No primeiro
dia do ciclo de debates Crise e Democracia, promovido pela Universidade Federal
da Bahia (UFBA), em Salvador, quatro nomes do cenário político nacional levaram
seus pontos de vista sobre a atual situação política do Brasil e a democracia.
Foi praticamente ponto-comum entre os palestrantes que o processo de impeachment da
presidenta Dilma Rousseff pode ser considerado uma tentativa de golpe.
No Auditório
da Reitoria da UFBA, centenas de estudantes, professores,
técnico-administrativos e membros da sociedade participaram do debate, mediado
pelo reitor da instituição, João Carlos Salles.
O sociólogo da
Unicamp, Ricardo Antunes, iniciou o evento trazendo uma contextualização
política brasileira, na qual citou exemplos na história, nos quais presidentes
foram destituídos do poder, o que, para ele, está prestes a ocorrer no Brasil,
com a presidenta Dilma Rousseff.
“Não podemos
aceitar um golpe que tem uma simbiose macunaímica. Há uma tentativa de golpe
parlamentar que estampa um estado de exceção de setores do judiciário. As
classes dominantes, favoráveis ao impeachment, que joga em cima da classe
trabalhadora, o ônus da crise”, disse o sociólogo de corrente marxista. O
intelectual ainda defendeu que não há nenhum crime de responsabilidade que
justifique o impedimento de Dilma.
Cobertura
da imprensa
Em seguida, a
jornalista e professora da UFBA, Mariluce Moura, fez uma análise da cobertura
midiática sobre o panorama político e dos movimentos favoráveis e contrários à
saída da Presidenta, nas manifestações das ruas. Mariluce iniciou a fala,
citando o editorial do jornal Folha de S.Paulo, do último sábado (2). Para ela,
existe um enquadramento midiático que seleciona e constrói os acontecimentos
sociais.
“[Alguns]
veículos constroem um cenário que tenta conquistar uma massa desorganizada, que
busca um líder autoritário que lhe dê sentido. O diferencial das investidas da
mídia será a internet com outros atores? Será o não ao golpe nas ruas? Acesso
de jovens mais pobres à universidade e a inclusão social?”, questionou a
jornalista, que foi perseguida e presa durante a ditadura militar.
A jornalista
destacou a importância da internet e das redes sociais para o equilíbrio de
informações passadas à sociedade. “Eu gostaria de observar que, se vamos ter
que reorganizar e reconfigurar as forças da esquerda daqui pra frente, no que
diz respeito à área da comunicação, há duas questões fundamentais que devem ser
levadas a sério: a regulação dos meios de comunicação, como ocorre em qualquer
país civilizado, e o financiamento e suporte para expansão da mídia
alternativa, no caso da internet e das redes sociais”.
Polarização
O vereador de Belém (PA), Fernando Carneiro (PSOL), foi o terceiro convidado. Também historiador, Carneiro declarou-se contra o que chama de “golpe”, mas disse que não apoia o governo Dilma e fez duras críticas à polarização política nacional.
O vereador de Belém (PA), Fernando Carneiro (PSOL), foi o terceiro convidado. Também historiador, Carneiro declarou-se contra o que chama de “golpe”, mas disse que não apoia o governo Dilma e fez duras críticas à polarização política nacional.
“A realidade é
uma totalidade e é dominante. Não se pode isolar acontecimentos fora do
contexto, porque causa problemas para a realidade. Muito se fala sobre golpe e
impeachment¸ mas não se pode imaginar que seria algo como em 64. Sou defensor
da liberdade democrática e ser contra o impedimento, como sou, não significa
ser meio governista. Isso é perigoso porque esse governo não me representa, eu
não votei nele, mas essa manobra jurídica tem que ser combatida. Sou contra
esse golpe e contra o impeachment, pela ausência de prova de crime de
responsabilidade”.
O político
ainda falou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando acusou o petista
de priorizar a governabilidade em detrimento da mobilização popular. Antes de
encerrar, o palestrante questionou os dados fornecidos pelo governo federal
sobre a redução de pessoas na linha de pobreza e extrema pobreza, o que
provocou vaias de parte da plateia, composta, em sua maioria, por estudantes da
universidade.
Parlamentar
ausente
Para encerrar
a mesa redonda, o jornalista Emiliano José falou substituindo a deputada
federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Segundo a UFBA, a parlamentar ausentou-se
porque estava participando da sessão de hoje da Comissão Especial de
Impeachment na Câmara dos Deputados em Brasília.
Emiliano José,
que além de jornalista é ex-deputado federal e professor da instituição,
contestou algumas declarações do vereador Fernando Carneiro, e disse que “há um
golpe em andamento no Brasil, articulado por setores que fizeram o golpe de
1964”.
O acadêmico
insistiu na ideia de que o pedido de impeachment é um “ato golpista, que
envolve boa parte do judiciário, setores do MPF [Ministério Público Federal]”.
“É uma operação judicial seletiva que só encontra crime de um lado e procura
criminalizar a maior liderança histórica do Brasil, que é Lula”, disse Emiliano
José.
O segundo dia
do ciclo de debates, nesta terça-feira (05), será no mesmo local, a partir das
18h30, no Centro de Salvador. Para a próxima mesa redonda, está prevista a
participação a historiadora e política filiada ao PT Selma Rocha, o
político Zé Maria Almeida , que foi candidato à presidência pelo PSTU nas
eleições de 2014, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra, João Paulo Rodrigues, e o jornalista e escritor José Arbex Jr. O ciclo
de debates segue até a sexta-feira (8), no mesmo horário. Os debates podem ser
acompanhados ao vivo pela internet no site aovivo.ufba.br/criseedemocracia.
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