Leia aqui o porque do ódio de Adolf Hitler aos judeus.
Dizer que
Hitler era de extrema-direita é igual dizer que a grama é verde. Dizer que
Hitler era outra coisa no espectro político é igual dizer que a grama é azul.
Há alguns anos, parecia impensável que um dia haveria um forte movimento de
opinião dizendo algo parecido com dizer que a grama é azul. Mas infelizmente, o
mundo em que vivemos atualmente está muito parecido com um hospício. Por isso,
ficou necessário explicar didaticamente porque a grama é verde, ops, porque
Hitler era de extrema-direita. E, com licença para usar uma gíria, o problema
foi que deram mole. Quando apareceram os primeiros malucos falando que Hitler
era de esquerda, foram ignorados, porque achava-se que pouquíssimos
acreditariam nesta patacoada. Aí o monstro cresceu e já foi possível ver amigos
virtuais dizendo que conhecem adolescentes que pensam que Hitler era de
esquerda.
Há dois
revisionismos sobre a história do nazismo que pilantras praticam por motivos
políticos e que plateias aparecem porque, conforme dito no parágrafo anterior,
o mundo está cada vez mais parecido com um hospício. Um revisionismo é o
de que o Holocausto não existiu. O outro é o de que o nazismo seria de
esquerda. O primeiro é o pior por desrespeitar vítimas de uma atrocidade. Mas o
segundo não deixa de ser abjeto. E possui maior probabilidade de iludir
pessoas. Portanto, este texto discute um pouco este revisionismo.
Os difusores
deste revisionismo consistem em uma grande corrente de “pensadores” de direita
e de usuários de Internet que seguem esses pensadores, que divulgam
a patacoada de que o nazismo seria de esquerda com um simples objetivo: se
livrar do filho feio. Como ninguém (ou melhor, quase ninguém) acha que o
nazismo foi bom, é melhor esconder o fato de que o nazismo foi de direita para
que o nome da direita não fique manchado. Estranhamente, alguns desses
“pensadores” elogiam o Generalíssimo Franco, aquele que teve ajuda das forças
armadas de Hitler para chegar ao poder. Apologistas do revisionismo de que
Hitler era de esquerda são, em geral, discípulos do "mestre" Olavo de Carvalho,
que por sua vez tem simpatia pelo Generalíssimo Franco. Entenderam alguma
coisa? Os argumentos dos revisionistas são:
- O nome: Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP)
- A cor vermelha da bandeira do partido
- As políticas econômicas keynesianas
- Documentos do partido com retórica anticapitalista
Revisionistas
se inspiram em textos de figuras de "grande contribuição" intelectual para a
humanidade como Rodrigo Constantino e Leandro Narloch.
Bom, o que
dizer disso? Nome de partido não quer necessariamente dizer conteúdo, vide os
inúmeros exemplos de partidos brasileiros atuais. E mesmo se o socialismo for
verdadeiro, pode significar anti-liberalismo, e não necessariamente
igualitarismo.
Sobre as
políticas keynesianas, elas não são necessariamente de esquerda. As políticas
econômicas keynesianas têm dois objetivos. O primeiro é combater recessões
causadas por insuficiência de demanda. O segundo é combater a elevada
concentração de renda gerada pelo capitalismo. Somente as políticas para
atingir esse segundo objetivo são necessariamente de esquerda. Esse tipo de
política não foi praticado pelos nazistas. Eles fizeram apenas políticas de
fomento à demanda, que podem ser praticadas tanto por governos de
esquerda, quanto pelos de direita. Em geral, governos de direita fazem política
de demanda através dos gastos militares. Foi o que fizeram os nazistas.
Políticas econômicas keynesianas de governos de esquerda ajudam a reduzir a
concentração de renda. As políticas econômicas dos nazistas contribuíram para
aumentar a concentração de renda da Alemanha entre 1933 e 1939. Houve
congelamento de salários e aumento de lucros. O intervencionismo nacional
socialista não pareceu o que seria depois a social democracia europeia do
imediato pós guerra. Pareceu o que seria o Brasil do Médici. Foi um
intervencionismo favorável ao capital, e não ao trabalho. Este artigo (procurar
por “Uma interpretação do primeiro milagre econômico alemão 1933-1944”, de
Ricardo Feijó), escrito em 2009, descreve bem as políticas econômicas
praticadas no Terceiro Reich.
Ainda que as
políticas nazistas fossem completamente estatizantes, elas não seriam de
esquerda só por causa disso. E, além disso, essas políticas não foram
completamente estatizantes. Sim, isso mesmo,
houve um programa de privatizações na Alemanha de Hitler. E mais: o
aproveitamento do trabalho escravo de prisioneiros em campos de concentração
pelos grandes conglomerados alemães é um precursor da privatização dos
presídios.
Sobre a retórica
anticapitalista, isto não é contraditório com direita, pois direita tem mais a
ver com hierarquia e tradição do que com capitalismo. Críticas ao capitalismo
não são apenas marxistas. Críticas tradicionalistas ao capitalismo existem
desde quando existe capitalismo. Ainda assim, capitalismo acabou combinando bem
com hierarquia e tradição. Gostar mais de aristocrata do que de capitalista não
é contraditório com defender a manutenção da ordem capitalista. E mesmo com a
retórica inicial do partido, houve um relacionamento muito amigável entre
capitalistas alemães e nazistas no Terceiro Reich.
O que ajuda
muito na compreensão sobre o posicionamento do Nacional Socialismo no espectro
político é observar documentos históricos. A matéria da Folha da Manhã do dia 1
de fevereiro de 1933, dia seguinte à chegada do Hitler ao poder, mostra muito
bem quem estava a favor e quem estava contra. (Clique para ampliar)
É possível ver
perfeitamente que os comunistas e os socialistas (SPD) estavam contra a
formação do governo nazista e que o capital financeiro e o ex-kaiser estavam a
favor. O SPD e o KPD (Partido Comunista) não endossaram a ascensão de Hitler ao
poder, e os partidos conservadores endossaram. O Partido Nacional Socialista
dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) nunca obteve maioria absoluta no Parlamento,
o apoio de outros conservadores foi fundamental. O político conservador Franz
von Papen, chanceler em 1932, participou do início do governo Hitler. Logo em
1933, começaram as prisões de comunistas.
Alguns
acreditam que o NSDAP conseguiu atrair ex-comunistas. Não parece que tenham
sido muitos. O gráfico a seguir mostra a evolução da votação dos partidos nas
eleições parlamentares da República de Weimar.
Verifica-se
claramente que a soma da votação na esquerda, composta pelo KPD e pelo SPD,
sempre foi estável, oscilando na restrita faixa entre 33% e 40% (o que mudou
foi só a composição: em anos de crise, como 1924 e 1932, o KPD foi bem, em ano
de prosperidade, que foi 1928, o SPD teve seu melhor desempenho, mas esta informação
não é necessária para colocar no gráfico, porque já vai além do assunto do
texto, por isso os números dos partidos de esquerda aparecem somados). Um forte
declínio da votação dos partidos conservadores convencionais (Centro, Partido
Nacional Popular Alemão, Partido Popular da Baviera) foi acompanhado de uma
forte elevação da votação dos Partido Nacional Socialista de 1928 a 1932. Ou
seja, há forte indício de que o NSDAP herdou eleitores dos outros partidos
conservadores.
Os nazistas
tinham seu braço anticapitalista, a SA. Mas esta foi deixada de lado por Hitler
logo em 1934. E mesmo anticapitalista, a SA também era anticomunista. Durante a
República de Weimar, a SA saía na porrada nas ruas contra a Roter
Frontkämpferbund, o braço paramilitar do KPD.
Quem fala que
os nazistas eram de esquerda gosta também de lembrar o pacto germano soviético
de 1939. Mas a verdade é que este pacto não foi ideológico, só foi de
conveniência para ambos os lados. Hitler não queria guerra em duas frentes, e
além de tudo, precisava de suprimentos de matéria primas, que a União Soviética
poderia fornecer. Stálin previa que o pacto seria quebrado, mas considerou-o
vantajoso porque haveria um tempo adicional para preparar seus exércitos. Não
apenas entre 1941 e 1945, mas também entre 1933 e 1939, a Alemanha Nazista e a
União Soviética eram grandes inimigos. A maior evidência disso se viu durante a
Guerra Civil Espanhola, em que cada um apoiou um lado. Durante a República de
Weimar, que precedeu a era de Hitler, a Alemanha e a União Soviética tinham
relações diplomáticas e econômicas razoavelmente boas.
O comércio entre
Alemanha e União Soviética caiu bruscamente a partir de 1933, e só teve um
pequeno momento de elevação entre 1939 e 1941. Atualmente, os neonazistas são
chamados na Alemanha de rechtsradikale (a tradução é radicais de
direita). Eles certamente não gostariam de ser chamados de esquerdistas. Aqui
no Brasil, o adolescente que quer mostrar “mamãe, sou radical de direita” ainda
não sabe se vai virar neonazista ou se vai rejeitar de boca pra fora o nazismo
e dizer que “o nazismo é de esquerda”.
Não apenas os
revisionistas são perigosos, como também os moderate heroes. Estes diriam
que “Hitler não era de esquerda, mas também não era de direita, o nazismo é
complexo demais para ser enquadrado no espectro esquerda/direita”. Opiniões do
meio também podem ser mentirosas. O nazismo pode ter sido complexo em algumas
coisas, mas não no espectro esquerda/direita. Não há qualquer dificuldade em
considerá-lo integrante da direita.
História não é
uma ciência exata. Admite interpretações diferentes de fatos. Mas não admite
negação de fatos. Quem diz que o Holocausto não existiu ou que Hitler não era
de extrema-direita não está tendo uma “opinião”, está simplesmente errado.
Acadêmicos sérios não deveriam debater, e sim boicotar quem nega o Holocausto
ou quem nega que Hitler era de extrema-direita. Eventos acadêmicos que contam
com a presença de pessoas conhecidas por defender estes negacionismos devem ser
esvaziados.
Escrevi este
texto com o objetivo de ser leitura fácil, para que quem tiver algum parente ou
amigo, principalmente jovem, que está começando a se interessar por História,
por Política, por Sociologia, por Economia, e soltar o absurdo de que Hitler
era de esquerda, envie este texto para esclarecimentos.
direita ou esquerda !!!
ResponderExcluirinteressa o que ele fez.
Boa tarde meu caro Ivan.
ExcluirCertamente que o mais grave foi o que ele fez. Independendo se de direita ou de esquerda, suas atrocidades jamais serão justificadas. Mas o que está em questão, e é o que procura esclarecer, é que, ao contrário do que os direitistas afirmam, Hitler era de direita. Infelizmente algumas pessoas, as mais reacionárias, procuram à todo o custo, colar a imagem de tudo que é ruim com a esquerda e, tudo que serve como sendo de direita. No caso especifico há uma corrente que vem insistindo em tentar colocar o Hitler e todas as suas mazelas na conta da esquerda, porém, conforme pode ser comprovado nos dois artigos que publiquei ontem, fica evidente que, o ódio desproporcional de Hitler aos judeus se deu pelo fato de aqueles serem os criadores do comunismo na URSS e que, estava se alastrando por toda a Europa.
Abração
essa briga de psdb e pt.....vai acabar com o Brasil
ResponderExcluirja começou.
Concordo com você, mas entendo que o que está de fato acabando com o Brasil, neste aspecto, é essa guerra direita x esquerda. Desde que Lula se elegeu pela primeira vez em 2002, teve inicio, por parte da ala mais conservadora essa ideia insistente de que a esquerda brasileira estaria tentando à todo o custo implantar o comunismo no Brasil. Bem, certamente que tempo para isso a esquerda teria, caso fosse essa a intensão, afinal foram mais de treze anos à frente da executiva Nacional, porém, nunca se soube de alguma tentativa de o PT implantar o comunismo. O que incomoda, e muito os conservadores, foi a política social implantada pelo governo de esquerda. Nunca havia ocorrido no Brasil políticas voltadas para os menos favorecidos como foram no governo petista. Que houve muitos erros por parte do PT eu concordo, mas nada justificou aquelas falas, inclusive do FHC onde separa o Brasil entre os inteligentes e que sabiam votar, os que votaram nele e residiam principalmente no sudeste, mais precisamente em SP e os ignorantes, os que votaram no Lula, que eram os nada abonados que residiam principalmente no Nordeste. Esses, os que o pessoal de direita queriam vê-los mortos, acabou sendo os mais beneficiados com a política assistencialista do PT. E isso nunca foi perdoado pela elite.
ExcluirOlavo Carvalho falou sobre isso no youtube
ResponderExcluirCerto Ivan,
ExcluirO Olavo de Carvalho não conta com a minha admiração, pois eu entendo que ele é um dos maiores responsáveis por essa divisão direita x esquerda. Ele evidencia em seus comentários, artigos e vídeos o quanto é reacionário e é exatamente este tipo de pessoa que está colaborando para dividir o nosso país.