. Como consequência da descrença na grande mídia, existe a abertura de grande espaço para picaretagens. Sites de esquerda críticos da grande mídia não são isentos de picaretagem. É importante lembrar também que existem sites de direita, páginas de direita no Facebook que também criticam a grande mídia brasileira e que mostram “coisas que a mídia não mostra”. Difundem aberrações como a de que todas as famílias de presidiários recebem auxílio-reclusão, que as vacinas foram causadoras da microcefalia, que a Dilma ganhou porque as urnas eletrônicas estavam violadas, que o aquecimento global é uma invenção esquerdista. Apesar da grande mídia brasileira pender para a direita, essas aberrações não apareceram na grande mídia e sim em sites e páginas de direita de acham que a grande mídia é de esquerda.

É uma ingenuidade achar que existem muitas pessoas de direita somente porque a grande mídia é de direita. Pessoas de direita existiriam de qualquer maneira, e existe um público, com poder de consumir produtos que fazem publicidade, que quer conteúdo de direita. Pablo Ortellado mostrou um estudo interessante, que mostra que o número de matérias da grande mídia sobre a Lava Jato não declinou depois da votação do impeachment no plenário da Câmara no dia 17 de abril, mas o número de compartilhamentos no Facebook de matérias sobre a Lava Jato depois deste dia caiu bruscamente. Isto mostra que não é só a grande mídia que quer instrumentalizar o combate à corrupção no Brasil com o objetivo único de ter um governo de direita, e que os leitores da mídia seriam simplesmente manipulados coitados. Na verdade, uma grande parcela da população brasileira deseja deliberadamente instrumentalizar o combate à corrupção no Brasil com o objetivo único de ter um governo de direita.

Antes de concluir, é importante lembrar que este posicionamento ideológico da grande mídia não se restringe ao Brasil. É certo que no Brasil isto é mais acentuado. Basta ver a diferença de posicionamento entre a grande mídia brasileira e a grande mídia estrangeira sobre o impeachment da Dilma. Isto pode ser visto já em 2009, com a diferença de cobertura sobre a deposição de Zelaya em Honduras. A grande mídia de primeiro mundo teve uma visão bem mais crítica do que a grande mídia brasileira e hondurenha. Ainda assim, no mundo todo, para fornecer notícias é preciso ter muito dinheiro, afinal, o custo não é pequeno, e, portanto, quem fornece notícias tem orientação ideológica de quem tem muito dinheiro. Quem não tem dinheiro, como os criadores deste site que você está lendo neste exato momento, só pode produzir opinião.

O que fazer? Censura? Nem fodendo! Todos os governos devem ser fiscalizados, incluindo os governos progressistas. Mas governos que não tem orientação ideológica semelhante à das grandes empresas de mídia poderiam ser menos generosos com verbas de publicidade. Além disso, uma lei anti-oligopólio semelhante a dos Estados Unidos poderia ser pensada para o Brasil. É um absurdo que as Organizações Globo seja um grupo que tenha canal de televisão aberta, canais de televisão por assinatura, comercialização de pacotes de televisão por assinatura, portal de notícias de Internet, estação de rádio, jornais, revistas, estúdio de cinema, gravadora e editora de livros escolares. Este grupo empresarial poderia ser compulsoriamente repartido em três ou até mais.

Organizações de extrema-direita, alegando que existe doutrinação esquerdista nas escolas (o que não é verdade), querem criar o Escola Sem Partido, para estabelecer censura na atividade docente. O criador do movimento argumenta que professor não deveria ter liberdade de expressão porque sua audiência é cativa, ou seja, jovens são obrigados a ir para a escola. Baseado neste argumento, organizações de esquerda, alegando que existe doutrinação direitista na imprensa (o que é verdade), poderiam tentar criar o Imprensa Sem Partido. Assim como a escola, os jornais, os sites e os canais de televisão que transmitem notícias têm audiência cativa. É necessário estar bem informado para conseguir emprego e sobreviver. Eu gosto de sites alternativos e de perfis alternativos nas redes sociais que criticam a grande mídia porque eu gosto de diversidade de opinião. Eu inclusive colaboro com um site alternativo de opinião, este que você está lendo agora. Mas mesmo sendo muito crítico, não tenho como escapar da grande mídia para saber as notícias.

É óbvio, não sugiro a criação de uma Imprensa Sem Partido para não dar legitimidade a uma Escola Sem Partido. Nenhuma forma de censura deve ser aceita. Mas poderiam ser pensadas leis para obrigar quem fornece notícias a fornecer opiniões diversas, não apenas as dos donos dos veículos.

sábado, 21 de novembro de 2015

Manifestantes contestam ordem verbal para desocupar Esplanada


O grupo de manifestantes que pede a queda do atual governo, com intervenção militar e realização de novas eleições, se mantinha hoje (21), pela manhã, no gramado em frente ao Congresso Nacional. O prazo dado pelo governador Rodrigo Rollemberg para saída expira às 19h, mas eles alegam que o acampamento não recebeu qualquer documento ordenando a saída, e que têm autorização para ficar.

“Nós fomos intimados para cair fora verbalmente. Isso não existe. Nós vamos ficar dentro da lei, vamos sair dentro da lei. Ninguém pode chegar com uma força policial dizendo para sairmos sem um documento”, disse o produtor de audiovisual Mauro Costa. “Se a polícia vier com um documento dizendo que temos que sair de forma legal, sairemos. Não podemos aceitar [a retirada] à força”, completou.

“Estamos aqui com uma ordem verbal dizendo que a gente tem que desocupar a área. E estamos resistindo pacificamente. Já que não tem ofício, eu não vou sair daqui”, disse Elias Sousa. servidor público da Bahia. Elias conta que veio à Brasília visitar a namorada, viu o acampamento há 25 dias atrás e resolveu ficar. “A gente quer, pacificamente, destituir esse governo que não nos representa”.

A assessoria do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, confirmou que não foi entregue nenhum documento exigindo a saída dos manifestantes. O aviso foi dado após o encontro entre Rollemberg e os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, na última quinta-feira (19) .

“Como estão em uma área pública, não é necessário um documento como uma reintegração de posse, por exemplo”, explicou a assessoria do governador. A Polícia Militar (PM) enviará o Batalhão de Policiamento de Choque para garantir a saída dos cerca de 70 manifestantes que acampam no local. O efetivo não foi divulgado pela PM. Segundo a polícia e o GDF, no entanto, muitas pessoas já levantaram acampamento e deixaram o local.

“Até aqui estávamos admitindo as manifestações em respeito à liberdade de manifestação. Mas, em função dos conflitos entre grupos que defendem pontos de vistas diferentes e os confrontos que podem ter consequências imprevisíveis, entendemos que é inadequada a permanência dos acampamentos", afirmou Rollemberg, após encontro com Cunha e Calheiros.
Tumulto e agressões

Uma confusão no início da tarde de ontem (18) causou pânico e terminou com a detenção de dois policiais civis no momento em que a Marcha Nacional das Mulheres Negras chegava à Praça dos Três Poderes. Segundo relatos de participantes da marcha, algumas mulheres teriam tentado derrubar um boneco inflável que estava em um acampamento em frente ao gramado do Congresso Nacional.

Um policial civil do Maranhão, que está acampado com o grupo que pede intervenção militar, deu quatro tiros para o alto e se entregou à polícia. De acordo com os manifestantes acampados, os tiros foram disparados para o alto para dispersar um grupo de pessoas que agrediam uma jovem pró-intervenção. “Cinco pessoas agrediam ela. Quando vieram com um facão, ele [o policial civil] puxou a arma e atirou para cima. Ele nos salvou, não feriu ninguém”, disse Mauro.

Além disso, um grupo de mulheres se colocou diante de um carro particular em frente ao Ministério da Justiça. As manifestantes acusavam a motorista de não respeitar o protesto e de invadir uma das faixas destinadas às mulheres.

“A motorista jogou o carro em cima da companheira. Todas essas violências que aconteceram aqui na Esplanada dos Ministérios foi só uma amostra do que acontece no nosso dia a dia”, afirmou Verônica Lourenço, 45 anos, historiadora, educadora e integrante da Rede Sapatá (Rede Nacional de Lésbicas e Bissexuais Negras).

sábado, 4 de abril de 2015

Extrema Direita




Recebe a classificação de extrema direita toda manifestação humana que possua orientação considerada exageradamente conservadora, elitista, exclusivista e que alimente ainda noções preconceituosas contra indivíduos e culturas diferentes das de seu próprio grupo. Assim, é considerado de extrema direita o indivíduo, grupo ou filosofia que se localize mais à direita do pensamento de direita comum a todas as sociedades do planeta.

Muitas vezes o termo é utilizado para sugerir um individuo ou grupo com ideias extremistas, preconceituosas ou ultraconservadoras, ou ainda sugere filosofias ou grupos simpáticos a movimentos históricos de direita, como o fascismo ou nazismo.

Seja como for, o pensamento de extrema direita em geral está baseado na crença, muitas vezes messiânica, da condição especial de determinado povo, cultura ou crença, bem como na iminente ameaça que este grupo irá ou já esteja sofrendo por parte de outros grupos diferentes em meio ao seu caminho ao domínio de todas as outras sociedades, sendo necessária a união e mobilização contra tal ameaça vinda "do outro".

Desde a década de 80 do século XX o termo vem sendo bastante utilizado para classificar a ideologia de grupos, muitas vezes armados, que patrocinam através de desfiles e passeatas, na Europa e Estados Unidos, o pensamento do partido nazista alemão e fazem culto ao seu líder, Adolf Hitler. Estes tais grupos de extrema direita ficaram conhecidos através da imprensa pelo nome genérico de neo-nazistas, existindo dentro desses grupos de extrema direita, porém, as mais diversas ramificações filosóficas. Ultimamente, o termo vem sendo aplicado também a partidos ultraconservadores presentes especialmente na Europa, que se apoiam no medo do europeu com relação ao imigrante, que além de ser promovido como alguém que chega "de fora" para tomar o emprego do cidadão comum europeu, ainda desvirtuaria a cultura cristã tradicional do continente com suas diversas religiões, línguas e costumes, com especial atenção ao islã, que seria uma religião promotora do terrorismo.

Nos Estados Unidos, outro centro importante de atividade de grupos de extrema direita, pode-se citar nesta categoria a tradicional Ku Klux Klan, surgida logo após o fim da Guerra Civil Norte-americana, ativa ainda hoje, e que prega a supremacia da raça branca (caucasiana), ultranacionalismo e combate à imigração estrangeira.

A imagem da KKK ficou eternizada em filmes, livros e canções pela perseguição de negros e mexicanos, realizando muitas vezes linchamentos fotografados e documentados como ato de validação dos valores de sua organização. Além da KKK, podemos encontrar nos EUA grupos de extrema direita baseados nos cultos religiosos, em especial na região do chamado Bible Belt (cinturão bíblico) região sudeste dos EUA, onde há grupos que seguem uma filosofia cristã extremamente rigorosa. Aliás, é dessa região que se originou o termo "fundamentalismo", que foi utilizado pela primeira vez no final do século XIX para descrever os crentes daquela região. Outra corrente extremista nos EUA encontra-se baseada em grupos armados, que adotam todo um estilo de vida à volta da arma e do conceito de proteção contra o inimigo imigrante estrangeiro, isso sem deixar de mencionar os grupos neo-nazistas, presentes em todo território norte-americano, muitas vezes mesclando características similares com as dos grupos armados ou religiosos.

Além de todos esses grupos, podem ser encontrados simpatizantes da extrema direita nos dois partidos predominantes na política norte-americana, os partidos Republicano e Democrata, pois, apesar de sempre disputarem o poder a cada eleição legislativa ou executiva, estes dois partilham muitas ideias conservadoras que beiram às vezes as ideologias de extrema direita.

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

Dag Vulpi

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