quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Comparativos econômicos entre os governos Bolsonaro (2019–2022) e Lula (2023–2025): o que mudaram os números?

Por Dag Vulpi

Atualizado em: Novembro de 2025

Entre 2019 e 2025 o Brasil registrou recuperação dos indicadores macroeconômicos, mas enfrentou pressões fiscais e monetárias que mantêm incertezas sobre sustentabilidade do crescimento. O salário mínimo passou de R$ 998 em 2019 para R$ 1.518 em 2025, enquanto o país voltou a crescer após a pandemia — +2,9% em 2023 e +3,4% em 2024 — e a taxa média de desemprego caiu para 6,6% em 2024.

  1. Salário mínimo e poder de compra
    O salário mínimo teve reajustes sucessivos entre 2022 e 2025. Considerando a inflação acumulada entre 2019 e 2022 (≈24,7%), o ganho real do poder de compra depende do índice base escolhido: houve perda relativa em alguns anos e recuperação em outros — portanto, para afirmar “ganho real” é preciso comparar exatamente os índices (INPC/IPCA) usados e o período considerado. Recomenda-se incluir cálculo (ex.: variação real = (reajuste nominal – INPC no período)).

  2. Inflação e política monetária
    O IPCA anual apresentou picos em 2021 e recuos posteriores; a trajetória definida pela autoridade monetária (BC) e as altas de juros recentes explicam desacelerações observadas em 2024–2025. Detalhe mensal/anuais do IBGE devem ser citados quando comparar períodos.

  3. Crescimento econômico
    A retomada do crescimento está presente em 2023–2024, mas há desacelerações trimestrais aparentes no fim de 2024. Explique causas: safra agrícola robusta, consumo interno, e também efeitos de políticas fiscais. Cite IBGE e análises de agências.

  4. Emprego e indicadores sociais
    A queda da taxa média de desemprego para 6,6% em 2024 é um dado-chave — porém convém analisar qualidade do emprego, formalização e rendimento médio real para avaliar impacto social. Use Pnad Contínua do IBGE para detalhes regionais.

  5. Dívida pública e espaço fiscal
    A trajetória da dívida pública preocupa: medidas e projeções mostram que a relação dívida/PIB se manteve elevada (próxima de 
    76% em 2024, dependendo da metodologia). Explique diferença entre dívida bruta do governo geral (DBGG), dívida pública federal (DPF) e dívida líquida. Isso muda a leitura fiscal e os riscos de aumento de juros.

Conclusão:
Os números mostram melhora em emprego e atividade econômica entre 2023 e 2024, mas persistem desafios fiscais e a necessidade de crescimento sustentável com produtividade. Em suma: recuperação macroeconômica em curso, porém com frágil margem fiscal — um alerta para políticas que combinem estímulo ao investimento com ajuste estrutural das contas públicas.

Comparativos Econômicos entre 2019 e 2025

Salário Mínimo (R$)

Ano

Salário (R$)

2019

R$998

2020

R$1.045

2021

R$1.100

2022

R$1.212

2023

R$1.302

2024

R$1.412

2025

R$1.518

Crescimento do PIB (%)

Ano

PIB (%)

2019

1.2

2020

-3.9

2021

5.0

2022

2.9

2023

2.9

2024

3.4

Taxa Média de Desemprego (%)

Ano

Desemprego (%)

2019

11.9

2020

13.5

2021

13.2

2022

9.3

2023

7.8

2024

6.6

Análise do Salário Mínimo

O crescimento do salário mínimo acompanha períodos de maior e menor pressão inflacionária. Entre 2019 e 2021, o aumento nominal foi parcialmente absorvido pela inflação. A partir de 2023, com a recuperação do ritmo de reajustes acima do INPC, observa-se ganho real no poder de compra, embora ainda concentrado em faixas de consumo básico.

Análise do PIB

A queda acentuada do PIB em 2020 reflete os efeitos da pandemia, seguida de recuperação forte em 2021 e estabilização em patamares moderadamente positivos entre 2022 e 2024. O desempenho recente indica retomada baseada no agronegócio, serviços e consumo popular, embora a produtividade e o investimento industrial permaneçam desafios estruturais.

Análise do Desemprego

A redução contínua da taxa média de desemprego entre 2021 e 2024 mostra recuperação da atividade econômica e reabsorção da força de trabalho. Entretanto, ainda persistem questões sobre a qualidade dos empregos gerados, especialmente quanto à formalização, salários e estabilidade. A queda é consistente, mas não necessariamente sinônimo de melhora plena na renda média real.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Humanismo Político: o ponto de encontro entre o lucro e a igualdade

 

Por Dag Vulpi - outubro de 2025

Entre extremos, o caminho mais difícil é sempre o mais sensato: aquele que busca compreender antes de julgar, e unir antes de dividir.

Vivemos em uma era de contradições gritantes. De um lado, o lucro, força motriz do progresso econômico e tecnológico. De outro, a igualdade, ideal humano que clama por justiça social e dignidade. Entre ambos, surge o Humanismo Político, como uma ponte de consciência, um convite ao equilíbrio entre o ter e o ser, o poder e o cuidado, o indivíduo e a coletividade.[/cor]

O erro mais comum das ideologias é esquecer que o mundo não cabe em absolutos. O capitalismo, quando se distancia do humano, converte a liberdade em egoísmo. O socialismo, quando perde o sentido prático, transforma a solidariedade em imposição. O Humanismo Político surge justamente para lembrar que a verdadeira convergência nasce do reconhecimento mútuo — não da negação.

Compreender cada lado é mais que um exercício intelectual: é um gesto de empatia civilizatória. É entender que o empresário que busca o lucro pode, ao mesmo tempo, promover o bem comum; e que o idealista que sonha com igualdade pode, ao mesmo tempo, compreender as engrenagens da economia. Quando há escuta, surge harmonia. Quando há harmonia, floresce justiça.

O Humanismo Político não busca um novo sistema, mas uma nova consciência.

Uma consciência capaz de olhar para o lucro sem culpa e para a igualdade sem utopia, reconhecendo que ambas são faces de uma mesma moeda — e que somente ao compreender cada uma delas é possível alcançar o brilho do todo.

Pois o equilíbrio não nasce do meio-termo, mas da compreensão profunda dos extremos.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O Novo Almagesto e o Heliocentrismo da Verdade

 

Por Dag Vulpi — 17/04/2017


Talvez a mais importante noção a ser aprendida com a demonstração da percepção esteja na área de mudança de paradigma — aquilo que poderíamos chamar de experiência do tipo Ah-ah!, onde uma pessoa finalmente “vê” o desenho inteiro de outro modo.

Quanto mais alguém se liga à percepção inicial, mais poderosa é a experiência do Ah-ah!. É como se uma luz interna se acendesse subitamente.

O termo mudança no paradigma foi introduzido por Thomas Kuhn em seu memorável livro The Structure of Scientific Revolutions, que influenciou muitos autores. Kuhn mostra como praticamente todas as revoluções no campo da pesquisa científica começaram em rupturas com a tradição, com o modo antigo de pensar e com velhos paradigmas.

Para Ptolomeu, o grande astrônomo egípcio, a Terra era o centro do universo e essa “verdade” arrastou-se por séculos, até que 1.340 anos depois, apesar da imensa resistência e perseguição, Copérnico criou uma mudança naquele paradigma ao colocar o Sol no centro. E foi a partir daquela mudança de percepção que tudo o que antes se acreditava ser a verdade absoluta passou a ser interpretado de modo bem diferente.

O modelo de Newton para a Física era um paradigma preciso, e ainda constitui a base da engenharia moderna. No entanto, era parcial e incompleto. O mundo científico foi revolucionado pelo paradigma de Einstein, a Teoria da Relatividade, possuidor de um valor muito maior para a explicação e previsão dos fenômenos.

Enquanto a teoria dos germes não foi elaborada, um alto número de mulheres e crianças morreram durante o parto, sem que ninguém soubesse por quê. Durante as batalhas, morriam mais soldados por pequenos ferimentos e doenças do que na linha de frente, em combate. Mas assim que a teoria dos germes foi aperfeiçoada, um paradigma totalmente novo, uma forma melhor de entender o que acontecia, tornou possível um avanço significativo e dramático na medicina.

O Brasil de hoje é o fruto de uma mudança de paradigma. O conceito tradicional de governo, por séculos, foi a monarquia, baseada no direito divino dos reis. Com o tempo, um paradigma diferente foi criado — o governo do povo, pelo povo e para o povo. A democracia constitucional nasceu, libertando a energia e capacidade do homem, criando padrão de vida, influência, esperança e liberdade inigualados.

Nem todas as mudanças de paradigma ocorrem para o bem. A mudança da Ética do Caráter para a Ética da Personalidade nos afastou das raízes que realmente nutrem a felicidade e o sucesso verdadeiros.

Contudo, quer nos levem a direções positivas ou negativas, quer sejam instantâneas ou fruto de longo processo, as mudanças de paradigma nos conduzem de uma visão de mundo a outra, promovendo transformações significativas.

Nossos paradigmas, corretos ou incorretos, são a fonte dos comportamentos e atitudes e, portanto, do nosso relacionamento com os outros.


Recordo-me de uma mudança de paradigma em uma manhã de domingo, no metrô de São Paulo. As pessoas estavam calmamente sentadas, lendo jornais, divagando, descansando. Subitamente, um homem entrou no vagão com os filhos, que faziam algazarra e perturbavam os demais. O homem sentou-se a meu lado e fechou os olhos, aparentemente ignorando a situação.

Minha irritação aumentava, e decidi falar:

  • Senhor, seus filhos estão perturbando muitas pessoas. Será que não poderia dar um jeito neles?

O homem olhou para mim e disse calmamente:

  • Sim, creio que o senhor tem razão. Acho que deveria fazer alguma coisa. Acabamos de sair do hospital, onde a mãe deles morreu há uma hora. Não sei o que pensar, e parece que eles também não conseguem lidar com isso.

De repente, tudo mudou em minha percepção. Meu paradigma mudou, meu coração se abriu ao sofrimento alheio, e sentimentos de compaixão e solidariedade fluíram livremente.

Muita gente passa por experiências similares quando enfrenta crises sérias ou assume novos papéis, como pai, mãe, líder ou avô. Poderíamos gastar anos tentando alterar comportamentos usando apenas a Ética da Personalidade, sem sequer nos aproximarmos da mudança real, que ocorre quando vemos as coisas sob nova óptica.

Como disse Thoreau:
“Para cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal, há apenas um atacando as raízes.”

Um salto qualitativo somente pode ser realizado em nossas vidas quando deixamos de cortar folhas e passamos a trabalhar nas raízes, nos paradigmas que determinam nossa conduta.


Nota Reflexiva:
Mudar de paradigma é um ato de humildade — reconhecer que a verdade pode estar além daquilo que aprendemos a chamar de “verdade”. É o instante em que o Sol, antes orbitado, se revela o centro, e o universo se reorganiza dentro de nós.

domingo, 2 de novembro de 2025

O Banco do Tempo

 


Por Dag Vulpi

Entre o Sol que gira e o silêncio que fica.

Caminhava devagar pelo bosque, quando avistei um garoto sentado num banco.
Era o único banco livre — largo o bastante para dois, mas ocupado por um pequeno viajante do tempo.

Aproximei-me e perguntei se poderia fazer-lhe companhia.
Ele sorriu, e com a gentileza natural dos jovens, respondeu que seria um prazer.

Sentei-me. O vento trazia o cheiro úmido das folhas, e o sol filtrava-se por entre as copas, em tons de ouro velho.
Conversamos um pouco — sobre o dia, os pássaros, o silêncio.
Até que ele disse algo que me deteve o pensamento:

Meu pai o conhece. Disse que o senhor foi professor dele na universidade.
E que, certa vez, escreveu um pequeno texto durante uma aula de filosofia.
Talvez nem todos tenham anotado, mas ele guardou o seu texto na capa de um livro.
Lembro que ele o leu pra mim quando eu era pequeno…
Era sobre o Sol, as flores e os pássaros... o senhor ainda se recorda?”

Sorri, surpreso e comovido.
Disse-lhe que me lembrava — talvez não palavra por palavra, mas o suficiente para reviver a essência.
Ele pediu então que eu o recitasse, para que pudesse gravar e mostrar ao pai.

O bosque ficou mais silencioso. Apenas uns bentevis se faziam ouvir ao longe.
Fechei os olhos e, em voz baixa, disse o que me veio da alma:


O Silêncio do Giro

Observo o giro do Sol.
As flores ainda o seguem — fiéis à claridade, como se nada houvesse mudado.
Os insetos cumprem o mesmo rito,
e os pássaros cruzam o céu com a pressa antiga de quem acredita no destino.

Tudo permanece em movimento.
Só eu pareço ter desacelerado.
Vejo o mundo girar, mas já não sinto o impulso de acompanhá-lo.

Há muito, compreendi: o universo não espera.
Ele gira, e nesse giro leva o esplendor e o esquecimento,
a promessa e a ruína.
Tudo o que nasce dança um pouco — e depois silencia.

O Sol atravessa o tempo com a dignidade de quem já incendiou eras.
As flores se inclinam, belas mesmo quando murcham.
Os insetos persistem em sua breve eternidade.
E os pássaros — esses, sim — ainda traçam no ar o desenho da liberdade.

Mas em mim, o movimento é outro.
Já não é o giro da vida — é o giro da lembrança.
Um rodar manso, quase imóvel,
feito de ecos, de ausências, de um sossego que só o cansaço concede.

Descubro, então, que o tempo não é linha — é espiral.
E cada volta nos traz mais perto do centro,
onde tudo se recolhe,
onde o som do mundo se torna murmúrio,
onde o olhar, em vez de buscar, apenas aceita.

O Sol ainda gira, e as flores o seguem.
Giram os insetos, os pássaros, o vento.
E eu — ainda giro, mas por dentro.
Devagar.
Profundamente.
Como quem já entendeu que o sentido da vida
não está no movimento,
mas no instante em que paramos para escutá-lo.

Quando terminei, o menino me olhava em silêncio.
Pediu que eu repetisse, para gravar.
Ele ajeitou o celular e, enquanto eu recitava novamente, um vento leve fez balançar os girassóis ao redor.
Então senti uma mão em meu ombro.

Era o pai — meu antigo aluno.
Ele sorria, emocionado.

“O senhor lembra de mim?” — perguntou.
“Claro”, respondi. “Seu filho acabou de me contar sobre o texto.”
“Então o senhor tem mais dois minutos?”, disse ele. “Quero lhe mostrar uma coisa.”

Foi até o carro e voltou com um livro, já gasto.
Abriu a capa e me mostrou o que estava escrito ali.
“Nem preciso ler — sei de cor”, disse, antes de recitar, com firmeza e ternura, o texto que escrevera há tantos anos:

O Giro da Vida

Eu observo o giro do Sol.
E as flores que o seguem em harmonia...
Os insetos que as acompanham...
E o voo sincrônico dos pássaros seguindo os insetos...
Gira o sol e as flores,
giram os insetos e os pássaros,
giro eu, giramos todos nós.

Desde que a memória se fez em mim, um espetáculo silente e eterno se repete: o universo é uma espiral de movimento onde cada ser encontra o seu compasso.
Há uma beleza nostálgica em testemunhar essa coreografia diária, um lembrete de que tudo — e todos — estamos interligados num vasto e vigoroso giro.

Eu contemplo e sinto... O sol em seu trânsito solene, levando a luz de outrora...
E as flores que o aclamam, na rítmica harmonia da perda e do renascer...
Os insetos, rápidos e gentis, que as cortejam...
E o voo sincrônico e audacioso dos pássaros, na esteira do tempo já voado...

Gira, e se incendeia o sol e as flores em sua órbita.
Giram, e trovejam os insetos e os pássaros no ar.
Giro eu, pleno dessa força e carregando o tempo, e num eco profundo, giramos todos nós.


Ficamos em silêncio.
O pai, o filho e eu — três giros de uma mesma espiral.
Depois, trocamos um abraço breve e seguimos nossos caminhos, cada um levando consigo um fragmento do outro.


Reflexão final

O tempo é um mestre paciente.
Ensina-nos que a vida não é feita de repetições, mas de retornos —
e que cada retorno carrega uma nova tonalidade.
O texto que um dia celebrei com vigor, hoje repito com doçura e resignação.
Talvez esse seja o verdadeiro giro:
o que nos transforma, sem deixar de ser o mesmo.

sábado, 1 de novembro de 2025

Humanismo Político: Entre o Lucro e a Igualdade



Por Dag Vulpi

Socialismo e capitalismo são expressões distintas de uma mesma busca humana: a tentativa de construir um mundo mais justo. O desafio não é escolher entre eles, mas reencontrar o centro — o ponto em que a economia e a política voltam a servir à vida. Esse ponto chama-se humanismo político.

Ao longo da história, o homem tem se dividido entre dois grandes impulsos: o de criar e o de repartir.
Do primeiro nasce o 
capitalismo, que celebra a liberdade, o mérito e o poder transformador do esforço individual.
Do segundo, surge o 
socialismo, que valoriza a solidariedade, a partilha e a ideia de que o bem coletivo é o verdadeiro avanço civilizatório.

Ambos nascem de virtudes humanas legítimas, mas se corrompem quando se esquecem de seu propósito original: a dignidade do ser humano.

O capitalismo, quando perde o senso de limite, transforma o mérito em desculpa para a desigualdade e o lucro em valor supremo. O socialismo, quando ignora a liberdade, sufoca a criatividade e a individualidade — motores essenciais da evolução humana.
Entre esses dois extremos, há um campo fértil que a humanidade ainda não aprendeu a cultivar: o campo do 
humanismo político.

humanismo político não é um novo sistema, mas uma consciência.
É a ideia de que todas as estruturas — sejam econômicas, sociais ou estatais — devem se submeter à primazia da vida, da ética e da convivência.
Ele reconhece no socialismo o valor da solidariedade e, no capitalismo, o poder da liberdade; mas entende que ambos só ganham sentido quando colocados a serviço do ser humano, e não o contrário.

Ser humanista politicamente é recusar o fanatismo ideológico e entender que nenhuma bandeira é mais importante que a mão que a sustenta.
É perceber que os índices econômicos valem menos que a esperança de quem acorda cedo para trabalhar.
É admitir que o progresso material não redime a injustiça, e que a igualdade imposta não produz harmonia.

O humanismo político é a terceira margem do rio:
nem a corrente do lucro desmedido, nem a maré da uniformidade forçada.
É o lugar do diálogo, da ponderação e da responsabilidade coletiva.
Seu propósito não é unir extremos, mas 
recolocar o homem no centro da política, devolvendo-lhe o protagonismo que as ideologias tomaram de assalto.

Quando o socialismo aprende a valorizar o indivíduo, e o capitalismo descobre o valor do coletivo, ambos se curvam diante do mesmo ideal: o de uma sociedade justa, livre e humana.
E é exatamente aí — nesse ponto de encontro — que o 
humanismo político floresce.


O futuro não pertence às ideologias, mas às consciências que as transcendem.
A humanidade só reencontrará seu equilíbrio quando o poder servir ao homem — e não o homem ao poder.
Esse é o desafio e o chamado do 
humanismo político: fazer da política uma ponte entre a justiça e a compaixão, entre a razão e a alma.

Quando o Sagrado e o Poder se Misturam


Por Dag Vulpi

A fronteira entre religião e política sempre foi tênue, mas indispensável. Quando um ultrapassa o território do outro, o resultado é confusão moral e enfraquecimento de ambos. O que nasce da fé se contamina pelo cálculo do poder, e o que deveria servir à coletividade se converte em instrumento de dogma.

Quando a religião é levada para dentro das casas legislativas, as leis dos homens entram inevitavelmente em conflito com as leis de Deus. E quando a política se instala nos altares, as palavras da Sagrada Escritura passam a disputar espaço com interesses humanos — muitas vezes disfarçados de virtude.

A fé perde sua pureza quando se torna bandeira partidária. A política, por sua vez, perde sua legitimidade quando se converte em púlpito. Ambas, quando misturadas, deixam de cumprir seus propósitos originais: uma deixa de iluminar, a outra deixa de governar com justiça.

O azeiteiro é o local apropriado para armazenar o azeite; já no decanter, repousa o vinho. Ambos possuem natureza distinta, recipientes próprios, ritos e finalidades diferentes. A tentativa de inverter ou misturar esses compostos conduz a um único desfecho: tanto o vinho quanto o azeite perdem seus aromas e sabores característicos — e, com eles, sua essência.

Assim também ocorre com a religião e a política: quando deixamos que uma se infiltre na função da outra, ambas perdem o sentido e corrompem o que há de mais precioso em cada uma — a fé que eleva e a justiça que liberta.


A crítica contemporânea à fusão entre fé e poder

As críticas à chamada bancada evangélica concentram-se justamente nesse ponto sensível: o uso da fé como instrumento de poder político. Analistas e observadores apontam que, ao buscar influência legislativa e executiva, parte dessa representação acaba promovendo um discurso que mistura dogmas religiosos com decisões públicas, comprometendo o princípio do Estado laico.

Entre as principais críticas estão:

  • Conservadorismo e direitos humanos: A bancada é frequentemente criticada por sua oposição a pautas relacionadas à diversidade, como aborto, eutanásia, casamento entre pessoas do mesmo sexo e igualdade de gênero. Tais posições, embora legitimadas pela liberdade religiosa, são vistas por muitos como obstáculos à ampliação dos direitos humanos e à convivência plural.

  • Politização da fé: Para críticos e estudiosos — inclusive em análises amplamente debatidas em plataformas como o YouTube —, a atuação da bancada se distancia dos ensinamentos de Cristo, que rejeitava a disputa pelo poder e pregava o amor e a compaixão. A associação direta entre fé e política, nesse sentido, é vista como um afastamento do espiritual em favor do eleitoral.

  • Influência excessiva e disputas políticas: Outro ponto recorrente é o uso do poder religioso para intervir em decisões de governo, pressionar o Congresso e garantir a aprovação de projetos de interesse de grupos específicos. Essa prática é interpretada como uma sobreposição de crenças particulares sobre o interesse coletivo.

  • Controvérsias em projetos de lei: Em redes como o Instagram e nos meios acadêmicos, levantam-se críticas à condução de projetos que tratam com superficialidade temas sensíveis como estupro, abuso e violência contra a mulher. Há preocupação de que interpretações moralistas possam fragilizar políticas públicas de proteção social.

  • Apropriação e polarização ideológica: Por fim, a bancada é frequentemente associada à manutenção de pautas conservadoras e à aproximação com lideranças políticas de viés ideológico, como o ex-presidente Jair Bolsonaro. Esse alinhamento, segundo críticos, reforça a polarização e enfraquece o diálogo democrático dentro das instituições.

Essas críticas não pretendem negar o papel social e espiritual das igrejas, mas alertam para os riscos que surgem quando a fé, em vez de guiar consciências, passa a comandar votos e legislações.


Reflexão:

A harmonia entre o sagrado e o profano não se encontra na fusão, mas no respeito aos limites que os separam. Fé e política só coexistem em paz quando cada uma permanece no espaço que lhe cabe — servindo, cada qual à sua maneira, ao bem comum. Quando o altar se torna palanque, o verbo se torna discurso, e a espiritualidade perde sua luz para o brilho fugaz do poder.

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