Dag
Vulpi
Pilatos
disse: "Então, tu és rei?" Jesus respondeu:" Tu
dizes que eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar
testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha
voz". Pilatos lhe disse: "Que é a verdade?" (Jo
18,37-38)
"A
melhor época para o plantio do milho, dependendo da região, vai de
setembro a outubro. Um fazendeiro estava fazendo contas e chegou à
conclusão de que ele precisava plantar em junho, ou no máximo
julho. Percorreu fazendas, conversou com uns e com outros. No geral
todos lhe diziam o que ele já sabia, que a época boa é setembro e
outubro. Começou a pensar em algumas possibilidades, 'e se planto no
vale, e se planto na encosta...?' Mas as respostas não o
satisfaziam: "setembro ou outubro!" Uma tarde, já meio
resignado, tomando café com um velho conhecido, voltou à carga:'
preciso plantar, colher e vender logo, mas se plantar em setembro o
dinheiro vai chegar tarde'. Talvez por pena ou por cansaço o velho
conhecido lhe disse: "ora, julho não é a época, mas às vezes
pode dar sorte com as chuvas e, vai ver, dá certo!".
Em
um mundo inundado por informações e perspectivas diversas, o dilema
do fazendeiro que deseja plantar milho fora da estação ecoa um
questionamento mais amplo sobre a busca da verdade. Da mesma forma
como Pilatos questionou Jesus sobre o que é a verdade, hoje
enfrentamos desafios em discernir entre fatos objetivos e narrativas
emocionais. Esta reflexão explora a era da pós-verdade, fake news e
suas implicações, destacando a importância de responsabilidade e
ética na sociedade contemporânea.
No
contexto atual, a busca pela verdade é mais complexa do que nunca.
Enquanto o fazendeiro fictício contemplava a plantação de milho
fora de temporada, nossa sociedade lida com um dilema semelhante,
onde informações conflitantes e narrativas emocionais muitas vezes
obscurecem a verdade objetiva e
é neste momento que o viés de confirmação de cada indivíduo
sobressai.
A pós-verdade e a disseminação de notícias falsas desafiam nossa
capacidade de discernir o que é real, levando a consequências
profundas em nossas vidas e, consequentemente,
na
sociedade.
No
cenário complexo da sociedade contemporânea, as fake news
emergem como uma força poderosa, moldando de maneira sutil, porém
significativa, a percepção coletiva da realidade. À medida que
informações distorcidas proliferam, a confiança na veracidade dos
dados disponíveis é abalada, contribuindo para um ambiente onde a
verdade muitas vezes se encontra obscurecida.
A
disseminação rápida e viral das fake news é alimentada pelas
plataformas digitais, amplificando seu impacto e desafiando a
capacidade das instituições e indivíduos para discernir entre o
factual e o fabricado. Esse fenômeno mina não apenas a confiança
nas fontes de informação, mas também compromete a base sobre a
qual as decisões individuais e coletivas são tomadas.
A
sociedade, ao confrontar constantemente narrativas contraditórias,
enfrenta o desafio de manter uma compreensão sólida da realidade. A
polarização exacerbada por informações falsas perpetua divisões
e impede o diálogo construtivo. A falsidade se infiltra nos debates
públicos, distorcendo a percepção do que é prioritário e
essencial.
Diante
desse panorama, é imperativo fortalecer a alfabetização midiática
e promover a educação crítica. Ao capacitarmos os indivíduos a
discernir entre fontes confiáveis e enganosas, podemos construir uma
sociedade mais resistente à manipulação da realidade. O combate às
fake news não é apenas uma responsabilidade das plataformas
digitais, mas sim uma tarefa coletiva que exige a participação
ativa de cidadãos conscientes.
A
batalha contra as fake news é uma busca pela preservação da
integridade da verdade e da confiança mútua na sociedade
contemporânea. Somente ao reconhecer e enfrentar esse desafio de
frente, podemos esperar forjar um caminho para uma compreensão mais
clara e fundamentada da realidade que todos compartilhamos.
Neste
cenário, a responsabilidade e a ética tornam-se elementos cruciais
para preservar a busca pela verdade, enquanto enfrentamos a atemporal
pergunta: "Que é a verdade?"