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terça-feira, 30 de janeiro de 2024

A Criação do Estado de Israel: uma solução europeia que gerou um conflito no Oriente Médio


Por Dag Vulpi

Em 1948, a proclamação do Estado de Israel marcou o início de um dos conflitos mais longos e complexos da história contemporânea. A decisão da ONU de dividir a Palestina, então sob mandato britânico, foi vista por muitos como uma reparação moral ao povo judeu após o Holocausto. No entanto, para os árabes palestinos, significou o começo de uma tragédia nacional que perdura há mais de sete décadas.

Um refúgio que transferiu o conflito

Após o Holocausto, que dizimou milhões de judeus na Europa, a comunidade internacional buscou uma forma de garantir um território seguro para esse povo historicamente perseguido. Sob forte pressão do movimento sionista, a Organização das Nações Unidas aprovou, em 1947, a Resolução 181, recomendando a divisão da Palestina em dois Estados: um judeu e outro árabe.

O novo Estado de Israel foi proclamado em 14 de maio de 1948, liderado por David Ben-Gurion, poucas horas antes do fim do mandato britânico sobre a região. A proposta, porém, foi rejeitada pelos países árabes vizinhos e pelos próprios palestinos, que viam na decisão uma imposição externa sobre uma terra habitada majoritariamente por árabes há séculos.

A criação de Israel, embora amparada por razões humanitárias e religiosas, transferiu o epicentro do problema antissemita europeu para o Oriente Médio. A Europa livrou-se da culpa e da responsabilidade moral do Holocausto, mas o preço foi pago pela Palestina — uma região que não teve participação direta no genocídio.


O peso histórico da Nakba

O resultado imediato foi a Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948–1949), que consolidou o Estado de Israel e provocou o êxodo de cerca de 700 mil palestinos, episódio conhecido como Nakba (“catástrofe”, em árabe). Desde então, o conflito israelo-palestino segue sem solução definitiva, marcado por guerras, ocupações, resistências e a negação mútua de soberania.

A Palestina permanece sem reconhecimento pleno como Estado, dividida entre a Faixa de Gaza, sob bloqueio israelense, e a Cisjordânia, fragmentada por assentamentos judaicos. Diversas organizações internacionais e vozes críticas classificam essa realidade como um regime de apartheid moderno.


Sionismo e as origens do Estado israelense

O movimento sionista, surgido no final do século XIX a partir das ideias de Theodor Herzl, defendia a criação de um lar nacional judeu na antiga Terra de Israel. A escolha da Palestina não foi apenas política, mas também simbólica, associada à narrativa bíblica do retorno à “Terra Prometida”.

A imigração judaica à região cresceu especialmente entre as duas guerras mundiais, intensificando tensões com os árabes palestinos. Durante o mandato britânico, surgiram grupos armados de ambos os lados, culminando em confrontos que prenunciaram a guerra aberta de 1948.


Conflito e desigualdade persistente

De lá para cá, a história do Oriente Médio tem sido marcada por guerras sucessivas — Crise de Suez (1956), Guerra dos Seis Dias (1967), Guerra de Yom Kippur (1973), além das Intifadas palestinas e das ofensivas recentes na Faixa de Gaza.
Enquanto Israel consolidou uma das forças militares mais poderosas do planeta, a Palestina luta pelo reconhecimento de sua soberania e por condições mínimas de dignidade humana.

Atualmente, cinco milhões de palestinos descendem dos refugiados da Nakba. Muitos vivem em campos ou sob bloqueio, enfrentando escassez de água, energia, remédios e liberdade de circulação — uma realidade que segue desafiando o conceito de direitos humanos universais.


Um olhar crítico

“A Europa solucionou seu problema, mas impôs as consequências sobre a Palestina.”
Essa reflexão continua atual. O antissemitismo europeu, nascido e cultivado no Ocidente, foi deslocado para o Oriente Médio como um fardo histórico.
A ONU poderia ter buscado outra alternativa? Talvez. Mas a escolha pela Palestina, além de política, foi simbólica e teológica — um gesto que, ao mesmo tempo, resgatou memórias e perpetuou feridas.


Reflexão

A criação do Estado de Israel foi uma vitória da diplomacia ocidental e da resistência judaica, mas também o início de uma injustiça histórica para o povo palestino. Setenta e sete anos depois, o mundo ainda paga o preço de uma decisão tomada sob o peso da culpa e da pressa.
O desafio que permanece é o de transformar uma terra dividida por muros e ideologias em um território de coexistência e reconhecimento mútuo — um sonho que, por enquanto, continua aprisionado entre as ruínas da história.


Fonte de referência

Trechos e base factual extraídos do artigo:
Daniel Neves Silva, Brasil Escola — A Criação do Estado de Israel: as origens históricas e as consequências geopolíticas
Formado em História pela UEG e especialista pela UFG.
https://brasilescola.uol.com.br/historia/a-criacao-estado-de-israel.htm

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