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segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O Novo Almagesto e o Heliocentrismo da Verdade

 

Por Dag Vulpi — 17/04/2017


Talvez a mais importante noção a ser aprendida com a demonstração da percepção esteja na área de mudança de paradigma — aquilo que poderíamos chamar de experiência do tipo Ah-ah!, onde uma pessoa finalmente “vê” o desenho inteiro de outro modo.

Quanto mais alguém se liga à percepção inicial, mais poderosa é a experiência do Ah-ah!. É como se uma luz interna se acendesse subitamente.

O termo mudança no paradigma foi introduzido por Thomas Kuhn em seu memorável livro The Structure of Scientific Revolutions, que influenciou muitos autores. Kuhn mostra como praticamente todas as revoluções no campo da pesquisa científica começaram em rupturas com a tradição, com o modo antigo de pensar e com velhos paradigmas.

Para Ptolomeu, o grande astrônomo egípcio, a Terra era o centro do universo e essa “verdade” arrastou-se por séculos, até que 1.340 anos depois, apesar da imensa resistência e perseguição, Copérnico criou uma mudança naquele paradigma ao colocar o Sol no centro. E foi a partir daquela mudança de percepção que tudo o que antes se acreditava ser a verdade absoluta passou a ser interpretado de modo bem diferente.

O modelo de Newton para a Física era um paradigma preciso, e ainda constitui a base da engenharia moderna. No entanto, era parcial e incompleto. O mundo científico foi revolucionado pelo paradigma de Einstein, a Teoria da Relatividade, possuidor de um valor muito maior para a explicação e previsão dos fenômenos.

Enquanto a teoria dos germes não foi elaborada, um alto número de mulheres e crianças morreram durante o parto, sem que ninguém soubesse por quê. Durante as batalhas, morriam mais soldados por pequenos ferimentos e doenças do que na linha de frente, em combate. Mas assim que a teoria dos germes foi aperfeiçoada, um paradigma totalmente novo, uma forma melhor de entender o que acontecia, tornou possível um avanço significativo e dramático na medicina.

O Brasil de hoje é o fruto de uma mudança de paradigma. O conceito tradicional de governo, por séculos, foi a monarquia, baseada no direito divino dos reis. Com o tempo, um paradigma diferente foi criado — o governo do povo, pelo povo e para o povo. A democracia constitucional nasceu, libertando a energia e capacidade do homem, criando padrão de vida, influência, esperança e liberdade inigualados.

Nem todas as mudanças de paradigma ocorrem para o bem. A mudança da Ética do Caráter para a Ética da Personalidade nos afastou das raízes que realmente nutrem a felicidade e o sucesso verdadeiros.

Contudo, quer nos levem a direções positivas ou negativas, quer sejam instantâneas ou fruto de longo processo, as mudanças de paradigma nos conduzem de uma visão de mundo a outra, promovendo transformações significativas.

Nossos paradigmas, corretos ou incorretos, são a fonte dos comportamentos e atitudes e, portanto, do nosso relacionamento com os outros.


Recordo-me de uma mudança de paradigma em uma manhã de domingo, no metrô de São Paulo. As pessoas estavam calmamente sentadas, lendo jornais, divagando, descansando. Subitamente, um homem entrou no vagão com os filhos, que faziam algazarra e perturbavam os demais. O homem sentou-se a meu lado e fechou os olhos, aparentemente ignorando a situação.

Minha irritação aumentava, e decidi falar:

  • Senhor, seus filhos estão perturbando muitas pessoas. Será que não poderia dar um jeito neles?

O homem olhou para mim e disse calmamente:

  • Sim, creio que o senhor tem razão. Acho que deveria fazer alguma coisa. Acabamos de sair do hospital, onde a mãe deles morreu há uma hora. Não sei o que pensar, e parece que eles também não conseguem lidar com isso.

De repente, tudo mudou em minha percepção. Meu paradigma mudou, meu coração se abriu ao sofrimento alheio, e sentimentos de compaixão e solidariedade fluíram livremente.

Muita gente passa por experiências similares quando enfrenta crises sérias ou assume novos papéis, como pai, mãe, líder ou avô. Poderíamos gastar anos tentando alterar comportamentos usando apenas a Ética da Personalidade, sem sequer nos aproximarmos da mudança real, que ocorre quando vemos as coisas sob nova óptica.

Como disse Thoreau:
“Para cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal, há apenas um atacando as raízes.”

Um salto qualitativo somente pode ser realizado em nossas vidas quando deixamos de cortar folhas e passamos a trabalhar nas raízes, nos paradigmas que determinam nossa conduta.


Nota Reflexiva:
Mudar de paradigma é um ato de humildade — reconhecer que a verdade pode estar além daquilo que aprendemos a chamar de “verdade”. É o instante em que o Sol, antes orbitado, se revela o centro, e o universo se reorganiza dentro de nós.

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