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sábado, 1 de novembro de 2025

Quando o Sagrado e o Poder se Misturam


Por Dag Vulpi

A fronteira entre religião e política sempre foi tênue, mas indispensável. Quando um ultrapassa o território do outro, o resultado é confusão moral e enfraquecimento de ambos. O que nasce da fé se contamina pelo cálculo do poder, e o que deveria servir à coletividade se converte em instrumento de dogma.

Quando a religião é levada para dentro das casas legislativas, as leis dos homens entram inevitavelmente em conflito com as leis de Deus. E quando a política se instala nos altares, as palavras da Sagrada Escritura passam a disputar espaço com interesses humanos — muitas vezes disfarçados de virtude.

A fé perde sua pureza quando se torna bandeira partidária. A política, por sua vez, perde sua legitimidade quando se converte em púlpito. Ambas, quando misturadas, deixam de cumprir seus propósitos originais: uma deixa de iluminar, a outra deixa de governar com justiça.

O azeiteiro é o local apropriado para armazenar o azeite; já no decanter, repousa o vinho. Ambos possuem natureza distinta, recipientes próprios, ritos e finalidades diferentes. A tentativa de inverter ou misturar esses compostos conduz a um único desfecho: tanto o vinho quanto o azeite perdem seus aromas e sabores característicos — e, com eles, sua essência.

Assim também ocorre com a religião e a política: quando deixamos que uma se infiltre na função da outra, ambas perdem o sentido e corrompem o que há de mais precioso em cada uma — a fé que eleva e a justiça que liberta.


A crítica contemporânea à fusão entre fé e poder

As críticas à chamada bancada evangélica concentram-se justamente nesse ponto sensível: o uso da fé como instrumento de poder político. Analistas e observadores apontam que, ao buscar influência legislativa e executiva, parte dessa representação acaba promovendo um discurso que mistura dogmas religiosos com decisões públicas, comprometendo o princípio do Estado laico.

Entre as principais críticas estão:

  • Conservadorismo e direitos humanos: A bancada é frequentemente criticada por sua oposição a pautas relacionadas à diversidade, como aborto, eutanásia, casamento entre pessoas do mesmo sexo e igualdade de gênero. Tais posições, embora legitimadas pela liberdade religiosa, são vistas por muitos como obstáculos à ampliação dos direitos humanos e à convivência plural.

  • Politização da fé: Para críticos e estudiosos — inclusive em análises amplamente debatidas em plataformas como o YouTube —, a atuação da bancada se distancia dos ensinamentos de Cristo, que rejeitava a disputa pelo poder e pregava o amor e a compaixão. A associação direta entre fé e política, nesse sentido, é vista como um afastamento do espiritual em favor do eleitoral.

  • Influência excessiva e disputas políticas: Outro ponto recorrente é o uso do poder religioso para intervir em decisões de governo, pressionar o Congresso e garantir a aprovação de projetos de interesse de grupos específicos. Essa prática é interpretada como uma sobreposição de crenças particulares sobre o interesse coletivo.

  • Controvérsias em projetos de lei: Em redes como o Instagram e nos meios acadêmicos, levantam-se críticas à condução de projetos que tratam com superficialidade temas sensíveis como estupro, abuso e violência contra a mulher. Há preocupação de que interpretações moralistas possam fragilizar políticas públicas de proteção social.

  • Apropriação e polarização ideológica: Por fim, a bancada é frequentemente associada à manutenção de pautas conservadoras e à aproximação com lideranças políticas de viés ideológico, como o ex-presidente Jair Bolsonaro. Esse alinhamento, segundo críticos, reforça a polarização e enfraquece o diálogo democrático dentro das instituições.

Essas críticas não pretendem negar o papel social e espiritual das igrejas, mas alertam para os riscos que surgem quando a fé, em vez de guiar consciências, passa a comandar votos e legislações.


Reflexão:

A harmonia entre o sagrado e o profano não se encontra na fusão, mas no respeito aos limites que os separam. Fé e política só coexistem em paz quando cada uma permanece no espaço que lhe cabe — servindo, cada qual à sua maneira, ao bem comum. Quando o altar se torna palanque, o verbo se torna discurso, e a espiritualidade perde sua luz para o brilho fugaz do poder.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Reflexão: A sabedoria de fazer a correção sem valer-se da humilhação

Dag Vulpi

Obs. Ideia central pescada no Facebook. Editei parte do texto. (autor desconhecido)


Um jovem encontra um senhor e depois de cumprimenta-lo pergunta-lhe:

- “Tá lembrado de mim?”

- “Desculpe-me, mas não!” responde o senhor.

- "Quando criança, fui seu aluno." respondeu-lhe o jovem.

- “É mesmo, e o que você está fazendo agora, qual é sua profissão?” pergunta-lhe o curioso ex-professor.

- “Assim como o senhor, eu me tornei professor!” respondeu o jovem.

- “Ah, que bom, é uma das melhores profissões.” disse o senhor.

- “Concordo, Não me arrependo da escolha que fiz, muito ao contrário. Apesar de ser pouco reconhecida, tenho orgulho de poder contribuir na formação de alunos que acabam se tornando grandes profissionais. Na verdade, eu me tornei professor porque você me inspirou a ser como você”. Completou o jovem.

O velho professor, curioso, pergunta ao jovem em que momento foi que ele havia inspirando-o a ser professor.

Então o jovem conta-lhe a seguinte história:

Certo dia, um aluno chegou na sala de aula com um belo relógio, e eu decidi que o queria para mim e decidi roubá-lo, na primeira oportunidade eu o peguei e guardei no meu bolso. Logo depois o garoto notou o roubo e imediatamente reclamou ao nosso professor, que era o senhor..

Então, o senhor parou a aula e disse:

- “O relógio de um dos alunos dessa sala foi roubado durante essa aula. Quem o roubou, devolva-o imediatamente!”

Eu não o devolvi. Pois, além de deseja-lo muito, passaria por um grande constrangimento diante de toda sala e do senhor.

Foi então que o senhor fechou a porta da sala e disse para que todos nós nos levantássemos e que o senhor iria vasculhar todos os bolsos até encontrar o relógio. Porém, antes de iniciar a busca, pediu para que todos ficassem de pé, formassem uma fila e fechássemos bem os olhos. Todos obedecemos o seu pedido, e o senhor foi de bolso em bolso, e quando chegou ao meu, encontrou o relógio e o pegou. Porém, ao invés de encerrar a busca, continuou procurando nos bolsos de todos os demais alunos e quando terminou a busca disse:

- "Abram os olhos e sentem-se em suas cadeiras. Já temos o relógio."

Todos abrimos os olhos e lá estava o relógio sobre sua mesa.

- “É esse o seu relógio?” O senhor perguntou ao garoto que fizera a denúncia.

- “Sim senhor, é esse mesmo!” respondeu-lhe o garoto.

- “Muito bem, pegue-o e guarde-o”. Respondeu-lhe o senhor.

O senhor não me disse nada e nunca mencionou sobre o episódio. Nunca disse para nenhum dos alunos quem teria sido o autor do roubo do relógio.

Aquele foi o dia mais vergonhoso e constrangedor da minha vida. Mas também foi o dia em que minha dignidade foi salva. Sua atitude diante daquela situação evitou que eu me torna-se uma pessoa de má índole. Você nunca me disse nada e, mesmo que não tenha me repreendido ou chamado minha atenção para me dar uma lição de moral, recebi a mensagem claramente e a carrego e a carregarei pelo resto da minha vida.

Foi graças a você, meu professor, que entendi que é isso que um verdadeiro educador deve fazer.

O senhor se recordava desse episódio, professor?

- "Lembro-me do episódio do relógio que foi roubado na sala de aula e que o procurei em todos os bolsos, mas não lembrava de você. Aliás, eu nunca lembraria do rosto do aluno que havia cometido aquele deslize. E sabe porquê? Enquanto procurava eu também fechei os meus olhos "

Esta é a essência do ensino:

Se para corrigir você precisa humilhar; você não sabe ensinar.

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