Uma
equipe de cientistas mexicanos e holandeses documentou pela primeira vez a
entrada de microplásticos na cadeia alimentar terrestre, graças a um estudo de
campo desenvolvido na reserva da biosfera de Los Petenes (México). As
informações são da agência EFE.
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Apesar
de existirem, há anos, estudos sobre a entrada do plástico na cadeia alimentar
marinha, este seria o primeiro trabalho documentando o fenômeno no entorno
terrestre, disse nesta terça-feira (25) a cientista mexicana Esperanza Huerta.
Ela
apresentou hoje, em Viena, durante reunião da União Europeia de Geociências, o
resultado de um estudo desenvolvido junto à Universidade de Wageningen, na
Holanda. A pesquisadora mostrou que, devido à falta de recolhimento e gestão
dos plásticos, os habitantes da zona de Los Petenes os queimam e enterram no
chão de suas hortas, o que aumenta o risco de microfragmentação.
Para
avaliar a situação, os pesquisadores analisaram em setembro o solo e as
minhocas, as fezes e a moela de galinhas domésticas de 10 hortas dessa reserva
mexicana. Assim, foi possível documentar a presença de plásticos de diminuto
tamanho na terra, dentro das minhocas e nas fezes e na moela das galinhas
analisadas, o que pode representar risco para a saúde humana.
Trabalho pioneiro
"Este
é o primeiro trabalho feito em sistemas terrestres que mostra como o plástico
entra na cadeia alimentar", explicou Esperanza. "Não sei por que não
foi feito [esse tipo de estudo] antes. Talvez não tenha havido consciência para
fazê-lo", acrescentou a pesquisadora, que considerou que as pessoas não
sabiam do potencial perigo do descarte descuidado do plástico.
Esperanza
disse que as minhocas, ao digerir o plástico, ajudam a fracioná-lo, e essa
substância, depois, passa às galinhas que se alimentam dela. As galinhas também
se contaminam diretamente, porque beliscam plásticos que aderem a restos de
comida, acrescentou a pesquisadora.
Ela
ressalatou que, como Los Petenes é uma reserva da biosfera e seus habitantes
recebem educação ambiental, é possível que, em outras regiões, a situação seja
pior. Para Esperanza, o grande problema é o costume de queimar o plástico, o
que agrava a contaminação. "[As pessoas] pensam que, ao queimá-lo resolvem
o problema, mas o plástico, então, fica acessível aos invertebrados do chão e,
se for acessível para eles, é também para o resto da cadeia alimentar. Para as
galinhas, por exemplo. E as pessoas comem galinhas", resumiu.
A
pesquisadora disse que, nas moelas analisadas, foram encontradas
concentrações de microplásticos e lembrou que essa parte da galinha é usada em
diferentes pratos mexicanos. Além disso, pessoas ouvidas por Esperanza
confessaram que não limpavam as moelas por dentro, que somente as lavavam por
fora e depois as coziam, uma prática que a pesquisadora considera preocupante.
Sobre
o possível efeito do consumo de plástico na saúde humana, ela disse que são
necessários mais estudos, mas considera um "grande risco".
Mais mortalidade, menos fertilidade.
Esperanza
Huerta, que é especialista em minhocas, disse que, dependendo da concentração e
do tempo de exposição ao plástico, a mortalidade desses invertebrados aumenta
de forma clara e sua fertilidade se reduz.
Para
a pesquisadora, embora o acesso ao plástico tenha melhorado a vida das pessoas,
sua escassa degradação é um grande problema e deveria haver algum tipo de
regulamento internacional desse material para evitar doenças e a poluição
crescente com o produto.