Polícia e
manifestantes entram em confronto na Esplanada dos Ministérios durante protesto
contra o governo do presidente Temer e reformas trabalhista e da Previdência Fabio
Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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A
manifestação Ocupa Brasília, que levou à Esplanada dos Ministérios, no centro
da capital do país, pelo menos 45 mil de pessoas de vários estados, teve início
de forma pacífica, mas terminou em tumulto e quebra-quebra, com depredação de
órgãos públicos, após a ação de vândalos e da atuação da Polícia Militar do
Distrito Federal. O ato, promovido por centrais sindicais e movimentos sociais,
pediu saída do presidente Michel Temer e a rejeição das reformas previdenciária
e trabalhista.
Saiba
mais:
No
início da tarde, os manifestantes chegaram à capital federal e se concentravam
em frente ao Estádio Mané Garrincha, onde a marcha em direção ao Congresso
Nacional teve início. Com cartazes com dizeres como “Diretas Já” e “Mais
Direitos”, os manifestantes gritavam palavras de ordem. Líderes sindicais
revezaram-se em cima de carros de som que acompanharam a marcha. Os dois
sentidos da Esplanada ficaram fechados.
De
acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), 45
mil pessoas participaram do ato. Já a Central Única dos Trabalhadores estimou
que 200 mil manifestantes passaram pelo local ao longo do protesto.
Depredação e confronto
Uma
grande bandeira verde e amarela foi carregada por várias pessoas. Pouco mais de
uma hora depois, com alguns grupos já próximos ao Congresso Nacional, as primeiras
provocações começaram. Um grupo de aproximadamente 20 pessoas mascaradas
começou a jogar pedras nos policiais que formavam um cordão de isolamento
próximo ao gramado em frente ao Congresso e incendiou alguns objetos de
plástico que estavam no local.
Como
resposta, a tropa de choque da Polícia Militar do Distrito Federal disparou
dezenas de bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral em direção à multidão.
Parte
dos projéteis foi direcionada a dois carros de som que estavam estacionados
entre os manifestantes e a tropa de choque. Nos discursos, as lideranças que
estavam nos veículos pediam que os policiais identificassem e reagissem apenas
contra quem os estava provocando. “Parem de atirar contra todos os
trabalhadores”, pediu uma liderança.
Houve
corre-corre e os black blocks mascarados começaram o ataque aos
ministérios. Vidraças, paradas de ônibus, bicicletas e banheiros químicos
foram destruídos. O grupo ainda entrou em confronto com policiais militares
próximo ao Ministério da Agricultura. Acuados, dois policiais fizeram disparo
de armas de fogo em direção da manifestação. O Corpo de Bombeiros atendeu um
manifestante com ferimento à bala.
As
sedes de três ministérios foram incendiadas e, de acordo com a Secretaria de
Segurança Pública, houve depredação em oito prédios, incluindo a Catedral
Metropolitana de Brasília. Oito manifestantes foram conduzidos pelos militares,
por motivos como porte de substância entorpecente, porte de arma branca,
resistência e pichação, lesão corporal e desacato.
Pouco
antes das 17h, o fluxo maior já era de dispersão. Com o avanço das forças
policiais de diferentes pontos, inclusive dos ministérios atingidos, os
manifestantes começaram a recuar em direção da rodoviária do Plano Piloto. Mais
bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas em direção à aglomeração de pessoas.
Segundo relatos de diferentes manifestantes, os disparos partiram também dos
helicópteros da PM, que circulavam em torno da área.
Críticas às reformas
O
servidor público Carlos Abreu, de 56 anos, considerou que o ato foi “positivo”,
com exceção da violência. Para ele, a “repressão” da PM pode colaborar para
“fomentar um movimento maior” no futuro.
“A
reforma trabalhista, colocada em regime de urgência, simplesmente retira
direitos dos trabalhadores conquistados a duras penas. A questão do banco de
horas, por exemplo. O trabalhador está em casa, no banco de horas, o patrão
chama, ele vai, trabalha, três, quatro horas e vai pra casa de novo. Passa dias
ou uma semana, o patrão chama de novo. Ou seja, não tem estabilidade. Não tem
fundo de garantia, absolutamente nada", disse Abreu, que participou do ato
ao lado de dois colegas cearenses representando a Confederação dos Servidores
Públicos Federais (Condsef).
Francisco
Maçal veio de Juazeiro do Norte (CE) participar do protesto e também criticou a
forma como ocorreram os confrontos. “O certo era a polícia ficar resguardando o
patrimônio público e deixar os manifestantes fazerem o ato, como estava sendo
pacífico. Mas a polícia não aceita, quando vê muita gente reivindicando alguma
coisa, quer de todo jeito evadir as pessoas. Isso é um erro gravíssimo, na
minha opinião, das autoridades policiais”, disse.
Após
a manifestação, a estudante Débora Oliveira, de 22 anos, foi para a Rodoviária
do Plano Piloto, no centro de Brasília, onde ocorreu uma nova confusão. Ela diz
que já havia policiais quando chegou ao local e, ao tentar ajudar uma senhora
que tinha sido atingida, um policial utilizou spray de pimenta
diretamente em seu rosto para dispersá-la.
“A
gente chegou à rodoviária com o ato e os manifestantes passaram direto [em
direção ao Mané Garrincha]. As pessoas que vieram para cá, acredito que eram
pessoas como a gente, que iria embora. Só que a gente chegou aqui, já tinha o
triplo de polícia, e aí chegou mais. Estava na fila do ônibus, começou a
aparecer um monte de polícia”, disse, depois de alguns minutos tentando se
recuperar.
Balanço do governo
De
acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Paz Social, 49 pessoas feridas
receberam atendimento médico, sendo oito policiais. O governo do Distrito
Federal confirmou o uso de armas de fogo por dois policiais militares e
anunciou a abertura de um inquérito para investigar o fato.
Dentre
os manifestantes mais gravemente feridos, está um que foi atingido por arma de
fogo, na altura da boca e passou por procedimento cirúrgico, e um que teve
parte da mão danificada após a bomba que portava explodir antes da hora. Uma
bomba explodiu próxima ao pescoço de um policial, que também foi socorrido.
Em
entrevista à imprensa após o ato, o secretário de Segurança Pública e Paz
Social, Edval Novaes, disse que os policiais atuaram de acordo com as
recomendações, seguindo, o Protocolo Tático Integrado, que impede que
manifestantes saiam do gramado e se aproximem do Palácio do Planalto. Havia a informação,
segundo ele, de que os manifestantes tentariam ocupar o Congresso. Novaes
declarou que os eventuais excessos serão analisados caso a caso.
De
acordo com o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Marcos Antônio Nunes
de Oliveira, o protocolo prevê que o ponto final dos manifestantes é na Alameda
das Bandeiras, em frente ao Palácio do Itamaraty, o que causou descontentamento
nos manifestantes. “Pelo menos a metade ali estava disposta a fazer bagunça,
praticar danos, ferir as outras pessoas. E uma grande parcela queria, de
qualquer forma, invadir o Congresso Nacional. Ficou muito claro nas frases e
gritos que ouvimos desde a manhã e não foi permitido”, diz.
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