quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sobre Lula no mensalão: Jefferson afirma não haver contradições entre depoimentos


Após a sustentação oral de seu advogado na segunda-feira (13) no Supremo Tribunal Federal dizendo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não só sabia como ordenou o mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) publicou em seu Twitter posts dizendo que acreditava na inocência de Lula, mas novos fatos vieram à tona. "Ao contrário do que querem fazer crer alguns, não há contradição entre meus depoimentos anteriores e a defesa feita ontem pelo meu advogado", disse Jefferson.

Ontem, o advogado Luiz Francisco Barbosa afirmou: "Eu digo: o presidente Lula não só sabia, como ordenou o encadeamento de tudo isso que essa ação penal escrutina", afirmou. 

A argumentação do advogado difere da entrevista concedida por seu cliente ao jornal "Folha de S. Paulo" em 2005, na qual Roberto Jefferson revelou a suposta existência do mensalão pela primeira vez. Na entrevista, ele afirmou (veja trecho abaixo): “Eu disse ao presidente Lula: presidente, o Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do PT] vai botar uma dinamite na sua cabeça; ele continua dando mensalão. Ele disse: ‘que mensalão?’ Aí eu contei ao presidente o que que era o mensalão. O presidente Lula chorou. Ele falou, não é possível isso e chorou.”

Agora, Jefferson diz que as investigações de seu advogado levaram à nova versão de sua defesa.
Segundo o petebista, como seu depoimento foi em 2005 e sua defesa está sendo em 2012, há diferenças de fatos apurados, mas isso não significa que haja contradições. "Sempre afirmei e reafirmo agora que o meu sentimento era de que Lula não tinha conhecimento sobre a compra de votos no Congresso, o mensalão", disse. "Em 2005, eu testemunhei o que vi e ouvi; em 2012, meu advogado, Luiz Francisco Barbosa, falou no STF do que pesquisou", completou.

Em 2005, eu desconhecia as íntimas ligações do BMG com Lula. Se eu soubesse, talvez a história do Brasil fosse outra", postou, referindo-se a outra passagem citada por seu advogado na sustentação oral. Ontem, o advogado citou uma medida provisória do presidente Lula, em 2003, que incluiu o banco BMG no mercado de crédito consignado. “Em dois meses, o BMG entrou no mercado e, em seguida, o PT obteve empréstimos do Rural e do BMG.”

Sobre o mensalão, Jefferson afirma em seu microblog que "o acordo PTB-PT em 2004 foi realizado de acordo com as regras eleitorais, que preveem o repasse de recursos do fundo partidário em espécie. Tanto é que a Receita Federal já me absolveu da multa que havia me imputado pelo recebimento dos R$ 4 milhões".

Em entrevista à "Folha de S.Paulo" publicada nesta terça, Jefferson disse que "se fosse o Collor, estaria preso, mas no Lula não pega [a acusação]". Ao jornal, o ex-deputado reafirmou diversas vezes que sentiu "surpresa'' de Lula quando o alertou sobre o mensalão.

Logo após as denúncias, em agosto de 2005, Lula fez pronunciamento em rede nacional, no qual se disse "traído". Mais tarde chegou a dizer que o epísódio foi uma "invenção" e, em maio deste ano, afirmou que o escândalo foi uma "tentativa de golpe". A assessoria de imprensa de Lula disse que o ex-presidente não vai se pronunciar sobre as acusações. 

Entenda o mensalão
O julgamento do mensalão termina nesta quarta-feira (15) a fase de defesa dos 38 réus -- até esta terça, 35 já haviam se defendido no STF. Nesta quarta deve começar também a ser lido o voto do relator do processo do mensalão no Supremo, Joaquim Barbosa. A estimativa é a de que o voto de Barbosa, com mais de mil páginas, dure cerca de quatro dias.

O caso do mensalão, denunciado em 2005, foi o maior escândalo do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. O processo tem 38 réus, incluindo membros da alta cúpula do PT, como o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). No total, são acusados 14 políticos, entre ex-ministros, dirigentes de partido e antigos e atuais deputados federais.

O grupo é acusado de ter mantido um suposto esquema de desvio de verba pública e pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio ao governo Lula. O esquema seria operado pelo empresário Marcos Valério, que tinha contratos de publicidade com o governo federal e usaria suas empresas para desviar recursos dos cofres públicos. Segundo a Procuradoria, o Banco Rural alimentou o esquema com empréstimos fraudulentos.

O tribunal vai analisar acusações relacionadas a sete crimes diferentes: formação de quadrilha, lavagem ou ocultação de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato, evasão de divisas e gestão fraudulenta.

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