O
foro especial por prerrogativa de função, conhecido popularmente como foro
privilegiado, está na pauta desta semana tanto no Legislativo quanto no
Judiciário.
Está
prevista para hoje (30) a votação em segundo turno, no plenário do Senado, da
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 10/2013, que acaba com a prerrogativa
para a maior parte das autoridades. Caso seja aprovado, o texto mantém o
benefício apenas para os presidentes da República, do Supremo Tribunal Federal
(STF), da Câmara dos Deputados e do Senado.
O
foro privilegiado também é tema previsto na pauta do STF de amanhã (31). Os
ministros devem analisar o processo em que o prefeito de Cabo Frio (RJ), Marquinhos
Mendes, é acusado de compra de votos na eleição de 2008.
O
ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso, propôs uma nova interpretação
para o foro por prerrogativa de função, em que o prefeito não tem esse
benefício para ser julgado. A decisão da Corte neste caso será estendida para
as demais autoridades, como parlamentares e ministros julgados pela Operação
Lava Jato.
O
foro privilegiado foi instituído no Brasil pela Constituição de 1988. Segundo o
cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) David
Fleischer, o objetivo inicial era proteger a imunidade parlamentar durante as
discussões em plenário, “para o parlamentar não ser processado devido às suas
falas", explica. "Décadas atrás, os parlamentares eram processados, e
até presos, porque falavam mal de outros na tribuna. Então, essa posição de
proteger a imunidade parlamentar vem de longe, mas no Brasil virou impunidade
parlamentar”, afirma Fleischer, alegando que o foro privilegiado protege as
autoridades da Justiça.
O que é o foro privilegiado?
Atualmente,
as autoridades do Poder Executivo, como presidente da República e
vice-presidente, ministros de Estado, advogado-geral da União, governadores e
prefeitos, por exemplo, têm direito ao foro privilegiado. Membros do Congresso
Nacional condenados em segundo grau nas infrações comuns também usufruem do
benefício. Eles são julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e só podem ser
presos após condenação definitiva da Corte.
Dados
divulgados no mês passado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria
Legislativa do Senado Federal mostram que no Brasil há, atualmente, 54.990
autoridades com foro especial.
O
texto aprovado em primeiro turno no Senado mantém o foro especial apenas para o
presidente da República e para os presidentes do Supremo Tribunal Federal
(STF), da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Nesse sentido, a PEC acaba
com o foro especial para ministros de estado, governadores, prefeitos,
presidentes de câmaras municipais e assembleias legislativas, presidentes de
tribunais superiores e de justiça dos estados, ministros dos tribunais
superiores e do Tribunal de Contas da União (TCU), procurador-geral da
República, embaixadores, membros de tribunais de contas estaduais e municipais,
integrantes de tribunais regionais, juízes federais e integrantes do Ministério
Público.
A
proposta permite, ainda, a prisão de membros do Congresso Nacional condenados
em segundo grau por infrações comuns. As autoridades manterão o foro apenas nos
crimes de responsabilidade. O texto prevê também a suspensão do presidente da
República de suas funções em caso de infrações penais comuns, a partir do
momento do recebimento da denúncia ou queixa-crime pelo juiz competente. Nos
crimes de responsabilidade, o processo continua o mesmo: a suspensão só ocorre
após a instauração do processo pelo Senado.
O
texto que tramita no Senado mantém a exigência de autorização da Câmara dos
Deputados, por dois terços de seus membros, para o julgamento do presidente da
República. Entretanto, permite que ele seja julgado por um juiz de primeiro
grau, nos crimes comuns. O julgamento por crime de responsabilidade continua a
ser feito pelo Senado.
O
senador Roberto Rocha (PSB-MA) apresentou uma emenda ao texto que será votado
em segundo turno. Ele defende a criação de varas federais especializadas para
julgar as autoridades, com previsão de atender a titulares de mais de 30 mil
cargos.
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