Após
a sustentação oral de seu advogado na segunda-feira (13) no Supremo Tribunal
Federal dizendo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não só sabia como
ordenou o mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) publicou em seu
Twitter posts dizendo que acreditava na inocência de Lula, mas novos fatos
vieram à tona. "Ao contrário do que querem fazer crer alguns, não há
contradição entre meus depoimentos anteriores e a defesa feita ontem pelo meu
advogado", disse Jefferson.
Ontem,
o advogado Luiz Francisco Barbosa afirmou: "Eu digo: o presidente Lula não
só sabia, como ordenou o encadeamento de tudo isso que essa ação penal
escrutina", afirmou.
A
argumentação do advogado difere da entrevista concedida por seu cliente ao
jornal "Folha de S. Paulo" em 2005, na qual Roberto Jefferson revelou
a suposta existência do mensalão pela primeira vez. Na entrevista, ele afirmou
(veja trecho abaixo): “Eu disse ao presidente Lula: presidente, o Delúbio
[Soares, ex-tesoureiro do PT] vai botar uma dinamite na sua cabeça; ele
continua dando mensalão. Ele disse: ‘que mensalão?’ Aí eu contei ao presidente
o que que era o mensalão. O presidente Lula chorou. Ele falou, não é possível
isso e chorou.”
Agora,
Jefferson diz que as investigações de seu advogado levaram à nova versão de sua
defesa.
Segundo
o petebista, como seu depoimento foi em 2005 e sua defesa está sendo em 2012,
há diferenças de fatos apurados, mas isso não significa que haja contradições.
"Sempre afirmei e reafirmo agora que o meu sentimento era de que Lula não
tinha conhecimento sobre a compra de votos no Congresso, o mensalão",
disse. "Em 2005, eu testemunhei o que vi e ouvi; em 2012, meu advogado,
Luiz Francisco Barbosa, falou no STF do que pesquisou", completou.
Em
2005, eu desconhecia as íntimas ligações do BMG com Lula. Se eu soubesse,
talvez a história do Brasil fosse outra", postou, referindo-se a outra
passagem citada por seu advogado na sustentação oral. Ontem, o advogado citou
uma medida provisória do presidente Lula, em 2003, que incluiu o banco BMG no
mercado de crédito consignado. “Em dois meses, o BMG entrou no mercado e, em
seguida, o PT obteve empréstimos do Rural e do BMG.”
Sobre
o mensalão, Jefferson afirma em seu microblog que "o acordo PTB-PT em 2004
foi realizado de acordo com as regras eleitorais, que preveem o repasse de
recursos do fundo partidário em espécie. Tanto é que a Receita Federal já me
absolveu da multa que havia me imputado pelo recebimento dos R$ 4 milhões".
Em entrevista
à "Folha de S.Paulo" publicada nesta terça, Jefferson disse que
"se fosse o Collor, estaria preso, mas no Lula não pega [a
acusação]". Ao jornal, o ex-deputado reafirmou diversas vezes que sentiu
"surpresa'' de Lula quando o alertou sobre o mensalão.
Logo
após as denúncias, em agosto de 2005, Lula fez pronunciamento em rede nacional,
no qual se disse "traído". Mais tarde chegou a dizer que o epísódio
foi uma "invenção" e, em maio deste ano, afirmou que o escândalo
foi uma "tentativa de golpe". A assessoria
de imprensa de Lula disse que o ex-presidente não vai se pronunciar sobre as
acusações.
Entenda o mensalão
O
julgamento do mensalão termina nesta quarta-feira (15) a fase de defesa dos 38
réus -- até esta terça, 35 já haviam se defendido no STF. Nesta quarta deve
começar também a ser lido o voto do relator do processo do mensalão no Supremo,
Joaquim Barbosa. A estimativa é a de que o voto de Barbosa, com mais de
mil páginas, dure cerca de quatro dias.
O
caso do mensalão, denunciado em 2005, foi o maior escândalo do primeiro mandato
de Luiz Inácio Lula da Silva. O processo tem 38 réus, incluindo membros da alta
cúpula do PT, como o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). No total, são
acusados 14 políticos, entre ex-ministros, dirigentes de partido e antigos e
atuais deputados federais.
O
grupo é acusado de ter mantido um suposto esquema de desvio de verba pública e
pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio ao governo Lula. O
esquema seria operado pelo empresário Marcos Valério, que tinha contratos de
publicidade com o governo federal e usaria suas empresas para desviar recursos
dos cofres públicos. Segundo a Procuradoria, o Banco Rural alimentou o esquema
com empréstimos fraudulentos.
O
tribunal vai analisar acusações relacionadas a sete crimes diferentes: formação
de quadrilha, lavagem ou ocultação de dinheiro, corrupção ativa, corrupção
passiva, peculato, evasão de divisas e gestão fraudulenta.
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