Agência
Brasil
A
aprovação do projeto que libera a terceirização para todas as atividades das
empresas, na noite de ontem (22), pela Câmara dos Deputados, dividiu as
opiniões de entidades patronais, centrais sindicais e representantes das
Justiça trabalhista. O projeto ainda precisa ser sancionado pelo presidente da
República Michel Temer para valer.
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Para
as entidades patronais, a aprovação dá mais segurança jurídica, o que
significará mais abertura de vagas. Já os representantes dos trabalhadores e da
Justiça trabalhista afirmam que a proposta representa a redução dos direitos
dos trabalhadores e redução dos salários.
Pelo
projeto aprovado ontem, as empresas poderão terceirizar todas as atividades, incluindo as
chamadas atividade-fim, aquelas para a qual a empresa foi criada. A regra
valerá para empresas privadas e a administração pública. Atualmente, não existe
uma legislação específica, mas decisões judiciais autorizam a terceirização
apenas nas atividades-meio, ou seja, aquelas funções que não estão diretamente
ligadas ao objetivo principal da empresa, como serviços de limpeza e
vigilância.
Entidades
patronais
Para
o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo
Skaf, a aprovação do projeto representou “um passo rumo à modernização e ao
emprego”. Segundo ele, a medida vai beneficiar mais de 12 milhões de
trabalhadores brasileiros terceirizados no país.
“A regulamentação deve ser vista como uma
nova oportunidade para geração e manutenção de empregos no Brasil e a garantia
de direitos de milhões de trabalhadores que já exercem sua atividade nessa
modalidade. Essa é mais uma vitória no caminho do Brasil que queremos: moderno,
competitivo e com ambiente de trabalho seguro”, disse.
A
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) disse esperar que o
presidente Michel Temer sancione o projeto o mais breve possível. “Entendemos que o projeto representa um
avanço importante nas relações entre empregadores, trabalhadores e mercado de
trabalho. Esse tipo de trabalho passará finalmente a ser protegido por uma lei,
discutida e referendada pelo Congresso Nacional”, disse João Martins da
Silva Junior, presidente da CNA.
Em
nota, o vice-presidente de relações capital-trabalho e responsabilidade social
do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo
(SindusCon-SP), Haruo Ishikawa, disse que o projeto dá segurança jurídica e não
prezariza os direitos trabalhistas.
“Na indústria da construção, a subcontratação
diminuiu a rotatividade. Por exemplo, em vez de a construtora contratar um
pintor por alguns meses e dispensá-lo depois de concluído o serviço, esse
profissional trabalha para uma empresa especializada, que presta serviços para
várias construtoras sucessivamente, e assim ele permanece empregado. Com isso,
as empresas subcontratadas e seus profissionais se especializam e o resultado é
o aumento da produtividade em todo o setor”, disse.
Para
a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São
Paulo (FecomercioSP), a terceirização é uma “realidade mundial” e a
falta de uma regulamentação no país gerava conflitos nas relações do trabalho.
O
presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das
Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Alencar
Burti, também manifestou posição favorável ao projeto. “A terceirização dá mais flexibilidade para
as empresas contratarem, o que vai ajudar o Brasil a sair desse quadro
dramático de desemprego”, disse.
Trabalhadores
Seis centrais
sindicais criticaram, por meio de uma nota conjunta, a aprovação do projeto de
terceirização. Para as centrais, o projeto “condena
o trabalhador à escravidão”.
“O projeto de terceirização, PL 4302/98,
aprovado nesta quarta-feira, dia 22, é um retrocesso e acaba com a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Com mais de 12 milhões de
desempregados, o trabalhador não pode ser ainda mais penalizado pelo governo
para resolver a grave crise político/econômica do país”, diz o texto
divulgado pelas centrais no início da noite de hoje.
O
texto é assinado pelos presidentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central e pela Central dos
Sindicatos Brasileiros (CSB).
Segundo
a nota, a terceirização “aumenta a
insegurança jurídica, acaba com os direitos trabalhistas, divide as categorias
e permite que o setor patronal faça o que bem entender com os sindicatos dos
trabalhadores”.
Ao
final do documento, as centrais dizem que pretendem cobrar do governo a
abertura de negociações e a manutenção da proibição da terceirização seja
possível na atividade-fim.
Em
comunicado publicado em seu site, mais cedo, a CUT diz que não foi mantido
acordo de suspender a votação do projeto para ampliar o debate. “Num verdadeiro 'passa moleque', o
presidente da Câmara não honra o compromisso assumido com as centrais e submete
a voto um PL [projeto de lei] que é, na prática, uma minirreforma
trabalhista regressiva que permite a terceirização de todos os trabalhadores e
todas as trabalhadoras, atacando todos os seus direitos como férias, 13º
salário, jornada de trabalho, garantias de convenções e acordos coletivos”, diz.
A central pretende realizar uma greve geral no dia 31 de março contra o
projeto.
O
presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos e
vice-presidente da Força Sindical, Miguel Torres, disse que a aprovação pelos
deputados foi uma “sentença de morte aos
direitos da classe trabalhadora, alcançados com muita luta ao longo da
história, à CLT, à carteira de trabalho, às regras de proteção social e às
relações de trabalho mais equilibradas e justas”.
Justiça do Trabalho
Em
nota, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra),
que representa cerca de 4 mil juízes do trabalho, lamentou a aprovação do
projeto de lei e pede o veto do presidente. Na avaliação da entidade, a
proposta vai acarretar em redução de salários e em piores condições de
trabalho. “O projeto agrava o quadro em
que hoje se encontram aproximadamente 12 milhões de trabalhadores
terceirizados, contra 35 milhões de contratados diretamente, números que podem
ser invertidos com a aprovação do texto hoje apreciado”,
escreveu Germano Siqueira, presidente da entidade.
“Não se pode deixar de lembrar a elevada taxa
de rotatividade que acomete os profissionais terceirizados, que trabalham em
média 3 horas a mais que os empregados diretos, além de ficarem em média 2,7
anos no emprego intermediado, enquanto os contratados permanentes ficam em seus
postos de trabalho, em média, por 5,8 anos”, acrescentou.
A
Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANTP), que congrega membros
do Ministério Público do Trabalho, argumenta que a regras da terceirização vão
agravar a crise econômica.
“A presença de um terceiro, no caso a empresa
terceirizada, entre a empresa tomadora-contratante e o trabalhador, certamente
gerará uma significativa redução de salários e benefícios e de investimentos em
qualificação profissional e em saúde e segurança do trabalho, tendo em vista
que ambas as empresas terão que obter lucro nessa relação trilateral, que
só acontecerá à custa dos direitos dos trabalhadores terceirizados, fato que
causará certamente o empobrecimento geral da classe trabalhadora e uma ainda
maior concentração de renda no nosso país”, diz a nota, assinada pelo
presidente da ANTP, Ângelo Fabiano Farias da Costa e pela vice-presidente Ana
Cláudia Rodrigues Bandeira Monteiro.
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