A
equipe do novo governo desenhou uma estrutura com 15 ministérios -mas Bolsonaro
trabalha com um teto de 17 pastas.
A
reestruturação de ministérios responsáveis por áreas cruciais da economia do
governo Jair Bolsonaro (PSL) colocou em alerta praticamente todos os setores e
é marcada por especulação, dúvidas e críticas.
A
equipe do novo governo desenhou uma estrutura com 15 ministérios -mas Bolsonaro
trabalha com um teto de 17 pastas, e pode alcançá-lo. Fusões propostas já foram
descartadas e ainda pode haver recuos de anúncios feitos.
De
certo até agora está a criação do superministério da Economia, sob comando de
Paulo Guedes, com a fusão de Fazenda, Planejamento e Mdic (Indústria, Comércio
Exterior e Serviços).
Oficialmente
também nessa quarta-feira (31) foram anunciados, em Brasília, os 12 nomes que
irão compor o governo de transição na área econômica.
Fora
isso, pelos esboços discutidos pela equipe, Minas e Energia e Transportes
continuarão pastas distintas, e o plano de um superministério já ficou para
trás.
O
Ministério de Transportes, que abarca Portos e Aviação Civil, pela proposta,
será o de Infraestrutura. Ainda está em discussão, porém, a possibilidade de a
nova pasta abrigar Comunicações, hoje em Ciência e Tecnologia.
A
Secretaria do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), criada pelo
presidente Michel Temer para cuidar de concessões e privatizações, deve ser
ligada ao presidente ou mesmo ao vice, general Hamilton Mourão. Hoje, o PPI
está vinculado à Secretaria da Presidência.
As
informações foram confirmadas à Folha de S.Paulo por Mourão. Ele participou do
encontro de terça-feira (30) com Bolsonaro, Guedes, Onyx Lorenzoni (Casa Civil)
e os ex-dirigentes do PSL Gustavo Bebianno e Julian Lemos, no Rio de Janeiro.
O
esboço da equipe de transição também inclui a fusão dos Ministérios de Meio
Ambiente e Agricultura. Porém, o presidente da UDR (União Democrática
Ruralista), Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse que a decisão não foi tomada.
"Não
tem nada confirmado sobre a união dos ministérios. Existe a possibilidade de os
dois ministérios seguirem separados, como existe a possibilidade da fusão. Não
tem nada definido. Pelo menos foi isso que o presidente me disse", afirmou
Nabhan após encontro com Bolsonaro.
De
acordo com o ruralista, aliado do presidente eleito, a questão só será definida
"ao longo de muita conversa, de ouvir os segmentos, ouvir as
instituições". "Essa é a qualidade que eu sempre admirei nele: ter a
humildade de ouvir todo mundo."
Nabhan
também desconversou sobre a possibilidade de ele ser o indicado ao ministério e
disse que levou a Bolsonaro a sugestão do nome do deputado Jerônimo Goergen
(PP-RS) para a Agricultura. Segundo ele, Goergen tem a simpatia da classe
produtora.
A
junção das pastas levou a críticas do agronegócio e de integrantes do atual
governo. "O novo ministério que surgiria com a fusão do MMA [Ambiente] e
de Agricultura teria dificuldades operacionais que poderiam resultar em danos
para as duas agendas", disse o ministro do MMA, Edson Duarte, em nota.
O
ministro da Agricultura, Blairo Maggi, também se posicionou contra a fusão.
"Lamento a decisão do presidente eleito por entender que isso trará
prejuízos incalculáveis ao agronegócio brasileiro!", disse, em suas redes
sociais.
CONSTRUÇÃO
E SANEAMENTO
O
plano da equipe de Bolsonaro também inclui a junção de três ministérios:
Integração Nacional, Cidades e Turismo.
A
proposta de extinguir a pasta de Cidades levantou dúvidas sobre como será a partilha
dos recursos. O ministério é responsável por políticas de habitação, como o
Minha Casa Minha Vida, saneamento básico, mobilidade e desenvolvimento urbano.
O
receio é agravado por uma declaração de Bolsonaro, antes das eleições, de que
as verbas atualmente gerenciadas pela pasta deveriam ser encaminhadas às
prefeituras.
Especialistas
do setor de construção ouvidos pela reportagem disseram que faltam
esclarecimentos sobre como esse novo ministério funcionaria.
"Os
municípios têm arrecadação limitada e precisam dos recursos federais por meio
de programas específicos", diz Luciano Guimarães, presidente do CAU-BR
(Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil).
"Ainda
está muito prematuro, é muita conversa daqui e de lá", afirmou Flavio
Amary, presidente do Secovi-SP (sindicato do setor imobiliário).
"Se
a gente pensar de maneira muito específica, setorial e até egoística, claro que
[a extinção] atrapalharia", disse ele.
Amary
pondera, porém, que o setor deve colaborar com o intuito do governo de diminuir
o tamanho do Estado.
No
setor de saneamento básico, também há muita incerteza. A equipe de Bolsonaro
não participou, durante a campanha eleitoral, de debates do setor.
A
possível junção de pastas pode ser positiva, afirma Roberto Tavares, presidente
da Aesbe (Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento).
Hoje,
as verbas destinadas a saneamento estão divididas nos orçamentos dos
ministérios de Saúde, Cidades, Integração Nacional e Turismo. "Desde que a
política do setor fique centralizada, acho positivo."
A
extinção do Mdic, que será incorporado ao superministério de Economia, também
tem gerado dúvidas de empresários.
O
Mdic tem pronto um guia de instruções para abertura comercial em três setores,
que será entregue ao novo governo durante a transição.
A
equipe do ministério também entregará à equipe de Bolsonaro a proposta de um
programa para mitigar os efeitos negativos da abertura comercial no emprego.
Os
técnicos do Mdic têm propostas para ampliar a entrada de importados nos setores
de químicos, máquinas e equipamentos e de bens de informática.
A
expectativa é que iniciativa ganhe novo impulso na administração de Guedes.
Fontes
do governo, porém, consideram difícil a tarefa de fundir as duas pastas. Na
Fazenda, dizem os observadores, a agenda prioritária hoje é o ajuste fiscal, de
redução de despesas.
Já
no Mdic, a agenda é o suporte a setores exportadores e os inscritos em
programas de ganho de competitividade, como o Brasil Mais Produtivo, que deve
ser expandido em 2019.
Além
disso, afirmam que uma fusão ministerial dessas proporções poderia levar mais
de um ano.
Para
o ex-secretário de comércio exterior (2007-2010), Welber Barral, a fusão já foi
tentada no governo Collor e não deu certo. "O tema da Fazenda é o
funcionamento do Estado. E o Ministério da Indústria trata do setor
privado", afirma. Com informações da Folhapress.
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