segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O que é MAV


Por Dag Vulpi

Posso garantir-lhe que ela não existiria não fosse a existência do Pensador Coletivo.

O Pensador Coletivo é uma máquina regida pela lógica da eficiência, não pela ética do intercâmbio de ideias.

Você sabe o que é MAV?

Significa Militância em Ambientes Virtuais. Que nada mais é do que núcleos de militantes, tanto de partidos pró quanto de partidos contrários ao governo, treinados para operar na internet, em publicações e redes sociais, segundo orientações partidárias. A ordem é fabricar correntes volumosas de opinião articuladas em torno dos assuntos do momento. Um centro político define pautas, escolhe alvos e escreve uma coleção de frases básicas. Os militantes as difundem, com variações pequenas, multiplicando suas vozes pela produção em massa de pseudônimos. No fim do arco-íris, um Pensador Coletivo fala a mesma coisa em todos os lugares, fazendo-se passar por multidões de indivíduos anônimos. Você pode não saber o que é MAV, mas ele conversa com você todos os dias.

O Pensador Coletivo se preocupa imensamente com a crítica ao governo. Os sistemas políticos pluralistas estão sustentados pela prática da dissonância: a crítica pode ser benéfica para o governo quando descortina problemas reais que não seriam enxergados num regime monolítico, porém, poderá vir a ser lesiva caso os problemas levantados tenham por propósitos a desestabilização da governança. O Pensador Coletivo interfere nesse princípio democrático, tendo por imperativo, ou rebater a crítica imediatamente, evitando que o vírus da dúvida se espalhe pelo tecido social, ou, criando sustentação para que aquela dúvida seja revertida para uma certeza.  É que, por sua própria natureza, o Pensador Coletivo não crê na hipótese de existência da opinião individual.

O Pensador Coletivo abomina argumentos específicos. Seu centro político não tem tempo para refletir sobre textos críticos e formular réplicas substanciais. Os militantes difusores não têm a sofisticação intelectual indispensável para parafrasear sentenças complexas. Você está diante do Pensador Coletivo quando se depara com fórmulas genéricas exibidas como refutações de argumentos específicos. O uso dos termos como: "elitista", “petralha”, "preconceituoso", “militonto” e "privatizante", assim como suas variantes, é um forte indício de que seu interlocutor não é um indivíduo, mas o Pensador Coletivo.

O Pensador Coletivo interpreta o debate público como uma guerra. "A guerra de guerrilha na internet é a informação e a contrainformação". Como, no mundo real, eles circulam por aí. Você provavelmente conversa com o Pensador Coletivo quando, no lugar de uma resposta argumentada, encontra qualificativos desairosos dirigidos contra o autor de uma crítica cujo conteúdo é ignorado. "Direitista", “comunista”, "reacionário", “bolivarianista” e "racista" são as ofensas do manual, mas existem outras. Um expediente comum é adicionar ao impropério a acusação de que o crítico "dissemina o ódio" ou “defende bandidos”.

O Pensador Coletivo é uma máquina política regida pela lógica da eficiência, não pela ética do intercâmbio de ideias. Por isso, ele nunca se deixa intimidar pela exigência de consistência argumentativa. Os procedimentos do Pensador Coletivo estão disponíveis nas latas de lixo de nossa vida pública: mimetizá-los é, apenas, uma questão de gosto.

Existem similares do MAV em todos partidos. O conceito do Pensador Coletivo ajusta-se a todas as correntes políticas que se acreditam ser possuidoras da chave da porta do futuro. Na era da internet, e na hora de uma campanha eleitoral, o invento vai sendo copiado e adaptado.


Como administrador de um grupo com propostas pluripartidária, como é o caso do ‘Consciência Política, Razão Social’, identificar robôs de opinião é um joguinho que não tem graça nenhuma. 

9 comentários:

  1. Boa a matéria e, melhor ainda, os comentários que esclarecem a ignorância dos comentários das pessoas, da manipulação e se vê MAVs falando e falando: cérebros que não produzem algo verdadeiro e deles. E ouvidos que não ouvem, olhos que não sabem ler com atenção (id. p ouvidos). Fico por aqui: ausência de comentários seria o receio de se expor? Daí os avatares.

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    1. Boa noite meu caro Ricardo Celestino.

      Agradeço sua visita, e seu comentário. Aos poucos os comentários surgirão. Quanto ao problema dos avatares eles são muito usados nos grupos de debates, principalmente no Facebook. Omitir a própria imagem é uma forma de os MAVs se "protegerem" das críticas.

      Aguardo novas visitas e participações

      Fraterno abraço.

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  2. basta ver no grupo esta cheio
    um grupo que tem mais de 13.000 .num simples debate para saber qantas postagens cada pessoa poderia postar nao aparecerao 40 pessoas da ndo a opiniao.

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  3. Há pressa em desmontar mitos,mentiras,preconceitos,temos que nos reduzir ao mínimo de complexidade possível e para nos fazer entendidos,por isso talvez algumas argumentações possam parecer não individuais.....

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  4. É apenas um produto da Era da Comunicação e da midiatização das opiniões, que não tem tempo para o pensamento e a reflexão em profundidade.

    São as "idéias fast food", as respostas para consumo imediato.
    Consequência inelutável dos nossos tempos.

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  5. Eu não sabia o que é MAV. Agora, sei mas ainda tenho algumas dúvidas. Eu, por exemplo tenho como conduta, não deixar nenhuma provocação sem uma resposta adequada, pois já percebi que tem algumas pessoas que gostam de fabricar e difundir um fato negativo. Respondo a todos. E não sou um MAV. Meu trabalho é individual.

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  6. Eu gostaria de saber se um pensador coletivo age sozinho ou se ele tem um grupo que trabalha em conjunto com ele. E se todos necessáriamente tem que se conhecer.

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  7. Eu tenho uma postura individual e critico ambos os lados. A priori, combato mentiras e desonestidade intelectual, partam de onde partir.

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  8. No meu tempo, o MAV era o famoso tarefeiro. Aquele quadro que não tinha capacidade política e ou intelectual para participar das grandes decisões, mas ficava feliz em ser convocado para tarefas como panfletagens e pixações. Ele era um repetidor de slogans e um puxador de coros nas assembléias.
    Havia uma grande diferença entre aquela época e a atual: as direções eram muito mais sofisticadas politicamente, mesmo aquelas que escolhiam partir para a ação, sem perder muito tempo com a teoria. E eram mais honestas. Afinal, estavam jogando com a própria vida, no auge do regime militar.
    Já naquele tempo, décadas de 60 -70, havia respeito entre as inúmeras correntes de esquerda. Os debates eram acesos, mas nunca, ou quase nunca, se apelava para agressão pessoal. Era basicamente um debate de idéias.
    A coisa começa a engrossar com o fim do regime militar. Ressurge um MR8, que tinha como marca registrada o oportunismo político, a desonestidade intelectual e a agressão, muitas vezes física, aos militantes de outras correntes. Muito próximos aos MAV de hoje. O jornaleco A Hora do Povo cumpria o papel de lançar essa militância contra os alvos escolhidos.
    Com a fundação do PT, boa parte da esquerda que havia optado pela luta armada, com exceção dos PCs, aderiu ao novo partido. Era um partido, que no início, era conhecido pelo seu assembleísmo, onde o debate de idéias era franco e feito honestamente.
    Com a ascensão do lulismo e da corrente majoritária, o partido foi inundado de militantes cujo papel era votar nas assembléias e garantir o predomínio de sua corrente, sem ligar muito para o mérito das questões discutidas. O partido se empobreceu, politica e ideologicamente. O MAV é o produto final dessa decadência. è a expressão mais fiel de um projeto de poder pelo poder, sem um discurso coerente que o justifique.

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Dag Vulpi

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