Com o processo
de regulamentação de medicamentos que têm como princípio ativo substâncias
extraídas da, a maconha, será necessário investir em pesquisas científicas no
país para aprofundar o conhecimento sobre o tema.
A opinião é do
vice-presidente do Instituto Humanitas 360, Piero Bonadeo. A entidade, com sede
nos Estados Unidos, tem como uma das áreas de atuação a política de drogas e o
uso medicinal da cannabis na América Latina.
No dia 22 de
novembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) incluiu
na lista A3 de substâncias psicotrópicas vendidas no Brasil com receita
controlada (tarja preta), o tetrahidrocannabinol (THC) em
concentração de, no máximo, 30 mg por mililitro e associado ao canabidiol (CBD)
também em 30 mg por mililitro.
A medida é o
primeiro passo para o registro no país do medicamento Mevatyl, conhecido
na Europa como Sativex, feito à base de Cannabis sativa e
indicado para o tratamento de pacientes adultos com espasticidade moderada a
grave por conta de esclerose múltipla. O uso do THC puro continua proibido, bem
como da planta in natura. Bonadeo explica que a medida vai facilitar o
acesso para as pessoas que precisam usar esse tipo de remédio.
Pacientes
serão beneficiados
“O maior
beneficiado será o paciente. Porque vai ser mais fácil e estará mais disponível
o remédio no mercado. Vai abrir mais o mercado, outras empresas poderão
registrar esse tipo de remédio, ou seja, no futuro haverá mais opções desse
tipo de remédio. Acho que vai educar também os médicos, porque é o médico que
precisa pesquisar sobre esse remédio, muitos no Brasil ainda não têm formação,
não sabem, precisam conhecer mais o uso desse remédio. E vai ajudar, no futuro,
talvez a criação de mercado para um produto brasileiro desse tipo de remédio”,
diz o médico.
Ele afirma que
ainda falta conhecimento científico sobre os benefícios medicinais da cannabis.
“O THC e o CBD são os dois principais componentes da Cannabis, mas há
muitos outros que ainda não se sabe que efeito positivo podem ter para algum
tipo de doença. Então isso precisa de muito mais pesquisa científica para desenvolver
outros remédios”, afirma Bonadeo.
Preconceito
em queda
Para ele,
desde 2015 o preconceito contra o uso de remédios feitos à base de maconha
diminuiu quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a
importação de produtos feitos com CBD, respondendo demanda de famílias que
precisavam do remédio.
“As pessoas
começaram a entender um pouco mais. Teve uma grande obra de divulgação desse
tema que foi o filme Ilegal, que conta essa história que a gente ajudou na
produção. É importante ver que são mães com filhos que têm problemas reais, que
não são pessoas que lidam com esse produto porque tem escrito maconha, mas sim
para melhorar a vida de crianças. Ver isso no cinema ajudou muitas pessoas a
mudar a visão sobre o tema”, disse o especialista.
Ele cita
experiências vitoriosas de regulamentação do uso medicinal em países como
Colômbia, Uruguai e Chile, onde os governos criaram programas de cooperativas
para o cultivo. “No Chile tem a maior marijuana farma da América
Latina, com uma cooperativa que atende 4 mil pacientes em todo o país, em
diferentes províncias do Chile, tudo sob controle do governo”, afirma.
O Conselho
Federal de Medicina (CFM) informou que só comentará o assunto depois que a
regulamentação do uso associado do THC e do CBD for publicada no Diário Oficial
da União, o que não tem previsão para ocorrer, segundo a Anvisa, pois depende
da Imprensa Nacional.
Importação
Desde dezembro
de 2014, o CFM autorizou o uso compassivo do canabidiol para o
“tratamento de epilepsias em crianças e adolescentes que são refratárias aos
tratamentos convencionais”. Dessa forma, o medicamento ainda sem registro na
Anvisa pode ser prescrito para pacientes com doenças graves cujo tratamento dos
sintomas não responde a produtos registrados no país.
Na resolução,
o CFM destaca que não há comprovação científica dos efeitos benéficos e seguros
da substância e que a determinação deveria ser revista dentro de dois anos. Os
médicos que prescreverem e os pacientes precisam ser registrados em um sistema
do conselho.
Em janeiro de
2015 a Anvisa retirou o canabidiol da lista de substâncias proibidas
e autorizou a importação excepcional de uma lista restrita de medicamentos
feitos com o CBD. Em março de 2016, foi a vez do tetrahidrocannabinol ser
autorizado. No mês passado, a agência reguladora ampliou de quatro para 11 os
produtos derivados de canabinóides com importação excepcional por
pessoa física.
A Anvisa ressalta que “a importação destes produtos pode ser realizada por pacientes com prescrição médica que indique esta opção de tratamento, mediante avaliação e aprovação prévia da Anvisa, caso a caso”.
A Anvisa ressalta que “a importação destes produtos pode ser realizada por pacientes com prescrição médica que indique esta opção de tratamento, mediante avaliação e aprovação prévia da Anvisa, caso a caso”.
O processo
atual não é relacionado à importação, mas sim para permitir a venda do
medicamento Mevatyl diretamente no Brasil.
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