O Ministério
Público Federal (MPF) em Santos (SP) denunciou, por sonegação de
tributos e falsidade ideológica, o jogador de futebol Neymar da Silva Santos
Junior, seu pai e os dirigentes do Futebol Clube Barcelona, da Espanha,
Alexandre Rosell Feliu e Josep Maria Bartomeu Floresta. Segundo o MPF, eles
forjaram uma série de documentos entre 2006 e 2013 com o intuito de suprimir
impostos devidos à Receita Federal do Brasil. A denúncia foi protocolada no
último dia 27 na Justiça Federal.
As atividades
teriam envolvido três empresas ligadas à família do jogador: a Neymar Sport e
Marketing, a N&N Consultoria Esportiva e Empresarial e a N&N
Administração de Bens, Participações e Investimentos. As empresas não tinham
capital social ou capacidade operacional condizentes com a movimentação
financeira realizada, de acordo com o MPF.
A denúncia
envolve fraudes praticadas em contratos relacionados ao uso do direito de
imagem do jogador Neymar, enquanto ele estava no Santos Futebol Clube, a
partir de 2006, e durante o processo de sua transferência para o Barcelona,
cujas negociações tiveram início em 2011.
De acordo com
o MPF, a conduta de Neymar Jr., com a participação dos outros denunciados,
gerou prejuízos milionários aos cofres públicos. Em setembro do ano passado, o
Tribunal Regional Federal da 3ª Região bloqueou R$ 188,8 milhões do jogador, do
pai e das empresas da família para garantir o pagamento das pendências
tributárias e das multas cabíveis. A decisão atendeu a pedido da Procuradoria
da Fazenda Nacional, que também apurou as irregularidades.
O MPF informou
que, em conjunto com a Receita Federal, investiga os denunciados e suas
empresas há cerca de dois anos, quando foram reunidas mais de 5 mil folhas de
documentos e colhidos os depoimentos de diversas testemunhas. Esse material
embasa a denúncia, juntamente com as informações obtidas por meio da cooperação
internacional entre o MPF e a Justiça espanhola.
O MPF
ressaltou que a sonegação envolvia mais de 55% dos valores a serem pagos em
tributos, e explicou que essa diferença se deve à forma de cálculo das
alíquotas que incidem sobre contribuintes físicos e jurídicos. Neymar seria
obrigado a pagar 27,5% dos valores de seus contratos a título de Imposto de
Renda de Pessoa Física (IRPF). No entanto, o uso de uma pessoa jurídica para o
recebimento das cifras referentes a serviços prestados no Brasil reduziu a
fatia para 12,53%. O MPF destaca ainda que, em acordos com empresas no
exterior, o desfalque teria passado de 67%, uma vez que a parcela de impostos
sobre os rendimentos de empresas auferidos fora do país chega a apenas 8,88%.
Para
exemplificar uma das fraudes que constam na denúncia, sobre os valores pagos
pelo Barcelona ao jogador, por causa de sua contratação pelo clube espanhol, o
procurador da República Thiago Lacerda Nobre, autor da denúncia, escreveu que
“a negociação da transferência do atleta ao Barcelona foi feita num único
contexto. Ou seja, toda a transação foi feita de forma globalizada, numa única
negociação. Todavia, os valores a receber foram 'fatiados' em diversas rubricas
– empréstimo, indenização, salários e prêmios, direitos de imagem, scouting e
agência comercial – sendo certo que a maior parte dessas rubricas foi paga a
diferentes pessoas jurídicas integrantes do Grupo Neymar”. Atividade simlar
teria ocorrido também no Santos Futebol Clube. “Os casos tiveram o mesmo
objetivo: redução da carga tributária”, acrescentou o procurador.
O MPF pediu
que a Justiça Federal, após a tramitação do processo penal, condene Neymar da
Silva Santos Junior, Neymar da Silva Santos, Alexandre Rosell Feliu e Josep
Maria Bartomeu Floresta pelos crimes previstos no Artigo 1º da Lei 8.137/90
(sonegação tributária) e no Artigo 299 do Código Penal (falsidade ideológica).
Os dirigentes do Santos à época da assinatura dos contratos constam da denúncia
como testemunhas. As investigações sobre condutas e outros fatos relacionados
aos contratos continuam em curso.
Segundo o MPF,
durante as investigações na Procuradoria da República, em Santos, Neymar e seu
pai puderam, por meio de advogados, ter acesso a documentos e se manifestar.
Atendendo a um pedido da defesa, o Ministério Público chegou a ouvir o pai do
jogador no curso do inquérito.
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