O
ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles protocolou hoje (14), no
Senado, pedido de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal
Federal Gilmar Mendes, com assinaturas de juristas, professores, funcionários
públicos e estudantes. Além do impeachment, o grupo também pediu que o STF
e a Procuradoria-Geral da República investiguem se a conduta de Mendes tem sido
compatível com o cargo que ocupa.
O grupo produziu três peças jurídicas. O impeachment foi protocolado na Secretaria-Geral da Mesa Diretora do Senado e deverá ter sua admissão inicialmente analisada pelo presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
A
segunda peça é uma reclamação que será encaminhada à presidente do Supremo
Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, para apuração administrativa das
condutas do ministro. A terceira peça é uma notícia-crime encaminhada ao
procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
A Agência
Brasil procurou Gilmar Mendes para ouvi-lo sobre as acusações, mas não foi
possível o contato até a publicação da matéria. Segundo sua assessoria, ele foi
ao Rio de Janeiro para o velório do jornalista Jorge Bastos Moreno e está em
trânsito neste momento.
Conversa telefônica
As
três peças tomam como base a conversa telefônica interceptada pela Polícia
Federal em que o senador afastado Aécio Neves pede a Gilmar Mendes que
interceda com outros senadores para propiciar a aprovação de um projeto de lei.
Os documentos pontuam que, apesar de estar sob sigilo, a gravação foi
amplamente divulgada na imprensa e o próprio ministro admitiu o teor da
conversa.
“O
momento da história brasileira presente pede a participação de cidadãos e
cidadãs brasileiros. Na qualidade de cidadãos, nós apresentamos este pedido
aqui no Senado da República, um pedido por crime de responsabilidade. Calcado
em notícias de quem produz jornalismo? Não, calcado em declarações do ministro
Gilmar Mendes, publicadas sim pela imprensa, mas por ele jamais desmentidas,
essas declarações. E que nós consideramos que elas caracterizam crime de
responsabilidade”, explicou o ex-procurador-geral.
O
crime de responsabilidade que justificaria o impeachment, explicou Fonteles,
estaria caracterizado pela conduta do ministro de “exercer atividades
político-partidárias mediante a articulação e participação em atividades
típicas de uma liderança político-partidária, especialmente por meio de atos de
influenciar e persuadir parlamentares a votarem a favor de um determinado
projeto de lei, por solicitação do presidente do respectivo partido político”,
fato que teria ficado comprovado na conversa com o senador afastado.
Condutas
Outras
condutas de Gilmar Mendes são apontadas pelo grupo, como proferir julgamento em
processo nos quais estaria impedido por ser, a parte, cliente do escritório de
advocacia onde atua a esposa do ministro, ou em causas na qual seria legalmente
suspeito por se apresentar como “velho amigo” de uma das partes. Em maio, o
ministro divulgou nota afirmando que, no habeas corpus por meio do
qual concedeu liberdade ao empresário Eike Batista, o empresário não era
representado por advogado do escritório Sérgio Bermudes, onde a esposa Guiomar
Mendes é sócia.
Os
signatários das petições também acusam Mendes de proceder de modo incompatível
com a honra, a dignidade e o decoro das funções de ministro do Supremo Tribunal
Federal, por ter feito uso de linguagem impolida, depreciativa e agressiva
contra o ministro Marco Aurélio, a Procuradoria-Geral da República e seus
membros, e o Tribunal Superior do Trabalho e seus membros; e de alimentar e ter
relações de proximidade com pessoas investigadas ou denunciadas criminalmente
no STF, ou que sejam réus, partes ou juridicamente interessadas em processos em
andamento no STF e no TSE.
No
pedido encaminhado ao Senado, o grupo pede que o processo seja instaurado para
que seja iniciada a apuração, com apresentação de rol de testemunhas e produção
de provas. No Supremo, eles querem que os pares de Mendes avaliem
administrativamente, em caráter disciplinar, se ele atuou com conduta
incompatível com o cargo e com suspeição nos processos que julgou, aplicando as
penas previstas em lei. Já para a Procuradoria-Geral da República, o pedido é
para que seja investigado se o ministro utilizou-se do cargo para atuar em
favor de interesses próprios e de terceiros.
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