segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Socorro à Europa requer maior exposição ao risco


Diretor do FMI defende que países do Brics que têm muitas reservas invistam em diferentes tipos de ativos por todo o mundo e não apenas em títulos mais seguros


Margarida Peixoto


Se o Brasil quiser ajudar a resolver a crise internacional, conforme tem garantido o governo brasileiro, deverá ampliar sua exposição ao risco nos investimentos externos.
“Defendemos que os países do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, que têm muitas reservas, invistam em diferentes tipos de ativos por todo o mundo, e não apenas em ativos sem risco”, afirmou Antonio Borges, diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a Europa. “Mas a realidade é que estes países são muito conservadores e investem de forma desproporcional no Tesouro americano”.


O Brasil também poderia aproveitar o momento para comprar empresas portuguesas, conforme sugeriu o FMI, no encontro anual com o Banco Mundial. “O Brasil pode transformar-se num bom exemplo de como as economias emergentes podem ajudar a resolver a crise”, garantiu Antonio Borges, destacando que, para isso, basta aproveitar o momento que a economia portuguesa atravessa.


“Portugal tem um programa de privatizações que pode ter um impacto muito grande na diminuição do endividamento do estado”, explicou o representante do FMI. “O Brasil pode usar isso para entrar na Europa e, se isso acontecer, vai ser muito útil”, defendeu Borges.


A questão sobre como as economias emergentes podem ajudar a evitar uma nova grande recessão econômica está cada vez mais em cima da mesa. Primeiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sugeriu disponibilizar ajuda à Zona do Euro. Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff voltou a sublinhar essa intenção na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Este fim de semana os líderes do FMI e do Banco Mundial repetiram a importância da cooperação entre todas as economias.


“Os países com excedentes em conta corrente podem ajudar a equilibrar a economia internacional, aumentando a sua procura interna. Alguma apreciação da sua moeda também não faria mal. A mensagem é clara”, disse Christine Lagarde, diretora-geral do FMI, em conferência de imprensa.


“Mas ainda não vimos algo ser feito”, notou Antonio Borges, referindo-se tanto ao Brasil, como a outros emergentes que também já prometeram ajuda, como a China.
A outra opção, que traria uma solução mais imediata para o estrangulamento financeiro da Zona do Euro não reúne tanta unanimidade entre os líderes internacionais: a diversificação das reservas monetárias destes países para outros ativos, que não o dólar.


Na semana passada, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, recusou a implementação de “diretivas muito restritas” sobre a forma de aplicação das reservas das economias emergentes. Tombini argumentou, num encontro dos presidente dos bancos centrais dos países de língua oficial portuguesa realizado em Lisboa, que a cooperação deve existir, mas que “em última análise é uma questão de soberania” deixar espaço para que cada país decida como quer aplicar as suas poupanças.


As declarações de Tombini foram uma resposta à pressão que tem sido criada nos vários fóruns internacionais — o tema também marcou os encontros do G20 —para que os emergentes apliquem ativos em obrigações de outros países, estimulem o consumo dos seus mercados domésticos e invistam mais, de forma a corrigir os atuais desequilíbrios da economia internacional.


RESERVAS BRASILEIRAS


US$ 350 bilhões é o valor estimado da poupança brasileira, parte da qual poderia ser aplicada em papéis dos países da Zona do Euro.


O acúmulo desse valor se deu pelos sucessivos superávits no comércio internacional (exportações maiores que as importações) e pela entrada de investimentos externos no país.


Quando dólares entram no país por investimentos em ações, pertencem a quem vendeu as ações. Quando entram por aporte em títulos bancários, pertencem aos bancos que os venderam.

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