Por Dag Vulpi novembro de 2025
Quando a dor de admitir que fomos enganados se torna maior do que o próprio engano, a mente constrói muralhas. É dentro dessas muralhas que a extrema direita encontrou seu terreno mais fértil.
Há um ponto sensível na condição humana: a necessidade de coerência entre o que acreditamos e o que vemos. Quando a realidade contraria a crença, nasce a dissonância cognitiva. Esse conflito não é um erro moral, mas um mecanismo psicológico que tenta preservar o equilíbrio interno. O que muda é o uso que se faz dele.
A política contemporânea, sobretudo em sua vertente extremista, aprendeu a manipular essa fragilidade. Em vez de oferecer caminhos para uma consciência mais ampla e empática, ela reforça uma espécie de clausura mental. A pessoa é levada para dentro de uma bolha onde toda narrativa externa é inimiga e toda contradição pode ser justificada com um novo discurso — mesmo que esse discurso seja irracional, violento ou flagrantemente falso.
A dissonância
cognitiva se transforma, então, em trincheira.
Não se defende
uma ideia: defende-se o próprio ego.
Não se debate um fato:
debate-se um pertencimento.
A extrema direita entendeu algo simples: quando um indivíduo passa a se sentir parte de um grupo que promete identidade, força e sentido, ele faz o que for preciso para permanecer ali — ainda que isso implique negar evidências, reescrever memórias e rejeitar a própria experiência vivida. Não por maldade, mas por medo de ruir por dentro.
O que o Humanismo
Político propõe é o oposto dessa lógica.
Não é sobre
destruir identidades, mas reconhecer que elas são vivas e
permeáveis.
Não é sobre vencer o outro, mas sobre
sustentarmos juntos a dignidade humana como horizonte comum.
É
afirmar que o ser humano vale mais que uma narrativa, que o diálogo
vale mais que o slogan, que a verdade pode ser difícil, mas é
libertadora.
Num tempo em que as
bolhas se fecham como muralhas, o Humanismo Político é uma mão
estendida.
Não para puxar alguém à força, mas para lembrar
que há mundo além da trincheira, que há respiração fora da
guerra imaginária.
Reconhecer que fomos
enganados não é fraqueza — é coragem.
Retornar à realidade
não é derrota — é retorno ao próprio humano.
Reflexão
Talvez a tarefa mais urgente de nosso tempo seja reaprender a olhar o outro sem ódio, e a olhar para nós mesmos sem medo. Dissonância cognitiva não é sentença. É apenas um nó — e todo nó pode ser desfeito quando há paciência, verdade e cuidado.

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Dag Vulpi