Por Dag Vulpi - novembro de 2025 - Texto editado*: Publicado originalmente em 29 de abril de 2017
Há caminhos que não se desenham nos mapas, mas no coração. Alguns permanecem vivos porque são percorridos; outros desaparecem sob o silêncio das ausências. E quando o mato toma o lugar do chão batido, nem sempre é a trilha que se perde — às vezes é o vínculo.
Certa vez, um bando de jovens pássaros
voava despreocupadamente pelo céu, brincando com o vento e
descobrindo o mundo lá de cima. No meio daquele voo alegre, um deles
começou a notar algo curioso: grandes faixas de terra nua
atravessavam a planície, como linhas desenhadas sobre o
verde.
Intrigado, perguntou ao mais velho entre eles — um
pássaro de plumagem antiga, olhar sereno e memória vasta.
— Mestre, por que existem esses caminhos onde a terra fica exposta? Por que ali o mato não cresce?
O velho pássaro sorriu, como quem abre uma porta para uma lembrança muito antiga.
— Lá embaixo vivem seres sem asas. Eles constroem suas casas distantes umas das outras. Quando sentem saudade, caminham até seus amigos. Esses passos repetidos pisam a terra, impedindo que o mato brote. Assim nascem os caminhos. E as flores que crescem à beira deles agradecem, porque querem que o amor e a amizade continuem passando por ali.
O
jovem pássaro guardou aquelas palavras.
E, pouco tempo depois,
sobrevoando um lugar conhecido, viu um menino sentado sobre uma
trilha antiga — agora coberta por ervas daninhas e capim alto. O
menino chorava baixinho, como quem lamenta algo que não sabe
explicar.
Então o pássaro compreendeu.
Aquele
caminho, um dia vivo e frequentado, agora estava esquecido. Talvez
alguém que antes caminhava até o menino já não caminhasse mais.
Talvez a saudade não tivesse força para atravessar o campo.
E
quando a saudade deixa de caminhar, o mato cresce depressa.
Aprendeu-se
ali uma verdade simples:
Os caminhos que ligam um coração ao
outro precisam ser cuidados.
As amizades são trilhas vivas —
exigem passo, presença, gesto, tempo.
Se abandonadas, acabam
engolidas pela indiferença e pelo silêncio.
Devemos cuidar para que as ervas daninhas não tomem o espaço entre nós.
Porque uma trilha viva é sempre uma promessa de
encontro.
E nas bordas dela, ainda nascem flores.
Muitas vezes, a distância que sentimos não está no espaço, mas no hábito. Um único passo pode reacender um caminho inteiro. Se a trilha está coberta, não é tarde: basta começar a caminhar outra vez. O amor, a amizade e o cuidado têm a força de reabrir estradas.
*Inspirado no texto de Eduardo de Paulo Barreto - Pescado no Facebook em 29 de abril de 2017
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