A Justiça Federal em
São Paulo negou pedido de prisão preventiva da ex-chefe de gabinete
da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, acusada de
participar do esquema criminoso infiltrado em órgãos públicos federais que
vendia e manipulava pareceres. A juíza federal substituta, Adriana
Freisleben de Zanetti, entendeu que seria mais adequada a aplicação de medidas
cautelares alternativas, como o comparecimento periódico em juízo.
“Visando à equidade com os demais
investigados, denunciados pelos mesmos crimes, determino a aplicação de medidas
cautelares alternativas previstas no Artigo 319 do Código de Processo Penal, em
substituição à decretação de sua prisão preventiva, por entender adequadas e
suficientes à garantia da ordem pública, à instrução e à aplicação da lei
penal”, disse a juíza na decisão. A prisão de Rosemary havia sido solicitada
Ministério Público Federal (MPF).
Na decisão, a juíza também
manifestou entendimento de que os funcionários públicos denunciados pelo MPF na
Operação Porto Seguro terão direito a defesa prévia. Adriana determinou que o
apartamento da Alameda Lorena, em São Paulo, e dois carros (um Land Rover
Defender e uma Pajero) de Paulo Vieira, acusado de chefiar o esquema criminoso,
devem ser apreendidos e cedidos à Polícia Federal.
O MPF em São Paulo denunciou na
última sexta-feira (14) à Justiça Federal 24 pessoas envolvidas no esquema
criminoso infiltrado em órgãos federais e agências reguladoras para elaborar
pareceres técnicos fraudulentos e favorecer interesses privados, investigado
pela Operação Porto Seguro. Entre os crimes praticados pelo grupo estão
formação de quadrilha, corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de
influência, falsidade ideológica e falsificação de documento particular.
Foram denunciados por formação de
quadrilha a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo,
Rosemary Noronha; o ex-diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas
(ANA), Paulo Rodrigues Vieira, e seus dois irmãos, o então diretor da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac), Rubens Carlos Vieira, e o empresário Marcelo
Rodrigues Vieira. Também foram denunciados pelo mesmo crime os advogados Marco
Antonio Martorelli e Patrícia Santos Maciel de Oliveira.
De acordo com a a procuradora da
República Suzana Fairbanks, que coordenou a investigação do caso no Ministério
Público Federal (MPF) em São Paulo, o ex-diretor de Hidrologia da Agência
Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira – um dos participantes do
núcleo principal da quadrilha – manifestou por meio de seu advogado, que está
disposto a recorrer à delação premiada para ter sua pena reduzida, em caso de
condenação.
“Eu recebi um recado pela minha
secretária, [vindo] do atual advogado do Paulo [Rodrigues Vieira], quinta-feira
[13], [dizendo que] ele teria interesse na delação premiada. Mas ainda não há
nenhuma comunicação oficial disso no processo, no inquérito, e isso não altera
em nada a situação de oferecimento da denúncia”, disse a procuradora na última
sexta-feira.
“[Para poder ter o benefício da
delação premiada], ele tem que trazer informações novas, falar sobre pessoas
novas. Se tiver dinheiro apurado em ilícito, ele tem que devolver o dinheiro. É
uma situação muito mais complexa do que a pessoa aparecer e dizer que quer
ajudar no processo. Tem que ter provas”, acrescentou a procuradora.
De acordo com a denúncia do MPF, a
quadrilha tinha duas subdivisões. Uma delas era formada pelos irmãos Vieira e
pelos advogados Patrícia Santos Maciel de Oliveira e Marco Antônio Negrão
Martorelli. Como diretores de agências reguladoras, Paulo e Rubens eram
proibidos de advogar, mas continuaram exercendo a advocacia. Patrícia e
Martorelli, segundo o MPF, apenas assinavam as peças e recebiam por isso. Por
essa razão, além de responderem por formação de quadrilha, foram denunciados pela
prática dos crimes de corrupção ativa.
A denúncia ainda mostra que a outra
subdivisão do grupo, também com participação dos irmãos Vieira, contava com
Rosemary Nóvoa de Noronha, nomeada diretamente pelo então presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva. Ela seria responsável pelo tráfico de
influência. Segundo o MPF, durante as interceptações, foi possível verificar a
constante presença de Rosemary nas atividades ilícitas do grupo. A ex-chefe de
gabinete foi denunciada por falsidade ideológica, tráfico de influência,
corrupção passiva e formação de quadrilha.
De acordo com o MPF, o então
adjunto da Advocacia-Geral da União, José Weber Holanda Alves, também atuou em
prol da quadrilha: foi o responsável por uma reanálise jurídica de um caso de
interesse do grupo de Paulo Vieira relacionado às ilhas de Cabras e de Bagres.
“Desde fevereiro de 2012, manteve reiterados contados, por troca de e-mails e
telefonemas, com Paulo Vieira e outros investigados, acerca de processo
administrativo (...) tendo pleno conhecimento que este visava a atender aos
interesses particulares do empresário Gilberto Miranda Batista”, diz a
denúncia. Weber foi denunciado por corrupção passiva e Gilberto Miranda, por
corrupção ativa. ( Agência Brasil)
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