Com
a ausência de deputados da oposição, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou
na noite de ontem (24) seis medidas provisórias (MPs) que trancavam a pauta de
votações da Casa. A aprovação das MPs ocorreu sem a presença da oposição que
decidiu se retirar do plenário em protesto contra a edição do decreto do
presidente Michel Temer que autorizou a presença das Forças Armadas nas ruas do
Distrito Federal.
Saiba
mais:
A
decisão de abandonar o plenário foi tomada por deputados do PT, PSOL, Rede,
PDT, PCdoB e PMB. Após o reinício dos trabalhos, o líder do PT, deputado Carlos
Zarattini (SP), anunciou que os partidos de oposição decidiram retirar todos
seus deputados do Plenário em protesto contra o decreto do presidente Michel
Temer que prevê o emprego das Forças Armadas na Esplanada dos Ministérios entre
os dias 24 e 31 de maio para “garantir a lei e a ordem".
“Estamos
inaugurando uma nova fase na história do Brasil. Para reprimir uma manifestação
popular com mais de 100 mil pessoas, se coloca o Exército na rua. Isso é
um
retrocesso com o qual nós não podemos compactuar. Nós da bancada do PT e de
oposição vamos nos retirar do Plenário”, disse Zarattini.
O
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) aproveitou, encerrou a sessão do
Plenário e iniciou outra sessão extraordinária com sete medidas provisórias na
pauta. A decisão foi criticada por alguns deputados. O líder do PPS, Arnaldo
Jordy (PA), disse que boa parte dos projetos ainda não eram do conhecimento dos
parlamentares. “Manifesto minha discordância com a inclusão de matérias que
sequer foram discutidas no colégio de líderes”, disse.
O
deputado Júlio Delgado (PSB-MG) afirmou que apenas duas MPs estavam previstas
na pauta de votação dessa quarta-feira. “Ao saber que poderia passar o rolo
compressor, [Maia] colocou sete medidas provisórias. Isso é oportunismo”,
afirmou.
Votações rápidas
Sem
a obstrução da oposição as votações foram rápidas. Todos os destaques dos
deputados de oposição foram rejeitados. A primeira medida aprovada (MP 759/16)
impõe regras para regularização de terras da União ocupadas na Amazônia Legal e
disciplina novos procedimentos para regularização fundiária urbana e rural até
2,5 mil hectares.
O
texto original determinava que a regularização deveria ocorrer em áreas
contínuas de até 1,5 mil hectares (um hectare equivale à área aproximada de um
campo de futebol). No entanto, o relator na comissão, senador Romero Jucá
(PMDB-RR), elevou o limite. Jucá aumentou também o público-alvo da
regularização, pois permite que ocupantes anteriores a julho de 2008 participem
do processo. Anteriormente, isso estava limitado a ocupantes anteriores a 1º de
dezembro de 2004.
Em
seguida, os deputados aprovaram a MP 767/17 que trata da concessão do
auxílio-doença, da aposentadoria por invalidez e do salário-maternidade no caso
de o segurado perder essa condição junto ao Regime Geral da Previdência Social
(RGPS) e retomá-la posteriormente. A proposta aumenta o período de
carência para a concessão de tais benefícios. O texto também cria um bônus para
os médicos peritos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com o objetivo
de diminuir o número de auxílios concedidos há mais de dois anos sem a revisão
legal prevista para esse prazo.
Policiais militares
Foram
aprovadas a MP 760/16, que muda as regras de acesso de praças ao posto de
oficial nos quadros dos policiais militares e dos bombeiros militares do
Distrito Federal; e a 761/16, que altera o Programa Seguro-Emprego (PSE),
prorrogando para 31 de dezembro de 2018 o prazo de adesão ao programa. A medida
permite aos patrões reduzir em até 30% os salários e a jornada de trabalho. O
prazo anterior se esgotaria em 31 de dezembro deste ano.
Outra
medida aprovada (MP 762/16) prorroga isenção de tributo sobre transporte
fluvial de mercadorias. A MP prorroga a isenção do Adicional ao Frete para
Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), beneficiando mercadorias cuja origem ou
cujo destino final seja portos localizados nas regiões Norte ou Nordeste do
país.
O
plenário aprovou ainda a MP 764/16, que autoriza desconto na compra de bens e
serviços com pagamento à vista, proibindo contratos de prestadoras de serviço
de excluírem essa possibilidade conforme a forma de pagamento (dinheiro, cartão
de crédito, cheque). Pela proposta, o lojista deverá informar, em local e
formato visíveis ao consumidor, eventuais descontos oferecidos em razão do
prazo ou do instrumento de pagamento utilizado. Todas as MPs foram aprovadas em
votação simbólica e seguem para apreciação do Senado.
Votação continua
Maia
ainda tenta votar mais três medidas provisórias, mas enfrenta resistência por
falta de acordo com os deputados da base aliada. Os deputados tentam costurar
um acordo para votar a MP 766/17 que permite o abatimento de dívidas com a
Receita Federal ou com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional de créditos
tributários (recursos a receber) e prejuízos fiscais de anos anteriores.
A
medida cria o novo programa de renegociação de dívidas com a União. Para as
grandes empresas, que declaram pelo lucro real, uma das formas de adesão
possibilita o pagamento de 20% da dívida à vista e uso de créditos tributários
ou prejuízos fiscais para quitar o restante.
A
base governista tenta encontrar uma solução, dentro das regras do Regimento
Interno, para construir um texto alternativo à MP, uma vez que a redação
negociada e apresentada perante a Mesa propunha uma mistura de trechos do
projeto de lei de conversão do deputado Newton Cardoso Jr (PMDB-MG) com o texto
original da MP, o que o Regimento não permite. É necessário usar apenas emendas
e o projeto de lei de conversão aprovado na comissão mista que analisou a MP.
Outro
ponto que enfrenta divergência entre os deputados é a MP 768/17 que criou dois
ministérios: a Secretaria-Geral da Presidência da República e o Ministério dos
Direitos Humanos, além de alterar o Ministério da Justiça e Cidadania para
Ministério da Justiça e Segurança Pública. Não há acordo quanto à estrutura da
Secretaria de Pesca, se ficaria no Ministério da Agricultura ou no Ministério
da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Também
há impasse quanto a votação da MP 765/16, que reajusta a remuneração de
servidores de ex-territórios e de servidores públicos federais, como
auditor-fiscal, analista tributário e auditores-fiscais do trabalho, todas
carreiras da Receita Federal, que passa a ganhar um bônus pelo cumprimento de
metas relacionadas à arrecadação, inclusive de multas. Deputados contrários ao
pagamento desses bônus não concordam com a votação da MP.
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