sábado, 8 de novembro de 2025

O Caminho Onde Crescem as Flores

 


Por Dag Vulpi - novembro de 2025 - Texto editado*: Publicado originalmente em 29 de abril de 2017

Há caminhos que não se desenham nos mapas, mas no coração. Alguns permanecem vivos porque são percorridos; outros desaparecem sob o silêncio das ausências. E quando o mato toma o lugar do chão batido, nem sempre é a trilha que se perde — às vezes é o vínculo.

Certa vez, um bando de jovens pássaros voava despreocupadamente pelo céu, brincando com o vento e descobrindo o mundo lá de cima. No meio daquele voo alegre, um deles começou a notar algo curioso: grandes faixas de terra nua atravessavam a planície, como linhas desenhadas sobre o verde.
Intrigado, perguntou ao mais velho entre eles — um pássaro de plumagem antiga, olhar sereno e memória vasta.

Mestre, por que existem esses caminhos onde a terra fica exposta? Por que ali o mato não cresce?

O velho pássaro sorriu, como quem abre uma porta para uma lembrança muito antiga.

Lá embaixo vivem seres sem asas. Eles constroem suas casas distantes umas das outras. Quando sentem saudade, caminham até seus amigos. Esses passos repetidos pisam a terra, impedindo que o mato brote. Assim nascem os caminhos. E as flores que crescem à beira deles agradecem, porque querem que o amor e a amizade continuem passando por ali.

O jovem pássaro guardou aquelas palavras.
E, pouco tempo depois, sobrevoando um lugar conhecido, viu um menino sentado sobre uma trilha antiga — agora coberta por ervas daninhas e capim alto. O menino chorava baixinho, como quem lamenta algo que não sabe explicar.

Então o pássaro compreendeu.

Aquele caminho, um dia vivo e frequentado, agora estava esquecido. Talvez alguém que antes caminhava até o menino já não caminhasse mais. Talvez a saudade não tivesse força para atravessar o campo.
E quando a saudade deixa de caminhar, o mato cresce depressa.

Aprendeu-se ali uma verdade simples:
Os caminhos que ligam um coração ao outro precisam ser cuidados.
As amizades são trilhas vivas — exigem passo, presença, gesto, tempo.
Se abandonadas, acabam engolidas pela indiferença e pelo silêncio.

Devemos cuidar para que as ervas daninhas não tomem o espaço entre nós.

Porque uma trilha viva é sempre uma promessa de encontro.
E nas bordas dela, ainda nascem flores.

Muitas vezes, a distância que sentimos não está no espaço, mas no hábito. Um único passo pode reacender um caminho inteiro. Se a trilha está coberta, não é tarde: basta começar a caminhar outra vez. O amor, a amizade e o cuidado têm a força de reabrir estradas.

*Inspirado no texto de Eduardo de Paulo Barreto - Pescado no Facebook em 29 de abril de 2017

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