Por Andréia Martins em 23/01/2015
Nas eleições presidenciais e estaduais de 2014, o
Brasil assistiu a uma onda de discursos agressivos, especialmente nas redes
sociais, que se dividiam em dois lados: os de esquerda e os de direita,
associadas pela maioria aos partidos PT e PSDB, respectivamente.
Definir um posicionamento político apenas pelo viés
partidário pode ser uma armadilha repleta de estereótipos, já que essa divisão
binária não reflete a complexidade e contradições da sociedade. O fato é que
não existe um consenso quanto a uma definição comum e única de esquerda e
direita. Existem “várias esquerdas e direitas”. Isso porque esses conceitos são
associados a uma ampla gama de pensamentos políticos.
Origem dos
termos
As ideologias “esquerda” e “direita” foram criadas
durante as assembleias francesas do século 18. Nessa época, a burguesia
procurava, com o apoio da população mais pobre, diminuir os poderes da nobreza
e do clero. Era a primeira fase da Revolução Francesa (1789-1799).
Com a Assembleia Nacional Constituinte montada para
criar a nova Constituição, as camadas mais ricas não gostaram da participação
das mais pobres, e preferiram não se misturar, sentando separadas, do lado
direito. Por isso, o lado esquerdo foi associado à luta pelos direitos dos
trabalhadores, e o direito ao conservadorismo e à elite.
Dentro dessa visão, ser de esquerda presumiria
lutar pelos direitos dos trabalhadores e da população mais pobre, a promoção do
bem estar coletivo e da participação popular dos movimentos sociais e minorias.
Já a direita representaria uma visão mais conservadora, ligada a um
comportamento tradicional, que busca manter o poder da elite e promover o bem
estar individual.
Com o tempo, as duas expressões passaram a ser
usadas em outros contextos. Hoje, por exemplo, os partidários que se colocam
contra as ações do regime vigente (oposição) seriam entendidos como “de
esquerda” e os defensores do governo em vigência (situação) seriam a ala “de
direita”.
Para o filósofo político Noberto Bobbio , embora os
dois lados realizem reformas, uma diferença seria que a esquerda busca promover
a justiça social enquanto a direita trabalha pela liberdade individual.
Após a queda do Muro de Berlim (1989), que pôs fim
à polarização EUA x URSS, um novo cenário político se abriu. Por isso, hoje, as
palavras ‘esquerda’ e ‘direita’ parecem não dar conta da diversidade política
do século 21. Isso não quer dizer que a divisão não faça sentido, apenas que
‘esquerda’ e ‘direita’ não são palavras que designam conteúdos fixados de uma
vez para sempre. Podem designar diversos conteúdos conforme os tempos e
situações.
"Esquerda e direita indicam programas
contrapostos com relação a diversos problemas cuja solução pertence
habitualmente à ação política, contrastes não só de ideias, mas também de
interesses e de valorações a respeito da direção a ser seguida pela sociedade,
contrastes que existem em toda a sociedade e que não vejo como possam
simplesmente desaparecer. Pode-se naturalmente replicar que os contrastes
existem, mas não são mais do tempo em que nasceu a distinção", escreve
Bobbio no livro "Direita e Esquerda - Razões e Significados de uma
Distinção Política".
No Brasil, essa divisão se fortaleceu no período da
Ditadura Militar, onde quem apoiou o golpe dos militares era considerado da
direita, e quem defendia o regime socialista, de esquerda.
Com o tempo, outras divisões apareceram dentro de
cada uma dessas ideologias. Hoje, os partidos de direita abrangem
conservadores, democratas-cristãos, liberais e nacionalistas, e ainda o nazismo
e fascismo na chamada extrema direita.
Na esquerda, temos os social-democratas,
progressistas, socialistas democráticos e ambientalistas. Na extrema-esquerda
temos movimentos simultaneamente igualitários e autoritários.
Há ainda posição de "centro". Esse
pensamento consegue defender o capitalismo sem deixar de se preocupar com o
lado social. Em teoria, a política de centro prega mais tolerância e equilíbrio
na sociedade. No entanto, ela pode estar mais alinhada com a política de
esquerda ou de direita. A origem desse termo vem da Roma Antiga, que o descreve
na frase: "In mediun itos" (a virtude está no meio).
A política de centro também pode ser chamada de
"terceira via", que idealmente se apresenta não como uma forma de
compromisso entre esquerda e direita, mas como uma superação simultânea de uma
e de outra.
Essas classificações estariam divididas no que
podemos chamar de uma “régua” ideológica:
EXTREMA-ESQUERDA | ESQUERDA | CENTRO-ESQUERDA |
CENTRO | CENTRO-DIREITA | DIREITA | EXTREMA-DIREITA
Para os brasileiros a diferença entre as ideologias
não parece tão clara. Em 2014, durante as eleições, a agência Hello Research
fez um levantamento em 70 cidades das cinco regiões do Brasil perguntando como
os brasileiros se identificavam ideologicamente. Dos 1000 entrevistados, 41%
não souberam dizer se eram ideologicamente de direita, esquerda ou centro.
A porcentagem dos que se declaram de direita e
esquerda foi a mesma: 9%. Em seguida vem centro-direita (4%), centro-esquerda e
extrema-esquerda, ambas com 3%, e extrema-direita (2%). Quando a pergunta foi
sobre a tendência ideológica de sete partidos (DEM, PT, PSDB, PSB, PMDB, PV,
PDT, Psol, PSTU), mais de 50% não souberam responder.
Em determinados momentos da história, ambas as
ideologias assumiram posturas radicais e, nessa posição, tiveram efeitos e
atitudes muito parecidas, como a interferência direta do Estado na vida da
população, uso de violência e censura para contra opositores e a manutenção de
um mesmo governo ou liderança no poder.
Ao longo do século 20, parte do pensamento de
esquerda foi associada a bases ideológicas como marxismo, socialismo,
anarquismo, desenvolvimentismo e nacionalismo anti-imperialista (que se opõe ao
imperialismo).
O mesmo período viu florescer Estados de ideologias
totalitárias como o nazismo (1933-1945), fascismo (1922-1943), franquismo
(1939-1975) e salazarismo (1926-1974), que muitas vezes se apropriaram de
discursos da esquerda e da direita.
Outro tema fundamental para as duas correntes é a
visão sobre a economia. Os de esquerda pregam uma economia mais justa e
solidária, com maior distribuição de renda. Os de direita seriam associados ao
liberalismo, doutrina que na economia pode indicar os que procuram manter a
livre iniciativa de mercado e os direitos à propriedade particular. Algumas
interpretações defendem a total não intervenção do governo na economia, a
redução de impostos sobre empresas, a extinção da regulamentação governamental,
entre outros.
Mas isso não significa que um governo de direita
não possa ter uma influência forte no Estado, como aconteceu na Ditadura. Em
regimes não democráticos, a direita é associada a um controle total do
Estado.
O termo neoliberalismo surgiu a partir dos anos
1980, associados aos governos de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, que devido
à crise econômica do petróleo, privatizaram muitas empresas públicas e cortaram
gastos sociais para atingir um equilíbrio fiscal. Era o fim do chamado Estado
de Bem-Estar Social e o começo do Estado Mínimo, com gastos enxutos.
Para a esquerda, o neoliberalismo é associado à
direita e teria como consequências a privatização de bens comuns e espaços
públicos, a flexibilização de direitos conquistados e a desregulação e
liberalização em nome do livre mercado, o que poderia gerar mais desigualdades
sociais.
O liberalismo não significa necessariamente
conservadorismo moral. Na raiz, o adjetivo liberal é associado à pessoa que tem
ideias e uma atitude aberta ou tolerante, que pode incluir a defensa de
liberdades civis e direitos humanos. Já o conservador seria aquele com um
pensamento tradicional. Na política, o conservadorismo busca manter o sistema
político existente, que seria oposto ao progressismo.
Direita e esquerda também têm a ver com questões
morais. Avanços na legislação em direitos civis e temas como aborto, casamento
gay e legalização das drogas são vistas como bandeiras da esquerda, com a
direita assumindo a defesa da família tradicional. Nos Estados Unidos, muitos
eleitores se identificam com a chamada direita cristã, que defendem a
interferência da religião no Estado.
No entanto, vale destacar que hoje muitos membros
de partidos tidos como centro-direita defendem tais bandeiras da esquerda,
exceto nos partidos de extrema-direita (como podemos observar na Europa), que
são associados ao patriotismo, com discurso forte contra a imigração
(xenofobia).
Boa definição Dagmar, queria apenas definir um porém o Neoliberalismo Na década de 1930, neoliberalismo tratava-se de uma doutrina econômica que emergiu entre acadêmicos liberais europeus e que tentava definir uma denominada "terceira via"
ResponderExcluirCapaz de resolver o conflito entre o liberalismo clássico e a economia planificada coletivista.[14] Este desenvolvimento deveu-se ao desejo de evitar a repetição das falhas econômicas que deram origem à crise de 1929, cuja causa era atribuída principalmente à política económica do liberalismo clássico. Nas décadas posteriores, a teoria neoliberal tendeu a divergir da doutrina mais laissez-faire do liberalismo clássico, promovendo, em vez disso, uma economia de mercado sob a orientação e regras de um estado forte - modelo que viria a ser denominado economia social de mercado. (por uma questão de tempo copiei esse trecho da Wikipédia, porem é esse o neoliberalismo que eu defendo)
Perfeito Dú Badaró,
ExcluirSua observação quanto a ao neoliberalismo na década de 1930, colaborou para valorar o texto. Fique à vontade para, quando tiver mais tempo, complementar a defesa sob a sua ótica. abç.