Agência
Brasil
Após
se reunirem por três dias, os dirigentes da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) manifestaram-se nesta quinta-feira (23) contra a reforma da
Previdência proposta pelo governo federal e a favor da redução do número de
autoridades com direito a foro privilegiado. De acordo com a CNBB, a proposta
de emenda à Constituição (PEC) em debate no Congresso reduz a Previdência a uma
questão econômica e “escolhe o caminho da
exclusão social”.
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Em
entrevista convocada para comentar os principais temas em debate no país, o
presidente da CNBB, cardeal Sérgio da Rocha, criticou também o projeto que
libera a terceirização em todas as atividades das empresas, aprovado
ontem (22) pela Câmara dos Deputados. Segundo dom Sérgio, o “risco de precarização das relações de
trabalho” e de “perda de direitos é muito grande”.
Em
nota pública, a CNBB manifesta apreensão com o debate sobre mudanças na
aposentadoria e pede que as contas da Previdência sejam mais transparentes. “Os números do governo federal que apresentam
um déficit previdenciário são diversos dos números apresentados por outras
instituições, inclusive ligadas ao próprio governo. Não é possível encaminhar
solução de assunto tão complexo com informações inseguras, desencontradas e
contraditórias. É preciso conhecer a real situação da Previdência Social no Brasil.
Iniciativas que visem ao conhecimento dessa realidade devem ser valorizadas e
adotadas, particularmente pelo Congresso Nacional, com o total envolvimento da
sociedade”, dizem os bispos, no comunicado.
Os
representantes da CNBB reuniram-se na última segunda-feira (20) com o
presidente Michel Temer e, depois, com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da
Câmara dos Deputados. “Fomos para
dialogar. Manifestamos a nossa preocupação com os projetos que tramitam no
Congresso, sobre a reforma da Previdência e sobre as matérias que tratam dos
direitos indígenas”, afirmou o secretário-geral do CNBB, Leonardo Steiner.
As notas públicas foram aprovadas após reunião do Conselho Permanente da CNBB,
realizada de terça-feira (21) até hoje.
Apesar
de convocar os católicos a se mobilizar em torno do tema, os bispos não
propuseram ação direta nas comunidades. Para o cardeal, atitudes como, por
exemplo, divulgar críticas à reforma durante as missas, vai depender de cada
padre. “Queremos que esse tema seja
debatido de alguma maneira nas nossas comunidades, que seja objeto de reflexão
e de estudo. Mas não entramos em detalhe sobre as iniciativas concretas, que
deverão ficar a cargo dos bispos diocesanos e, particularmente, das comunidades”,
afirmou dom Sérgio.
De
acordo com o comunicado, a CNBB defende que o sistema da Previdência Social
continue tendo uma matriz ética que proteja as pessoas da vulnerabilidade
social, de valores ético-sociais e solidários. “Na justificativa da PEC 287/2016 [que trata da reforma] não existe
nenhuma referência a esses valores, reduzindo-se a Previdência a uma questão
econômica”, diz o texto. A entidade afirma que, na proposta, o problema do
déficit é solucionado “excluindo da
proteção social os que têm direito a benefícios”.
O
governo afirna que a reforma da Previdência é necessária em razão do atual
déficit do sistema. De acordo com o governo, caso as mudanças não sejam feitas,
o país corre o risco de não conseguir pagar o benefício às futuras gerações.
Como
alternativa, a CNBB defende uma auditoria na dívida pública, taxação das rendas
de instituições financeiras e revisão dos incentivos fiscais para exportadores
de commodities. (produtos primários com cotação em mercados
internacionais). Eles pedem ainda que sejam identificados e cobrados os devedores
da Previdência.
Foro Privilegiado
Embora
na nota pública defendam um “número
restrito de autoridades” com direito ao foro privilegiado, os bispos não
quiseram responder a quais cargos se referiam. “Queremos oferecer a nossa contribuição questionando a atual situação do
foro privilegiado. Nossa postura é que se restrinja ao máximo, mantendo, é
claro, a proteção necessária no conjunto de uma sociedade democrática, e não
criando uma espécie de aristocracia privilegiada”, afirmou o presidente da
CNBB.
Os
dirigentes da entidade justificam que o debate é necessário diante do número
crescente de autoridades envolvidas em casos de corrupção. “Calcula-se um universo de 22 mil autoridades
que estariam beneficiadas pelo foro privilegiado. Aos olhos da população, esse
procedimento jurídico parece garantia de impunidade numa afronta imperdoável ao
princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei”, diz o
comunicado.
Para
o vice-presidente da CNBB, dom Murilo Krieger, mais uma vez a intenção é
incentivar a participação da sociedade. “Não
vamos dizer nem o número, nem uma lista, porque não caberia a nós. O que a
gente percebe é isso: esse número é realmente algo que deixa todo mundo
surpreso. É impossível a Justiça, os dois supremos tribunais [STJ e STF], darem
conta de tudo aquilo que chega a eles”, afirmou.
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