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quinta-feira, 4 de abril de 2024

A psique de um asno e sua irreverente aversão ao comunismo


 

Dag Vulpi 04 de abril de 2024

Sem delongas, irei direto ao ponto. Mas prepare-se para um texto longo!

No último domingo, 31 de março, coincidiu a data do meu aniversário com a implantação do regime militar no Brasil. Isso mesmo, nasci no mesmo dia, mês e ano daquele infame sistema. Na infância, no primário, essa data era tratada como "o dia da revolução", e eu, por ainda não entender completamente do que se tratava, ficava envaidecido com as festividades militares na escola. Isso é suficiente, agora irei ao que interessa. Decidi fazer um churrasco para celebrar, afinal, deixei de ser um simples senhor de meia idade e agora sou oficialmente um sexagenário. Para ser mais claro, um sexagenário. E entre meus convidados, como quase sempre acontece em todas as famílias, havia um bolsonarista de carteirinha. Depois de algum tempo e algumas cervejas, decidi me sentar ao lado dele. A princípio, minha intenção não era discutir política, mas parece que isso é inevitável. Se você se aproxima de um bolsonarista e ele sabe que você é de esquerda, logo ele fará comentários pejorativos sobre Lula. "Você viu o que aquele cachaceiro fez agora?". Fingindo não entender que ele se referia a Lula, fiz-me de desentendido e perguntei: "O que dizem que eu fiz dessa vez?". "Não você", respondeu ele, "o cachaceiro ao qual me refiro é o Lula". Ah, ainda bem, pensei que alguém tivesse falado mal de mim exatamente no dia do meu aniversário, bebendo e comendo às minhas custas, ou seja, às custas de um velho comunista. Dei um largo sorriso, o abracei, agradeci sua presença e fui para outra mesa cutucar minha cunhada, que por acaso é lulista. Isso mesmo, praticamente em todas as famílias também há um Lulista.

Fim de churrasco, todos se despediram e se foram. Tomei um banho relaxante, me sentei confortavelmente no sofá, servi-me de um bom vinho que fui presenteado. Pensei até em acender um charuto, mas desisti da ideia, minha esposa certamente ficaria chateada com as cinzas no tapete. Mas tudo bem, um belo trago de um Cabernet Sauvignon chileno datado de 2014 já era bom o suficiente. Lembro-me apenas de ter colocado a taça vazia sobre a mesa de centro e virado a cabeça para a esquerda e adormecido. Um sono profundo e revitalizante, mas não consegui escapar das imagens e pensamentos que invadiram minha mente, mutio provavelmente influenciadas pelo tio bolsonarista.

O cenário era uma fazenda. Os protagonistas: eu, um jovem cabrito chamado Goat, e um velho asno chamado Jair que coexistiam em harmonia. E a alegoria foi a que segue: O jovem Goat ficava alojado num cercado próximo à minha casa, se alimentando das folhas secas que caíam de uma enorme árvore. Como as folhas não eram suficientes para sustentá-lo, eu precisava, obrigatória e diariamente ir até o pasto onde vivia o asno cortar feixos de capim para alimentá-lo.

O correto seria colocar o Goat para dividir o espaço ocupado pelo Jair, mas sabendo da ignorância e do mau humor do asno, acabei adiando essa mudança necessária. Contudo, cedo ou tarde, teria que ter essa conversa para convencer o rabugento. Comecei a visitá-lo com mais frequência, sempre levando uma suculenta espiga de milho, que era o que o atraía para perto da cerca. Nossos "diálogos" sempre foram curtos e às vezes não muito amistosos, mas eu o compreendia, afinal, tratava-se de um asno. Sempre perguntava sobre sua saúde e se ele se sentia solitário morando sozinho naquele enorme pasto, que outrora foi ocupado por centenas de bovinos. No dia seguinte, decidi levar o Goat para participar da conversa, afinal, ele era parte interessada no assunto. Chegamos ao alto do pasto e esperamos pacientemente ao lado da cerca até que o Jair, o asno, se aproximasse para conversarmos. Naquele dia, ele relutou especialmente em se aproximar, ignorando até mesmo a suculenta espiga, mas acabou cedendo e veio falar conosco. Logo fez referências ao pai do Goat: "talvez você não saiba", disse ele olhando para mim, "mas esse aí é neto do velho Trotsky. Aquele bode velho e arruaceiro que nunca trabalhou na vida. Vivia de espalhar balelas e comer às custas daqueles que trabalhavam para manter essa fazenda funcionando. Velho barbudo e fedorento, com aquelas ideias idiotas de que todos nós deveríamos viver em comunidade e dividir entre todos o pouco que cada um tinha. Um insano, vivia no mundo da lua, lendo aqueles enormes livros e papagaiando utopias entre o rebanho. E o pior é que muitos acreditavam naquelas besteiras que ele dizia. Acabou conseguindo formar um grupelho que acreditava e apoiava suas bizarrices. Até um sobrinho meu, para tristeza do Olavo, meu irmão, acabou se convertendo àquelas ideias e propagando aquelas asneiras. E esse aí", apontando para o Goat, "certamente é da mesma laia, afinal, o fruto não cai longe da árvore." Dito isso, ele virou as costas e foi para o outro lado do pasto, sem permitir sequer uma réplica, nem minha, nem do Goat. O jovem caprino ficou perplexo com a atitude do Jair, uma figura pela qual ele nutria enorme respeito. "Afinal, é um ancião, e dos anciões se espera sabedoria", confidenciou-me o jovem. Aproveitando a oportunidade, Goat se deliciou com o tenro capim do alto do morro, enquanto descíamos conversando e tentando entender os motivos que teriam influenciado a mente do Jair para transformá-lo em um velho tão radical e rabugento. No entanto, Goat parecia conhecer a razão e, ao chegarmos em casa, ele acabou me contando que o velho asno, anos atrás, comprou um celular pelo aplicativo. O jovem percebeu quando o velho recebeu a encomenda e, no colégio onde estudava, ficou sabendo que o avô de outro garoto trocava mensagens pelo WhatsApp com o Jair. Isso me preocupou, afinal, dentro da minha própria fazenda, sem meu conhecimento, muito provavelmente estava ocorrendo a disseminação de fake news. "Muito bem, Goat, foi bom você me contar isso, pois são essas fake news, trocadas por mensagens, principalmente entre os mais velhos e com menos escolaridade, que estão colocando em risco a democracia do nosso país. Pensarei na melhor forma de contornar essa situação."

Naquela noite, o sono teimava em se aproximar, incapaz de dissipar as palavras rudes e incoerentes do velho asno da minha mente. Afinal, ele era apenas um asno, mas a jornada para se tornar um radical de direita parecia longa e árdua. Ao despertar e tomar café, ainda me encontrava mergulhado na reflexão sobre o velho asno e como uma ser poderia ser moldado e convencido de mudar até mesmo seu próprio caráter quando negativamente influenciada por fake news. A princípio, considerei uma atitude radical: encontrar o celular no estábulo e lançá-lo no rio. No entanto, percebi que agir dessa forma seria me igualar ao velho asno. Decidi então retomar a conversa com ele, desta vez a sós, sem a presença do Goat. Não levei sequer uma espiga de milho. Aproximei-me da cerca e, com firmeza, chamei por seu nome: "Jair, faça-me um favor, venha até aqui, precisamos ter uma conversa séria." Ele ergueu as enormes orelhas, mas parecia relutante em obedecer ao meu chamado. Insisti mais uma vez, desta vez gritando apenas seu nome: "JAIR!" Ele virou-se e aproximou-se de mim. Fui direto ao ponto sobre os assuntos que me tiraram o sono e me angustiaram. Questionei sua propensão a acreditar em falsas notícias e o fato de eu, por capricho de um velho antissocial, ter que diariamente ir ao pasto cortar capim para alimentar o Goat. O correto seria ambos compartilharem o amplo pasto, poupando-me trabalho e, mais importante ainda, tornando a vida do velho asno menos solitária. Em vez de se envolver em trocas de notícias falsas com "pessoas" desconhecidas e servir como disseminador de mentiras, ele teria a companhia de um jovem com quem poderia compartilhar conversas agradáveis e verídicas, ou até mesmo contar suas próprias histórias, mesmo que nem sempre fossem verdadeiras, mas certamente divertidas e inofensivas. Afinal, não faltavam histórias para aquele velho asno contar.

"Me desculpe, mas não permitirei dividir o mesmo pasto com um neto de um comunista", disse o asno prontamente ao se aproximar da cerca. "Além disso, as mensagens que troco com meus velhos conhecidos são uma particularidade que me é de direito. Portanto, se era isso que você tinha para me dizer, poupe-me. Afinal, vivemos numa democracia."

Contive-me para não ser grosseiro com o velho animal e respondi: "Você tem certa razão quanto ao direito de trocar suas mensagens com quem melhor lhe convier. Tratarei disso depois. No entanto, ao contrário de mim, que me preocupo com você, parece não se sensibilizar com o fato de que, sem necessidade ou justificativa razoável – afinal, proponho que você divida o pasto com um jovem cabrito, não com uma cascavel –, você é irredutível em aceitar isso. Mas tive uma ideia que resolverá parte dos meus problemas: a partir de hoje, haverá um revezamento entre você e o Goat. Nos meses ímpares, você ficará no pasto e o Goat no cercado lá embaixo; nos meses pares, o Goat ficará no pasto e você no cercado, comendo as folhas secas. Como hoje é dia dois de abril, portanto mês par, é sua vez de descer para o cercado. Junte suas coisas, que daqui a meia hora eu trarei o Goat e te levarei para o cercado." Despedi-me do asno sem sequer olhar para trás, tampouco concedi a ele o direito a uma tréplica.

Ao chegar em casa, fui logo tratar com o Goat sobre as mudanças que estariam por vir. Ao comunicá-lo de que ele iria para o pasto e deveria arrumar suas coisas, ele ficou surpreso e externou sua felicidade, imaginando que Jair, enfim, teria mudado de ideia e aceitaria de bom grado dividir o pasto com ele. No entanto, sua alegria dissipou rapidamente quando detalhei os fatos, explicando sobre o revezamento mensal que seria feito entre eles.

Não me surpreendeu o comportamento do jovem Goat ao tomar ciência dos fatos. "Me desculpe, respeito muito o senhor, mas prefiro ficar aqui e evitar que o senhor Jair, que está com idade avançada, passe por este constrangimento", ele expressou. Retruquei-lhe imediatamente: "Goat, não se trata de você ou do velho asno estarem de acordo ou não. Esta é uma decisão minha, e antes de tomá-la, pensei em todos os prós e contras. Acredite, essa mudança será muito boa, principalmente para Jair. Estando ele mais próximo, teremos mais tempo para 'conversar', e certamente essas conversas mudarão a atual visão de mundo do velho asno."

Enquanto o jovem Goat arrumava suas coisas, fui até a cozinha, tomei um copo d'água e depois uma caneca de café. Parei por alguns instantes e questionei-me: será que estou fazendo a coisa mais acertada? Porém, logo concluí que, tomada a decisão, embasada em critérios e com as melhores das intenções, sim, era o melhor a ser feito.

Saí e fui buscar o jovem Goat. Chegando no cercado, percebi que ele havia me obedecido, arrumado suas coisas e estava pronto para subir o morro. Chamou-me a atenção o ótimo estado de conservação dos livros que eu lhe presenteei e que ele arrumara com todo o cuidado para levar para sua nova casa, ainda que provisória.

Subimos o morro e observei que o velho asno já nos esperava junto à cerca. Perguntei se ele tinha arrumado todas as suas coisas, e ele disse que sim. Porém, causou-me estranheza a ausência dos livros que eu havia lhe presenteado, assim como fizera com o Goat. No caso de Jair, o volume de livros era muito maior, obviamente devido à sua longevidade quando comparada à do jovem caprino. "E os livros?", questionei-lhe. "Não vais levá-los? Afinal, serão trinta dias lá no cercado, e haverá momentos em que uma boa leitura será uma ótima opção." "Livros?", respondeu-me o velho asno. "Sim, os livros que presenteei você ao longo de todos esses anos. Por acaso esqueceu-se deles?", retruquei. "Ah, faça-me o favor. Você realmente acredita que eu li uma página sequer daquele amontoado de besteiras? Estão jogados por aí, se é que algum escapou dos meus pisoteios, da chuva e do sol. Certamente não restou nem a poeira daquela besteirada." "Tudo bem", respondi-lhe. "A minha intenção era a de tentar colaborar com sua conscientização política, econômica e, principalmente, coletiva. Mas obviamente que ler ou não era uma opção sua, afinal, nunca, antes de hoje, eu te obriguei a nada. E se te obrigo a trocar o pasto pelo pequeno cercado, saiba que não o faço de bom grado, mas sim para, como sempre, te mostrar que viver em coletividade e harmonia é uma forma de tornarmos a vida um pouco melhor."

Abri a porteira e pedi para que o asno saísse, e assim foi feito. Depois, pedi para que o jovem cabrito entrasse, e ele também prontamente me obedeceu. Percebi que nenhum dos dois estava feliz; muito pelo contrário, ficou nítida a insatisfação de ambos, cada um com sua motivação. O velho asno por ter que deixar o pasto onde viveu toda sua vida, já o jovem cabrito estava compadecido com o asno.

Fechei a porteira e orientei o jovem Goat a ter cuidado, principalmente durante a noite, período em que ele deveria permanecer dentro do estábulo. Mas que eu estaria sempre observando-o e qualquer coisa era só chamar que eu o atenderia. Chegando no cercado, o velho asno foi logo entrando e dizendo que dispensava minhas orientações, afinal, ele já era bem grandinho e não precisava de uma babá. Sorri, dei uma pequena palmada em seu traseiro e fui cuidar da fazenda.

Durante o dia, fui umas três ou quatro vezes ver como o Goat estava se saindo. Percebi que ele estava muito bem. Agora, ao contrário da época em que ele vivia no pequeno cercado, ele tem todo o espaço para correr e se alimentar à vontade. Passei também no cercado para ver como Jair estava. Ele continuava lá, de pé, de costas para o portão de entrada, fingindo ou realmente ignorando minha presença.

Ao entardecer, fui até o pasto, reforcei os cuidados que o Goat deveria ter durante a noite, enchi o balde com tenro capim que acabara de cortar e fui levar para o Jair. Me aproximei, desejei uma boa tarde para ele e disse que ali estava o alimento caso ele desejasse comer algo durante a noite, e que, caso ele precisasse de alguma coisa, era só me chamar. E essa foi a rotina da primeira semana.

Goat parecia cada dia maior e mais forte. Ao contrário de Jair, que morou por décadas naquele pasto e nunca fez amizades com nenhum dos animais da fazenda vizinha, o jovem cabrito já tinha se enturmado e feito amizade com todos.

Comecei a perceber que cada vez mais Jair passava seus dias pesquisando na internet, começou a participar de grupos no Facebook, inclusive percebi que ele, usando um nome falso e o endereço de Campinas, SP, estava participando do grupo que administro: "O Consciência Política Razão Social". Percebi também que ele começou a pesquisar nos sites especializados em detectar fake news.

Chegado o dia da troca, primeiro de maio, pois ficou combinado que nos meses ímpares seria ele, o asno, quem ficaria no pasto. Logo cedo, fui até o cercado e perguntei se ele já tinha arrumado as coisas para voltar ao pasto. Ele respondeu que sim, que já havia arrumado desde o dia anterior e que não via a hora de voltar para o pasto. Abri o portão, ele saiu, e subimos o morro em direção à porteira que levava ao pasto. De longe, avistei Goat com suas coisas arrumadas e pronto para voltar para o cercado.

Quando nos aproximamos mais e abri a porteira, o jovem cabrito cumprimentou o velho asno e saiu. O asno respondeu ao cumprimento e perguntou ao jovem Goat o que ele achou de ficar aqueles vinte e nove dias no pasto. O jovem respondeu que foi maravilhoso. Havia conhecido novos amigos, estava mais forte, podia correr por longas distâncias e também havia engordado, pois a comida era farta. O velho asno respondeu: "Que bom que você gostou. Eu também adoro esse local. Aliás, esse é o lugar que eu melhor conheço. Nasci, cresci, passei minha juventude e envelheci neste lugar maravilhoso. Porém, ser feliz de verdade, só fui enquanto ainda era jovem e tinha meus pais e vários amigos morando aqui comigo. Quando a velhice chegou e já não tinha meus pais e todos os meus amigos foram vendidos ou você sabe o que aconteceu com eles", ele fazia referência aos bois que foram sacrificados para servir de comida para os donos da fazenda. "Não tive mais motivação para ser feliz. Então, eu me fechei num mundo equivocado, ignorei os vizinhos da fazenda ao lado. Sempre fui grosseiro com meu dono, e quando você chegou na fazenda ainda muito pequeno, aqui de cima, eu estava tomado por uma tristeza profunda. Comecei a recordar de quando eu era criança. Dos meus irmãos, dos meus pais, das dezenas de jovens que coabitavam este espaço comigo. Então, por algum motivo que desconhecia antes de passar esses dias lá no cercado, percebi o quanto me equivoquei ao não querer você aqui comigo. Certamente você teria me ajudado a ver o mundo com outros olhos, certamente eu não teria mergulhado nesse mundo de fake news e não teria me tornado um radical, que passou a não aceitar a solidariedade e o bem comum como fundamentos básicos para uma boa convivência em uma sociedade mais justa, que valoriza mais os próximos e que não aceita a ideia de que alguns tenham em excesso, assim como eu tinha aqui nesse pasto, enquanto outros nada têm. Se quer tem a sorte de ter um pequeno cercado como aquele que você passou toda a sua infância, pois, apesar de apertado, ali não falta alimento nem água. Nesses dias, eu consegui, graças às pesquisas que fiz e as leituras em fontes alternativas, enxergar que nem tudo que eu recebia nos grupos de WhatsApp era verdade e que, quando somadas, essas pequenas e dissimuladas falsas informações, quando somadas nas mentes de "pessoas" que, assim como eu, não possuem uma conscientização mínima, acabam as transformando em seres radicais, que não aceitam as realidades e pior, se deixam levar pelos interesses de pessoas horríveis. Esses quase trinta dias que passei lá no cercado me fizeram ver o mundo com outros olhos, as leituras que fiz de certas postagens nos grupos do Facebook também foram fundamentais, mas o que mais me fez abrir os olhos foi conseguir pesquisar em sites confiáveis especializados em fake news e perceber que tudo aquilo que me fizeram acreditar nesses últimos dez anos, era tudo mentira. Mentiras inventadas para empoderar aqueles que verdadeiramente mandam nesse país. Mas não quero mais falar sobre isso. Quero aproveitar os anos que me restam e, você me fará o asno mais feliz desse mundo se, com a permissão do nosso dono, que na verdade não é dono nada, é nosso amigo, passar a dividir esse espaço maravilhoso comigo. Quero também que você intermedie a minha amizade com os nossos vizinhos e, por fim, e prometo não fazer mais pedidos, que você me empreste seus livros. Prometo que os lerei com o maior cuidado e zelo."

Então eu olhei para o Goat, ele olhou para mim e "falou": "Por favor, diga que você permite." Eu sorri e nos demos um longo e afetuoso abraço triplo, e a felicidade se espalhou por cada canto daquela propriedade.

Este é um texto ficcional; portanto, qualquer semelhança com nomes, datas e lugares será mera coincidência.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

A Evolução dos Direitos Trabalhistas: Reflexões Sobre 'O Capital' de Marx e Engels

                                      

Dag Vulpi


A obra 'O Capital', escrita por Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX, continua a ecoar suas preocupações sobre desigualdade e exploração. Neste texto, explorarei como as reivindicações apresentadas por esses pensadores influenciaram a evolução dos direitos trabalhistas ao longo do tempo, revelando os progressos significativos, mas também os desafios persistentes na busca por justiça social e igualdade.


A obra é um tratado fundamental que aborda questões cruciais do sistema econômico e social da época. Nela, os autores apresentam uma análise minuciosa das contradições do capitalismo e fazem reivindicações contundentes que visam à transformação da sociedade.


Marx e Engels apresentam diversas reivindicações que refletem sua crítica ao sistema capitalista. Uma das principais demandas é pela eliminação da exploração do trabalho, propondo a criação de uma sociedade sem classes, na qual o trabalho seja realizado de acordo com a capacidade de cada indivíduo e os recursos sejam distribuídos com base nas necessidades.


Além disso, os autores enfatizam a importância da socialização dos meios de produção e do planejamento centralizado da economia, a fim de eliminar crises cíclicas e garantir a satisfação das necessidades da população. A luta por direitos trabalhistas, melhores condições de trabalho e a abolição do trabalho infantil são pontos destacados em suas reivindicações.


Marx e Engels acreditavam que a revolução proletária era o caminho para alcançar essas mudanças e criar uma sociedade mais justa e igualitária. Suas ideias em 'O Capital' continuam a influenciar o pensamento político e econômico, servindo como base para movimentos sociais e políticos em todo o mundo.


Karl Marx e Friedrich Engels, no século XIX, escreveram "O Capital", uma obra fundamental que delineava suas preocupações com as condições de trabalho e a exploração capitalista da época. Suas reclamações se concentravam na desigualdade, exploração e falta de direitos dos trabalhadores. Hoje, no entanto, podemos observar um contraste entre essas preocupações e a realidade dos direitos trabalhistas atuais.


Desde o século XIX, houve avanços significativos na proteção dos direitos dos trabalhadores. A maioria dos países desenvolvidos estabeleceu leis trabalhistas que garantem salários mínimos, limitam a jornada de trabalho, fornecem segurança no local de trabalho e estabelecem direitos sindicais. Isso representa um avanço notável em relação à época em que Marx e Engels escreveram "O Capital".


Além disso, os sistemas de seguridade social foram implementados em muitos países, oferecendo benefícios como assistência médica, aposentadoria e seguro-desemprego. Esses programas visam aliviar as pressões econômicas sobre os trabalhadores e proporcionar uma rede de segurança.


No entanto, apesar desses avanços, ainda existem desafios significativos. A desigualdade econômica persiste, e os direitos dos trabalhadores não são uniformemente aplicados em todo o mundo. Em muitas regiões, as condições de trabalho são precárias, com salários baixos, longas horas e falta de segurança no emprego. Além disso, a globalização e as mudanças tecnológicas têm levantado questões sobre a estabilidade do emprego e a capacidade dos trabalhadores de negociar em pé de igualdade com os empregadores.


Portanto, embora tenha havido progressos notáveis na proteção dos direitos trabalhistas desde os dias de Marx e Engels, as questões de desigualdade e exploração ainda são relevantes hoje. A luta contínua pela justiça social e pelos direitos dos trabalhadores demonstra que as preocupações levantadas por esses filósofos ainda têm um papel importante na moldagem das políticas e da sociedade contemporânea.


Considerando o que foi apresentado, é justificável afirmar que a visão utópica de Karl Marx e Friedrich Engels, delineada em sua obra seminal, progressivamente já alcançou muitos de seus objetivos ao longo do tempo.


O sonho, aos poucos e com muito suor e lágrimas, torna-se realidade.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

A Consciência Política tentando combater a Ignorância Erudita

Por Dag Vulpi - Publicado originalmente em 17 de julho de 2021.

Os impulsionadores da ignorância erudita têm uma certa predileção por difundir certos temas. É praticamente impossível você visitar uma rede social e não se deparar com alguma postagem ou comentário em que o assunto tratado não seja o comunismo. Não há nenhum problema no fato de as pessoas exporem suas opiniões sobre esse tema; muito ao contrário, considero o assunto pertinente e merecedor de toda atenção. Na verdade, o que me incomoda é o fato de que a maioria dos que se aventuram a enveredar nessa seara não sabe diferenciar comunismo de ditadura. Esse desconhecimento acaba causando um grande "prejuízo" para a conscientização coletiva.

Ainda que não seja um profundo conhecedor da causa, tentarei, de forma simples, colaborar na conscientização e consequente redução da ignorância erudita. Sinteticamente, tentarei mostrar os conceitos básicos e a discrepância entre Ditadura e Comunismo.

Ditadura: é um regime governamental no qual todos os poderes do Estado estão concentrados em um indivíduo, um grupo ou um partido. O ditador não admite oposição a seus atos e ideias e reserva para si o poder das decisões.

Comunismo: é uma ideologia. Um movimento político, filosófico, social e econômico cujo objetivo final é o estabelecimento de uma sociedade estruturada sobre as ideias de igualitarismo, propriedade comum dos meios de produção e ausência de classes sociais, do dinheiro e do Estado. O comunismo também não pode ser confundido com "o socialismo"; ele, conforme idealizado, se sugere como uma forma ESPECÍFICA de socialismo.

Agora que entendemos o básico do que preconiza uma ideologia comunista e um regime ditatorial, vamos fazer um pequeno exercício usando como exemplo uma ilha caribenha que vive uma ebulição social e que sempre é citada como exemplo de regime comunista.

Vamos exercitar juntos alguns questionamentos que poderão colaborar no entendimento da distinção entre os dois sistemas:

  1. Na ilha de Cuba existem classes sociais? Ou seja, lá, como no resto do mundo, existe uma parte majoritária da população que é muito pobre e outra minoritária formada por uma casta de cidadãos abonados?

  2. Na ilha de Cuba existe a presença do Estado? Ou seja, lá existe representante ou representantes que concentram direitos políticos e determinam leis e regras que devem ser obedecidas por seus cidadãos?

Se a resposta para uma das perguntas acima for "SIM", poderemos afirmar que Cuba NÃO é COMUNISTA, mas sim uma DITADURA. Afinal, na utópica visão idealista do comunismo, a sociedade não pode ser dividida em classes sociais distintas. Tampouco, nessa sociedade, poderia haver a presença do Estado.

Sigamos com nossos questionamentos.

  1. Na ilha de Cuba, o governo concentra todos os poderes do Estado? Por exemplo, o governante cubano impõe ao seu povo leis que limitam suas liberdades?

  2. O governo cubano não admite oposição aos seus atos e ideias e tem poder absoluto de decisão?

Se a resposta para uma das perguntas acima for SIM, será a confirmação de que Cuba é uma DITADURA e não COMUNISTA. Pois, na utópica visão idealizada do comunismo, não existiria um governo com poderes de impor limites à liberdade do seu povo. Tampouco, na utopia comunista, haveria situação ou oposição. Afinal, entende-se por comunismo, conforme citado acima, a ausência total de Estado.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Hitler era de extrema direita, sim



Leia aqui o porque do ódio de Adolf Hitler aos judeus. 

Dizer que Hitler era de extrema-direita é igual dizer que a grama é verde. Dizer que Hitler era outra coisa no espectro político é igual dizer que a grama é azul. Há alguns anos, parecia impensável que um dia haveria um forte movimento de opinião dizendo algo parecido com dizer que a grama é azul. Mas infelizmente, o mundo em que vivemos atualmente está muito parecido com um hospício. Por isso, ficou necessário explicar didaticamente porque a grama é verde, ops, porque Hitler era de extrema-direita. E, com licença para usar uma gíria, o problema foi que deram mole. Quando apareceram os primeiros malucos falando que Hitler era de esquerda, foram ignorados, porque achava-se que pouquíssimos acreditariam nesta patacoada. Aí o monstro cresceu e já foi possível ver amigos virtuais dizendo que conhecem adolescentes que pensam que Hitler era de esquerda.

Há dois revisionismos sobre a história do nazismo que pilantras praticam por motivos políticos e que plateias aparecem porque, conforme dito no parágrafo anterior, o mundo está cada vez mais parecido com um hospício. Um revisionismo é o de que o Holocausto não existiu. O outro é o de que o nazismo seria de esquerda. O primeiro é o pior por desrespeitar vítimas de uma atrocidade. Mas o segundo não deixa de ser abjeto. E possui maior probabilidade de iludir pessoas. Portanto, este texto discute um pouco este revisionismo.

Os difusores deste revisionismo consistem em uma grande corrente de “pensadores” de direita e de usuários de Internet que seguem esses pensadores, que divulgam a patacoada de que o nazismo seria de esquerda com um simples objetivo: se livrar do filho feio. Como ninguém (ou melhor, quase ninguém) acha que o nazismo foi bom, é melhor esconder o fato de que o nazismo foi de direita para que o nome da direita não fique manchado. Estranhamente, alguns desses “pensadores” elogiam o Generalíssimo Franco, aquele que teve ajuda das forças armadas de Hitler para chegar ao poder. Apologistas do revisionismo de que Hitler era de esquerda são, em geral, discípulos do "mestre" Olavo de Carvalho, que por sua vez tem simpatia pelo Generalíssimo Franco. Entenderam alguma coisa? Os argumentos dos revisionistas são: 
  • O nome: Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP)
  • A cor vermelha da bandeira do partido
  • As políticas econômicas keynesianas
  • Documentos do partido com retórica anticapitalista

Revisionistas se inspiram em textos de figuras de "grande contribuição" intelectual para a humanidade como Rodrigo Constantino e Leandro Narloch.

Bom, o que dizer disso? Nome de partido não quer necessariamente dizer conteúdo, vide os inúmeros exemplos de partidos brasileiros atuais. E mesmo se o socialismo for verdadeiro, pode significar anti-liberalismo, e não necessariamente igualitarismo.

Sobre as políticas keynesianas, elas não são necessariamente de esquerda. As políticas econômicas keynesianas têm dois objetivos. O primeiro é combater recessões causadas por insuficiência de demanda. O segundo é combater a elevada concentração de renda gerada pelo capitalismo. Somente as políticas para atingir esse segundo objetivo são necessariamente de esquerda. Esse tipo de política não foi praticado pelos nazistas. Eles fizeram apenas políticas de fomento à demanda, que podem ser praticadas tanto por governos de esquerda, quanto pelos de direita. Em geral, governos de direita fazem política de demanda através dos gastos militares. Foi o que fizeram os nazistas. Políticas econômicas keynesianas de governos de esquerda ajudam a reduzir a concentração de renda. As políticas econômicas dos nazistas contribuíram para aumentar a concentração de renda da Alemanha entre 1933 e 1939. Houve congelamento de salários e aumento de lucros. O intervencionismo nacional socialista não pareceu o que seria depois a social democracia europeia do imediato pós guerra. Pareceu o que seria o Brasil do Médici. Foi um intervencionismo favorável ao capital, e não ao trabalho. Este artigo (procurar por “Uma interpretação do primeiro milagre econômico alemão 1933-1944”, de Ricardo Feijó), escrito em 2009, descreve bem as políticas econômicas praticadas no Terceiro Reich.

Ainda que as políticas nazistas fossem completamente estatizantes, elas não seriam de esquerda só por causa disso. E, além disso, essas políticas não foram completamente estatizantes. Sim, isso mesmo, houve um programa de privatizações na Alemanha de Hitler. E mais: o aproveitamento do trabalho escravo de prisioneiros em campos de concentração pelos grandes conglomerados alemães é um precursor da privatização dos presídios.

Sobre a retórica anticapitalista, isto não é contraditório com direita, pois direita tem mais a ver com hierarquia e tradição do que com capitalismo. Críticas ao capitalismo não são apenas marxistas. Críticas tradicionalistas ao capitalismo existem desde quando existe capitalismo. Ainda assim, capitalismo acabou combinando bem com hierarquia e tradição. Gostar mais de aristocrata do que de capitalista não é contraditório com defender a manutenção da ordem capitalista. E mesmo com a retórica inicial do partido, houve um relacionamento muito amigável entre capitalistas alemães e nazistas no Terceiro Reich.

O que ajuda muito na compreensão sobre o posicionamento do Nacional Socialismo no espectro político é observar documentos históricos. A matéria da Folha da Manhã do dia 1 de fevereiro de 1933, dia seguinte à chegada do Hitler ao poder, mostra muito bem quem estava a favor e quem estava contra. (Clique para ampliar)


É possível ver perfeitamente que os comunistas e os socialistas (SPD) estavam contra a formação do governo nazista e que o capital financeiro e o ex-kaiser estavam a favor. O SPD e o KPD (Partido Comunista) não endossaram a ascensão de Hitler ao poder, e os partidos conservadores endossaram. O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) nunca obteve maioria absoluta no Parlamento, o apoio de outros conservadores foi fundamental. O político conservador Franz von Papen, chanceler em 1932, participou do início do governo Hitler. Logo em 1933, começaram as prisões de comunistas.

Alguns acreditam que o NSDAP conseguiu atrair ex-comunistas. Não parece que tenham sido muitos. O gráfico a seguir mostra a evolução da votação dos partidos nas eleições parlamentares da República de Weimar.

Verifica-se claramente que a soma da votação na esquerda, composta pelo KPD e pelo SPD, sempre foi estável, oscilando na restrita faixa entre 33% e 40% (o que mudou foi só a composição: em anos de crise, como 1924 e 1932, o KPD foi bem, em ano de prosperidade, que foi 1928, o SPD teve seu melhor desempenho, mas esta informação não é necessária para colocar no gráfico, porque já vai além do assunto do texto, por isso os números dos partidos de esquerda aparecem somados). Um forte declínio da votação dos partidos conservadores convencionais (Centro, Partido Nacional Popular Alemão, Partido Popular da Baviera) foi acompanhado de uma forte elevação da votação dos Partido Nacional Socialista de 1928 a 1932. Ou seja, há forte indício de que o NSDAP herdou eleitores dos outros partidos conservadores.

Os nazistas tinham seu braço anticapitalista, a SA. Mas esta foi deixada de lado por Hitler logo em 1934. E mesmo anticapitalista, a SA também era anticomunista. Durante a República de Weimar, a SA saía na porrada nas ruas contra a Roter Frontkämpferbund, o braço paramilitar do KPD.

Quem fala que os nazistas eram de esquerda gosta também de lembrar o pacto germano soviético de 1939. Mas a verdade é que este pacto não foi ideológico, só foi de conveniência para ambos os lados. Hitler não queria guerra em duas frentes, e além de tudo, precisava de suprimentos de matéria primas, que a União Soviética poderia fornecer. Stálin previa que o pacto seria quebrado, mas considerou-o vantajoso porque haveria um tempo adicional para preparar seus exércitos. Não apenas entre 1941 e 1945, mas também entre 1933 e 1939, a Alemanha Nazista e a União Soviética eram grandes inimigos. A maior evidência disso se viu durante a Guerra Civil Espanhola, em que cada um apoiou um lado. Durante a República de Weimar, que precedeu a era de Hitler, a Alemanha e a União Soviética tinham relações diplomáticas e econômicas razoavelmente boas. 

O comércio entre Alemanha e União Soviética caiu bruscamente a partir de 1933, e só teve um pequeno momento de elevação entre 1939 e 1941. Atualmente, os neonazistas são chamados na Alemanha de rechtsradikale (a tradução é radicais de direita). Eles certamente não gostariam de ser chamados de esquerdistas. Aqui no Brasil, o adolescente que quer mostrar “mamãe, sou radical de direita” ainda não sabe se vai virar neonazista ou se vai rejeitar de boca pra fora o nazismo e dizer que “o nazismo é de esquerda”.

Não apenas os revisionistas são perigosos, como também os moderate heroes. Estes diriam que “Hitler não era de esquerda, mas também não era de direita, o nazismo é complexo demais para ser enquadrado no espectro esquerda/direita”. Opiniões do meio também podem ser mentirosas. O nazismo pode ter sido complexo em algumas coisas, mas não no espectro esquerda/direita. Não há qualquer dificuldade em considerá-lo integrante da direita.

História não é uma ciência exata. Admite interpretações diferentes de fatos. Mas não admite negação de fatos. Quem diz que o Holocausto não existiu ou que Hitler não era de extrema-direita não está tendo uma “opinião”, está simplesmente errado. Acadêmicos sérios não deveriam debater, e sim boicotar quem nega o Holocausto ou quem nega que Hitler era de extrema-direita. Eventos acadêmicos que contam com a presença de pessoas conhecidas por defender estes negacionismos devem ser esvaziados.

Escrevi este texto com o objetivo de ser leitura fácil, para que quem tiver algum parente ou amigo, principalmente jovem, que está começando a se interessar por História, por Política, por Sociologia, por Economia, e soltar o absurdo de que Hitler era de esquerda, envie este texto para esclarecimentos.

Via: Trincheiras 

A preocupação de Hitler com o comunismo e o seu ódio pelo povo judeu

A liderança judaica na Revolução Bolchevique e o início do Regime soviético - por Mark Weber

Institute for Historical Review


Avaliando o sinistro legado do comunismo soviético.

Por Mark Weber

Na noite de 16-17 de julho de 1918, uma esquadra da polícia secreta Bolchevique assassinou o último imperador da Rússia, o Czar Nicolau II, junto com sua esposa, a Czarina Alexandra, seu filho mais velho de 14 anos, o Tsaverich1 Alexis, e suas quatro filhas. Eles foram abatidos numa salva de balas num pequeno espaço de um cômodo da casa em Ecaterimburgo, uma cidade na região dos Montes Urais, onde eles estavam mantidos como prisioneiros. A complementação da execução das filhas foi feita com baionetas. Para prevenir o culto ao Czar morto, os corpos foram descartados para o campo aberto e apressadamente enterrados em um túmulo secreto.

As autoridades Bolcheviques inicialmente relataram que o imperador Romanov tinha sido baleado após a descoberta de um plano para liberar ele. Por algum tempo as mortes da Imperatriz e das crianças foram mantidas em segredo. Historiadores soviéticos alegaram por muitos anos que bolcheviques locais tinham atuado pela própria responsabilidade na matança, e que Lenin, fundador do Estado Soviético, não tinha nada a ver com o crime.

Em 1990, o dramaturgo e historiador Edvard Radzinsky anunciou o resultado de sua detalhada investigação sobre os assassinos. Ele descobriu reminiscências do guarda costa de Lenin, Alexei Akimov, quem recontou como ele pessoalmente transmitiu do escritório de telégrafo a ordem de Lenin para execução. O telegrama foi também assinado pelo chefe do governo soviético Yakov Sverdlov. Akimov tinha salvado a fita do telegrama original como o relato da ordem secreta.

A pesquisa de Radzinsky confirmou o que as evidencias prévias tinham já indicado. Leon Trotsky – um dos mais próximos colegas de Lenin – tinha revelado anos atrás que Lenin e Sverdlov tinham juntos feito a decisão de sentenciar à morte o Czar e a família dele. Relembrando esta conversação em 1918, Trotsky escreveu:

Minha próxima visita para Moscou pegou lugar após [temporária] queda de Ecaterimburgo [para as forças anti-comunistas]. Falando com Sverdlov, eu perguntei em passagem: “Oh sim, e onde está o Czar?”
“Finalizado” ele respondeu. “Ele foi baleado.”
“E onde está a família?”
“A família foi junto com ele.”
“Todos eles?” eu perguntei, aparentemente com um traço de surpresa.
“Todos eles” respondeu Sverdlov. “E então?” Ele estava esperando ver minha reação. Eu não dei nenhuma resposta.
“E quem fez a decisão?” Eu perguntei.
“Nós decidimos isso aqui. Ilyich [Lenin] acreditou que nos não deveríamos deixar os Brancos com algum símbolo para reuni-los, especialmente sobre as difíceis circunstâncias presentes.”

Eu não questionei nada além e considerei a questão encerrada.
Leon Trotsky - o judeu líder do exército soviético (o Exército Vermelho) escreveu: "A decisão [matar a família imperial] não foi somente um expediente rotineiro mas foi necessário."

Recente pesquisa e investigação por Radzinsky e outros, também corroboraram os relatos fornecidos em anos prévios por Robert Wilton, correspondente do London Times na Rússia por 17 anos. Seus relato, The Last Days of the Romanovs – originalmente publicados em 1920, e relançado em 1993 pelo Institute for Historical Review – é baseado em maior parte nos achados de uma detalhada investigação iniciada em 1919 por Nikolai Sokolov sobre a autoridade do Líder “Branco” (anti-Comunista) Alexander Kolchak. O livro de Wilton permanece um dos mais precisos e completos relatos do assassinato da família imperial da Rússia.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Hitler e a repressão ao Partido Comunista da Alemanha


Contradizendo uma minoria que tenta colocar o nazismo como sendo de esquerda, o evento de 8 de março de 1933, quando Hitler aumentou a repressão ao Partido Comunista da Alemanha, cassando os mandatos de seus deputados, prendendo ou perseguindo seus dirigentes e, uma semana depois, proibindo a agremiação, é uma prova incontestável de que essa afirmativa é um grande equívoco.

A tropa de assalto nazista marchou com suas tochas pelo Portão de Brandemburgo em 30 de janeiro de 1933, dia em que Hitler foi nomeado chanceler. Políticos conservadores não acreditavam que ele permanecesse por muito tempo no poder. Mas o homem do uniforme marrom estava obcecado pela conquista do mundo e começou amplas reformas na Alemanha.

Poucos dias depois, no final de fevereiro, o Reichstag (sede do Parlamento) foi destruído por um incêndio, provavelmente um atentado de um anarquista isolado. Os nazistas aproveitaram a situação para impor uma série de medidas repressivas, alegando a "segurança da população".

O ministro Hermann Göring apresentou as novas medidas, voltadas principalmente contra os comunistas, considerados por Hitler mentores do atentado incendiário. A SA (tropa de assalto) começou a sequestrar, torturar, matar e confinar em campos de concentração o mais rápido possível todos os críticos ao regime.

Wilhelm Pieck, membro do Comitê Central, já havia advertido para o perigo nazista em 1932. Num apelo aos seus camaradas, sugeriu a movimentação em massa contra os fascistas e defendeu a aliança com a União Soviética.

Imposição da lei de plenos poderes
No dia 15 de março de 1933, o Partido Comunista Alemão (KPD) foi proibido. Cada vez mais comunistas foram presos, muitos continuaram tentando trabalhar na ilegalidade. O ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, prometeu que não deixaria a perseguição aos opositores apenas ao encargo da polícia.

Como o partido de Hitler havia obtido 44% dos votos nas eleições do começo de março e não possuísse maioria no Parlamento, no final do mesmo mês os nazistas impuseram a lei de plenos poderes. Por decreto, o regime garantiu para si poderes absolutos, proibindo partidos e sindicatos.

Goebbels estava satisfeito com a perseguição aos comunistas, eliminados nos campos de concentração. Seu ódio era tanto que não lhe bastava o desmantelamento da agremiação.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o movimento esquerdista reorganizou-se. Na Alemanha Oriental, comunistas e socialdemocratas criaram o Partido Socialista Unitário. Embora os líderes do partido considerassem esta união uma consequência natural do passado recente, milhares de socialdemocratas rejeitaram a aliança.

Na Alemanha Ocidental, o Partido Comunista foi refundado, mas o KPD voltou a ser proibido em 1956, pelo Tribunal Federal Constitucional. Seus juízes consideraram os ideais marxistas leninistas incompatíveis com os valores democráticos.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O grito idiota de “Vai pra Cuba” foi para o espaço com a reaproximação de Obama


por : Kiko Nogueira no DCM

O grito de guerra “Vai pra Cuba” foi ferido de morte na tarde de quarta feira, 17 de dezembro.

Num pronunciamento, Obama anunciou medidas para normalizar as relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba mais de 50 anos depois da ruptura.

Parte do acordo incluiu uma troca de prisioneiros: os cubanos libertaram Alan Gross, preso há cinco anos por espionagem, e um agente cujo nome não foi revelado. Os americanos soltaram três cubanos.

“O isolamento não funcionou”, disse Obama. “Está na hora de uma nova abordagem”.

O embargo econômico continua, mas haverá um esforço no sentido de amenizá-lo. Os EUA restabelecerão uma embaixada em Havana. Viagens de americanos serão “flexibilizadas”, o limite de dinheiro enviado sobe de 500 para 2 mil dólares, empresas de telecomunicações poderão se instalar na ilha. Será revisto o status de Cuba como “estado patrocinador do terrorismo”.

No dia do seu aniversário Papa Francisco faz seu primeiro milagre reaproximando EUA de Cuba




Papa teve papel crucial na aproximação

O papa Francisco e o Vaticano tiveram um papel essencial, intermediando a aproximação histórica entre Estados Unidos e Cuba, indicou um funcionário americano de alto escalão. O Papa fez um apelo pessoal a Barack Obama em uma carta enviada neste verão (do Hemisfério Norte) e se comunicou com Raúl Castro em outra correspondência enviada separadamente. Além disso, o Vaticano recebeu delegações de ambos os países para concluir a aproximação.


"Esses 50 anos mostraram que isolamento não funcionou", diz Obama sobre Cuba

Depois de mais de 50 anos de ruptura, os Estados Unidos e Cuba iniciam a retomada de relações diplomáticas, informaram ambos os países nesta quarta-feira (17).

 

O presidente Barack Obama, anuncia
uma mudança na política em relação
a Cuba em discurso na Casa Branca
"Pretendemos criar um novo capítulo nas relações entre os países", disse o presidente norte-americano, Barack Obama, ao abrir o seu discurso.

Ele destacou que a barreira ideológica e econômica entre os dois países, desde 1961, não faz mais sentido, em referência ao regime socialista da ilha. Obama citou que o país "deve se preocupar com ameaças reais, como os grupos extremistas Al Qaeda e Estado Islâmico".

"Esses 50 anos mostraram que o isolamento não funcionou, é tempo de outra atitude", frisou Obama. No seu discurso, Obama usou expressões em espanhol. "Os cubanos têm um ditado: 'No és facil', ou 'não é fácil', mas hoje os Estados Unidos querem ser um parceiro no sentido de tornar a vida dos cubanos comuns um pouco mais fácil, mais livre, mais próspera", disse. "Todos somos americanos", concluiu em espanhol. 

Ao mesmo tempo em que Obama anunciava a retomada de relações com Cuba, o presidente da ilha, Raúl Castro, falava aos cubanos. Em Havana, o líder destacou que o governo concordou em restabelecer as relações diplomáticas e que havia proposto aos EUA "a adoção de medidas neutras baseadas nas leis cubanas" neste processo.

Castro enfatizou, entretanto, que "há ainda muito trabalho a ser feito". "O embargo continua por enquanto, causando prejuízos enormes ao nosso povo. Isso precisa acabar."

Obama e Castro já haviam conversado mais cedo nesta terça-feira (16) por telefone para discutir os planos da libertação do cidadão norte-americano Alan Gross, um agente de inteligência e de três cubanos presos nos Estados Unidos.

Entre as mudanças previstas, estão o relaxamento no fluxo de comércio, com o aumento do valor de dinheiro que pode ser enviado dos EUA para Cuba, bem como a facilitação de viagens de cidadãos daquele país à ilha. 

Os EUA planejam também abrir uma embaixada em Cuba como parte de seus planos para normalizar as relações com o país de Castro. Obama designou o secretário de Estado, John Kerry, para iniciar negociações imediatas com Cuba.

A suspensão do embargo econômico à ilha dependerá, lembrou Obama, da aprovação do Congresso de seu país. O político pediu que a Casa inicie um debate "honesto" e "sério" sobre o tema. Em 1960, os Estados Unidos impuseram um embargo comercial contra Cuba – o adversário da Guerra Fria mais próximo de sua costa. 

Libertação de presos

Cuba soltou o norte-americano Alan Gross, 65, após cinco anos de prisão. Após ser preso em 3 de dezembro de 2009, o norte-americano foi condenado a 15 anos de prisão em 2011 pelo que o governo cubano descreveu como "ações contra a integridade territorial do Estado". Ele sofre de diabetes e teve suas condições de saúde agravadas com a prisão.

Cuba também está libertando um agente de inteligência norte-americano detido por quase 20 anos.

O governo dos Estados Unidos libertou três agentes de inteligência cubanos, presos desde 1998: Gerardo Hernandez, 49, Antonio Guerrero, 56, e Ramon Labañino, 51. Dois outros foram libertados antes de cumprirem a sentença toda: Rene Gonzalez, 58, e Fernando Gonzalez, 51. No entanto, segundo o "New York Times" apurou com fontes diplomáticas americanas, essa não foi uma "troca de prisioneiros". (Com agências internacionais)

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Dag Vulpi

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