Terminou na última sexta (07/10/2011) o prazo para mudanças nas regras eleitorais.
Ricardo Lewandowski preside sessão no TSE na última quinta (6) (Carlos Humberto./ASICS/TSE) |
Com a reforma política ainda longe
de um consenso no Congresso Nacional, o presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, aposta na aplicação da Lei da Ficha Limpa
para garantir alguma barreira à corrupção nas eleições de 2012.
O problema é que a norma corre o
risco de ser esvaziada no julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que vai
definir sua aplicação.
“A Ficha Limpa é a reforma política
possível no que tange à moralidade dos costumes políticos. Tenho esperança de
que seja levada a julgamento [no plenário do STF] ainda neste mês”, afirmou o
ministro.
Apesar de não tratarem dos mesmos
temas, a Lei da Ficha Limpa e a reforma política, na opinião do ministro, têm
em comum a intenção de evitar e punir irregularidades. A lei, que entrou em
vigor em junho do ano passado, impede a candidatura de políticos condenados por
colegiados ou que tenham renunciado
a mandato eletivo para fugir de cassação.
Já a reforma política discute, entre
outras medidas, fórmulas diferentes para a eleição no Legislativo, regras para
ampliar o financiamento público e limitar ou impedir doações diretas de
empresas a partidos e políticos, entre outras medidas. Para Lewandowski, a
contribuição privada de campanha pode “ensejar corrupção”.
Mesmo que os parlamentares aprovem
mudanças nas leis eleitorais nos próximos meses, as novas regras não valeriam
para as eleições municipais de 2012. Desde a última sexta-feira (7), eventuais
novas leis e modificações nas atuais regras não poderão mais ser aplicadas no
ano que vem, de acordo com o calendário eleitoral.
“Como cidadão, lamento que a reforma
[política] não tenha sido feita. Defendi uma reforma que me parecia
prioritária, incluindo o fim das coligações nas eleições proporcionais [para o
Legislativo], a limitação dos gastos de campanha, o fim do financiamento de
empresas para campanhas políticas, a definição de limites para gastos
eleitorais e a adoção de uma cláusula de desempenho ‘inteligente e razoável’
que impeça a existência de partidos sem consistência política e ideológica”,
disse o presidente do TSE.
Nas eleições de 2010, o TSE
identificou quase 4 mil empresas que doaram, juntas, aproximadamente R$ 142
milhões acima do limite permitido. Por lei, as empresas podem destinar a
campanhas eleitorais até 2% do faturamento bruto do ano anterior.
Os indícios de irregularidades foram
verificados também nas contribuições de pessoas físicas. Segundo o TSE, quase
16 mil são suspeitos de ter extrapolado o limite legal de doações a campanhas
nas eleições do ano passado.
Juntas, pessoas físicas teriam doado
cerca de R$ 72 milhões além do teto permitido (10% dos rendimentos brutos de
cada cidadão no ano anterior).
‘Ficha limpa esvaziada’
Na semana passada, o presidente do
TSE declarou apoio à Marcha contra a Corrupção, marcada para a próxima
quarta-feira (12), em Brasília.
Além de protestar contra a
impunidade, o movimento pretende pressionar o STF para que julgue uma ação em
que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pede que a Corte declare a Ficha
Limpa constitucional.
“Nós, brasileiros, acreditamos que
um novo governo, um novo presidente do Congresso, novos parlamentares, todos
garantiram que fariam a tão esperada reforma política. Mais uma vez a nação
fica frustrada. A sociedade vai ter de se mobilizar”, afirmou o presidente da
entidade, Ophir Cavalcante.
O representante da OAB acredita que
a Lei da Ficha Limpa corre o risco de ser “esvaziada” no Supremo caso não possa
ser aplicada a condenações anteriores à sua vigência.
Outro ponto controverso da norma,
que será avaliado pelo STF, é o fato de punir com a inelegibilidade o político
condenado mesmo antes de se esgotarem as possibilidades de recurso. A Justiça
brasileira entende que uma pessoa só é considerada culpada depois de condenada
em todas as instâncias.
“Se for julgada inconstitucional a
questão da presunção de inocência, a lei perde a eficácia. Ainda existe o risco
de que a lei seja esvaziada. Aí deixa de ter um efeito, frustrando novamente a
sociedade”, alertou Cavalcante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi