Jucá
diz que foi uma "derrota para o cansaço"
Numa derrota para a área econômica do governo, o Congresso não conseguiu
concluir a votação da proposta da nova meta fiscal. Às 3h38, depois de mais de
11 horas de duração, a sessão do Congresso caiu por falta de quorum pra votar
um requerimento apresentado pela oposição. O líder do governo no Senado, Romero
Jucá (PMDB-RR), disse que será adotado o "plano B" e será enviado
ainda nesta quinta-feira ao Parlamento o projeto do Orçamento da União de 2018
com base na meta que estava calculada inicialmente para o próximo ano, que era
um rombo de R$ 129 bilhões. A votação do projeto da meta fiscal será retomada
na próxima terça-feira, quando serão votados os dois destaques que ficaram
faltando para a conclusão do processo. O projeto quer alterar a meta de 2017,
de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões, e a de 2018 de R$ 129 bilhões para R$
159 bilhões.
—
Não foi uma derrota do governo, foi uma derrota para o cansaço. Muitos
deputados, 30, 40 deputados não conseguiram chegar, e faz parte do jogo. Foi
uma obstrução legítima, não podemos tirar o mérito da oposição, mas não é nada
que crie qualquer problema para o governo. Pelo contrário, na próxima semana,
vamos votar aqui. Votada na terça, o presidente da República sanciona e, a
partir da sanção, o governo vai ver como ajusta à nova meta sancionada. Manda
um ajuste ao Orçamento, porque até a votação do relatório final é possível
mandar uma correção — disse Jucá.
Na próxima terça-feira, o Congresso deverá concluir a votação, aprovando de vez
a proposta que altera as metas fiscais de 2017 e 2018. Com a aprovação na
terça-feira, atualizando as metas, o governo enviará um projeto retificando a
proposta orçamentária entregue nesta quinta-feira, atualizando as receitas e
despesas de 2018. Jucá evitou falar em derrota, alegando que não é a primeira
vez que uma proposta de Orçamento precisa ser atualizada e que isso pode
ocorrer até dezembro, quando geralmente o Orçamento é votado.
O
Congresso chegou a aprovar já na madrugada o texto-base, e a votação dos cinco
destaques apresentados pela oposição parecia tranquila. Mas no quarto desta foi
necessário realizar uma votação nominal, na qual seria necessária a presença de
257 dos 513 deputados como quórum mínimo. Mas muitos deputados já haviam
deixado a Câmara, e o presidente do Congresso, senador Eunício Oliveira
(PMDB-CE), ficou esperando, sem sucesso.
Eunício
aguardou por quase uma hora para que deputados chegassem, mas apenas 219 registraram
presença. O líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB ),
ficou grudado no telefone tentando localizar deputados, mas muitos não
atenderam ou disseram que iriam demorar para chegar.
—
Estamos há 50 minutos esperando (o quórum). Não há necessidade disso. Entre
ontem e hoje votamos mais de 19 propostas — disse Eunício.
Na
prática, o chamado kit obstrução acabou saindo vitorioso. As votações no
Congresso ocorrem primeiro entre os deputados e depois entre os senadores. O
primeiro revés foi na votação do texto-base. Neste momento, Eunício teve que
repetir a votação depois de muita gritaria da oposição. Com isso, o presidente
do Congresso e o governo perderam muito tempo, que faltou ao final. Neste
momento, os senadores tiveram que ser chamados em Casa.
Destaques
e castanhas na madrugada
A
partir da aprovação do texto-base, começou a apreciação dos cinco destaques
apresentados pela oposição. Na votação do quarto destaque, sobre verbas para a
Saúde, o líder do governo pediu que a votação fosse feita nominalmente, porque
isso seria necessário já no quinto destaque e ele queria ganhar tempo. Mas já
eram quase 3h e o plenário estava vazio.
A aprovação da alteração das metas era considerada fundamental pelo governo
para enviar ainda nesta quinta-feira ao Congresso o projeto do Orçamento da
União de 2018. A aprovação seria um sinal para o mercado da equipe econômica,
que queria sinalizar que estava enviando um Orçamento realista e já com base
nos novos cálculos sobre o rombo fiscal. Pelas regras orçamentárias, o Projeto
da Lei Orçamentária (PLOA) precisa ser enviado ao Congresso até 31 de agosto de
cada ano.
O
Congresso passou dois dias em sessões para limpar a pauta, trancada por vetos
presidenciais, e assim permitir a votação da nova meta fiscal. Na terça-feira,
foram quase dez horas de sessão para votar oito vetos presidenciais. Na
quarta-feira, o presidente do Congresso, deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE),
abriu outra sessão, mas somente depois de a Câmara aprovar a medida provisória
que cria a Taxa de Longo Prazo (TLP), também de interesse do governo.
Nos
bastidores, Eunício e o presidente interino do país, deputado Rodrigo Maia
(DEM-RJ), acertaram que a agenda econômica teria prioridade. O governo teve que
enfrentar o chamado kit obstrução da oposição para entrar na votação das metas.
Durante a madrugada, com o risco de a sessão cair por falta de quórum, o
senador Romero Jucá (PMDB-RR) disparou telefonemas para que senadores voltassem
ao Congresso para garantir a votação.
A oposição comemorou a
derrota.
—
O senhor está jogando a toalha? — disse o líder do PSOL na Câmara, deputado
Glauber Braga (RJ), quando Eunício anunciou que estava encerrando a sessão.
À
espera da chegada de deputados, o presidente do Congresso, Jucá, líderes
partidários se valiam de castanhas, uvas e muito café. O líder Aguinaldo disse
que, àquela hora da madrugada, muitos estavam em jantares e que chegariam.
Eunício chegou a cogitar ficar com a sessão aberta até às sete da manhã, mas o quorum
empacou nos 219.
Vários
líderes e deputados de destaque estavam ausentes. O presidente interino da
Câmara, deputado André Fufuca (PP-MA), por exemplo, não apareceu e não foi
encontrado.
O líder do PMDB, deputado
Baleia Rossi (SP), minimizava a derrota.
—
Não é ruim para o governo. Aprovamos a meta, faltaram os destaques — disse
Baleia.
Ao
apresentar um Orçamento compatível com a meta de R$ 129 bilhões, o governo terá
que inflar receitas para assegurar o resultado. Segundo técnicos da área
econômica, depois de aprovada a revisão das metas, o texto será ajustado para
estimativas mais realistas. Esses técnicos explicam que como o governo tem
pouca margem para rever as projeções de arrecadação de impostos e contribuições
federais (que são calculadas com base em parâmetros como crescimento do Produto
Interno Bruto e inflação) e de despesas (uma vez que a maior parte do Orçamento
é composto por gastos obrigatórios), a saída normalmente é inflar as projeções
com recursos extraordinários de concessões e vendas de ativos.
A
sessão será às 19h de terça-feira, o que deverá enterrar de vez votação de
reforma política na Câmara, na próxima semana.
Do Globo.com