A escadaria da
Faculdade de Direito do Recife, uma das mais antigas do país, fundada em 1827,
foi o palco na noite de terça (12) de um ato de advogados contra o impeachment
da presidenta Dilma Rousseff. Um grupo pró-impeachment foi até o local e tentou
atrapalhar o protesto fazendo barulho, mas a provocação não foi além da troca
de palavras de ordem.
O grupo que
organizou o protesto, o Comitê Advocacia Contra o Golpe, afirma que o protesto
não era de apoio ao governo, mas em defesa da democracia e da legalidade.
Teobaldo Pires, advogado do Partido Socialismo e Liberdade (PSol) e integrante
do movimento, argumentou que é um dever dos profissionais do Direito se
colocarem contra o impeachment: “A democracia foi reconquistada com muito suor,
sangue e luta; então, quem é do Direito e tem conhecimento do que está
acontecendo, pois pode apreciar o fato do ponto de vista legal, não deve se
eximir dessa responsabilidade social de defender a democracia e a
Constituição”.
Entre os
participantes estavam advogados de carreira e professores universitários, além
de estudantes e servidores de órgãos ligados ao Direito, como o Ministério
Público da União (MPU). Também compareceram membros da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) de Pernambuco, embora tenham ressaltado que não representavam a
entidade no ato. No estado, a organização que representa os profissionais de
direito teve uma votação apertada, mas a maioria decidiu pelo apoio ao processo
de impeachment, seguindo os passos da OAB nacional.
O membro do
Conselho Estadual da OAB e presidente da Comissão de Direitos Humanos da
organização, Bruno Galindo, foi um dos que discursaram em frente à escadaria:
“Tem muitos aqui que não apoiam o governo e não apoiam uma solução à margem da
Constituição”. O advogado lançou um livro nesta segunda-feira (11) sobre o
processo do impeachment, citando exemplos de vários países e também analisando
diferenças e semelhanças entre o impedimento do agora senador Fernando Collor
de Melo (PTB) e o da presidenta Dilma Rousseff (PT).
“Existem
algumas semelhanças: a crise econômica e um governo com apoio pequeno do
Congresso, com dificuldade de negociação. Mas existem diferenças
significativas: no caso do Collor ele foi acusado de seis crimes comuns e dois
de responsabilidade [necessário para existir o impeachment, pela Constituição].
Ele acabou condenado pelo Senado pelos crimes de responsabilidade e absolvido
pelos crimes comuns. No caso da presidente atual, ela é acusada de dois crimes,
e há um debate se eles constituem de fato crime de responsabilidade. No meu
entendimento, seriam ilícitos, mas não a ponto de configurar crime de
responsabilidade. São pedaladas fiscais e decretos ilegais, que na verdade nem
seriam crimes exatamente. Seria passível de sanção, mas não criminal”, justificou
Bruno Galindo.
Estudantes de
Direito participantes do Grupo Contestação, criado oficialmente em 1988, ano da
Constituição Federal, também se colocaram contra o impeachment. Alice
Cysneiros, de 19 anos, explicou o apoio dos alunos ao ato. “Quando a gente
enxerga esse impeachment sem fundamentação jurídica, observamos isso como um
atentado à democracia e como um golpe. É jogar no lixo a legitimidade conferida
por 54 milhões de votos dos brasileiros para um projeto político”.
Um grupo local
autodenominado Direita Pernambuco, que defende o nome do deputado federal Jair
Bolsonaro (PSC) para a Presidência da República, ficou em frente à Faculdade de
Direito do Recife durante boa parte do ato dos advogados. Com tambores, apitos
e equipamento de som, cerca de 20 pessoas tentaram atrapalhar o protesto
contra o impeachment, aos gritos de “Comunistas”, “Lula ladrão” e “A bandeira
brasileira nunca vai ser vermelha”.
Antes que o
ato contra o impeachment terminasse, os integrantes do Direita Pernambuco se
retiraram, escoltados por viaturas da Polícia Militar. Outro grupo a favor do
impeachment também protestou neste noite. Cerca de 30 pessoas foram até a porta
da casa do deputado federal Sílvio Costa (PTB), vice-líder do governo na
Câmara. Eles protestaram por cerca de 30 minutos e foram embora sem serem
recebidos.
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