A cada voto a favor do impeachment da Dilma proferido pelos oposicionistas, e que sustentavam que votavam no 'sim" para defenderem a família e sob as graças de Deus, eu me recordava das lutas de MMA, onde, após triunfar em suas lutas, um lutador brasileiro erguia seus indicadores apontando para o céu e afirmava que aquela vitória não era dele, mas sim de Deus. Muito bem, passaram alguns meses e esse mesmo lutador voltou aos ringues, com menos de 30 segundos tomou um murro no queixo e caiu apagado, ou seja foi derrotado por nocaute. Eu aguardei para ver o que ele diria, se aquela derrota teria sido dele, mas ele saiu cuspindo marimbondo e nada falou.
Depois de mais de seis horas, a multidão que acompanhava de
um telão, na Lapa, no centro do Rio de Janeiro, a sessão na Câmara dos
Deputados que decidiu pela abertura do processo de impeachment da
presidenta Dilma Rousseff, começou a deixar o local. Boa parte se disse
decepcionada com o resultado da votação, mas principalmente, com os
discursos dos deputados que citaram Deus e parentes para justificar os
votos contra o mandato da petista.
Com seus três filhos pequenos já dormindo no final da votação, a
família de Jucilene Nogueira, de 36 anos, declarou-se surpresa com a
reação dos deputados. Porém, ela vê na decisão da Câmara uma chance de o
país voltar a discutir política, com tranquilidade, em vários espaços.
“As pessoas estão justificando impeachment por
questão da própria família, de religião e isso é um absurdo completo”,
rechaçou. “As pessoas acham que o espaço de discussão política é no
Congresso, o Palácio do Planalto, e esquecem que política é o dia a
dia”.
O professor Fernando Mendes disse que a justificativa dos deputados,
que em sua maioria mencionaram Deus ou a própria religião, além da
família, em alguns casos, nominando parentes, como netos, é uma
tentativa de “se abster de uma responsabilidade individual” e de
eventual reação de eleitores contrários ao impeachment. “Eles [deputados] se escoram nessas instituições para não dar as verdadeiras razões de se votar contra a democracia”.
O
vendedor João Arno, de 61 anos, responsabilizou também, pelo resultado,
grupos de mídia que atuaram de maneira imparcial, segundo ele, para
influenciar a opinião pública e pressionar os deputados. “Essa
influência da mídia na política se resumiu nessa polarização que matou o
verdadeiro debate sobre a democracia”, disse, antes de criticar o
próprio governo por não ter aprovado leis para democratizar o setor.
“Faltou a regulação dos meios”.
O presidente da Câmara, deputado
Eduardo Cunha (PMDB), foi criticado e vaiado várias vezes. Réu na
Operação Lava Jato, ele é acusado de ter recebido propina e de ter
contas ilegais no exterior. “A liderança de Cunha torna a votação de
hoje ilegítima”, disse a bailarina Nina Bolkay, de 29 anos. “É uma
frustração. E ainda teve esses votos que citaram a família, minha mãe,
meu pai”, criticou. Segundo ela, em discussão, estava o cometimento de
crime de responsabilidade pela presidenta, que ficou em segundo plano.
Antes
mesmo de os deputados chegarem aos 342 votos necessários para dar
continuidade ao impeachment, o líder do governo na Câmara dos Deputados,
José Guimarães (PT-CE), admitiu que o governo tinha perdido a votação.
Ele disse que a derrota é “provisória”, e que ainda há chances de
reverter a situação no Senado, por onde o processo vai tramitar.
Voltar
às ruas é mesmo o plano da bibliotecária Denise Batista, de 48 anos.
Apesar de decepcionada, ela disse que voltará a se mobilizar. “Espero
que a gente continue lutando. Ainda tem o Senado. Temos que ter
esperança em fazer valer a decisão do povo nas urnas”.
O
professor Joaquim Nogueira, de 38 anos, pensa da mesma forma. “Viemos
para cá com a família inteira para ver o governo ser defendido pelos
representantes do povo e estamos vendo uma cambada de canalhas
discursar. Isso é um golpe e a única forma de lutar na democracia contra
isso é ficar mais forte”, disse. “Não vamos nos desesperar”.
Ao
final da votação, apoiadores do ato nos Arcos da Lapa discursaram
defendendo a manutenção da mobilização popular e cantaram músicas em
referência à eventual candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula em
um novo processo eleitoral.
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Dag Vulpi