Por Dag Vulpi
Posso garantir-lhe
que ela não existiria não fosse a existência do Pensador Coletivo.
O Pensador Coletivo é uma máquina regida pela lógica da eficiência, não pela ética do intercâmbio de ideias.
Você sabe o que é MAV?
Significa Militância
em Ambientes Virtuais. Que nada mais é do que núcleos de militantes, tanto
de partidos pró quanto de partidos contrários ao governo, treinados para operar
na internet, em publicações e redes sociais, segundo orientações
partidárias. A ordem é fabricar correntes volumosas de opinião articuladas em
torno dos assuntos do momento. Um centro político define pautas, escolhe alvos
e escreve uma coleção de frases básicas. Os militantes as difundem, com
variações pequenas, multiplicando suas vozes pela produção em massa de
pseudônimos. No fim do arco-íris, um Pensador Coletivo fala a mesma coisa em
todos os lugares, fazendo-se passar por multidões de indivíduos anônimos. Você
pode não saber o que é MAV, mas ele conversa com você todos os dias.
O Pensador Coletivo se preocupa imensamente com a crítica ao governo. Os sistemas políticos pluralistas estão sustentados pela prática da dissonância: a crítica pode ser benéfica para o governo quando descortina problemas reais que não seriam enxergados num regime monolítico, porém, poderá vir a ser lesiva caso os problemas levantados tenham por propósitos a desestabilização da governança. O Pensador Coletivo interfere nesse princípio democrático, tendo por imperativo, ou rebater a crítica imediatamente, evitando que o vírus da dúvida se espalhe pelo tecido social, ou, criando sustentação para que aquela dúvida seja revertida para uma certeza. É que, por sua própria natureza, o Pensador Coletivo não crê na hipótese de existência da opinião individual.
O Pensador Coletivo abomina argumentos específicos. Seu centro político não tem tempo para refletir sobre textos críticos e formular réplicas substanciais. Os militantes difusores não têm a sofisticação intelectual indispensável para parafrasear sentenças complexas. Você está diante do Pensador Coletivo quando se depara com fórmulas genéricas exibidas como refutações de argumentos específicos. O uso dos termos como: "elitista", “petralha”, "preconceituoso", “militonto” e "privatizante", assim como suas variantes, é um forte indício de que seu interlocutor não é um indivíduo, mas o Pensador Coletivo.
O Pensador Coletivo interpreta o debate público como uma guerra. "A guerra de guerrilha na internet é a informação e a contrainformação". Como, no mundo real, eles circulam por aí. Você provavelmente conversa com o Pensador Coletivo quando, no lugar de uma resposta argumentada, encontra qualificativos desairosos dirigidos contra o autor de uma crítica cujo conteúdo é ignorado. "Direitista", “comunista”, "reacionário", “bolivarianista” e "racista" são as ofensas do manual, mas existem outras. Um expediente comum é adicionar ao impropério a acusação de que o crítico "dissemina o ódio" ou “defende bandidos”.
O Pensador Coletivo é uma máquina política regida pela lógica da eficiência, não pela ética do intercâmbio de ideias. Por isso, ele nunca se deixa intimidar pela exigência de consistência argumentativa. Os procedimentos do Pensador Coletivo estão disponíveis nas latas de lixo de nossa vida pública: mimetizá-los é, apenas, uma questão de gosto.
Existem similares do MAV em todos partidos. O conceito do Pensador Coletivo ajusta-se a todas as correntes políticas que se acreditam ser possuidoras da chave da porta do futuro. Na era da internet, e na hora de uma campanha eleitoral, o invento vai sendo copiado e adaptado.
Como administrador
de um grupo com propostas pluripartidária, como é o caso do ‘Consciência
Política, Razão Social’, identificar robôs de opinião é um joguinho que não tem
graça nenhuma.