Análise
diz que foi contraproducente reduzir a presença de Lula na campanha e fazer
concessões ideológicas, como elogios à Lava Jato.
Em
documento que será submetido à aprovação do seu diretório nacional, o Partido
dos Trabalhadores afirma que perdeu apoio do eleitorado popular, especialmente
no Sul e Sudeste, em parte por conta da política econômica adotada no governo
Dilma Rousseff (PT) e pela dificuldade em lidar com o arrebatamento de
"corações e mentes" pelo que considera extrema direita.
O
texto, que lamenta a "ocupação de territórios, corações e mentes pela
extrema direita, por empresas disfarçadas de igrejas e pelo crime organizado",
traz pontos de autocrítica, como a não realização de reformas estruturais nos
governos petistas, por exemplo. Também prega oposição dura ao governo de Jair
Bolsonaro (PSL).
O
documento considera que houve insucesso no enfrentamento dos ataques ao PT relacionados
com o tema da corrupção. "Ainda que nossos governos tenham aumentado os
meios legais de combate à corrupção, os limites da participação popular, o
adiamento da reforma política e a dependência em relação a partidos
tradicionais se mantiveram", afirma.
A
proposta de resolução política, escrita por um comitê de nove petistas, será
votada pelo diretório nacional do PT em reuniões marcadas para sexta (30) e
sábado (1º).
O
texto pede "um trabalho profissional de reconstrução da imagem"
do partido. "Fomos vítimas de uma campanha de terrorismo cultural, que vai
requerer um trabalho longo e paciente de enfrentamento, que começa por entender
como o antipetismo se formou, seus diferentes componentes e como
enfrentá-los". Alguns trechos não foram consenso entre o grupo e
dependerão do aval da direção. Entre as partes em que houve desacordo na
comissão, está uma crítica à campanha de Fernando Haddad (PT), que perdeu para
Bolsonaro no segundo turno.
O
texto diz que foi contraproducente reduzir a presença de Lula (PT) na campanha
e fazer concessões ideológicas, como elogios à Lava Jato, imaginando que isso
pudesse atrair o centro. Também neste ponto, avalia que foi um erro
abrir mão de partes do programa de governo, como o duplo mandato do Banco Central, ou
seja, que a política monetária fosse voltada para geração de empregos além do
controle da inflação, o que não é bem visto no mercado.Segundo o texto, apesar
da derrota na eleição presidencial, o partido está "credenciado pelo
resultado eleitoral para figurar na linha de frente da oposição".
"O
Partido dos Trabalhadores sai inteiro da disputa e, por isso mesmo, continua a
ser alvo principal de todos os que pretendem silenciar as classes
trabalhadoras", diz.
O
texto afirma que a prisão de Lula teve o objetivo de tirá-lo da eleição e que
isso viabilizou Bolsonaro. Diz que o ex-presidente segue como principal líder
da esquerda, mas afirma que Haddad "se projeta como uma nova
liderança nacional" do PT.
"Lula
mais uma vez esteve no centro da disputa eleitoral, política e
ideológica. Passada a eleição, Lula segue como a principal liderança viva
da esquerda brasileira", afirma o documento.
Para
o PT, Bolsonaro foi eleito em uma disputa "maculada pela interdição da
candidatura Lula, pela fraude, pela desinformação que atingiu em cheio a
consciência da população, deformando-a, e por vícios e irregularidades,
inclusive pagamentos ilegais para difundir fake
news criminosas".
A
proposta do documento é formar uma unidade no campo da esquerda, com partidos
que defenderam a democracia e os direitos sociais no segundo turno.
"O
PT buscará a discussão imediata com esses partidos em torno de um programa
comum. Essa é a unidade fundamental a ser buscada e ela permite ter a
necessária flexibilidade para alianças mais amplas em defesa dos direitos civis
e liberdades democráticas."
O
documento afirma que partidos, como o PSDB, estimularam posições que considera
de extrema direita, mas depois responsabilizaram o PT pela ascensão
bolsonarista. Em referência a Ciro Gomes (PDT), diz que aliados, contrários ao
impeachment de Dilma, também culparam o PT pela derrota.
"Somam-se
a eles políticos oponentes ao golpe, que duvidavam da força do PT, imaginavam
chegar ao segundo turno e, frustrados, tentam 'culpar' nosso partido pela
performance obtida", diz.
Ainda
sobre Ciro, o documento fala de sua pretensão eleitoral e de sua iniciativa de
formar uma frente de oposição sem o PT.
"A
campanha contra o PT visa, em parte, adubar o terreno para algumas pretensas
candidaturas às eleições de 2020 e 2022. Outro objetivo declarado é afastar o
PT da linha de frente da oposição a Bolsonaro. Ambos, a seu modo, reproduzem
argumentos e métodos utilizados desde 2005 para tentar desmoralizar,
desorganizar e, no limite, fazer desaparecer o Partido dos Trabalhadores. Na
prática, contudo, tornam o ambiente mais propício ao crescimento da extrema
direita."
O
documento também faz referência a Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que se opôs
a Bolsonaro, mas não declarou apoio a Haddad. "Algumas lideranças
importantes da direita, do centro e da centro-esquerda preferiram
omitir-se."
Em
uma análise sobre Bolsonaro, o documento diz que ele "não é Fernando
Henrique, não é Itamar, não é José Sarney, não é nem mesmo Collor de
Mello". "O governo Bolsonaro não traz de volta a normalidade
democrática", conclui.
A
diferença do presidente eleito em relação a Michel Temer (MDB) seria a
legitimidade. "Enquanto Temer galgou a Presidência através do golpe,
Bolsonaro é um golpista que chegou à Presidência através de eleições e, por
isso, alega possuir legitimidade", diz.
O
documento avalia Bolsonaro como um governo "profundamente
autoritário, ultraliberal e submisso aos interesses do governo
estadunidense". A classificação do presidente eleito como
neofascista, porém, não foi consensual no comitê.
"Trata-se
de um governo com a forma política do neoliberalismo, que aparenta preservar as
instituições do chamado Estado de Direito, mas as esvazia de substância
democrática e social", diz o texto.
O
documento ainda menciona governos aliados da América Latina, mas ignora a
Venezuela. Em outro trecho, contudo, classifica o que chama de ofensiva contra
a Venezuela como uma ofensiva imperialista.
documento ainda se solidariza com brasileiros privados de assistência médica
com a saída de médicos cubanos do país e com vítimas de violência política
durante a eleição.
O
PT agradece votos e engajamento de artistas e militantes, mencionando
especificamente o apoio do PC do B e do PSOL. "Eleições podem ser vencidas
ou perdidas, mas, em perspectiva histórica, o futuro pertence aos que
estão do lado certo da história: o lado da solidariedade, da democracia e da
igualdade", afirma. Com informações da Folhapress.