O presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, José
Carlos Araújo (PR-BA), afirmou hoje (31) que a entrega de três
representações contra ele à Corregedoria da Casa é uma manobra para
tirar do colegiado parlamentares favoráveis à cassação do presidente
afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O conselho investiga se
houve quebra de decoro de Cunha por supostamente ter mentido durante a
audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras,
quando ele negou a existência de contas no exterior em seu nome.
As
representações foram apresentadas por políticos baianos e têm como base
fatos regionais. "Fui notificado de que tenho cinco dias para responder
para a Corregedoria, que encaminhará à Mesa [Diretora], para votar. Se
avaliar procedente, [a Mesa] encaminha ao presidente do Conselho de
Ética, que terá de se afastar. É isso o que querem aqueles que
articularam essas representações", disse Araújo.
Segundo o
presidente do conselho, grande parte dos fatos citados nas
representações já foi esclarecida. “Mais uma manobra está em curso. Há
uma disposição de neutralizar e afastar membros do conselho que tenham
posição firmada, e esse é um risco que correremos até o dia da votação
[do parecer do relator Marcos Rogério]. Fizeram hoje essas
representações na Corregedoria alegando problemas políticos no interior
da Bahia, apresentando fatos que em grande parte já foram esclarecidos.”
De
acordo com Araújo, “Cunha foi afastado, mas tudo leva a crer que ele
continua manejando os seus tentáculos". "Mas não vamos nos render nem
ter medo ou ficar intimidado por essas manobras”, afirmou. Apesar das
três representações, José Carlos Araújo disse estar tranquilo de que não
haverá interferência no andamento do caso envolvendo Cunha. “Não estou
preocupado porque regimentalmente não há como atrasar. Enquanto a
análise sobre o caso do Cunha não acaba, a minha não anda”, completou o
parlamentar baiano.
Araújo garantiu para amanhã (1º), às 14h, a leitura do parecer
entregue hoje pelo relator Marcos Rogério (DEM-RO). “Regimentalmente,
sendo lido amanhã – e considerando que possivelmente alguns deputados
pedirão vista, o que durará duas sessões, na quinta e na sexta-feira –
marcarei na próxima terça-feira as discussões e a apreciação por voto”,
disse Araújo. “A menos que outra manobra esteja em curso, querendo
limitar as ações do relator”, acrescentou.
José Carlos Araújo leu
trechos das três representações no momento em que as recebeu, diante
dos jornalistas. Uma das denúncias é sobre o recebimento de R$ 75 mil de
um deputado estadual. “Aqui sequer diz o nome do deputado. Não tem uma
prova sequer. Apenas dizem que passei [parte desse dinheiro] a
vereadores do município de Juazeiro”.
A segunda representação
está relacionada ao suposto uso do motorista de Araújo como laranja para
a compra da Fazenda Olhos d'água, no município baiano de Morro do
Chapéu. “Aqui diz que o imóvel está avaliado em R$ 1,5 milhão. Isso não é
verdade. Tenho esse motorista há 18 anos. Surgiu a oportunidade de
compra de uma terra perto da terra de minha família, e ele queria
comprá-la, mas faltava dinheiro. Custou 40 mil, e não R$ 1,5 milhão. Eu
apenas completei o dinheiro para ele comprar a terra. Paguei perto de R$
20 mil, para ele me pagar de volta quando pudesse.”
A terceira
representação diz respeito a comentários feitos por Araújo em rádios da
Bahia. “Sou radialista, e os fatos eram verdadeiros, relativos a
depoimento dado ao MPE [Ministério Público Estadual] e a inquérito feito
pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia, e em cima de reportagens
feitas por blogs da região e pela imprensa. Aqui diz que denegri a
imagem do prefeito, por eu ter dito que ele invadiu e queimou terras.
Esses fatos não foram criados por mim, mas denunciados em interrogatório
feito pelo MPE e tornados públicos em toda imprensa da região. Eu
apenas os comentei. Por isso estou tranquilo e vou responder a tudo
dentro do prazo de cinco dias úteis”, completou José Carlos Araújo.
Procurada pela Agência Brasil,
a assessoria de Cunha negou qualquer envolvimento do deputado afastado
com as representações contra o presidente do Conselho de Ética da
Câmara.
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