O juiz federal
Sérgio Moro admitiu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori
Zavascki que lamenta e pede "escusas" por ter autorizado a divulgação
de escutas telefônicas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a
presidenta Dilma Rousseff. Ao ministro, Moro também disse que não teve intenção
de provocar polêmicas, conflitos ou constrangimentos.
"Diante
da controvérsia decorrente do levantamento do sigilo e da decisão de vossa
excelência, compreendo que o entendimento então adotado possa ser considerado
incorreto, ou mesmo sendo correto, possa ter trazido polêmicas e
constrangimentos desnecessários. Jamais foi a intenção deste julgador, ao
proferir a aludida decisão de 16 de março, provocar tais efeitos e, por eles,
solicito desde logo respeitosas escusas a este Egrégio Supremo Tribunal
Federal", disse Moro.
Moro enviou as
informações a pedido de Zavascki após a decisão do ministro que determinou a
suspensão das investigações da Operação Lava Jato que envolvem Lula e envio dos
processos ao Supremo.
Com a decisão
de Teori, Moro avaliou que seu entendimento sobre a questão foi incorreto. O
juiz também afirmou que não determinou a quebra de sigilo telefônico de nenhuma
pessoa com prerrogativa de foro e que os diálogos envolvendo a presidenta Dilma
e ministro do gabinete pessoal da presidência, Jaques Wagner, o ministro da
Fazenda, Nelson Barbosa, e parlamentares, foi encontrada de forma fortuita nas
investigações.
"O
levantamento do sigilo não teve por objetivo gerar fato político-partidário,
polêmicas ou conflitos, algo estranho à função jurisdicional, mas, atendendo o
requerimento do MPF, dar publicidade ao processo e especialmente a condutas
relevantes do ponto de vista jurídico e criminal do investigado do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que podem eventualmente caracterizar
obstrução à Justiça ou tentativas de obstrução à Justiça", justificou
Moro.
Lula
No despacho,
Moro também cita um áudio no qual ex-presidente Lula entrou em contato com o
ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Segundo Moro, Lula tentou que houvesse
interferência de Barbosa na Receita Federal. Segundo o juiz, Lula
"aparentemente" tentou interferir nas investigações.
"Em
cognição sumária, o ex-presidente contatou o atual ministro da Fazenda buscando
que este interferisse nas apurações que a Receita Federal, em auxílio às
investigações na Operação Lava Jato, realizada em relação ao Instituto Lula e a
sua empresa de palestras. A intenção foi percebida, aparentemente, pelo
ministro da Fazenda, que, além de ser evasivo, não se pronunciou acolhendo a
referida solicitação. O ex-presidente, aparentemente, tentou obstruir as
investigações atuando indevidamente, o que pode configurar crime de obstrução à
Justiça", disse o juiz.
Validade do
áudio
Sobre a
validade da conversa entre Lula e o ministro da Fazenda como prova criminal,
Moro sustentou que o diálogo tem relevência para a investigação, mesmo sendo
encontrado fortuitamente nas investigações.
"A
colheita fortuita do diálogo com autoridade com foro privilegiado, entretanto,
não implica a necessidade de mudança do foro para o Supremo Tribunal Federal,
pois não há qualquer elemento probatório que autorize conclusão de que o
ministro Nelson Barbosa cedeu às solicitações indevidas do ex-presidente, o
contrário se depreendendo do diálogo. Isso, porém, não torna inválida à
interceptação ou impede a utilização ou a divulgação do diálogo, a prextexto de
preservar privacidade, pois não há esse direito em relação ao investigado Luiz
Inácio Lula da Silva, já que o diálogo, para ele, tem relevância
jurídico-criminal," diz Moro.
Diálogo
entre Lula e Dilma
Sobre o
diálogo entre Lula e a presidenta Dilma, Moro explicou que autorizou o
levantamento do sigilo por entender que ele não tinha relevância criminal para
Dilma, sendo que Lula era o investigado.
"O foco
da investigação era o ex-presidente da República, então destituído de foro por
prerrogativa de função e, embora o referido diálogo no contexto de obstrução fosse juridicamente relevante para ele, não
parece que era tão óbvio assim que também poderia ser relevante juridicamente
para a excelentíssima presidenta da República".
Advogado
de Lula
Sobre a
autorização de interceptação das conversas de um dos advogados do
ex-presidente, Roberto Teixeira, Moro afirmou que determinou apenas grampear um
número de celular e que não tem conhecimento de que os números do escritório de
advocacia tenham sido interceptados. De acordo com as investigações, Teixeira
teria representado os empresários Jonas Suassuna e Fernando Bittar na compra do
sítio frequentado pela família de Lula, em Atibaia (SP).
"Desconhece
este Juízo que tenha sido interceptado outro terminal dele [Roberto
Teixeira] ou terminal com ramal de escritório de advocacia. Se foi, essas
questões não foram trazidas até o momento à deliberação deste juízo pela parte
interessada. Se o advogado se envolve em condutas criminais, no caso suposta
lavagem de dinheiro por auxiliar o ex-presidente na aquisição com pessoas
interpostas do sítio em Atibaia, não há imunidade à investigação a ser
preservada, nem quanto à comunicação dele com seu cliente também
investigado", disse.
Novos
áudios
No pedido de
informações, Moro também afirmou que existem mais conversas telefônicas do
ex-presidente que foram gravadas. "Há outros diálogos do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva intencionando ou tentando obstruir ou influenciar
indevidamente a Justiça. Há também diálogos nos quais revela a intenção de
intimidar as autoridadades responsáveis pela investigação e processo",
afirmou Moro.
Na
quinta-feira (31), o STF decidirá se o juiz federal Sérgio Moro, responsável
pela investigação da Operação Lava Jato na primeira instância da Justiça
Federal, continuará na condução dos inquéritos contra o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Na semana
passada, o ministro Teori atendeu a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) e
suspendeu, com base em jurisprudência da Corte, a divulgação das interceptações
envolvendo a Presidência da República e fixou prazo de dez dias para que Sérgio
Moro preste informações sobre a divulgação dos áudios do diálogo entre a
presidenta Dilma Rousseff e Lula, tornadas públicas após decisão do juiz.
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