Apontado como o 'chefe' do esquema
de compra de votos, ex-ministro deve receber penas semelhantes ou até maiores;
Corte sinalizou que punição será de acordo com grau de envolvimento
BRASÍLIA - As penas impostas nessa
quarta-feira, 24, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao publicitário
Marcos Valério Fernandes de Souza, operador do mensalão, nos crimes cometidos
em conjunto com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, indicam que o homem
forte do primeiro governo Lula e acusado de chefiar o esquema terá de cumprir
parte da pena na cadeia.
Dirceu foi condenado por formação de
quadrilha e corrupção ativa por comandar a compra de votos do Congresso
Nacional no primeiro mandato do governo Lula. Por esses mesmos crimes, Marcos
Valério foi condenado pela maioria dos ministros a 10 anos e 7 meses de prisão,
sendo 7 anos e 8 meses por corrupção ativa e 2 anos e 11 meses por formação de
quadrilha.
Como a Corte já decidiu que Marcos
Valério atuou sob o comando do então ministro da Casa Civil, o tribunal deve
impor penas semelhantes ou até maiores para o homem forte do inicio do governo
Lula. Nessa quarta, o relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, chegou a
afirmar que "Marcos Valério aceitou participar da empreitada criminosa
comandada por José Dirceu para dominar o poder político".
Três fatores aumentam a
probabilidade de ser aplicado a José Dirceu uma pena de prisão acima de 8 anos,
o que, pela legislação em vigor, obrigaria-o a cumprir parte da pena em regime
inicialmente fechado. Em primeiro lugar, o relator Joaquim Barbosa indicou, ao
longo do julgamento, que imporia penas maiores para os chefes do esquema. O
mesmo critério será usado pelos demais ministros. O ex-chefe da Casa Civil foi
apontado, pelo Ministério Público, como o líder da quadrilha, mentor e mandante
do esquema.
Um segundo ponto é que os ministros
aplicaram, no caso da corrupção ativa cometida por Marcos Valério, a mais
recente lei para esse crime, aprovada pelo Congresso em novembro de 2003. A
norma elevou a pena mínima de prisão de 1 para 2 anos e a máxima, de 8 para 12
anos. A justificativa é a de que o esquema atuou entre os anos de 2003 e 2005,
sendo apenas desmontado a partir das revelações do delator do mensalão, Roberto
Jefferson (PTB-RJ). A mesma regra deve ser usada pela Corte para o ex-chefe da
Casa Civil.
Outro fator para a tendência de alta
na pena a ser fixada para José Dirceu é o fato de o ministro Ricardo Lewandowski,
revisor do processo, não participar da dosimetria do ex-ministro por tê-lo
absolvido dos dois delitos. Na sessão de ontem, Lewandowski contrariou as penas
propostas por Joaquim Barbosa, obteve apoio da maioria no plenário e conseguiu
baixar, em duas oportunidades, as penas aplicadas a Marcos Valério. José Dirceu
não contará com os votos do revisor.
Pela legislação brasileira, um réu
que venha ser condenado a pena superior a 8 anos de prisão não ficará na cadeia
por todo esse tempo. Depois de cumprir um sexto da pena, ele terá direito à
progressão de regime, passando do fechado para o semiaberto, no qual tem de
dormir na prisão, tendo direito a trabalhar. Contudo, o ex-ministro da Casa
Civil só saberá qual seu destino no processo após o segundo turno das eleições
municipais, marcado para o domingo, dia 28.
Fechado. Nos últimos dois dias,
o tribunal já aplicou oito penas para o operador do mensalão pelos crimes de
formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão
de divisas. As penas impostas a Marcos Valério, se somadas, chegam a 40 anos, 1
meses e 6 dias e quase de R$ 3 milhões em multas. Para concluir a apreciação
das penas impostas ao publicitário, falta apenas o voto do ministro Marco
Aurélio Mello, que pediu para se manifestar esta tarde quanto aos crimes de
corrupção ativa, no caso da compra de votos dos parlamentares, e evasão de
divisas.
Na punição que impôs a maior pena a
Marcos Valério por um crime, de 7 anos e 8 meses de prisão por corrupção ativa,
o relator Joaquim Barbosa destacou que o envolvimento do publicitário na compra
de parlamentares é uma conduta "mais reprovável". "Os motivos
dos crimes são extremamente graves. Os fatos e provas dos autos revelam que o
crime foi praticado porque o PT, cujos correligionários vinham beneficiando as
empresas às quais estava vinculado Marcos Valério, não detinham maioria na
Câmara", concluiu.
Os ministros do STF já admitem ser
impossível cumprir o cronograma traçado por Barbosa e encerrar a análise da
dosimetria da pena nesta semana. O julgamento será interrompido na próxima
semana, pois Joaquim Barbosa já anunciou que viajará para Dusseldorf, na
Alemanha, a fim de se submeter a um tratamento de saúde. E só será retomado no
dia 5 de novembro.
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