Dag Vulpi 09/10/25
Vivemos na era das respostas instantâneas — e, paradoxalmente, das mentes preguiçosas. Em meio à enxurrada de dados e opiniões, confundimos informação com sabedoria e barulho com pensamento. O resultado? Um mundo cheio de certezas, mas vazio de reflexão.
O pensamento crítico está desaparecendo — não por falta de conhecimento, mas por excesso de distração.
A cada toque na tela, uma dúvida se dissolve antes mesmo de amadurecer. O que antes exigia contemplação, agora se perde em segundos.
De Sócrates a Descartes, de Kant a Hannah Arendt, os grandes pensadores ensinaram que pensar é duvidar, e duvidar é um ato de coragem. Mas hoje, questionar parece incômodo demais — é mais fácil aceitar a opinião pronta, a manchete moldada, o algoritmo que decide o que “merece” nossa atenção.
O “efeito Google” nos deu o conforto da resposta imediata, mas roubou o hábito da busca.
Vivemos em câmaras de eco, onde cada clique reforça o que já acreditamos.
O perigo é silencioso: deixamos de pensar com a própria mente e passamos a reagir com os reflexos do sistema.
Nietzsche alertou que “quem tem por que viver, suporta quase qualquer como.”
Mas e quem já não pensa sobre o porquê?
Sem reflexão, a vida se reduz à repetição — e a inteligência, a uma lembrança romântica de uma era que acreditava no diálogo e na dúvida.
Talvez ainda haja tempo.
Talvez o primeiro passo seja desaprender o automatismo e reaprender o espanto.
Porque pensar, no fim das contas, é o último ato de resistência.